Aberturas - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Aberturas
Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Uma consulente do Brasil pergunta se há 90 anos já existiam a expressão «matar dois coelhos com uma cajadada» e o idiomatismo «dar pano para mangas» – isto é, «resolver dois problemas de uma vez» e «haver ainda muito que conversar», respetivamente. Já, sendo até possível atestar o seu uso literário em finais do século XIX, com variantes: «matar dois coelhos com uma cacheirada» e «dar pano para manga», formas que mantêm, num caso, a metáfora da caça e, no outro, a da confeção de roupa, equiparando um grande corte de tecido ao tema interminável de uma conversa ou debate. E que dizer de um outro giro idiomático, «perder a tramontana», aplicável a uma forte explosão temperamental?  Estes são dois dos tópicos abordados na atualização do Consultório, na qual outras dúvidas são também de perder o norte: até que ponto se aceita uma frase como «a feijoada acompanha com laranja e arroz branco»? Será possível construir o complexo verbal «vir a ter feito»? Como se faz a concordância verbal com «nada nem ninguém»? Como se escreve o diminutivo de saliência? Por último, uma palavra bizarra que denota essa mesma qualidade exasperante: escaganifobético.

2. Em Portugal, a marca étnica e cultural de África é significativa, de tal maneira que palavras como buécota (no sentido de «velho») ou moamba fazem parte da linguagem corrente. Mas no Brasil essa influência foi mais longe, por via da escravatura e da transferência maciça de falantes de línguas da família Níger-Congo e de um ramo desta, o dos idiomas bantos. Na rubrica O nosso idioma, transcreve-se com a devida vénia, do portal educativo MultiRio, um trabalho da jornalista brasileira Fernanda Fernandes, sobre a influência das línguas africanas no português do Brasil, moldado por extensas séries de palavras com origem na África ocidental.

Sobre o impacto das línguas bantas e de outras, também da família nigero-congolesa, leiam-se também os seguintes artigos e respostas: "A dimensão africana da língua portuguesa"; "Português, língua africana"; "A matriz negra portuguesa no Brasil"; "Palavras de origem africana na língua portuguesa"; "A origem e o significado de iaiá"; "Formação do léxico português no Brasil". Sobre as línguas africanas, consulte-se a obra de Ernesto d'Andrade (1944-2013), Línguas Africanas: Breve Introdução à Fonologia e à Morfologia, 2007 (cf. Montra de Livros).

3. Em Portugal, assinalam-se no dia 8 de dezembro os 125 anos do nascimento de Florbela Espanca (1894-1930), um nome singular da poesia portuguesa do século XX. A esta autora, são vários os artigos e respostas que o Ciberdúvidas lhe tem dedicado, entre os quais se salientam "O esquema rimático do soneto Ser Poeta, de Florbela Espanca", "Acerca de antíteses e de paradoxos", "A etimologia dos nomes Florbela, Florípedes, Rosalinda e Santiago", "Do hífen a Fernando Pessoa e a Florbela Espanca", "Vozes femininas da literatura portuguesa". E, para sentir a poderosa carga emocional da palavra de Florbela, ouçamos a atriz portuguesa Eunice Muñoz:

 

4. Passando ao Brasil e falando da sua capacidade de se afirmar pela suas sínteses culturais, sempre criativas, assinala-se em 8 de dezembro a passagem de 25 anos sobre a morte de uma dos grande vultos do movimento da bossa nova, de Antônio Carlos Jobim (1927-1994) – ou Tom Jobim, como se celebrizou artisticamente. O Ciberdúvidas não tem estado alheio ao contributo deste músico genial para a promoção cultural do seu país, como evidenciam os apontamentos que lhe são dedicados em "A falta que ele nos faz", "Coisas do português", "O advérbio não, Bossa Nova, verbos traiçoeiros e o sinal", e "Língua livresca". Só que melhor que falar de Tom Jobim é ouvir a música dele, e, portanto, aqui fica o "Samba de uma nota só", na interpretação de outra  figura inesquecível da bossa nova, Nara Leão (1942-1989): Vide ainda: Após 25 anos da morte de Tom Jobim, legado do artista é celebrado em projetos previstos para 2020.

 

5. Nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a  rádio pública portuguesa, duas entrevistas em destaque esta semana: a do antigo embaixador brasileiro junto da sede da CPLP, Lauro Moreira, no programa Língua de Todos (na RDP África na sexta-feira, dia 29 de novembro, pelas 13h20*); e a da professora universitária brasileira Edleise Mendes, sobre o XI Curso de Capacitação, para professores de Português como Língua Estrangeira/não Materna (organização do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) e da CPLP), no Páginas de Português (Antena 2, no domingo, 8 de dezembro, pelas 12h30*).

* Ambos os programas têm repetição: o Língua de Todos, no sábado, dia 7 de dezembro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português no sábado seguinte, dia 14 de dezembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental,  ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Da inventividade de alguns ao convencionalismo de muitos, a linguagem juvenil exerce-se como afirmação de rebeldia, funcionando também como insígnia etária. Não admira, portanto, que no discurso dos jovens se encontrem marcas de uma atitude mais ou menos ostensiva e desafiadora do uso linguístico instalado entre os mais velhos. Em crónica sugestivamente intitulada "Tá-za-ver", na rubrica O nosso idioma, a consultora permanente do Ciberdúvidas, Carla Marques, dá conta da perplexidade que se apodera de um adulto subitamente confrontado com os modismos de um jovem em interação linguística.

2. A palavra trapézio denota um polígono de quatro lados e tem acento gráfico, mas trapezoide, que é nome e adjetivo, escreve-se sem esse sinal. No Pelourinho, comenta-se mais um exemplo da falta de atenção que um concurso televisivo – Joker, com grande audiência em Portugal – dá à ortografia.

3. A atualização do Consultório aborda velhos e novos tópicos: que diferença existe entre juízo e julgamento?  O que é correto: «a pessoa de que falamos», ou «a pessoa de quem falamos»? Diz-se «faz-se horas», ou «fazem-se horas»? É melhor usar «fez-lhe perder tempo», em vez de «fê-lo perder tempo»? O adjetivo participativo não será um impropriedade vocabular? Finalmente, como classificar os elementos textuais que constituem um cartaz publicitário?

4. O relatório PISA (Programme for International Students Assessment*) de 2018 acaba de ser publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que o elabora de três em três anos. Neste teste participaram 600 mil alunos de 79 países, entre os quais Portugal (5900 alunos), que não parece ter-se saído mal num panorama que é, no entanto, muito preocupante. Com efeito, se o ministério da Educação português sublinha que, no conjunto da OCDE, só os alunos de Portugal têm melhorado significativamente desde a primeira edição do PISA no ano 2000, a média dos dados globais aponta para  o cavar do fosso entre os alunos mais pobres e os mais ricos nos países envolvidos. Além disso, os indicadores de anteriores "paraísos educacionais", como era o caso até há bem pouco tempo da tão mencionada Finlândia, apontam para um pior desempenho nas três áreas avaliadas, ciências, matemática e leitura. Sobre os resultados do Brasil, leia-se aqui.

* Em português, Programa Internacional de Avaliação de Alunos.

Cf.. Cerca de 20% dos alunos com 15 anos não adquirem competências mínimas +  Das diferenças de género e de contexto social, ao bullying na escola  + China chega ao topo, Finlândia está em queda e Estónia confirma-se como estrela

5. Sobre as políticas desenvolvidas para a promoção do português, merece registo a publicação recente de A Língua Portuguesa como Ativo Político, da linguista brasileira Mônica Villela Grayley, que tem desenvolvido atividade e investigação na área do português no contexto das relações internacionais (mais informação na Montra de Livros). A Hora dos Portugueses, um programa da RTP Internacional, dedicou em 29/11/2019 um apontamento à apresentação que esta especialista fez da obra na Universidade de Colónia.

6. No quadrante da promoção da língua, refira-se que Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) lançou um novo portal temático dedicado ao "Oceano", um dos temas adotados pela presidência cabo-verdiana para o biénio 2018-2020. A apresentação foi feita na IV Reunião dos Ministros dos Assuntos do Mar da CPLP, a 26 de novembro de 2019, em São Vicente, Cabo Verde.

7. Depois das pontes políticas, uma nota sobre as pontes culturais que a língua portuguesa, falada ou cantada, permite lançar. Importa, portanto, mencionar um evento realizado na Galiza, a gala aRi[t]mar, cuja preparação envolveu ao longo de 2019 a votação dos públicos galego e português, chamados a escolher o que de melhor se produziu em 2018 em matéria de música popular nos dois territórios. Este processo culmina com um espetáculo que se realiza neste dia, 4 de dezembro, com a participação dos grupos musicais vencedores, as Tanxagueiras, da Galiza,  e os Azeitonas, de Portugal.

8. Em destaque esta semana nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portugesa produz para a  rádio pública portuguesa (mais informação na rubrica  Notícias):

– o antigo embaixador brasileiro junto da sede da CPLP, Lauro Moreira,  é entrevistado a propósito do livro que publicou, inspirado pela obra genial de Machado de Assis no programa Língua de Todos, que vai para o ar na RDP África na sexta-feira, dia 29 de novembro, pelas 13h20*.

– o programa Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 8 de dezembro, pelas 12h30*, entrevista a professora universitária brasileira Edleise Mendes, para falar de uma iniciativa por ela coordenada, XI Curso de Capacitação, para professores de Português como Língua Estrangeira/não Materna, que se realizou entre 25 e 29/11/2019, com organização do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) e a CPLP.

* Ambos os programas têm repetição: o Língua de Todos, no sábado, dia 7 de dezembro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português no sábado seguinte, dia 14 de dezembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental,  ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

Cf. Porque pioram os alunos?

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas - COP25 tem início hoje, dia 2, em Madrid, e prolonga-se até dia 13 de dezembro. Trata-se de uma cimeira de importância crucial para a tomada de decisões relacionadas com as mudanças climáticas, que, segundo apontam diversos estudos, poderão ter consequências severas a médio e longo prazo, tais como a subida das temperaturas, a alteração dos padrões meteorológicos, a escassez de água e a subida do nível do mar, o que afetará severamente também os ecossistemas marinhos e terrestres (notícia aqui). Também neste âmbito, para o dia 3 de dezembro, está prevista a chegada a Portugal de Greta Thunberg, a jovem ativista sueca responsável pelo início da greve das escolas pelo clima, que participará numa sessão da Assembleia da República, seguindo depois para a cimeira COP25, onde fará uma intervenção (notícia).

O clima, na sua vertente linguística, tem merecido também a atenção do Ciberdúvidas nalgumas das respostas às questões colocadas no Consultório neste domínio, que se relacionam sobretudo com aspetos lexicais, desde a adequação dos termos às situações, à criação de novas palavras, passando pela polissemia dos termos: ««Alterações climáticas» ou «mudanças climáticas»», «Condições atmosféricas», «Climático», «As aceções do adjetivo temporal», «A formação da palavra edafóclimático», «Condições edafoclimáticas» e «Geoestratégico». A abordagem linguística do clima passa também pela sabedoria popular, com as suas máximas e provérbios, cuja adequação à realidade se analisou no artigo que aqui divulgámos. 

2. A formação de um verbo pode associar-se a processos mais ou menos obscuros. Na nova atualização do Consultório, analisamos a formação do verbo desunhar, explicando por que razão não se trata de um caso de parassíntese. A utilização de dois verbos consecutivos numa frase determina, à partida, que estamos perante um complexo verbal ou poderá tratar-se de uma outra realidade? As soluções encontradas pela língua para referir as realidades colocam, por vezes, dificuldades de interpretação, como acontece com a sequência «faz girar» numa dada frase. Neste caso, qual será o estatuto do verbo fazer? Verbo principal ou verbo auxiliar? A natureza dos verbos determina o número e o tipo de constituintes que os acompanham e se estes são introduzidos ou não por preposição. Contudo, nem sempre é fácil avaliar as propriedades verbais, como se verifica na frase «ergueu os olhos para o céu». Não só os verbos como também os nomes e adjetivos podem reger preposições. A questão que se coloca, em determinadas ocasiões, é a de determinar qual a preposição correta. É correto «garfo a peixe» ou antes «garfo de peixe»? Para concluir, a interjeição ena é analisada sob o ponto de vista das suas possibilidades significativas. 

3. O destaque que merece a língua portuguesa no atual momento justifica que aqui se divulgue um conjunto de vídeos que abordam a importância do português no mundo, dando uma visão do «tamanho da língua: como o português se espalhou pelo mundo», dos países onde se fala português (do programa Aqui se fala português), de documentários produzidos por oito países de língua portuguesa (notícia), não esquecendo o papel de jornalistas como o brasileiro Zeca Camargo, que visitou os países de língua portuguesa, descobrindo as tonalidades da língua e os cambiantes da cultura que a ela se associa (num programa de Fátima Bernardes). 

4. Não longe da língua portuguesa está o galego, que partilha as suas raízes com o português. Duas línguas cuja proximidade é documentada pelo tradutor e professor universitário português Marco Neves, na sua crónica «Uma língua escondida por cima de Portugal» (divulgada no sítio do Sapo24). 

5. Terá lugar na Universidade Lusíada de Angola um curso breve de esperanto intitulado “O Esperanto, língua pan-veicular, planeada, interétnica, neutra”. Orientado pelo advogado e esperantista luso-angolano Miguel Faria de Bastos, este curso destina-se a juristas, a profissionais da área do Direito em geral e do Direito linguístico em particular e compreenderá uma primeira parte de gramática integral e léxico essencial e uma segunda parte dedicada terminologia jurídica.

Imagem: Bandeira do esperanto

6Já teve início a votação para a escolha da Palavra do Ano, um evento da responsabilidade da Porto Editora. Este ano, a escolha far-se-á entre as palavras desinformação, influenciador, jerricã, lítio, multipartidarismo, nepotismo, seca, sustentabilidade, trotineteviolência. Um conjunto de palavras associado a realidades que tiveram grande destaque no plano nacional e internacional, sobretudo do ponto de vista social e político. A sensibilidade dos votantes relativamente às situações evocadas determinará qual a palavra mais marcante. 

Em Espanha, e por iniciativa da Fundéu BBVA, decorre  idêntica iniciativa. CfLas candidatas a palabra del año 2019 de la Fundéu

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Black Friday está de regresso. Repete-se um dia de celebração do consumismo desgovernado, numa atitude que o ministro do Ambiente e da Ação Climática português, João Pedro Matos Fernandes, classificou como um «contrassenso». É um bom pretexto para voltamos a um tema muitas vezes aqui assinalado: o uso excesso do inglês em Portugal,  quando as opções em língua portuguesa são variadas e adequadas à realidade que se pretende designar – como nos recorda Sara Mourato, num apontamento onde também conta a história por detrás deste fenómeno consumista, que nasceu nos Estados Unidos.

Primeira Imagem: Alexandr Bazhanov/Dreamstime 

2. O emprego correto do hífen nem sempre é bem conseguido nos textos que percorrem o espaço público. A ligação do verbo ao pronome átono, os usos com os advérbios bem mal, quando têm um valor prefixal, ou o caso dos nomes compostos. Muitas situações produzem hesitações, confusões e, não raro, erros que importa corrigir. A professora Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, num pequeno apontamento sobre o tema apresenta alguns casos nos quais o uso do hífen é obrigatório. 

3. Quantas vezes já não ouvimos alguém questionar-se sobre se o nome de uma determinada localidade deveria ser antecedido de artigo definido? Em situações anteriores, já aqui esclarecemos que a regra geral é a da não utilização do artigo, embora com topónimos que se formaram a partir de nomes comuns o artigo seja a opção mais comum. Para além destes preceitos, a opção das populações é também importante (ver resposta aqui).  O certo é que em Foios (ou nos Foios), uma aldeia da Guarda, a questão  também se coloca. Na nova atualização do Consultório, analisamos o caso particular desta localidade. Uma outra questão está relacionada com a etimologia e possibilidades de regência do verbo destacar. Já o verbo explorar motiva uma pergunta sobre as suas possibilidades significativas. No plano da ortografia, surge uma questão sobre a forma correta do nome composto manga-pagode. Respondemos, de novo, a uma questão relacionada com o valor dos tempos verbais, desta feita explorando a oposição entre o pretérito perfeito e o pretérito imperfeito do indicativo. Para concluir, uma questão relacionada com um recurso expressivo no Sermão de Santo António, de Padre António Vieira.  

4. Na Montra de Livros, apresenta-se o Manual de Comunicação do Comité Olímpico de Portugal (COP), da autoria dos jornalistas José Mário Costa (cofundador do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa) e Paula Torres de Carvalho. Trata-se de um documento que estabelece a linguagem a utilizar nas várias plataformas do Comité Olímpico de Portugal e apresenta um glossário de termos olímpicos, dando um «importante contributo para a valorização da imagem de marca do Comité Olímpico de Portugal», como se afirma na apresentação da obra.

5. Dia Internacional da Solidariedade com o Povo Palestiniano é celebrado hoje, dia 29 de novembro. Esta data, instituída pela ONU, tem em vista alertar para o facto de o problema palestiniano continuar por resolver, na medida em que este povo ainda não viu reconhecidos os seus direitos atribuídos pela ONU. Um dos eventos mais destacados desta comemoração é uma exposição de fotos, na sede da ONU, em Nova Iorque. Este evento leva-nos também a recordar que, no Brasil, se consagrou o uso da palavra palestino, enquanto em Portugal vingou o termo palestiniano. Diga-se também que é possível o uso do termo palestinense, que, contudo, é pouco adotado pelos falantes. 

Recordamos também várias respostas divulgadas no Consultório relacionadas com o tema da Palestina: «Palestinos e massivo», «Gentílicos, outra vez», «Palestino = palestiniano = palestiniense», «Gentílicos femininos iguais aos nomes dos países» e «A etimologia de filisteupalestino». 

Imagem: Banco Mundial/Natalia Cieslik

6. Nos programas* produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa dá-se destaque à consagração do Dia Internacional da Língua Portuguesa (ver Notícias) e ainda à Conferência Internacional das Línguas Portuguesa e Espanhola (CILPE 2019), que teve lugar nos dias 21 e 22 de novembro de 2019, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

 (Programa  Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 29 de novembro, pelas 13h20*, e Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 1 de dezembro, pelas 12h30*. * Ambos os programas têm repetição: o Língua de Todos, no sábado, dia 23 de novembro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português no sábado seguinte, dia 30 de novembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental,  ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.)

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Uma consulente do Brasil escreve-nos um tanto intrigada por em Portugal, com verbos da 1.ª conjugação, a 1.ª pessoa do plural do pretérito perfeito se escrever com acento agudo, como acontece com entregámos. No consultório, esclarece-se este traço de diversidade da nossa língua, a que se soma outra dúvida de natureza semelhante vinda de Angola, sobre a diferença de uso entre o adjetivo específico e o particípio passado especificado. Voltando ao Brasil, outra pergunta: de uma coisa, pode dizer-se que é bondosa? E, novamente em Portugal, o tema em questão é o estudo da gramática nas escolas:  será que as frases interrogativas introduzidas por qual são agramaticais, porque nelas se omite frequentemente o verbo?  Como classificar as construções que complementam os verbos acreditar e pensar? E a palavras como redondilha, soneto e poesia associam-se por vezes nomes e adjetivos com que função – a de complemento, ou a de modificador?

2. Na rubrica Notícias, dá-se exemplo de como a ratificação pela UNESCO do Dia Mundial da Língua Portuguesa tem tido impacto mediático em Portugal, disponibilizando a transcrição de uma notícia do Jornal de Notícias de 25/11/2019 e um apontamento que o jornalista Sérgio Almeida publicou no mesmo jornal em 26/11/2019. É de salientar que a referida proclamação tem o seu quê de excecional por se tratar da primeira vez que, como sublinhou o embaixador português na UNESCO, Sampaio da Nóvoa, se institui este tipo de comemoração para uma língua que (ainda) não tem estatuto oficial nesta organização.

3. Perante o cenário de manifestações e protestos desencadeados pela crise do ambiente, vão-se sedimentando certos termos no discurso, como é o caso de decrescimento, já há alguns anos saliente em usos mais ou menos especializados, associado a certas elaborações conceptuais e teóricas – em Portugal existe até um grupo denominado Rede para o Decrescimento. Paralelamente, acumulam-se as críticas e reações à chamada globalização, começando assim a desenhar-se uma exigência inversa, a de uma vontade de desglobalização, vocábulo igualmente a enraizar-se neste debate em português, que não está desacompanhado pelas línguas mais próximas. Com efeito, em Espanha, a Fundéu BBVA, precisando a definição do termo cognato castelhano, já emitiu uma recomendação sobre o emprego de desglobalización, que descreve como «termo válido para aludir ao fenómeno inverso ao da globalização, isto é, àquele em que especialmente a economia (mas também a sociedade, a política ou a cultura), após uma etapa de interação e interdependência mundiais, volta a ser mais local ou regional». Em português, portanto, a palavra desglobalização parece também marcar esta época e é bem possível que não tarde a entrar no dicionário.

4. Da atualidade que diz respeito à projeção académica do português, registe-se o anúncio de uma das mais importantes da Venezuela, a Universidade Católica Andrés Bello (UCAB), tencionar disponibilizar, a partir de 2020, um curso de língua portuguesa para os dez mil alunos que estudam na instituição. Para já, anteveem-se algumas interrogações entre os interessados quanto às dificuldades de aprendizagem do português, atendendo à sua diversidade, perguntas que se compreendem num país como a Venezuela, onde existe o contacto não só com o português do Brasil, mas também com a variedade madeirense do português europeu.  

5. Nos programa que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa. dá-se igual realce a eventos e iniciativas promotores da projeção internacional do português (ver Notícias).  Destaque particular para a consagração do Dia Internacional da Língua Portuguesa, tanto no programa  Língua de Todos, transmitido pela RDP África na sexta-feira, dia 29 de novembro, pelas 13h20*, como no programa Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 1 de dezembro, pelas 12h30*. Outro tema em foco: a Conferência Internacional das Línguas Portuguesa e Espanhola (CILPE 2019), que a Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura levou a cabo nos dias 21 e 22 de novembro de 2019, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

* Ambos os programas têm repetição: o Língua de Todos, no sábado, dia 23 de novembro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português no sábado seguinte, dia 30 de novembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental,  ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Os edifícios históricos que têm inscrições gravadas nas suas pedras são, não raro, testemunhos vivos da evolução da língua e da sua grafia. As marcas de diferentes fases linguísticas encontram-se, por exemplo, em lápides e jazigos nos quais se identificam as famílias que ali descansam. Neste âmbito, no Consultório, procura-se encontrar uma explicação para o facto de, em muitas lápides, sobretudo do século XIX, a palavra família surgir sem acento, situação que não resultará da ação do tempo sobre estes monumentos. Também de agora e de outros tempos é a possibilidade que o advérbio não tem de incidir sobre constituintes de diversa natureza, alterando-lhes o sentido. É este comportamento que motiva uma nova questão, desta feita sobre a função sintática desempenhada por esta palavra. Na nova atualização do Consultório, podemos também encontrar uma breve análise da catáfora enquanto processo linguístico de construção da referência que, por vezes, gera dúvidas, como acontece na análise de uma frase que foi objeto de avaliação num exame nacional. E ainda questões relacionadas com a correção do topónimo «Castelo de Bode» e com a pronúncia das palavras indemnizar subtil, em Portugal.

Primeira imagem: Cemitério de Agramonte, Porto (Portugal) 

2. Nesta segunda-feira, dia 25 de novembro, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) ratificou, em assembleia-geral, reunida em Paris, o dia 5 de maio como Dia Mundial da Língua Portuguesa, um evento importante na afirmação do português no mundo, uma língua que, prevê-se, terá, no final do século, cerca de 500 milhões de falantes (notícia RTP + UNESCO elege 5 de maio como Dia Mundial da Língua Portuguesa; CPLP celebra).

Vide, ainda, entrevista com embaixador Sampaio da Nova, aqui

 

3. No quadro do investimento no português, como prioridade de política externa, o crescimento do plano de promoção internacional da língua portuguesa motiva um artigo de síntese da autoria de Augusto Santos Silva, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal (divulgado no Diário de Notícias), no qual analisa a evolução deste investimento no ensino e difusão da língua, dando particular atenção ao crescimento das cátedras, enquanto estruturas sediadas em universidades que promovem a pesquisa no âmbito da língua, da cultura, da história e da sociedade. Estas cátedras, que são associadas a figuras importantes da cultura e das ciências portuguesas, funcionam como um instrumentos precioso na difusão internacional da língua.

4. Também a propósito do ensino do português no mundo, recorda-se (num artigo divulgado no Correio da Manhã) a fundação, em Macau, da escola portuguesa, em 1998, um ano antes da transição para a administração da China. Esta escola tem funcionado como um organismo que tem preservado a cultura e a língua portuguesas na região, como o comprovam os testemunhos e os dados reunidos no artigo de Paulo Oliveira Lima. Por fim, a notícia de que, na Venezuela, a Universidade Católica Andrés Bello (UCAB) prevê disponibilizar, a partir de 2020, um curso de Língua Portuguesa para os 10 mil alunos que estudam naquela instituição. (notícia aqui). 

5. A conquista da Copa Libertadores da América e do Campeonato Brasileiro de Futebol pelo clube brasileiro Flamengo, orientado pelo treinador português Jorge Jesus, está na ordem do dia. A presença de Jorge Jesus no Brasil tem desencadeado vários fenómenos, alguns dos quais de natureza linguística. As conferências de imprensa e as declarações do técnico rapidamente vieram demonstrar uma evidência: embora a língua seja a mesma, os termos técnicos são muito diferentes entre Portugal e Brasil. Daí criação de um glossário de "futebolês", para ajudar os adeptos brasileiros a entenderem o treinador português. Entre os termos que necessitam de tradução, encontram-se guarda-redes (goleiro, em português do Brasil), avançados (atacantes), golo (gol), plantel (elenco), relvado (gramado), taça (copa) ou equipa (equipe).* .

   * Sobre  as diferenças entre as duas variantes do português neste domínio vocabular: «O futebol falado diferentemente no Brasil e em Portugal» +  «Futebolês» (na rubrica  Glossário),+ «Já se sabe o que é um "zagueiro"?» + «Viva o «futebolês»!» + «Incidências do futebolês»

5. O fenómeno das vitórias do Flamengo ("Flamengão"  como lhe chamam os adeptos mai fervorosos) tem sido tão intenso que tem desencadeado inclusive a criatividade nos títulos da imprensa brasileira. É o caso do título «Pula que nem Pipoca», do jornal brasileiro Meia Hora. Ou nos "memes" (ideias repetidas pelos utilizadores de internet) que têm vindo a ser divulgados nas redes sociais a propósito das duas vitórias do clube orientado por Jorge Jesus (ver aqui). Ou, ainda, na música, como este samba "Obrigado, Jesus"....

 

6.  Assinala-se hoje, 25 de novembro, o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, uma data simbólica que tem como objetivo alertar para os casos de violência contra as mulheres que, infelizmente, todos os dias, continuam a ser notícia e vitimaram já 25 mulheres em Portugal, desde o início do ano. Estes casos têm trazido para a atualidade termos como feminicídio* e recordam-nos algumas respostas do consultório: «Ginocídio e feminicídio» e «"Violência de género" e "igualdade de género"». Como bem refere a campanha contra a violência doméstica, há ditados e provérbios que têm mesmo de deixar de ser populares (por exemplo, «Entre marido e mulher não metas a colher», «Por trás de um grande homem está uma grande mulher» ou «Quanto mais me bates, mais gosto de ti!» – e, pelo contrário, denunciarmos logo às autoridades casos destes que tenhamos conhecimento. 

* O termo feminicídio tem a variante femicídio. A primeira forma é mais consistente do ponto de vista morfológico, de acordo com a explicação dada em nota às nas respostas "Feminicídio ≠ uxoricídio" e a já citada  "Ginocídio e feminicídio"

 

Cf. Pacotes de açúcar vão ter mensagens para combater violência doméstica + Campanha contra a violência no namoro – Quem te ama, não te agride! + “Entre marido que agride e a mulher é preciso meter a colher” 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. «Se nos disserem "O cozinheiro é brutal", devemos ir cumprimentá-lo ou fugir a sete pés?» – pergunta Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, que, em O nosso idioma, dedica um apontamento à elasticidade semântica que o adjetivo brutal tem demonstrado em variados registos, pelo menos, desde a arte literária oitocentista de Eça Queirós à informalidade da apreciação de um filme nos nossos dias. Na mesma rubrica, um texto de Carlos Rocha aborda o valor documental de uma forma errada do verbo moer e explora a etimologia de xerém, termo da gastronomia tradicional de Portugal, de Cabo Verde e do Brasil.

2. Se nunca mais houvesse erros no uso existencial do verbo haver, escusado seria o reparo feito neste dia, no Pelourinho. Mas a memória humana é curta, como comprova uma breve peça jornalística que, a propósito de rivalidades entre estrelas do futebol, aventa a hipótese de que «houvessem dúvidas». Sara Mourato explica por que razão o verbo tem de estar no singular.

3. No Consultório, as novas respostas em linha abordam os seguintes tópicos: o valor possessivo do pronome átono lhe em frases como «morder-lhe as canelas»; o uso adjetival de muitos particípios passados irregulares (aceite ou aceito, feito, ganho, pago, etc.); a gramaticalidade da expressão «o demais»; e a eventual concordância do infinitivo a completar a construção «alguma coisa ser difícil de...».

4. Ainda no Consultório, uma pergunta da Guiné-Bissau permite revelar que a expressão «faltar ao respeito» conhece uma variante mais frequente no Brasil, «faltar com o respeito». Noutros países de língua portuguesa, a locução conhece, não obstante, outras formas, talvez episódicas, como acontece na Guiné-Bissau, onde, em perda para o crioulo local e as línguas tradicionais, o português continua precário, apesar do seu estatuto oficial. Tenha o futuro linguístico que tiver,  as carências tantas vezes prementes da Guiné-Bissau pedem estabilidade em vários níveis para serem enfrentadas, razão por que se revestem de grande importância as eleições presidenciais de 24/11/2019. No arquivo do Ciberdúvidas são vários os artigos e respostas que abordam os aspetos linguísticos deste país, a saber: "A língua e os nomes na Guiné-Bissau"; "A grafia de Guidage/Guidaje (Guiné-Bissau)"; "Os gentílicos da Guiné, da Guiné-Bissau e da Guiné Equatorial"; "Fiz cinco anos no Brasil» (português da Guiné-Bissau)"; "Os nomes pátrios da Guiné Equatorial e da Guiné-Bissau"; "Os gentílicos de Lamego, Douro, Chaves, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe"; "O mapa etnolinguístico da Guiné-Bissau e a língua, bem maior da literatura";"O positivo e o negativo de quem ensinou português na Guiné-Bissau, na Namíbia e em Timor-Leste"; "A origem dos topónimos em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe no programa Língua de Todos"; "O Ensino 'privado' na Guiné-Bissau"; "As prioridades do IILP no mandato do seu novo diretor executivo".

5. Destaques da presente semana dos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa: no programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África na sexta-feira, dia 22 de novembro, pelas 13h20**, o 10.º aniversário da criação da cátedra de Português Língua Segunda e Estrangeira, da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane; no Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 24 de novembro, pelas 12h30**, o livro Camões Conseguiu Escrever Muito para Quem Só Tinha um Olho, de Lúcia Vaz Pedro. Destaque, ainda, em ambos programas, para uma evocação do compositor, cantor e produtor musical português José Mário Branco (1942-2019).

 ** Ambos os programas são repetidos: o Língua de Todos, no sábado, dia 23 de novembro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português no sábado seguinte, dia 30 de novembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental,  ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Os falantes nativos de português usam o conjuntivo sem grandes questionamentos, mas os estrangeiros que o aprendem já adultos nem sempre se sentem à vontade com as subtilezas do seu uso frásico. Por exemplo, quando se emprega o verbo esperar  para construir uma frase começada por «espero que...», que forma de conjuntivo deve figurar na oração que vem depois, em referência a algo já ocorrido: «espero que corresse bem», ou «espero que tenha corrido bem?» A resposta à questão faz parte da presente atualização do Consultório, onde também se dá conta de como confinamento, não sendo uma palavra assim tão rara, só recentemente encontrou registo  dicionarístico em Portugal. Comenta-se ainda a possibilidade de empregar alimentação no plural, isto é, como palavra contável, permitindo que a forma «alimentações» ocorra em certas frases; e revela-se que, afinal o predicativo do sujeito não aparece apenas associado ao verbo ser. Finalmente, uma velha e conhecida confusão, dicionarizada há praticamente duas décadas: a de empregar solarengo no sentido de «cheio de sol», ou seja, em lugar de soalheiro, vocábulo com tradição e pitoresco.

2. Morreu José Mário Branco (1942-2019), um dos maiores cantores de intervenção de Portugal, que, a par de José Afonso (1929-1987), Sérgio Godinho, Fausto e outros, marcou a transição política e cultural que, no país, culminou na rutura renovadora de 25 de abril de 1974. Explorando intensamente a dimensão política da música e do canto, mesmo em anos mais recentes, José Mário Branco definiu um percurso de coerência na defesa de ideias de justiça social e de igualdade. Foi sobretudo pela exigência e apuro da sua excecional obra musical que se distinguiu este autor, cujas letras – poemas próprios ou alheios* – revelam o peso que dava à palavra e um conhecimento profundo das virtualidades da língua portuguesa e dos seus usos literários ou não literários, eruditos ou mais populares. Desta aguda curiosidade pelos segredos do idioma materno e do fenómeno da linguagem em geral, é sintomático o facto de, já em idade bem madura – 64 anos –, José Mário Branco ter começado a estudar linguística na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, sendo reconhecido como o melhor aluno do curso em 2006  (ver página dos respetivos Alumni). O seu génio polifacetado, abrangendo áreas  tão diversas  como o cinema e o teatro, deixa uma herança imensa – da obra como compositor, músico e intérprete à atividade como produtor, arranjador e mentor de novos talentos da música de raiz portuguesa, incluindo o fado e o cante alentejano. Ficam estes breves exemplos dos títulos das muitas canções deste legado que, além de já fazer parte da memória contemporânea de Portugal, manterá por muito tempo a capacidade crítica de alertar e inquietar consciências: "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"; Qual é a tua ó meu?"; "Alerta"; "Cantiga do fogo e da terra "; "Ronda do soldadinho"; "Menina dos meus olhos"; "Fado da tristeza"; "Fado Penélope"; "Barca dos amantes"; "Quando eu for grande; "FMI"; "Queixa das almas censuradas",  "Mudar de vida", Dez canções que contam a história de uma voz que ficará para sempre "muito mais viva que morta". E, ainda, José Mário Branco mudou a música portuguesa e os portugueses + “José Mário Branco é marca de um grande apuro e exigência”.

* Alguns dos poetas musicados na discografia de José Mário Branco: D. Dinis (Cantigas de Amigo), Martim Codax, Nuno Fernandes Torneol, Airas Nunes, Pedro Eanes SolazLuís de Camões, Natália Correia, Alexandre O’Neill, Sophia de Mello Breyner, Antero de QuentalRuy Belo, Bertolt  Brecht, Manuela de Freitas, entre outros.

Fonte da imagem: "Morreu José Mário Branco", Blitz, 19/11/2019.

3. Em Lisboa, a Fundação Calouste Gulbenkian acolhe em 21 e 22 de novembro p.f. a primeira edição da Conferência Internacional das Línguas Portuguesa e Espanhola (CILPE 2019), uma iniciativa da Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) que tem como objetivo geral abordar a situação das línguas portuguesa e espanhola com vista à sua maior promoção. O encontro procura assim contribuir para reforçar o bilinguismo e a internacionalização do português e do espanhol, em benefício das suas comunidades de falantes deste dois idiomas, as quais, no seu conjunto, envolvem 800 milhões de pessoas. Entre os oradores, contam-se figuras que têm intervindo em matéria de politica de língua, no âmbito da atividade do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), entre elas, o atual diretor-executivo desta entidade, Incanha Intumbo, e os seus mais recentes antecessores Marisa Guião de Mendonça (2014-2018) e Gilvan Müller de Oliveira (2010-2014), bem como a presidente do conselho científico do IILP, a linguista portuguesa Margarita Correia.

4. Falar da relação da língua portuguesa com diferentes regiões de Espanha arrasta inevitavelmente o tema dos laços linguísticos e históricos galego-portugueses. Registo, portanto, para duas notícias que dizem respeito à Galiza: o alerta feito pela Associação de Docentes de Português na Galiza (DPG), em 19/11/2019, para o preenchimento de vagas no ensino secundário com professores sem especialização na língua portuguesa, situação que pode pôr em causa a qualidade do ensino ministrado aos alunos galegos do referido nível de estudos; e a série de palestras que o tradutor e professor universitário Marco Neves vai proferir na Galiza, de 25 a 28/11/2019, sobre um livro de sua autoria que, do lado português, participa do relançamento do debate à volta da convergência (identidade?) e das divergências entre o português e o galego – trata-se de O Português e o Galego são a Mesma Língua?, publicado em 2019 pela editora galega Através (ler apresentação na Montra de Livros).

 5. Temas principais dos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa:

– A comemoração dos 10 anos de criação da cátedra de Português Língua Segunda e Estrangeira, da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane vai ser assinalada com a exposição “Português de Moçambique no Caleidoscópio”, com a qual se pretende sensibilizar os visitantes para a imensa riqueza linguística de Moçambique. O programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África na sexta-feira, dia 22 de novembro, pelas 13h20**, entrevista a professora Inês Machungo, curadora da exposição, sobre este aniversário e as atividades associadas.

– Começando por evocar a memória de José Mário Branco (ver mais acima), o programa Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 24 de novembro, pelas 12h30**, convida depois a professora Lúcia Vaz Pedro a falar de Camões Conseguiu Escrever Muito para Quem Só Tinha um Olho, um livro que reúne casos de erros reais em sala de aula, alguns hilariantes – como este: à pergunta «qual a função do apóstrofo?», o aluno responde que «os apóstrofos são os discípulos de Jesus e andavam sempre com ele».

 ** Ambos os programas são repetidos: o Língua de Todos, no sábado, dia 23 de novembro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português no sábado seguinte, dia 30 de novembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental,  ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. As variantes do português em diversos países são marcadas por uma evolução própria e autónoma, fruto de várias razões a que não são alheias as variáveis individuais. O português falado na Guiné-Bissau assume também esta autonomia, mas as inovações e contrastes com a variante do português europeu acabam por oferecer dúvidas aos falantes. É o caso da expressão «fiz cinco anos no Brasil». No Consultório analisa-se a aceitabilidade desta construção, que inclui o verbo fazer com um valor semelhante a estar ou permanecer.  A formação da palavra infelizmente continua a colocar problemas a quem a considera do ponto de vista morfológico. Tratar-se-á de uma formação parassintética, uma vez que existem as formas independentes infeliz felizmente? O verbo ser assume inúmeras possibilidades de realização sintática e semântica, mas será sempre copulativo? Este problema coloca-se na frase «À noite serei em tua casa», o que gera a dúvida sobre se o sintagma preposicional «em tua casa» tem a função de predicativo do sujeito? A frase «Foi-lhe clemente» será correta, apesar de o adjetivo clemente se construir com complemento preposicional? Ou só será aceitável a forma «Foi clemente com ele»? E a expressão «a meu lado» será adequada sem artigo definido? Por fim, qual a pronúncia correta de Hefesto, deus grego do fogo, filho de Zeus e Hera?

Primeira imagem: Mapa do Português no mundo do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo (atualmente em reconstrução). 

2. A questão do Acordo Ortográfico de 90 regressa por mão do consultor D'Silvas Filho, que apresenta dois apontamentos: um sobre a primeira reunião do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa (COLP) outro sobre aspetos essenciais relacionados com a ação do Grupo de trabalho da Assembleia da República para a avaliação do Acordo Ortográfico de 90.  

3. Há frases feitas que se agarram a situações e a contextos, o que as torna banais e esvaziadas. Onde está a beleza da comunicação ou a criatividade em «Está tudo bem?» ou em «Fica bem»? E, no comércio, como não esperar as previsíveis frases «Então, diga.», «Hoje, o que vai ser?» ou «Em que posso ajudá-lo.»? Frases feitas, não pensadas, que são usadas como expressões formulaicas, cujo sentido se perdeu por já não ser intencional, que só podem irritar quem as ouve e pensa no que poderão querer dizer. Eis o tema da crónica de Miguel Esteves Cardoso no jornal Público (de 16 de novembro), que, com a devida vénia,  transcrevemos na rubrica O Nosso Idioma

4. As expressões cristalizadas podem também adquirir um sentido opaco e não acessível a todos os falantes. Este fenómeno pode ter lugar se a construção da expressão assentar numa estrutura metafórica ou até numa comparação elíptica. Este último fenómeno está presente na expressão «como sardinha em lata», cujo sentido nos é explicado pela lexicógrafa Ana Salgado, num apontamento divulgado na plataforma Gerador

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, é sabido que as vogais  e, i e u (ou o), quando átonas, são um desafio para a boa dicção. Palavras como ministérioprodutividade saem diminuídas sob formas como "mnistério" e "prutividade", em consequência da redução vocálica que caracteriza a variedade lusitana. No Pelourinho, um novo apontamento dá conta de mais uma ocorrência deste fenómeno, numa intervenção do primeiro-ministro português no debate quinzenal que decorreu no parlamento português no dia 12 p.p.: o termo competitividade, dando ímpeto ao discurso, acaba silabicamente atropelado pela prolação "comptividade". Na mesma rubrica, outro caso, também em Portugal: os erros, que se tornaram constantes, num  concurso televisivo... visando a cultura geral dos telespectadores.

2. A presente atualização traz seis novas questões ao consultório: como soa o o da penúltima sílaba de carbono? Será a locução «com relação a» tão correta como «em relação a»? Uma pessoa que tem as nacionalidades italiana e alemã é "italiana-alemã" ou italiano-alemã? Qual a função sintática do constituinte «da burla» na expressão «história universal da burla»? Que tipo de antecedente tem a locução pronominal relativa «o que»? Porque se diz «tem-la, como em «tu tem-la visto», e não «tem-na»?

3. Registe-se, entre as notícias que correm, a iniciativa do Governo português para um plano de não retenção no ensino básico (do 1.º ao 9.º anos), medida que gerou discussão parlamentar no debate quinzenal acima referido. Vem, portanto, a propósito mencionar os dados que a Eurostat, a organização estatística da Comissão Europeia, faculta quanto às diferenças e dificuldades existentes entre os jovens com menos de 15 anos da União Europeia na vertente da compreensão da escrita no período 2000/2015. A respeito desta competência, sublinha o blogue Grazia Tanta (publicação de 11/11/2019): «As melhorias mais significativas observam-se na Letónia, no Luxemburgo e em Portugal [...]. A evolução da situação em Portugal é bem positiva, situando-se o país em 2015 com um indicador melhor do que a média europeia, o que não acontecia quinze anos antes; e agora com uma grande aproximação ao valor apresentado por Espanha.» A mesma evolução positiva de Portugal se repete na Matemática e nas Ciências. Espera-se, portanto, que as medidas governamentais contribuam para manter, se não para melhorar, os indicadores portugueses.

4. Faça-se ainda referência a uma novidade no reforço da presença do português no domínio das tecnologias: a variedade de Portugal passou a estar igualmente disponível no assistente digital da Google, ferramenta que permite uma conversa natural com o smartphone para controlar uma série de funcionalidades (por exemplo, regular luzes da casa ou definir o despertador). Como assinala o jornal digital Observador, «a partir desta quinta-feira [14/11/2019], não há "pá", "'bora" ou "'tá" que fique despercebido»

5. Em ambos os programas que a Associação Ciberdúvidas produz para a rádio pública portuguesa, volta-se a focar a decisão da UNESCO de instituir o Dia Mundial da Língua Portuguesa, comemorado a 5 de maio (ver também nas Notícias), com entrevistas a António Sampaio da Nóvoa , embaixador português na UNESCO, e Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal. Recorde-se que o programa Língua de Todos é transmitido pela RDP África na sexta-feira, dia 15 de novembro, pelas 13h20*. O Páginas de Português vai para o ar na Antena 2, no domingo, 17 de novembro, pelas 12h30*.

 * Ambos os programas são repetidos: o Língua de Todos, no sábado, dia 16 de novembro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português no sábado seguinte, dia 23 de novembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental,  ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.