Há palavra parecidas com significados muito distintos, opostos mesmo. E tantas vezes os usos ignoram essas diferenças ou aproveitam-se delas. Veja-se a confusão que instala quem confunde -e- com -i-, discriminando a descriminação.
A descriminação foi discriminada só porque procurava justiça para quem fora incriminado sem ter cometido qualquer crime. Por seu turno, a discriminação defendia que era importante separar o trigo do joio, porque era fundamental colocar de parte «quem não interessava».
A descriminação lutava pela ordem positiva, enquanto a discriminação se movia no escuro, buscando a segregação.
E assim, muitas vezes, quem procurava descriminar opções consideradas negativas (ser a favor do aborto, ser homossexual, ser a favor da eutanásia…) ou ações consideradas criminosas sem de facto o serem, acabava discriminado com um rótulo de extremista, louco ou anarquista.
Atualmente, a confusão está de tal forma instalada que a discriminação já se disfarça de coisa boa, fazendo-se escrever com -e-. É verdade que o seu significado se mantém, mas conseguiu acabar com o reinado da descriminação e dos seus significados positivos.
Lemos por aí: «sou contra a descriminação sexual, racial ou religiosa» e «não aprovo a descriminação de género» e pensamos que temos é de descriminar aqueles que tais coisas escrevem porque eles se incriminam sozinhos.