O enunciado apresentado é retirado de uma frase mais longa, que aqui transcrevemos na íntegra:
«E nas suas refracções, nas personagens que se revezam relançando a linha – além de Bernfried Järvi, temos Milo, Matthäus Geschke ou Pagreus –, o narrador encena aqueles modos de uma escrita como antídoto, um talento incerto para abdicar do modo de composição mais verosímil, salvar-nos da esterilidade de um realismo imbecil, para nos entregar a uma desordem enunciativa que é outra forma de reger o mundo, quando, mais do que sentido, do que este precisa é que lhe dêem corda.»1
Nesta frase, a modalidade expressa é a epistémica com valor de certeza.
Na modalidade apreciativa, o locutor apresenta um juízo de valor positivo ou negativo sobre uma situação, ou seja, avalia o conteúdo dos factos que refere. É exemplo da modalidade apreciativa:
(1) «Agrada-me que tenhas escrito este livro.»
Nesta frase, o locutor faz um juízo de valor positivo relativamente à proposição «tu escreveste este livro».
A modalidade epistémica, por sua vez, «prende-se com graus de certeza ou avaliação da probabilidade acerca do conteúdo proposicional da frase.» (Oliveira e Mendes in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian. p. 623). Assim, na frase (2), o locutor exprime a certeza relativamente à verdade da proposição «o livro vai ser um sucesso».
(2) «Estou certo que o livro vai ser um sucesso.»
No caso da frase apresentada pela consulente, não encontramos indícios linguísticos que apontem para a expressão de um juízo de valor por parte do falante. A frase apresenta, antes, uma determinada situação dada como certa pelo falante, o que corresponde à modalidade epistémica com valor de certeza.
Disponha sempre!
1. Retirado deste texto, redigido conforme a norma anterior ao Acordo Ortográfico de 1990.