Em nome do Ciberdúvidas, agradece-se a pergunta, que, no fundo, já inclui a própria resposta.
Na verdade, é de esperar, como observa o consulente, que uma vírgula figure entre ave ou salve e o nome próprio Maria, tal como acontece com outras sequências formadas por uma saudação e um vocativo: «olá, Maria»; «bom dia, César». Sendo assim, «ave, Maria» e «salve, Rainha» estão corretos do ponto de vista dos preceitos de aplicação da vírgula, enquanto as formas «ave Maria» e «salve Rainha» estão incorretas.
No entanto, e como também bem assinala o consulente, geralmente nestas situações não se escreve a vírgula, numa prática que configura uma exceção que se enraizou na escrita de tais expressões. Daqui não decorre que se considere este uso tão ou mais correto; nota-se, aliás, que há oscilações no registo da vírgula associada à interjeição ave, ora ocorrendo ora não, como acontece num documento digital associado à liturgia das horas e incluído nas páginas do Secretariado Nacional da Liturgia (SNL):
(1) «Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco.» (Dezembro, Próprio dos Santos, SNL)
(2) «Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre. Aleluia.» (idem, ibidem)
Contudo, não se pense que neste caso a vírgula é facultativa, porque a consulta de uma obra religiosa impressa, o Missal Quotidiano Dominical e Ferial (Lisboa, Paulus Editora, 2012, p. 2625), apresenta a vírgula devidamente colocada entre a interjeição e o nome Maria:
(3) «Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois entre as mulheres.»
E, na mesma fonte, atesta-se a vírgula a separar a interjeição salve e um vocativo:
(4) «Salve, Santa Mãe, que destes à luz o Rei do céu e da terra.» (idem, p. 2647)
Conclui-se, portanto, que a vírgula continua a justificar-se nas situações em apreço. Convém recordar também que os nomes que as identificam são ave-maria e salve-rainha, com hífen (cf. padre-nosso ou pai-nosso), como bem escreve o consulente.