1. As palavras permanecem no centro do nosso quotidiano uma vez que, por meio delas, podemos referir diferentes realidades, materiais ou imateriais. É o seu relevo no espaço público e nas interações humanas que sinaliza, não raro, a importância atribuída às situações. Esta semana, em Portugal, uma das palavras em destaque foi pré-triagem, um neologismo usado para descrever um novo procedimento que será adotado na admissão de mulheres grávidas em hospitais da rede do Serviço Nacional de Saúde. O termo selecionado para designar a nova realidade poderá tanto sugerir uma primeira triagem como veicular uma significação redundante, uma vez que triagem significa «selecionar ou escolher previamente», ao passo que, entre os seus diversos valores, o prefixo pré- significa «anterioridade no tempo». Nesta última linha de interpretação, o prefixo poderia veicular um valor que se sobrepõe ao de anterioridade já incluído em triagem. Deste modo, para referir a medida que visa efetuar uma seleção das grávidas, bastaria recorrer ao termo triagem ou eventualmente à expressão «primeira triagem», deixando em aberto a possibilidade de existência de outras triagens a serem efetuadas no local a que se dirigir a grávida. As palavras são também responsáveis por algumas dúvidas dos falantes, como se pode concluir pela consulta dos termos mais pesquisados no Google em 2024, divulgados pelo Jornal de Notícias, entre os quais encontramos a distinção entre fagulha e faúlha (palavras que poderão ser sinónimas em função do sentido que atualizam, como se explica nesta resposta). Nesta listagem, encontramos ainda a pesquisa que procura identificar a forma correta: «com certeza ou concerteza?» (sendo a última a forma incorreta, o que já se assinalou por diversas vezes). Noutro plano, no cotejo entre as variedades do português, identificamos originalidades em determinados usos, como se verifica nas construções «efeito gargalo», «dar gargalo» ou «fazer gargalo», usadas no português do Brasil com o intuito de descrever uma determinada restrição que cria dificuldades numa etapa do processo, porque não existe capacidade de dar resposta aos pedidos.
2. No Consultório, explica-se como se deve fazer a abreviatura da palavra número, uma resposta que se faz acompanhar de outras oito, que completam a atualização: «O complemento do nome itinerário», «Locuções inexistentes: «não excluso que» e «incluso que»», «Antiguíssimo e boníssimo», «A expressão «minha autobiografia», «A palavra brasiliano(a)», «Os nomes embalagem e embalo», «A expressão «tocar (ao) de leve»» e «Pertences e pertenças».
3. A divisão de uma palavra nas suas sílabas constitutivas pode gerar dúvidas quando os vocábulos incluem um ditongo ou encontros vocálicos. As palavras história e dia são exemplo das dúvidas que podem ocorrer na identificação das sílabas, o que motiva o apontamento da professora Carla Marques (divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2).
4. Ricardo Cavalieri, professor universitário aposentado, apresenta um artigo no qual se debruça sobre as consequências do preconceito linguístico e avança possibilidades de inclusão social e linguística (partilhamos, com a devida vénia, a terceira parte do artigo partilhado no mural Língua e Tradição).
5. Numa época marcada por muito eventos, destacamos os seguintes:
– Debate em linha intitulado O ensino da literatura: cânone e competências complexas de leitura, dinamizado pela Associação de Professores de Português, que terá lugar no dia 9 de janeiro de 2025 entre as 17h30 e as 20h30 e cujas inscrições se encontram abertas;
– Exposição O humor unido jamais será vencido – Os cartoons da revolução (1974-1976), a decorrer no Museu Bordalo Pinheiro, em Lisboa;
– A comemoração dos 500 anos da morte do navegador português Vasco da Gama, com várias atividades associadas (notícia).
6. Finalmente, como é hábito na quadra do Natal, coincidindo com a pausa escolar em Portugal, o Ciberdúvidas reduz o volume de conteúdos publicados e encerra o seu serviço de esclarecimento de dúvidas de 18 de dezembro a 6 de janeiro. Para assuntos que não digam respeito a questões da língua, ficam disponíveis os nossos contactos. Sempre que o interesse e a atualidade o justificarem, incluem-se novos artigos nas demais rubricas – O Português na 1.ª Pessoa, Diversidades, Notícias, Montra de Livros. Sobre a atividade deste portal durante os próximos dias, é dada mais informação na abertura de 20 de dezembro.
1. Falando de futebol, no Ciberdúvidas tem-se dado conta de deslizes cometidos sob a pressão do momento em conferências de imprensa e em transmissões diretas. Compreende-se que assim aconteça, porque o discurso oral espontâneo se presta a lapsos cujos autores frequentemente corrigem logo a seguir. No registo escrito, embora seja hoje muito mais fácil revertê-los, dada a flexibilidade do suporte digital, a verdade é que há erros que ficam perdidos numa ou noutra página eletrónica. É o caso do subtítulo «E que jogos haverão em Portugal?», que se lê (ou lia, porque a correção vem sempre a tempo) numa notícia sobre o anúncio do Campeonato Mundial de Futebol FIFA de 2030, que se realizará em Espanha, Portugal e Marrocos, além de incluir ainda alguns jogos disputados na Argentina, Uruguai e Paraguai (cf. "Já se sabia há algum tempo, mas agora é oficial: Mundial 2030 passa por Portugal, África e América do Sul", Sapo 24, 11/12/2024). Como se sabe, e como tantas vezes se esquece, o verbo haver só se usa na 3.ª pessoa do singular quando tem valor existencial, conforme se lê numa resposta em arquivo. A forma correta do subtítulo em causa é, portanto, «E que jogos haverá em Portugal?».
Crédito da imagem: Pixabay.
2. «Roma e Pavia não se fizeram num dia», «todos os caminhos vão dar a Roma», «quem tem boca vai a Roma» e outros ditos refletem a importância da Cidade Eterna ao longo dos tempos. Em O Nosso Idioma, a consultora Inês Gama explora num apontamento alguns dos provérbios que existem em português com a referência à cidade de Roma. Na mesma rubrica, fala-se de brain rot, que é a expressão escolhida como Palavra do Ano de 2024 pela Oxford University Press e dá o mote para um comentário da consultora Sara Mourato.
3. A linguagem do Padre António Vieira mantém-se atual e, portanto, levanta problemas que são ainda os do português contemporâneo. Por exemplo, como classificar a oração que finaliza a frase «louvai a Deus, enfim, servindo e sustentando ao homem, que é o fim para que vos criou» (Sermão de Santo António aos Peixes)? Trata-se de uma oração coordenada explicativa, conforme se comenta numa das sete novas perguntas disponíveis no Consultório. São também tópicos desta atualização: o topónimo Mualdes (Coimbra); a expressão «segurar nas costas»; o uso preposicional de passante; a comparação «menos seis horas que»; o modificador do nome restritivo em «estrutura satírica»; e a construção «outra coisa que não seja».
4. As orações coordenadas explicativas são também objeto de análise no episódio 10 de Ciberdúvidas Vai às Escolas. A esta rubrica em vídeo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa junta-se Ciberdúvidas Responde, cujo episódio 13 revela como um nome próprio como Natal também permite a formação do diminutivo Natalzinho.
5. Refira-se que tem muito interesse o novo episódio de Palavrões na Ciência, podcast realizado por Marco Neves e Cristina Soares, dedicado ao tema "A tradução automática nas Urgências". São entrevistadas duas especialistas em tradução, Hanna Pięta Cândido (Universidade Nova de Lisboa) e Susana Valdez (Universidade Leiden), a respeito dos problemas encontrados pelos imigrantes no uso de ferramentas de tradução automática no contexto dos cuidados de saúde. Recorde-se que Hanna Pięta e Susana Valdez foram também as convidadas do seminário à distância "Tecnologias e barreiras linguísticas" promovido em 12/12/2024 pelo curso Migrações e Desafios da Integração, do Iscte.
6. Outros registos:
– em 09/12/2024, o falecimento do escritor Dalton Trevisan, que, entre outras distinções, ganhou o Prémio Camões de 2012;
– em 13/12/2024, no Centro de Linguística da Universidade do Porto, a conferência de Pilar Barbosa (Universidade do Minho) intitulada “Interface entre sintaxe e morfologia, Morfologia Distribuída e aplicações ao português”;
– durante a quadra natalícia, o "Calendário de leituras para as festas", uma proposta do Plano Nacional de Leitura;
– em 09/01/2025, a ação de curta duração "O ensino da literatura: cânone e competências complexas de leitura", realizada à distância e promovida pela Associação de Professores de Português (inscrições obrigatórias aqui);
– até 28/02/2025, a mostra bibliográfica "Camões Universal", que a Academia das Ciências de Lisboa tem patente na sua sede.
7. Temas de três dos programas que a rádio pública portuguesa dedica a temas do português:
– Em Língua de Todos, difundido pela RDP África, na sexta-feira, 13/12/2024, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), entrevista com a linguista Margarita Correia, professora na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, sobre «Representações políticas e sociais nas definições lexicográficas – do Dicionário da Língua Portuguesa à Infopédia», comunicação de 12/12/2024, em Genebra.
– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 15/12/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 21/12/2024, às 15h30*), a investigadora Elena Lombardo do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa apresenta o projeto "Do pergaminho ao computador: editar manuscritos na era digital", que visa a divulgação da filologia digital. Ainda o apontamento gramatical da professora Carla Marques que discorre sobre a divisão silábica das palavras história e dia.
– Igualmente na Antena 2, mencione-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.
* Hora oficial de Portugal continental.
8. Por último, recorda-se que decorre o passatempo A Dúvida do Ano 2024, dedicado nesta edição à ortografia. Para votar, basta clicar aqui.
1. A queda de Bashar al-Assad, presidente da Síria há quase 24 anos, está a ser interpretada como uma oportunidade que o país encontrou para se reconciliar com a sua história, apesar da ameaça latente dos perigos associados às posições extremistas que poderão ocupar o poder. Esta reviravolta na política síria parece ter colocado um ponto final nos governos da família al-Assad, que ocupou o poder durante mais de meio século. O presidente agora deposto encontra-se exilado na Rússia, país que lhe concedeu o estatuto de asilo humanitário. O termo asilo, que advém do latim asӯlum, tem significados diversos, podendo referir tanto um local onde se albergam pessoas necessitadas (sinónimo de hospício), como um lugar inviolável ou seguro. A palavra asilo pode ainda ser usada como uma referência associada a sentidos imateriais como «acolhimento, proteção, guarida». Usa-se na expressão «dar/pedir asilo (político)», que ativa os valores de proteção dada a pessoa perseguida e também de local de refúgio onde essa guarida é concedida. O nome exílio, do latim exsilĭum, por seu turno, refere a «ação de expulsar alguém da pátria, desterro, deportação». O termo pode igualmente designar o lugar onde alguém se encontra expatriado. Assim, poderemos afirmar que Bashar al-Assad foi exilado do seu país e que se encontra no exílio na Rússia, onde lhe foi concedido asilo político. Não se confunda ainda o verbo asilar («dar ou obter asilo») como o verbo exilar («expulsar do seu país; deslocar-se para lugar distante»).
*Foram consultados os dicionários Priberam e Dicionário da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa.
2. As questões que chegaram mais recentemente ao Consultório incidem na área da sintaxe (com estreitas ligações à semântica) e abordam a classificação de orações que não estão contempladas na classificação escolar tradicional (como é o caso das orações comparativas condicionais). Dão também matéria a diferentes respostas, tal como a compreensão da estrutura sintática na base da construção clivada canónica, a sintaxe do verbo incentivar e a relação entre o complemento circunstancial de companhia (classificação da Nomenclatura gramatical portuguesa) e a função de complemento oblíquo e modificador (classificação presente, por exemplo, no Dicionário Terminológico). Poderão ainda ser consultadas respostas sobre os processos de coesão lexical e a repetição, os verbos anedotizar e "anedotear", os gentílicos malaio e malásio, a expressão «a sorte grande e a terminação» e o encontro da conjunção que com a locução relativa «o que».
3. No contextos das dúvidas que chegam ao Consultório do Ciberdúvidas, recordamos que está aberta a votação para a seleção da Dúvida do Ano, uma rubrica que permite aos leitores do Ciberdúvidas elegerem a dúvida que mais frequentemente identificam no seu quotidiano. Este ano, as dúvidas selecionadas são de natureza ortográfica, como se explica na notícia. A votação pode ser feita aqui.
4. As expressões «ao invés de» e «em vez de» são, por vezes, interpretadas como equivalentes, o que pode gerar ruído na comunicação. A consultora Inês Gama explica as diferenças e aponta as construções equivalentes no seu apontamento divulgado no programa Páginas de Português, emitido na Antena 2.
5. O gramático e professor de língua portuguesa Fernando Pestana propõe o neologismo "sobreísmo" (um termo da família dos fenómenos de queísmo e dequeísmo, já catalogados no campo da linguística) para descrever a tendência para colocação da preposição sobre em diversas construções, num apontamento que pode ser lido na rubrica O Nosso Idioma.
6. Dora Gago, professora universitária e investigadora, propõe uma reflexão sobre a importância da leitura, colocando a tónica na importância de estimular a leitura junto das crianças, desde muito cedo.
7. Destacamos o encontro que terá lugar na terça-feira, dia 10 de dezembro, às 14h30 (17h30, hora de Portugal), no Real Gabinete Português de Leitura, do Rio de Janeiro, no qual o professor universitário Carlos Reis proferirá uma comunicação intitulada "As personagens d'Os Lusíadas e as suas representações". O evento terá transmissão ao vivo pelo canal do Youtube, nesta hiperligação.
1. Entre notícias de agitação social e política, os media portugueses assinalam também uma efeméride: a comemoração em 7 de dezembro do centenário de Mário Soares (1924-2017), figura marcante da democratização desencadeada em Portugal pela revolução de 25 de Abril de 1974 e depois na consolidação do regime, como primeiro-ministro e, mais tarde, como presidente da República. O papel histórico de Soares na sociedade portuguesa encontra-se também documentado em termos e expressões de um passado recente: soarismo, como linha de pensamento e atuação política de Soares (cf. Infopédia); ou o lema «Soares é fixe», popularizado pela campanha para as eleições presidenciais de 1986. E vem a propósito lembrar que o apelido Soares tem configuração bastante frequente na história dos apelidos em Portugal. Com efeito, trata-se de um antigo patronímico que significava «filho de Soeiro», como se explica numa resposta de 1997, da autoria de José Neves Henriques. Os patronímicos eram nomes pessoais do período medieval galego-português, que se formavam geralmente com o sufixo -ez, comum a outras línguas ibero-românicas (leonês, castelhano) e se empregavam para indicar a filiação (ao que parece, só a do pai). Com o andar dos tempos, estes patronímicos tornaram-se apelidos, perdendo o significado e a função originais: além de Soares, há os casos de Fernandes, Rodrigues ou Henriques, e muitos outros, que literalmente significavam «(filho/a) de Fernando», «de Rodrigo» e «de Henrique», respetivamente. Sobre este tipo de apelidos e acerca dos nomes próprios de pessoa (antroponímia), consultem-se os seguintes conteúdos em arquivo: "A formação dos patronímicos", "Patronímicos, apelidos e genealogia", "Nome e apelido", "Origem do apelido Fernandes", "Significado do apelido Lopes", "Henriques", "A origem do nome Rodrigues", "Os apelidos Rodrigues e Roiz".
Ainda relativamente a este tema, mas já no plano dos primeiros nomes (tradicionalmente, «nomes de batismo»), refira-se que, em 2024, os nomes Maria e Francisco continuaram a ser os mais frequentes no registo de crianças em Portugal. Cf. "Maria e Francisco voltaram a ser 'reis' em 2024", Público, 05/12/204. Na imagem, capa da edição fac-similada de Antroponímia Portuguesa (1928), de Leite de Vasconcelos (1858-1941).
2. Em Montra de Livros, apresentam-se duas publicações:
– Estudos em variação linguística nas línguas românicas – 2, que reúne um conjunto de textos cujo objetivo principal é apresentar e discutir questões empíricas, metodológicas e teóricas do estudo da variação e mudança linguística.
– Queria? Já não quer?, livro em que o autor, o professor universitário, tradutor e divulgador de temas linguísticos Marco Neves, retoma o tema das ideias falsas sobre a origem e o uso de certas palavras e expressões do português.
3. Falando de mitos, em Portugal continental imagina-se por vezes que a maneira de falar característica dos açorianos se resume ao que se ouve na ilha de São Miguel. A realidade é que os Açores são um arquipélago de nove ilhas, com importante diversidade linguística. Em Diversidades, a consultora Sara Mourato revela como, na ilha Terceira, se detetam especificidades lexicais e fonéticas que reforçam a identidade local.
4. Como é possível que camafeu, que designava principalmente certo tipo de joia, também possa hoje significar «pessoa feia»? No Consultório, esta pergunta faz parte do conjunto de sete novas questões, que também abrangem problemas de sintaxe ("Viver + gerúndio", "Às vezes... outras vezes..."), semântica ("Ir sair"), léxico ("'Com base em' + siglas") e história da língua ("O arcaísmo empós", "A origem do verbo arremessar").
5. Quanto às rubricas em vídeo do Ciberdúvidas:
– No episódio 9 de "Ciberdúvidas Vai às Escolas", uma aluna da Escola Portuguesa de Díli pergunta: que tipos de complemento se associam ao verbo correr em «correr daqui para fora» e «correr os cem metros»?
– O Natal é o mote dos novos episódios de Ciberdúvidas Responde, e o episódio 12 diz respeito ao português do Brasil: qual é o plural de Papai Noel?
6. Registo de um anglicismo da atualidade: a expressão brain rot, livremente traduzida como «podridão cerebral» (por excesso de consumo de conteúdos digitais) e votada como palavra do ano de 2024 pelos lexicógrafos da Oxford University Press.
7. Nos programas que, na rádio pública de Portugal, têm a língua portuguesa por tema, são temas de relevo:
– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 06/12/2024, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a linguista Sandra Duarte Tavares aborda o conceito de comunicação assertiva e a diferença entre o significado das palavras positividade e positivismo, ainda a origem do termo berbicacho e o sinónimo do termo do português de Angola mambo.
– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 08/12/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 14/12/2024, às 15h30*), a professora da Universidade de Lisboa Margarita Correia concede uma entrevista sobre «Representações políticas e sociais nas definições lexicográficas – do Dicionário da Língua Portuguesa à Infopédia», comunicação que proferiu em 12/12/2024, em Genebra, no encontro A Língua que Abril nos Deu. Ainda o apontamento gramatical da consultora do Ciberdúvidas Inês Gama sobre as locuções «em vez de» e «ao invés de».
– Refere-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. A ortografia é um código desenvolvido por uma comunidade com a finalidade de permitir registos escritos, de vária ordem, que possam ser lidos e compreendidos por todos os que aprenderam as suas regras e dominam a língua que os alimenta. A própria formação da palavra aponta para a normatividade: ortografia vem do grego, resultando da junção de orthós, que significa «correto», e graphê, que significa «escrita». As normas ortográficas são ensinadas no momento da aprendizagem da escrita, o que constitui um processo muito relevante nos primeiros anos de escolaridade. Não obstante, este percurso de aprendizagem da grafia das palavras vai ocorrendo em todas as fases da vida, sempre que o sujeito escrevente se depara com uma palavra nova ou com uma palavra cuja forma desconhecia. É certo também que tanto as dúvidas quanto as aprendizagens erradas são responsáveis por incorreções ortográficas que, com o auge das redes sociais, se vão disseminando, chegando a muitos falantes e, por vezes, instalando a dúvida. Entre os erros, encontramos aqueles que têm uma natureza fonética relacionada com a imagem visual da palavra, de que é exemplo a confusão entre viagem, nome, e viajem, forma verbal. A forma como se perceciona o som de uma palavra dá igualmente origem a erros, pois, em determinados vocábulos, há sons cuja articulação não corresponde ao grafema, o que se ilustra com os seguintes pares que evidenciam, respetivamente, o distanciamento entre a forma como alguns falantes pronunciam a palavra e a grafia desta: "elações" vs. ilações; "iminência" vs. eminência; "riu" vs. rio; "ilegível" vs. elegível ou "pião" vs. peão. Outros problemas ortográficos relacionam-se com uma aprendizagem deficitária da morfologia verbal, tal como ilustra a flutuação muito frequente na grafia da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo: "entras-te" vs. entraste. Encontramos também erros de natureza mais complexa, que estão relacionados com a forma como se identifica a palavra e a sua classe ou função (como acontece na confusão entre haver e «a ver»). Apontamos também dificuldades na individualização lexical, que permite estabelecer a fronteira entre as palavras, o que se observa nas hesitações entre senão e «se não» ou entre enfim e «em fim». As dúvidas no campo da ortografia são diversas e, não raro, ditam a persistência do erro, uma situação que deve ser combatida pelo contributo da consciencialização. Por esta razão, este ano, o Ciberdúvidas decidiu dedicar a rubrica Dúvida do Ano às questões ortográficas. Apresentam-se os 10 erros frequentes analisados atrás e solicita-se aos nossos consulentes e seguidores que procedam à votação para seleção da Dúvida do Ano de 2024, indicando qual o erro com que mais frequentemente se deparam nos textos que leem. A votação decorrerá até ao dia 3 de janeiro e os resultados serão anunciados no dia 7 de janeiro.
2. Na área lexical, a Porto Editora lança também a votação para a eleição da Palavra do Ano. A palavra de 2024 será escolhida entre os seguintes vocábulos, que se destacaram ao longo do ano: auricular, conflitos, fogos, imigração, inclusão, INEM, jovem, liberdade, polícia e transportes.
3. A natureza do pronome se em construções como «Aqui vive-se bem» oferece, não raro, dúvidas na sua interpretação, as quais poderão tornar-se ainda mais complexas quando se considera a alternância entre «elogia-se os alunos» e «elogiam-se os alunos». Na atualização do Consultório, esta é uma questão que, mais uma vez, se aborda, considerando igualmente a natureza dos verbos intransitivos. Poderão ainda ser consultadas as respostas relacionadas com os seguintes aspetos da gramática: «Verbos pronominais essenciais»; «Substantivo relacionado com insosso»; «Aeroportos e nomes próprios de pessoa»; ««Dar medo», «fazer medo», «meter medo»»; «A sintaxe de «abrir alas»»; «Frases interrogativas e modo nas orações subordinadas» e «Demonstrativos e apresentações».
4. A natureza da expressão «ora essa» é o assunto central do apontamento desta semana da professora Carla Marques, uma rubrica divulgada no programa Páginas de Português, na Antena 2 (em 1 de dezembro de 2024).
5. Poderá a Inteligência Artificial influenciar o discurso dos humanos? A questão, que poderia parecer do domínio da ficção científica até há bem pouco tempo, parece ter passado para o domínio da realidade, tal como o comprova a investigação do professor catedrático espanhol Ezequiel López, que concluiu que os humanos usam palavras que recolheram de textos do ChatGPT, uma pesquisa que adiantou ainda que a «inteligência coletiva, tal como a entendemos, está em perigo se começarmos a usar a IA de forma massificada». Os resultados da investigação poderão ser avaliados no artigo de divulgação científica que, com a devida vénia, traduzimos do espanhol (originalmente publicado no jornal El País).
6. Entre os acontecimentos de relevo, destacamos:
– A aprovação, pela Assembleia da República, de uma dotação de 500 mil euros para promoção da língua mirandesa;
– A proposta de Macau para a inclusão de uma dança folclórica portuguesa na Lista do Património Intangível do território, uma lista que, em 2019, passou a incluir o teatro em patuá, o dialeto crioulo da comunidade.
1. As notícias podem dar destaque à turbulência política e militar no mundo, com imediatismo e trágica espetacularidade, mas também globalmente há atividades e processos com outras escalas, de intuitos construtivos. Refira-se, por exemplo, com vista ao desenvolvimento social das populações, a intervenção de organizações internacionais na promoção de políticas educativas, abrangendo medidas de integração da diversidade linguística. Uma dessas entidades é o Banco Mundial (BM), que concede crédito e realiza estudos para o desenvolvimento de planos educativos nos diferentes países. Na Montra de Livros, apresenta-se a tradução em português de Em Alto e Bom Som: Políticas de Língua de Instrução Eficazes Para a Aprendizagem, que o BM lançou em 2021 com o objetivo de propor novas abordagens na alfabetização e ensino de línguas. Revela-se aí que 37% dos estudantes em países de rendimento médio e baixo veem comprometidos o seu rendimento académico e a permanência na escola por o ensino não ser feito na língua que falam e compreendem melhor. Como se diz na apresentação deste documento, esta e outras conclusões são com certeza «um mote interessante para uma reflexão mais alargada sobre o papel da língua portuguesa no sistema educacional de certos países, sobretudo, os PALOP».
* Para uma reflexão sobre este tema, leia-se, de Vivian Duarte Couto Fernandes e Gilberto José Miranda, "Banco Mundial e UNICEF na discussão da política global de educação: como essas organizações internacionais conquistaram relevância no debate educacional?", Revista de Estudos Internacionais, vol. 133, n.º 2, 2022. Imagem retirada do vídeo que acompanha a versão em inglês do documento Em alto e bom Som.
2. Muitas plataformas digitais têm vindo a degradar a qualidade dos seus serviços com excesso de publicidade e avidez pelo lucro. Em inglês, o fenómeno é conhecido polemicamente como enshittification, cuja transposição em espanhol dá mierdificación (digital). Em português, além da fácil e transparente adaptação da forma espanhola, que dizer de "embostificação" e "embostificar"? Em Controvérsias, a consultora Sara Mourato tece algumas considerações sobre este tópico.
3. Em O Nosso Idioma, um apontamento (no Facebook , 27/11/2024) do gramático Fernando Pestana dá conta da censura que no Brasil recai sobre o uso anafórico de «o mesmo», uma "jabuticaba", isto é, uma singularidade da doutrina normativa brasileira.
4. Na perspetiva do fenómeno da dêixis, como analisar o verso pessoano «o que em mim sente está pensando»? A pergunta encontra-se no conjunto de sete questões que atualizam o Consultório e se referem também à morfologia – "A formação de sobreconfiança" –, à sintaxe – "Ter permissão de" vs. "ter permissão para", – à semântica – "Uso genérico de substantivos" –, às classes de palavras – "A subclasse de converter" –, ao léxico – "O anglicismo 'shipar'" – e à variação linguística – "O advérbio adentro".
5. Quanto à rubricas em vídeo do Ciberdúvidas, fala-se do plural de Pai Natal, em Ciberdúvidas Responde, para assinalar o começo da época natalícia; e, com a participação da Escola Portuguesa de Díli (Timor-Leste), explica-se a noção de campo lexical em Ciberdúvidas Vai às Escolas.
6. Nas Notícias, anuncia-se que, até 31 de dezembro, decorre o prazo para a apresentação de candidaturas à edição de 2024 do Prémio Emília Amor de Investigação em Didática do Português. Mais informação aqui.
Refira-se igualmente a sessão "Tecnologias e barreiras linguísticas", promovida pelo IPPS-Iscte e organizada no âmbito do ciclo de conversas Migrações e Desafios de Integração. A transmissão é feita no Youtube em 12 de dezembro de 2024, das 18h00 às 18h45.
7. Falando de didática, registe-se os recursos audiovisuais que nesta área se disponibilizam nos canais da televisão pública, designadamente, na RTP Ensina. Destaquem-se os seguintes vídeos: "O Amor na Idade Média", "Quem é Eurico, o Presbítero?", "Português Língua Não Materna, para romenos", "A Floresta Relíquia, um tesouro ancestral", "Recursos expressivos que embelezam um texto" e "Sim, eu consigo".
8. Conteúdos de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa:
– Em Língua de Todos, difundido pela RDP África, na sexta-feira, 29/11/2024, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a linguista Sandra Duarte Tavares fala sobre o uso do verbo avisar. Inclui-se ainda a análise de um poema de Vinicius de Moraes, "O Falso Mendigo, feita por Carlos Rocha, professor e coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
– A coordenadora do ensino do português do Camões IP para Espanha e Andorra, Filipa Soares, apresenta as XXV Jornadas de Atualização Docente de PLE 2024 – Recursos audiovisuais no ensino do PLE: manual de instruções, que terão lugar nos dias 29 e 30 de novembro, no Camões – Centro Cultural Português em Vigo, em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 01/12/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 07/12/2024, às 15h30*). Participa também a professora Carla Marques, com um apontamento sobre a classificação a expressão «ora essa».
– Igualmente na Antena 2, mencione-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. O Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher assinalou-se a 25 de novembro. A data é celebrada pela ONU desde o ano de 1999, em homenagem simbólica às irmãs Mirabal (Patricia, Minerva e María Teresa), que lutaram contra a ditadura de Rafael Trujillo, na República Dominicana e que, devido às suas ações, foram assassinadas de forma violenta, a 25 de novembro de 1960. Este evento associa-se ao Dia Laranja (Orange Day), uma campanha organizada pela ONU, que convida a que, no dia 25 de cada mês, se vista uma camisola laranja, numa ação de denúncia da violência exercida sobre meninas e mulheres. A cor laranja foi selecionada como símbolo de um futuro mais brilhante e sem violência. Neste contexto discursivo, podemos assinalar o uso de palavras-chave, como feminicídio («assassinato de uma mulher»), que já se encontra dicionarizada. Continuamos, contudo, a registar o recurso a muitos anglicismos, para os quais urge encontrar correspondente em língua portuguesa. Entre eles, destacamos termos como gaslighting, que descreve um tipo de manipulação psicológica que consiste numa distorção da realidade feita pelo abusador, de forma a levar a vítima a duvidar da sua memória. O termo formou-se no inglês a partir do título do filme de 1944 Gaslight, que contribuiu para a popularização do termo. O filme (adaptação de uma peça teatral) conta a história da manipulação psicológica de uma mulher (papel desempenhado por Ingrid Bergman) por um marido abusador. Seguindo o percurso de formação da palavra em inglês, por meio de um processo de extensão semântica, podemos propor, para o português, a construção «fazer meia-luz» (Meia Luz foi o título dado ao filme em português). Outros termos relevantes para esta área são stalking, de onde já se formou o verbo "stalkear", que mantém uma estrutura de matriz inglesa. Estes termos descrevem comportamentos de assédio ou de perseguição obsessiva e poderão ser substituídos por palavras portuguesas como perseguição – perseguir ou assédio – assediar. De referir ainda o uso de expressões como «revenge porn» (que descreve o ato de expor, na internet, fotografias íntimas de terceiros e que se poderá traduzir como «pornografia de vingança») e sextorsion (uma forma de chantagem baseada em fotografias íntimas da vítima ou em vídeos sexuais onde esta apareça explicitamente, com o objetivo do obter dinheiro ou favores sexuais, presenciais ou via internet, por parte da pessoa chantageada). Como tradução, tem sido usado o termo sextorsão.
2. Na obra de Eça de Queirós, Os Maias, surge a expressão «saíam às cinquenta, às cem moedas...», cujo significado, em sincronia, é já um pouco opaco. Na atualização do Consultório, apresenta-se a explicação da construção queirosiana. A esta resposta juntam-se outras: «A pronúncia do topónimo Mariz», «A sintaxe de fundamental e evoluir», «Marcadores discursivos: «no final» e «em conclusão»», «Melhoria vs. melhora», «Fazer causativo e orações de infinitivo», «Coesão referencial: «Nesse aspeto, o Reino do Butão...»» e «Adjunto adverbial: «Nem um»».
3. O desafio linguístico desta semana está relacionado com a expressão «dez-réis de mel coado», cujo significado é explicado pela professora Carla Marques no seu apontamento divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2.
4. Na rubrica O Nosso Idioma, partilhamos, com a devida vénia, um texto do editor e revisor brasileiro William Cruz, no qual o autor reflete sobre a importância dos estudos de estilística, como forma de analisar e compreender as potencialidades da exploração literária da língua: «os estudos estilísticos nos ajudam a desfazer a ideia de que a preocupação com a forma é mero artificialismo. Ideias corretas, verdadeiras e úteis podem jazer esquecidas numa prateleira empoeirada simplesmente porque lhes faltou o brilho do estilo [...] a estilística detém um excelente ferramental para educar a nossa sensibilidade linguística. O campo da estilística não é o do certo e do errado, mas o da experimentação: o que acontece se eu disser assado e não assim?»
5. Entre os eventos de relevo, destacamos:
– A ação de formação de professores coordenada pelo Ciberdúvidas da Língua Portuguesa: Áreas críticas da análise gramatical: a didática da gramática com o Ciberdúvidas, que será assegurada em parceria com o Centro de Formação Professora Maria Helena Mira Mateus, da Associação de Professores de Português (e cuja primeira edição se encontra já esgotada);
– A atribuição do Prémio de Literatura dstangola/Camões a Jorge Arrimar pela obra Cuéle – O pássaro troçador (Editora Guerra & Paz).
1. Depois da autorização dos EUA para as forças militares ucranianas usarem mísseis de longo alcance, ganham relevo informações incertas de uma resposta armada da Federação Russa, que teria lançado um «míssil balístico intercontinental», mas que o presidente Vladimir Putin afirma ser um «míssil balístico experimental». De mísseis também se fala, a respeito da guerra no Médio Oriente (ler aqui e aqui). E, enquanto o encerramento da COP29 deixa dúvidas sobre uma concertação mundial para defesa do ambiente, foca-se uma vez mais o rescaldo das eleições nos EUA, desenhando-se, segundo alguns analistas, uma "mudança de regime", no sentido plutocrático. Míssil e a família de palavras de plutocrata tornaram-se recorrentes na comunicação social, e, portanto, vale a pena deixar um rápido comentário a cada uma. Como se assinala numa resposta em arquivo, míssil é originariamente um adjetivo que, por conversão, se emprega sobretudo como nome; a palavra vem do adjetivo latino missĭlis, e «lançável, arremessável», mas a sua difusão em português, com registos, pelo menos, desde 1881, deve ter sido motivada, como noutras línguas, pela expressão francesa «arme missile», que se reduzia elipticamente a missile. Relativamente a plutocrata, é, como plutocrático, palavra da família de plutocracia, termo surgido em português por volta de 1870 e originário do grego, mas não por via direta. Com efeito, o vocábulo plutocracia terá sido motivado pelo inglês plutocracy e francês ploutocracie, palavras de intenção pejorativa que significam em ambas as línguas «governo exercido pelos mais ricos», adaptando o grego ploutokratía, composto formado pelos radicais de ploutos, «riqueza», e krátos, «força, poder, autoridade». Não dando a etimologia a essência do significado hodierno das palavras (leia-se, do filósofo André Barata, "Etimologia", Público, 15/11/2024), parece, mesmo assim, que a presença de míssil e plutocracia no discurso mediático não promete vida sossegada para todos.
Fontes de informação: Dicionário Houaiss, Trésor de la Langue Française e Online Etymology. Sobre «míssil balístico» e «míssil intercontinental», ver as subentradas a míssil no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa. Consultem-se ainda a Abertura de 22/03/2024 e "Dividocracia" (14/07/2011), de Paulo J. S. Barata. Crédito da imagem: Gerd Altmann, Pixabay, 22/112024.
2. Se não fosse dramática ou trágica, dir-se-ia que a atual situação internacional tem o seu quê de rocambolesco. A este adjetivo, dedica a consultora Inês Gama na rubrica um apontamento na rubrica O Nosso Idioma, texto em que outro adjetivo sufixado por -esco, quixotesco, é igualmente objeto de atenção.
3. Apesar do panorama sombrio apresentado por muitas notícias, noutras áreas de atividade fala-se em ansiar por algo positivo, por exemplo, uma vitória num campeonato desportivo. Mas não é objetivo fácil, a começar na gramática, como assinala no Pelourinho a consultora Sara Mourato, que comenta o erro cometido pelo treinador de um famoso clube do futebol português ao conjugar o verbo ansiar.
4. Diz-se «foi-se embora» ou «foi embora»? A esta, juntam-se seis novas respostas, no total de sete que atualizam o Consultório, onde também são tópicos em questão: a colocação dos pronomes átonos depois das locuções «antes de» e «depois de»; o uso intransitivo do verbo arder; adjuntos adverbiais que encerram apostos; o emprego correto da construção «ser fácil de»; a classificação de pão como nome contável e não contável; e a expressão regional «em moco».
5. Temas dos projetos que o Ciberdúvidas desenvolve em vídeo:
– a partir da expressão «ficar em Timor», esclarece-se a noção de predicativo do sujeito e a sua associação a verbos copulativos no episódio 7 de "Ciberdúvidas Vai às Escolas", no qual participou a Escola Portuguesa de Díli, em Timor-Leste;
– no episódio 10 de "Ciberdúvidas Responde", fala-se do plural de bolo-rei, em alusão da quadra natalícia, que se avizinha.
6. Nas Notícias, dá-se conta da chamada de trabalhos para a 11.ª Conferência sobre Línguas Pluricêntricas e suas Variedades Não-Dominantes (11th International Conference on Pluricentric Languages and their Non-Dominant Varieties), que decorre de 22 a 24 de maio de 2025, no Iscte-Instituto Universitário de Lisboa, em formato híbrido.
7. Registos com interesse para o debate da situação da língua portuguesa nos dias de hoje:
– o artigo de opinião "O que é um erro de português", que o professor e linguista José Luís Landeira assinou no Público Brasil em 16/11/2024;
– o texto intitulado "Língua portuguesa e os desafios da Inteligência Artificial", de Ana Paula Laborinho, diretora em Portugal da Organização dos Estados Ibero-Americanos, e incluído no Diário de Notícias, em 18/11/2024.
8. Quanto aos temas de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:
– A entrevista a Ana Sousa Martins, coordenadora do projeto Ciberescola, galardoado com o Prémio Sonae Educação, na edição de 2024, em Língua de Todos, difundido pela RDP África, na sexta-feira, 22/11/2024, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*);
– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 24/11/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 30/11/2024, às 15h30*), emite-se uma entrevista com os professores Cristine Gorski Severo, Ezra Alberto Chambal Nhampoca e Ezequiel Pedro José Bernardo sobre a obra Políticas Linguísticas Educacionais em Contextos Africanos.
Mencione-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. O primeiro-ministro português Luís Montenegro anunciou, por ocasião da abertura da Web Summit, em Lisboa, que Portugal vai lançar um LLM ("Large Language Model"), que receberá o nome de Amália, e terá o objetivo de colocar o país no centro da inovação e de proteger a língua portuguesa. O LLM designa-se, em português, «grande modelo de linguagem» e constitui um modelo de aprendizagem profunda ("deep learning"), que é capaz de realizar autoaprendizagem, após treino inicial, e é desenhado para absorver grandes quantidades de informação. Estes modelos são importantes porque têm a capacidade de realizar uma panóplia muito diversificada de tarefas, como responder a perguntas, resumir documentos, realizar traduções e escrever ou completar textos. Os LLM são usados em articulação com a Inteligência Artificial para produzir conteúdos com base em pedidos realizados por seres humanos, com possibilidades como as que ficam patentes tanto no GPT-3 como no GPT-4 ou no ChatGPT, todos desenvolvidos pela Open AI, que fazem uso de modelos de linguagem desta natureza. O primeiro-ministro considerou a decisão tomada um «passo crítico» para o ensino, para a administração pública e para as empresas, sendo esta uma área que pode ser crucial para a afirmação da língua portuguesa no contexto da posição cada vez mais estratégica da Inteligência Artificial.
Primeira imagem: criada pelo Ciberdúvidas da Língua Portuguesa usando inteligência artificial
2. Na Montra de Livros, divulgamos a obra Línguas e Culturas (Edições Paulinas, 2024), da autoria de Bonifácio Tchimboto, uma publicação onde o autor se dedica a questões relacionadas, num primeiro momento, com a etnolinguística e, numa segunda parte, com a literatura africana.
3. No Consultório, atualizamos as respostas a dúvidas relacionadas com os seguintes tópicos: a expressão do grau por processos morfológicos e sintáticos, a sintaxe do verbo gastar e a regência do nome reconhecimento. Incluímos também duas respostas dedicada à análise oracional, incidindo em áreas que oferecem dúvidas aos consulentes como a subordinação completiva de nome ou o valor de uma oração gerundiva. Por fim, analisa-se a possibilidade de presença de dêixis pessoal numa frase, identifica-se o género do nome de um programa informático e apresenta-se um parecer sobre a correção das estruturas «na soleira» e «à soleira».
4. O valor da locução «a par com» e a sua relação de equivalência com a locução «a par de» está no centro do apontamento da professora Carla Marques para a rubrica Dúvida da semana, divulgada no programa Páginas de Português, na Antena 2.
5. A questão do preconceito linguístico e das suas consequências no desempenho escolar e na afirmação profissional e social dão matéria ao artigo de Ricardo Cavaliere, cuja segunda parte se divulga, e onde o autor põe em evidência as atitudes que urge adotar para combater os preconceitos fundados na forma como determinados grupos sociais usam a língua (texto partilhado com a devida vénia).
6. Entre os eventos de interesse, divulga-se a apresentação da professora brasileira Fatiha Dechicha Parahyba, intitulada A escrita do gênero projeto de pesquisa: reflexões sobre a apropriação e a mobilização dos saberes, que ocorra no EMDA 23, no dia 28 de novembro de 2024, entre as 14h30 e as 16h00* (formato a distância, disponível nesta ligação).
*hora de Portugal continental
1. Entre as expetativas criadas (ou goradas) pela COP 2029 que decorre em Bacu, a capital do Azerbaijão (ver "COP29: glossário daquilo de que se fala na cimeira"( Público, 11/11/2024) e as reações ao resultado das eleições nos EUA, não falta matéria internacional para os noticiários em Portugal. Os temas também abundam no plano nacional, destacando-se a crise no INEM (sigla de Instituto Nacional de Emergência Médica) e a Web Summit, encontro que se realizou em Lisboa, oferecendo ao primeiro-ministro português, Luís Montenegro, a oportunidade para anunciar o lançamento, em 2025, de um modelo de linguagem de Inteligência Artificial (IA) para o português. E em muito do que se lê ou ouve detetam-se erros persistentes, pequenos ou grandes, que, difundidos na comunicação social, configuram aquilo a que ainda se chama «linguagem viciosa» na gramática prescritiva. Este é, portanto, o mote de um apontamento incluído no Pelourinho, no qual a autora, a linguista Carmen Gouveia, reúne e corrige alguns dos modismos e maus usos recorrentes nos canais de televisão em Portugal.
À volta de erros viciosos, sugere-se a consulta de outros conteúdos em arquivo: "Vícios de linguagem", "Vícios de linguagem... mediática", "Pronto, 'prontos' e 'prontes'", "O modismo expectável", "Fazer – um verbo a fazer as vezes de", "Pleonasmo", "Pleonasmos viciosos".
2. Uma canção recente, Imperial é fino, interpretada por Ana Bacalhau e Claúdia Pascoal e escrita por Capicua, leva a consultora Inês Gama a refletir sobre a variação regional do português europeu, a qual gera, por vezes, uma competição linguística saudável entre alfacinhas (lisboetas) e tripeiros (portuenses).
3. Na rubrica Montra de Livros, apresenta-se A arte de gostar de ler (Livros Horizonte, 2024), um livro de Carlos Nuno Granja, com o objetivo de transformar o ato de ler numa experiência de prazer e crescimento.
4. Acerca do seu estilo de escrita, pode dizer-se que um texto é esquálido? A resposta faz parte do conjunto de sete que atualizam o Consultório e abrangem igualmente outros tópicos: a substantivação do verbo olhar; a repetição da preposição de em «saco de farelo de milho»; a sintaxe de «licenciado por...»; a formação do nome litrada; a oração de gerúndio em «ouviu José falando»; e o adjetivo último.
5. Quanto aos novos projetos do Ciberdúvidas, em Ciberdúvidas Vai às Escolas, a professora Carla Marques explica o que são os deíticos, enquanto a locução «por que», tal como se escreve e usa o Brasil, é comentada pelo gramático Fernando Pestana.
6. Outros registos relacionados com a promoção científica e cultural da língua portuguesa:
– a chamada de trabalhos para o 6.ª Congresso Internacional de Neologia em Língua Românicas (CINEO 2025), que tem lugar de 7 a 9 de julho de 2025 na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra;
– enquadrada nas comemorações dos 500 anos do nascimento de Camões e por iniciativa da Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, a estreia da cópia digital restaurada do filme Camões (1946), de Leitão de Barros (1896-1967).
7. Entre os programas que, na rádio pública de Portugal, versam sobre temas da língua, salientam-se:
– Em Língua de Todos, difundido pela RDP África, na sexta-feira, 15/11/2024, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), entrevista-se Sónia Reis (Universidade do Algarve) sobre a Inteligência Artificial e a criação e classificação automática de corpus de narrativas a partir de provérbios para o ensino de Português Língua Estrangeira;
– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 17/11/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 23/11/2024, às 15h30*), João Pedro Aido, presidente da Associação de Professores de Português (APP), fala a respeito do declínio dos resultados das provas de aferição de Português. Ainda o apontamento gramatical de Carla Marques, esta semana sobre o uso correto de locuções.
Mencione-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*.
* Hora oficial de Portugal continental.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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