Pelo contexto, trata-se, com toda a probabilidade, de variante gráfica de manaxo, que, de acordo com o Novo Dicionário da Língua Portuguesa (1899), de Cândido de Figueiredo (1946-1925), significa, na região de Resende, rodilha (isto é, rosca de pano que se põe à cabeça, para transportar carga)1 e farrapo. A mesma fonte regista ainda a variante manaixo, que, na Beira, seria usado no sentido de «vestuário de mulher, garrido ou vistoso, mas de pouco preço».
No Dicionário de Regionalismo e Arcaísmos de Leite Vasconcelos (http://beta.clul.ul.pt/teitok/dra/index.php?match=starts&query=m&action=xdxf&start=100), também se regista manaixo, na aceção de «farrapo velho» e recolhido em São Martinho de Mouros (não longe, portanto de Resende), e outra variante "manoixo", ouvida em Baião.
João de Araújo Correia (1899-1985) usa a forma em questão, manacho, noutro conto de Terra Ingrata (1946):
(1) «Cavava a horta por suas mãos, fazia de comer, lavava os manachos [...].» (in Antologia do Conto Português, Lisboa, ICALP, p. 45)
Mas o termo ocorre também noutra publicação, o Guia Illustrado de Barcellos (1908), de Joaquim Leitão (1875-1956):
(2) «E é expressamente para beijar os pés do Senhor da Cruz que pés de cachopas que nunca padeceram o captiveiro d’uma malha d’aIgodão, ao chegar á barreira, pousados os cestos de quatro azas e os manachos, calçam umas meias brancas, que tres districtos, mal luziu o buraco, deitaram a jaqueta e a vara ao hombro, que se perdeu o amor a umas coroas, se assassinou muito gallo e emolou muito cabrito.» (idem, p. 9; manteve-se a grafia original)
Dado as fontes consultadas não facultarem elementos sobre a história da palavra, é difícil decidir se a grafia manacho é mais correta que manaxo. No entanto, esta última já tem tradição dicionarística e, por enquanto, parece a recomendável.
1 Outros sinónimos de manaxo são rodouça e sogra (cf. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa).