A propósito da mulher que diz ser “barbeiro”, porque «barbeira é a mulher do barbeiro», e como, estranhamente*, também o atesta o dicionário Priberam, vale a pena lembrar que o sufixo -eiro, entre outros sentidos, exprime a ideia de profissão, com o feminino -eira. Assim rezam várias gramáticas, das mais simples às mais eruditas. Vejamos alguns exemplos do masculino e respetivo feminino: enfermeiro/enfermeira; porteiro/porteira; cozinheiro/cozinheira; costureiro/costureira; engenheiro/engenheira; jardineiro/jardineira; pasteleiro/pasteleira; carteiro/carteira; etc., etc. Assim sendo, por que razão é que “barbeira” há-de ser a mulher do barbeiro? Só porque nos tempos de antanho era profissão exclusiva dos homens? É o mesmo de resistências, ainda sentidas no meio judicial, com o feminino de juiz ou da poetisa, entre as mulheres que se acham desconsideradas se não lhe chamarem poetas.... Acaso a cabeleireira é a mulher do cabeleireiro, ou a picheleira é a mulher do picheleiro? E os outros casos, tantos, de profissões ou cargos hoje já não só exercidos por homens, como agrimensor/agrimensora, arquiteto/arquiteta, condutor/condutora, bombeiro/bombeira, cônsul/consulesa, primeiro-ministro/primeira-ministra, monge/monja, pedreiro/pedreira, tesoureiro/tesoureira, e por aí adiante?
De resto, há muito que em Portugal – assim como também no Brasil – existem mulheres barbeiras. Em Sines, eu própria arranjo o cabelo na Barbeira – onde duas amigas cortam e fazem barbas. São, por isso, barbeiras (e também cabeleireiras). Não por serem casadas com barbeiros!
* Nenhum outro dicionário de referência, brasileiro ou português, segue o registo da Priberam.
[Texto escrito conforme a norma anterior ao Acordo Ortográfico de 1990, por opção da autora.]