1. Em todos os exemplos dados para análise, temos orações subordinadas completivas.
As completivas — diferentemente das orações designadas por orações adverbiais (causais, temporais, finais, etc.) — cumprem uma função sintáctica — complemento ou sujeito — relativamente à subordinante.
A selecção do modo da completiva depende das propriedades do verbo da subordinante. É seleccionado o modo indicativo quando o verbo da subordinante:
(i) designa um acontecer (ocorrer, suceder, etc.);
(ii) corresponde a um verbo epistémico (achar, acreditar, considerar, pensar, saber, supor, etc.);
(iii) corresponde a um verbo declarativo ou de inquirição (afirmar, concluir, dizer, pedir, perguntar, etc.);
(iv) corresponde a um verbo perceptivo (ouvir, sentir, ver, etc.).1
Assim, o modo da completiva do exemplo a) é o indicativo, atendendo ao que é dito em (ii).
2. A presença da negação e de verbo epistémico na subordinante determina como obrigatório o uso do conjuntivo na completiva.
No exemplo b), querer dizer é um complexo verbal que pode ser interpretado como tendo valor epistémico (equivalente a faz supor, leva a pensar); o modo a figurar na completiva é o modo conjuntivo.
3. Quando a completiva é seleccionada como sujeito, não pelo verbo mas por um adjectivo («É surpreendente que...»; «É admirável que...»), o verbo da completiva deve estar no conjuntivo. É o caso do exemplo c).
Porém, a estrutura clivada da subordinante («o que é irónico é que este "falso" plural...») confere um grau considerável de assertividade ao conteúdo proposicional da completiva, pelo que é de admitir igualmente o uso de indicativo.
1DUARTE, Inês, 2003 — "Subordinação completiva — as orações completivas" in Mateus et al. Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho: 599-605.