1. Associando as denominações de cargos políticos e governativos aos nomes dos seus titulares, como se deve pontuar a seguinte frase: com vírgulas – «o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, fez uma visita oficial» –, ou sem elas – «o primeiro-ministro António Costa fez uma visita oficial»? Neste caso, justificar-se-ão as duas vírgulas a ladear o nome pessoal, se este tiver a função de aposto, isto é, de modificador apositivo, como se explica numa das novas respostas em linha no Consultório. Outros tópicos abordados nesta atualização dizem respeito à legitimidade do uso do adjetivo perfilístico, à identificação da referência exata de «um par de calças» e à relação do composto porta-chaves com o nome porta. Por último, comenta-se a repetição do pronome se no mesmo complexo verbal – ex.: «deve-se conformar-se» ou, simplesmente, «deve-se conformar»?
2. Fala-se de discurso académico, mas que características e géneros tem ele, afinal, e que vantagem se tira do seu estudo para a promoção da literacia nos contextos escolar e científico? Procurando dar resposta a estas interrogações, publicou-se em 2019 um volume em formato eletrónico intitulado Discurso Académico: uma área disciplinar em construção. É um conjunto de 18 artigos nos quais se dá um panorama sobre a investigação que a linguística aplicada em Portugal desenvolve atualmente em torno do discurso académico. Na Montra de Livros, a consultora permanente do Ciberdúvidas, Carla Marques, dá pormenores na apresentação que faz desta obra.
3. Ainda a propósito de coisas menos simpáticas mas já não diretamente gramaticais ou linguísticas, refira-se a procura de um termo que, em português, denote a discriminação social com base na idade. Há diferentes formas em circulação, mas, entre as compatíveis com padrões de correção morfológica e de coerência semântico-referencial, contam-se as palavras idadismo (de idade), etarismo (de etário), a que se junta uma solução menos concisa, «discriminação etária».O tema tem sido abordado no Ciberdúvidas: em "Idadismo e idadista", "O neologismo idadista", "Etarismo" e "Etarismo: preconceito contra idosos". E, dado que convém sempre estar atento ao que é prática nas línguas próximas do português, assinale-se a recomendação que a Fundéu BBVA emitiu relativamente ao termo a empregar em espanhol – edadismo, um derivado de edad, «idade», que é, portanto, homólogo de idadismo quanto à sua formação.
Na imagem, foto de Christian Newman (Unsplash).
4. A identificação do que é e não é correto tem uma importante componente social, pois frequentemente resulta de atitudes perante usos do idioma, umas bem fundadas, outras com critérios nem sempre congruentes. Tendo em conta o interesse que há em conhecer os juízos dos falantes sobre os erros linguísticos, o tradutor e professor universitário Marco Neves pediu a várias pessoas que indicassem os mais irritantes. A lista, divulgada em 9 de fevereiro na plataforma Sapo 24 e no blogue deste autor Certas Palavras, é também transcrita com a devida vénia na rubrica O nosso idioma. Para compensar a irritação, leia-se, também de Marco Neves, outro breve e muito mais apaziguador elenco vocabular: "Cinco expressões deliciosas da língua portuguesa" (em Certas Palavras, 26/09/2020).
5. Na rubrica Notícias, divulga-se o agradecimento da família que o filólogo e académico português João Malaca Casteleiro dirigiu a quantos manifestaram pesar pelo seu desaparecimento, ocorrido no dia 7 de fevereiro de 2020. Foi, entre muitos, o caso do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa.
6. Falando ainda do mundo académico e, em particular, da linguística, registo para:
– o anúncio do colóquio Norma e Cidadania Linguística, promovido pela Academia das Ciências de Lisboa, que o realiza em 5 de maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa (inscrição de até 12 de março; mais informação aqui);
– a multiplicação do lançamento de obras científicas em formato eletrónico, como é o caso do livro acima mencionado, mas também de outras publicações recentes, como A linguística na formação do professor: das teorias às práticas, uma obra com organização e participação dos linguistas António Leal, Fátima Oliveira, Fátima Silva, Isabel Margarida Duarte, João Veloso, Purificação Silvano, Sónia Valente Rodrigues, entre mais nomes.
7. O tema principal dos programas de rádio que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para rádio pública portuguesa foca a vida e da obra do filólogo João Malaca Casteleiro, evocado em depoimentos prestados por Margarita Correia, professora da Faculdade de Letras de Lisboa e presidente do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, e pelo gramático brasileiro Evanildo Bechara.
O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 15 de fevereiro, depois do noticiário das 09h00; e o Páginas de Português tem repetição no sábado, dia 22 de fevereiro, às 15h30). Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.