A questão colocada envolve duas realidades sintático-semânticas de natureza distinta que têm implicações no uso da vírgula.
Por um lado, temos sintagmas nominais constituídos por um nome próprio nuclear e por um classificador do nome próprio, como se observa em (1):
(1) «O doutor Carlos Manuel»
Os classificadores1 associam-se aos nomes próprios referindo categorias nas quais estes se podem incluir. No caso dos antropónimos (nomes de pessoas), o classificador pode «ser realizado lexicalmente através de hipónimos2 como menino(a), senhor(a), incluindo nomes de profissão como arquiteto(a), doutor(a), engenheiro(a)» (Raposo e Nascimento in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 1037). Também podem funcionar como classificadores os nomes de parentesco3. Nestes casos, não há lugar a vírgula entre o classificador e o nome próprio.
Por outro lado, temos sintagmas nominais que incluem no seu interior um modificador apositivo, que constitui um comentário ou uma explicação sobre a entidade referida, como acontece em (2) e (3):
(2) «O primeiro rei da dinastia de Avis, D. João I» (a negrito, assinala-se o modificador apositivo)
(3) «D. João I, o primeiro rei da dinastia de Avis» (a negrito, assinala-se o modificador apositivo)
Estes modificadores apositivos têm a característica de serem intersubstituíveis com o nome que modificam, para além de não restringirem a significação do sintagma sobre o qual incidem, funcionamento que é assinalado pela presença de vírgulas.
Assim, se a intenção for a classificar o nome próprio «António Coelho», contribuindo para precisar a sua referência, não devemos usar vírgulas:
(4) «O diretor da Casa-Memória de Camões António Coelho refere que...»4
Se a intenção for a de esclarecer quem é o «diretor da Casa-Memória de Camões», deve usar-se um modificador apositivo, que surgirá entre vírgulas:
(5) «O diretor da Casa-Memória de Camões, António Coelho, refere que...»
Em nome do Ciberdúvidas, agradeço as gentis palavras que nos endereça.
Disponha sempre!
1. O termo classificador não é usado na nomenclatura gramatical do ensino básico e secundário em Portugal.
2. De acordo com esta interpretação, considera-se termo hiperónimo a expressão geral indivíduo (cf. Ibidem).
3. cf. Ibidem, p. 1041.
4. Neste caso particular, esta opção pode dificultar a interpretação devido ao encontro de dois nomes próprios (Camões e António Coelho). Só o conhecimento do contexto de comunicação poderá indicar se este é suficientemente claro para permitir o uso do classificador. No caso de a expressão ser opaca, a opção por «António Coelho, o diretor da Casa-Memória de Camões, refere que…» será mais clara.