1. Ao contrário dos eufemismos, cujo conteúdo suaviza a alusão a certas realidades – caso de «ir desta para melhor», em vez de morrer –, fala-se de disfemismos quando em discurso se usam palavras e expressões desagradáveis e depreciativas que acentuam e dão vazão a sentimentos de amargura, rancor ou ódio. São bons exemplos as metáforas inspiradas no mundo natural: «seu burro!», «grande camelo!», «este tipo é um cepo». Sobre a criatividade linguística mobilizada e fixada ao longo de gerações, frequentemente para ofender e insultar, a professora Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, desenvolve na rubrica O nosso idioma um curioso apontamento sobre as diferentes injúrias e imprecações do português.
2. Na rubrica Pelourinho, um erro indesculpável em televisão é tema de comentário: o uso da forma popular "tar" em lugar de estar, levando na escrita a confusões escusadas com o verbo ter. Recorde-se que esteve é a forma de estar na 3.ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo; mas teve é a flexão correspondente do verbo ter.
3. No Consultório, cinco novas perguntas: haverá algum adjetivo equivalente a «(pessoa) que tem memória de elefante»? O que é um não expletivo? Numa pergunta, a palavra ou a expressão interrogativas são seguidas de vírgula? Como distinguir casos de coesão lexical? E quando se torna obrigatório empregar a locução pronominal relativa «o qual»?
4. O escritor angolano Pepetela é o vencedor do prémio Prémio Literário do festival Correntes d’Escritas 2020, conforme o anúncio feito neste dia na cerimónia de abertura oficial deste encontro (ler também aqui). Trata-se de um acontecimento cultural que reúne escritores africanos, brasileiros e de expressão ibérica na cidade portuguesa da Póvoa de Varzim e se prolonga até 22 de fevereiro.
Além de outros escritos do escritor angolano Pepetela disponíveis no arquivo do Ciberdúvidas, vale a pena (re)ler, na rubrica Antologia, o texto "Uma língua que aceita brincadeiras" – especialmente escrito para uma sequência que envolveu o cabo-verdiano Germano Almeida, o guineense Carlos Lopes, o moçambicano Mia Couto e o português José Saramago.
5. Um comportamento recorrente na história de qualquer língua é empregar velhas palavras para aplicar a novos referentes. Foi o caso de faia, que, nos Açores e na Madeira, passou de denominação da Fagus sylvatica a termo identificativo da Myrica faya; ou, entre os topónimos, o de Santarém, nome latino-romance de uma cidade portuguesa de origens romanas e de uma cidade brasileira fundada no século XVII. A expansão e colonização europeias a partir do século XV marcaram uma época fértil em situações destas, bem conhecidas na evolução do português. A propósito deste tema, assinale-se o artigo que, no blogue Travessa do Fala-Só, o tradutor Vitor Lindgaard dedica, em 17/02/2020, a nomes como milho e feijão, de etimologia europeia bastante antiga, mas que hoje denotam plantas importadas do continente americano há mais de trezentos anos.
6. Entre iniciativas académicas com interesse para a promoção da língua portuguesa, merecem registo:
– Neste dia, 19 de fevereiro, o conjunto de atividades abertas à comunidade que a Universidade de Aveiro organiza, focando a importância da diversidade cultural para as relações humanas e para a sociedade. É uma iniciativa que se insere na comemoração, em 21 de fevereiro p. f., do Dia Internacional da Língua Materna.
– O colóquio Línguas de Camões. O que pode e o que quer o português língua estrangeira?, a realizar em 11 de março de 2020 na Faculdade de Ciências de Humanas da Universidade Católica Portuguesa. A conferência de abertura é do professor Roberto Vecchi, especialista de literatura portuguesa na Universidade de Bolonha. As inscrições são até 4 de março (mais informação aqui).
7. Sobre os programas de rádio que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa, uma chamada de atenção para o programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 21 de fevereiro, pelas 13h20*, e para o Páginas de Português, que tem mais uma emissão na Antena 2, no domingo, 23 de fevereiro, pelas 12h30.
O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 22 de fevereiro, depois do noticiário das 09h00; e o Páginas de Português tem repetição no sábado, dia 29 de fevereiro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.