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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1.conflito entre Israel e a Palestina continua a subir de tom, revelando uma total indiferença aos pedidos de paz oriundos de muitos pontos do planeta e também à pressão exercida pelos próprios povos palestiniano e israelita. Neste contexto, assinalamos um novo neologismo para descrever um dos alvos dos ataques israelitas: a destruição de universidades e escolas em território da Palestina. Todas as 11 universidades de Gaza foram destruídas no decurso das investidas israelitas, o que deixou cerca de 90 mil palestinianos sem acesso à educação superior. Esta realidade é descrita pelo conceito de "escolasticídio", palavra cunhada pela jurista e professora palestiniana Kelma Nabulsi, em 2009, para descrever a destruição sistemática do sistema de educação material e imaterial  em Gaza e na Cisjordânia pelo Exército de Israel. Este termo é decalcado do inglês scholasticide, que, por seu turno, é uma palavra resultante da junção da forma truncada scholasti(c) ao elemento pospostivo -cide (-cídi(o), em português). Trata-se, assim, de uma palavra resultante de uma amálgama, um processo irregular de formação de palavras, que permitiu combinar o sentido de "escola" ao de «ação de matar ou de quem mata». Encontramos o mesmo decalque em espanhol (escolasticidio) e em francês (scholasticide). Já em italiano, usa-se também o termo educidio, cujo elemento inicial é a forma truncada de edu(c)- (que significa «cuidar, educar, instruir»).

A propósito da situação palestiniana e outros conflitos armados pelo mudo fora, registem-se ainda cinco neologismos: culturcídio (destruição de uma cultura, especialmente aquela exclusiva de um grupo étnico, político, religioso ou social específico), ecocídio (destruir o meio ambiente –  termo cunhado em 1970 pelo professor de biologia Walter W Galston, protestando contra o uso do herbicida tóxico Agente Laranja pelos EUA no Vietname para destruir o crescimento de plantas sob as quais os vietcongues se escondiam), educídio (assassinato sistemático de académicos e intelectuais, ou o genocídio da educação, de acordo com a académica britânica Rula Alousi), genocídio (assassínio deliberado de um grande número de pessoas de uma determinada nação ou grupo étnico com o objetivo de destruir essa nação ou grupo), politicídio (ocorre quando um ator poderoso trabalha para executar politicamente as esferas pública e privada do seu inimigo.) e urbicídio (termo criado na década de 1960 para descrever a destruição deliberada de uma cidade). 

CfGenocídio, urbanicídio, domicídio – como falar sobre a guerra de Israel em Gaza + Domicídio, enantiossema, dorama, blogodesenvolvido e o português em Macau

Primeira imagem: Universidade Al-Azhar de Gaza antes e depois de Israel bombardear a instituição. Imagem publicada na revista Jacobina. Segunda imagem: Universidade Islâmica na Cidade de Gaza em novembro. (Foto de Omar El-Qattaa / AFP via Getty Images)

2.   Entre os processos irregulares de formação de palavras encontramos também a formação de siglas ou de acrónimos. Esta é uma questão abordada neste apontamento da professora Carla Marques com base na explicação da formação da palavra ONU (divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2).  

3. Na atualização do Consultório, analisam-se as relações existentes entre palavras, de modo a determinar, por um lado, se a junção de mais a além gera uma redundância e, por outro, se gigante é sinónimo de gigantesco. Analisa-se também a natureza e o funcionamento de palavras ou locuções como «durante que», «apenas», «em lugar de/ em vez de / ao invés de» e «sempre». Disponibiliza-se ainda uma resposta sobre a correção das construções «de cima até abaixo» e «de cima até embaixo» e «o livro fala de». Por fim, tratam-se os valores do condicional simples e composto e explica-se o significado do provérbio «vencer a língua é mais que vencer arraiais».

4. A opção pelo masculino para designar profissões desempenhadas por mulheres fornece matéria para a reflexão do cofundador do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa José Mário Costa, que, no Pelourinho, aponta o caso do uso de capitão em lugar de capitã, em contexto militar, no qual se verifica uma grande resistência à adoção das formas femininas dos nomes de cargos e profissões. 

5. Continuamos a divulgação dos textos integrantes do dossiê temático relativo ao papel da língua portuguesa na construção da identidade cabo-verdiana, da autoria da professora universitária Goreti Freire, com um texto onde aborda o papel da língua cabo-verdiana e da língua portuguesa no arquipélago. 

6. A situação da língua portuguesa na relação entre as diferentes variedades e no que respeita à produção editorial motiva uma nova reflexão crítica sobre o papel do Acordo Ortográfico (AO90), apresentada pelo jornalista Nuno Pacheco (publicada no jornal Público e aqui partilhada com a devida vénia).

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1. Se o passado já foi, não teria sentido rebuscar factos e registos para os corrigir. Não é o que a atualidade revela quando muitos dos conflitos em curso parecem encontrar legitimação histórica. As línguas também não escapam ao peso da memória, por várias razões, entre elas, políticas, e assim se desenvolve hoje um processo de reinterpretação da história do português, em convergência com preocupações à volta da tensão entre a unidade e a diversidade do idioma. Assinala-se, portanto, o lançamento do livro Assim Nasceu Uma Língua no Brasil, do linguista, crítico literário e escritor Fernando Venâncio, acontecimento que motivou a entrevista concedida por este autor à revista Veja em 28 de maio de 2024 e que, com a devida vénia, se divulga na rubrica Controvérsias. Em claro choque com as narrativas tradicionais ou até académicas, Fernando Venâncio propõe outra visão das origens da língua portuguesa, que sintetiza polemicamente na seguinte frase: «O português não foi criado em Portugal, surgiu mesmo bem antes de Portugal existir, e mais exatamente em território galego.»

Na imagem, Origem da Lingoa Portuguesa (1606), de Duarte Nunes de Leão (c. 1530-1608).

2. Num dos espetáculos que a cantora Taylor Swift deu em Lisboa, em 24 e 25 de maio de 2024, ouvindo-se o tema «We Are Never Ever Getting Back Together», ou seja, «nunca mais voltamos a andar (juntos)», um dos bailarinos reforçou jocosamente a mensagem da canção com a expressão «nem que a vaca tussa». A propósito deste acontecimento, em O Nosso Idioma, a consultora Inês Gama dedica um texto às expressões idiomáticas, em especial, às que são sinónimas de «nunca mais».

3. Numa notícia sobre o futebol português, citando um conhecido treinador, escreveu-se «"tive" à altura», em vez da forma correta «estive à altura», e «"biforcarem"», em lugar de bifurcarem. A consultora Sara Mourato comenta o caso num apontamento incluído no Pelourinho.

4. «Comparecer pessoalmente» é uma redundância ou não? No Consultório, responde a esta e a outras cinco perguntas:  que significa a expressão «um amigo para o inverno»? Pode-se associar um infinitivo ao verbo pedir? A frase «vem visitar-me em Como» está correta? As maiúsculas são obrigatórias em «Imposição de Insígnias»? E a qual é a classe de palavras de algo em «pessoa algo insuportável»?

5. O Dicionário Sério de Calão, Javardices e Alarvidades (Guerra e Paz, 2024) é o título sugestivo de um novo livro do sociólogo João Pedro George. Trata-se de um dicionário que reúne um conjunto de léxico e expressões pertencentes ao calão mais «javardo e alarve» e que se apresenta em Montra de Livros.

6. A respeito do ensino da língua portuguesa, dentro ou fora da CPLP, são de salientar: a notícia sobre um projeto de professores-ambulantes em desenvolvimento na província angolana do Bié ("Projeto de professores-ambulantes quer levar a escola às aldeias angolanas mais recônditas", RTP Notícias, 27/05/2024); a reportagem do jornalista Miguel Soares sobre a situação do português nas escolas galegas ("Língua comum. O ensino do português na Galiza", ibidem, 29/05/2024); e o projeto de literatura infantil com que a associação Sílaba visa promover a língua portuguesa no território de Macau (Macau Hoje, 23/05/2024).

7. Outros registos da atualidade, direta ou indiretamente relacionados com temas dos países de língua portuguesa:

– o anúncio de uma nova edição do Diário de Notícias, o DN Brasil, para leitores brasileiros (Diário de Notícias, 27/05/2024);

– em 29/05/2024, o falecimento de Santana Castilho, especialista em Educação que se notabilizou pelas críticas às políticas educativas seguidas em Portugal nas últimas duas décadas (ver Público, 29/05/2024);

– um apontamento do tradutor e divulgador de temas linguísticos Marco Neves sobre a origem dos dias da semana (Youtube, 29/05/2024);

– a defesa do suaíli, que tem falantes em Moçambique e países vizinhos, como língua de comunicação em África pelo presidente do Zimbabué, Emmerson Dambudzo Mnangagwa (Correio da Manhã, 29/05/2024).

8. Quanto aos conteúdos de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa:

– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 31/05/2024, 13h20*), entrevista-se a investigadora moçambicana Ezra Chambal Nhampoca (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) sobre variação linguística e ensino na perspetiva de Moçambique.

– Em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 2/06/2024, às 12h30*), conversa-se com Clara Keating (Universidade de Coimbra) sobre a participação na jornada “Variação Linguística, Educação e Cidadania”, evento a decorrer em 03/06/2024 e promovido pela Associação Portuguesa de Linguística (APL) e pela Associação de Professores de Português (APP).

Mencione-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*.

* Hora de Portugal continental.

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1. No plano internacional, assinala-se a visita a Portugal do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, esta terça-feira (28/05), para assinar um acordo bilateral de segurança e cooperação militar, cujos termos foram definidos em conversações mantidas nas últimas semanas entre o líder ucraniano e o primeiro-ministro português Luís Montenegro. A palavra bilateral, em destaque neste evento, significa no atual contexto, «que tem dois lados», embora também possa ser usada para referir «lados opostos». Bilateral formou-se da junção do prefixo bi- («dois lados») a lateral (de laterālis,e, «relativo ao lado»). Opõe-se a unilateral («que tem um só lado, parcial») e é sinónimo de ambilateral. Já no plano nacional, deixa-se destaque para os resultados das eleições regionais da Madeira, que ditaram a vitória do PSD, ainda que sem maioria. Este cenário político leva a que os partidos tenham de procurar obter entendimentos, o que já levou a que se comentasse jocosamente que a solução para o governo regional não se encontra numa geringonça (palavra usada para descrever a solução governativa encontrada pelo PS em 2015), mas antes uma "gerimponcha", neologismo que joga com a truncação de geringonça associada ao nome poncha, a bebida tradicional da ilha da Madeira. Um registo, ainda para o neologismo geringonçar, usado pelo primeiro-ministro Luís Montenegro, criticando a iniciativa do PS Madeira: «Os vencedores das eleições concentrados em governar, enquanto os derrotados das eleições estão concentrados em ‘geringonçar’.»

Cf.  A geringonça vocabular do ano +  475 anos de geringonça Geringonça, a palavra que deu a volta ao texto + «A Geringonça, mas a da "Esopaida" de António José da Silva»

2. O advérbio agora pode ser usado também como um conector que assinala uma relação consequencial entre dois segmentos textuais, funcionamento que se explica nesta resposta que integra a atualização do Consultório, onde encontram também respostas questões de natureza sintático-semântica («Inversão de sujeito», «E como palavra denotativa», ««Em vez de» e «na vez de»», «A sintaxe do verbo impor» e «Ou inclusivo vs. ou exclusivo», «O nome objetivo, o complemento nominal e o predicativo do sujeito»), de natureza ortográfica («A expressão «mais conhecido/a que o cão ruço») e de natureza morfológica («O género de manche»).

3. Do ponto de vista normativo, qual a forma correta: «O João já tinha limpo o quarto» ou «O João já tinha limpado o quarto»? A resposta é dada pela consultora Inês Gama, num apontamento sobre os particípios passado duplos. 

4.  A presença da língua portuguesa em Cabo Verde é indissociável da história e da identidade do povo. O estudo desenvolvido por Goreti Freire, professora da Universidade de Cabo Verde, centra-se nestas questões e integra um dossiê que agora se abre dedicado a esta temática, o qual permitirá conhecer melhor a realidade linguística e identitária em Cabo Verde. 

5.  A importância da literatura para a formação pessoal e cultural dos alunos assume-se como conceito-chave deste artigo de opinião do poeta e crítico literário António Carlos Cortez, onde se aborda também a relação da literatura com as perceções em torno do exame nacional de português (publicado no Diário de Notícias e aqui partilhado com a devida vénia).

6. Entre os acontecimentos de relevo, destaque para a exposição temporária Línguas africanas que fazem o Brasil, patente no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo,  aberta ao público do dia 24 de maio até janeiro de 2025 (mais informações aqui). 

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1. São numerosos os desafios com que se depara a língua portuguesa atualmente. Do ponto de vista tecnológico, a Inteligência Artificial parece criar uma dinâmica pouco favorável a línguas menos apoiadas pela investigação e indústria informáticas, e o português pode ser uma delas. O futuro é, portanto, exigente, como já frisou o abaixo-assinado promovido pelos organizadores da Conferência Internacional sobre o Processamento Computacional da Língua Portuguesa (Propor), realizado entre 13 e 15 de março p. p. (ver Abertura de 03/05/2024). No entanto, a demografia tem vindo a reforçar a posição do português entre os idiomas mais falados no mundo e, mais especificamente, em África. É o caso de Moçambique de acordo com o Instituto Nacional de Estatística de Moçambique (INE), que no final de 2023 lançou Padrão Linguístico em Moçambique, documento que apresenta uma “fotografia” da situação linguística e social neste país. Em Montra de Livros, dá-se conta da referida publicação, sendo de salientar que os dados recolhidos apontam para o impressionante aumento do uso do português entre os moçambicanos.

Assinale-se, a propósito, que, na sessão de abertura do primeiro encontro dos Observadores Consultivos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP),  realizada em 21/05/2024, em Lisboa, o secretário executivo desta organização, Zacarias da Costa, propôs aos presentes sete medidas para «fortalecimento das parcerias», de modo a promover o maior «uso e reconhecimento da língua portuguesa» (ver RTP Notícias). Na imagem, Abstrato, de Sdunduro.

2. O que significa a palavra japonesa hikikomori (japonesismo), que vai aparecendo nas notícias em português, a propósito de problemas comportamentais? Como traduzi-la? A estas questões responde a consultora Sara Mourato, em O Nosso Idioma, num texto que aborda o fenómeno que afeta a saúde mental e que ultrapassou as fronteiras do Japão.

3. Na mesma rubrica, recorda-se o impacto da língua árabe no território português, após a ocupação da Península Ibérica entre os séculos VIII e XIII, com um trabalho do jornalista e escritor português Rodrigues Vaz, que enumera e comenta exemplos de arabismo, que vão do vocabulário mais corrente à toponímia.

4. Relendo o capítulo IX de Os Maias, de Eça de Queirós, a atenção detém-se numa frase de Carlos da Maia acerca do seu amigo João da Ega: «Coitado, lá está para Celorico [de Basto].» Que significará ao certo esta construção de estar com a preposição para seguida de nome de lugar? No Consultório, a resposta faz parte do conjunto de nove da presente atualização, acerca de outros tópicos: a escrita de dados de identificação pessoal no Brasil; os advérbios futuramente e simultaneamente; a dêixis temporal; as orações temporais; a personificação e a enumeração; o uso frásico de toneladas; a expressão «pegar fogo»; e a impossibilidade da vírgula numa construção apassivante.

5. No Pelourinho, o consultor Carlos Rocha dedica um apontamento aos verbos parónimos enveredar e envidar, a propósito de uma confusão num texto jornalístico que assinala a vitória do Sporting Clube de Portugal no campeonato da Liga Portugal.

6. Registo de alguns conteúdos com interesse para a discussão de temas da língua portuguesa:

– o Dia do Autor Português, que se celebrou em 22/05/2024;

– o lançamento de um manifesto em defesa dos tradutores literários em Portugal, pelo Coletivo de Tradutores Literários (CTL);

– o II Colóquio Internacional sobre Línguas Nacionais que se realiza em 23 e 24 de maio no Instituto Superior Politécnico Jean Piaget de Benguela;

– o II Workshop Desafios e Descobertas: perspetivas do Português como língua não materna, promovido pelo Centro de Linguística da Universidade do Porto em 24 de maio de 2024;

– na Galiza, o 10.º aniversário da Lei Paz-Andrade, que visa, entre outras medidas, favorecer a aprendizagem e o uso da língua portuguesa nas escolas galegas;

– um apontamento e um vídeo do professor universitário e tradutor Marco Neves a respeito de sete disparates (mitos urbanos) da língua portuguesa.

7. Entre os programas que, na rádio pública de Portugal, versam sobre temas da língua, salientam-se:

Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 24/05/ 2024, 13h20*), no qual participa a  linguista Ana Sousa Martins , coordenadora da Ciberescola da Língua Portuguesa, para falar sobre Histórias do Mundo, adaptação de contos a aprendentes de Português Língua Não Materna;

Páginas de Português (Antena 2, domingo, 26/05/2024, 12h30*), que inclui uma entrevista com Vítor Barros, autor da Gramática do Português Europeu, e um apontamento da professora Carla Marques sobre as diferenças entre um gramático e um linguista;

Mencione-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*.

 * Hora de Portugal continental.

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1.  No âmbito do debate sobre o futuro aeroporto de Lisboa, que ocorreu no dia 17 de maio, o deputado André Ventura proferiu afirmações relacionadas com o povo turco que foram sentidas como injuriosas pelos diferentes partidos da Assembleia da República, mas que não motivaram uma advertência por parte do presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, por considerar que se tratava de uma situação de liberdade de expressão. A sua posição foi justificada com a afirmação que o deputado «tem liberdade de expressão para se exprimir». Esta construção poderá ser considerada um pleonasmo por ser redundante no uso de palavras que têm o mesmo significado, se se considerar que o sentido de «liberdade de expressão» corresponde à liberdade total para proferir toda e qualquer afirmação, mesmo injuriosa ou boçal. No entanto, a expressão poderá não ser sentida como pleonástica se o conceito de «liberdade de expressão» não contemplar tipos de expressão ligados à linguagem xenófoba ou discriminatória. Este é um debate que mobiliza a sociedade portuguesa e que conta com manifestações de opinião oriundas de diferentes áreas: do direito à política, da sociologia à linguística. Neste quadro, partilhamos, com a devida vénia, o artigo da professora e linguista Margarita Correia, no qual esta se posiciona criticamente perante a atitude de Aguiar-Branco. 

O Ciberdúvidas disponibiliza diversos textos sobre questões relacionadas com o pleonasmo: «Pleonasmo e informatividade», «Pleonasmo», «Sobre os pleonasmos viciosos», «Pleonasmo: «sair de lá» vs. «sair para fora»».

2.  A conjunção mas pode ser usada com diversos valores que vão além do contraste. A frase «você pode sair à noite, mas não vá a nenhuma boate» ilustra um caso de uso com valor de restrição, conforme se explica na resposta que integra a atualização do Consultório. Poderão igualmente ser consultadas respostas que abordam os seguintes aspetos: a construção «vir de» com infinitivo; tipos de predicado; a construção «servir de» com infinitivo; a função da locução «ao que»recurso expressivos em versos de Almeida Garrett; a forma tónica dos pronomes pessoais oblíquos; o significado e uso da locução «no imediato»; e meios sintáticos de expressão da comparação

3.  Oxalá deve ser acompanhado de que a introduzir uma oração? Partindo do contraste entre as frases «Oxalá não chova!» e «Oxalá que não chova!», a professora Carla Marques trata a etimologia e a sintaxe da palavra oxalá.

4. Na Montra de Livros, divulgamos a publicação A estandarización das linguas da Península Ibérica, organizada por Henrique Monteagudo, que conta com a colaboração de inúmeros especialistas. 

5. A problemática em torno do Acordo Ortográfico de 90 (AO90) é retomada pelo jornalista Nuno Pacheco, a propósito das afirmações do deputado angolano Paulo de Carvalho, presidente da Comissão de Língua, Educação, Ciência e Cultura da Assembleia Parlamentar da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) (artigo de opinião divulgado no jornal Público e aqui partilhado com a devida vénia).

6. Destacamos os seguintes eventos:

– A exposição Eduardo PESSOA Lourenço, montada a partir da biblioteca pessoana de Eduardo Lourenço, patente na Sala de São Pedro (2.º piso da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra) até 30 de julho.

– Simpósio Internacional Teatro e Ditadura no Séc. XX: Contextos Ibéricos, a decorrer nos dias 30 e 31 de maio, na Universidade da Corunha, via plataforma Teams

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1. Aproximam-se as eleições para o Parlamento Europeu, a realizar entre 6 e 9 de junho p. f., e, pouco depois, de 14 junho a 14 de julho, as expetativas e as emoções de muitos europeus andarão em torno do Campeonato Europeu de Futebol, o Euro 2024, que tem lugar na Alemanha. Paralelamente, as notícias dão conta de como o futuro da Europa se afigura sombrio e incerto, fazendo recordar acontecimentos e situações de há 90 anos, nas vésperas da 2.ª Guerra Mundial. Em O Nosso idoma, a consultora Inês Gama reflete, neste apontamento, sobre a história da palavra Europa e outros termos da sua família e respetivas etimologias.

Na imagem, O Rapto de Europa (sem data), de Júlio Pomar (1926-2018). Crédito da foto: Arte Notes.

2. A palavra infodemia é um nome coletivo? No Consultório, responde-se a esta e a outras sete perguntas, num total de oito: o uso do infinitivo flexionado é redutível a uma regra simples? Diz-se «não devemos ter medo de nada e não desistir», ou «não devemos ter medo de nada nem desistir»? Qual a função sintática de «de mudança» na expressão «composto de mudança»? E a de «para a seleção» na frase «ele chamou-o para a seleção»? Macela é o mesmo que camomila? A expressão «toda vida que» é gramatical? Como se dizia raio na Idade Média?

3. Regressa ao Pelourinho a questão do excesso de anglicismos, desta vez, a propósito de um adepto de futebol que, ao elogiar o treinador do Sporting Clube de Portugal, utiliza big em vez do equivalente português maior, conforme regista e comenta a consultora Sara Mourato.

4. O léxico da língua portuguesa é fundamentalmente de origem latina, mas os contributos de outras línguas não são despiciendos. O juiz Rui Carvalho Moreira, em artigo publicado no jornal  digital Observador (12/05/2024) e transcrito com a devida vénia em O Nosso Idioma, identifica algumas das várias palavras que refletem a influência do grego, do árabe, do francês ou das línguas de África e da Ásia.

5. Convém dar atenção à diversidade linguística de Espanha e às suas consequências políticas. Nas Diversidades, assinala-se a situação preocupante do catalão das Ilhas Baleares com um texto do sindicalista balear Rafael Borràs Ensenyat, que se refere à grande manifestação de protesto realizada em 05/05/2024 contra as medidas restritivas do uso da língua catalã que estão a ser aplicadas pelo governo regional na administração e no ensino.

6. Um registo de pesar pelo falecimento do poeta português Casimiro de Brito (1938-2024), em Braga. É figura notável na história recente da literatura portuguesa, tendo-se destacado, quando jovem, a dirigir a coleção de poesia A Palavra, onde se revelaram poetas do importante movimento literário Poesia 61, como Fiama Hasse Pais Brandão, Gastão Cruz, Luiza Neto JorgeMaria Teresa Horta e o próprio Casimiro de Brito (ler "Morreu o escritor Casimiro de Brito aos 86 anos", Diário de Notícias, 16/05/2024).

7. Entre notícias e atividades relacionadas com a língua portuguesa, cabe salientar:

– em Portugal, a tendência para diminuir o número de leitores de livros em português e aumentar o de leitores de publicações em inglês (cf. "Há jovens que leem livros em inglês – e isso preocupa as editoras", Público, 13/05/2024);

–  a atribuição, a três jovens timorenses, do Prémio de Língua Portuguesa (6.ª edição), um concurso que a Fundação Oriente promove em Timor-Leste e que em 2024 teve por mote uma frase do escritor Luís Cardoso – «só se cansa do mar, quem do mar só vê água» (cf. Sapo 24, 16/05/2024);

– o episódio sobre os plurais do português da série Assim ou Assado, animada pelo professor universitário Marco Neves e o músico Sam The Kid;

– o encontro Desafios e Descobertas: Perspetivas do Português como Língua Não Materna, que o Centro de Linguística da Universidade do Porto leva a cabo em ambiente virtual em 24/05/2024, das 9h às 13h (hora de Portugal continental) (mais informação aqui).

8. Nos programas que, na rádio pública de Portugal, têm a língua portuguesa por tema, são temas de relevo:

– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 17/05/2024, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), conversa-se com a linguista e professora universitária Edleise Mendes (Universidade Federal da Bahia) sobre o português como afirmação de cidadania nos países africanos da CPLP, perante os desafios do analfabetismo, das opções educacionais e das diversidades culturais de cada país.

– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 19/05/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 25/05/2024, às 15h30*), também é convidada a professora Edleise Mendes, que fala sobre as perspetivas e desafios do português na nova geopolítica global. O programa inclui ainda o apontamento gramatical da professora Carla Marques, que esta semana discorre sobre a correção ou não das frases: «oxalá que não chova!» ou «oxalá não chova!»

–  Refere-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*.

 * Hora de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1.  A 68.ª edição do Festival da Eurovisão da Canção teve lugar em Malmö, na Suécia, no dia 12 de maio, e os factos mais marcantes deste evento não estiveram relacionados com a música, mas sim com a política. Este festival reúne, em competição, canções de diferentes países (25 nesta edição), definindo-se como apolítico. No entanto, este ano, o facto de a organização ter suspendido a participação da Rússia, ao mesmo tempo que permitiu a de Israel desencadeou inúmeras manifestações motivadas pelo conflito israelo-palestiniano, tendo vários representantes políticos e artistas feito apelos para que a participação de Israel fosse vetada, o que não aconteceu. Esta decisão levou a que se apontasse a incoerência da atuação da organização, tendo ainda existido denúncias de imposições censórias aos concorrentes. A este rol de acusações veio ainda juntar-se o facto de o vídeo da atuação da cantora portuguesa Iolanda, que exibia unhas de gel com padrões alusivos à Palestina e à resistência palestiniana, ter sido substituído por outro onde a concorrente trazia unhas pintadas de branco, situação que só foi corrigida depois de a RTP se ter manifestado. Em termos lexicais, as palavras que estes acontecimentos convocam mostram a importância da ação dos prefixos na formação de palavras e na alteração do valor de base das palavras. Assim, em apolítico, o prefixo a- associa ao lexema um valor de negação. O mesmo valor é introduzido pelo prefixo in- em incoerência. Há, com efeito, um conjunto de prefixos que associa este valor de negação ou de privação à forma de base, como é o caso também de des-, dis- ou an-, cuja ação se traduz num processo de economia linguística por evitar o recurso a construções perifrásticas para expressar a negação.

No Ciberdúvidas, são vários os textos que tratam aspetos relacionados com prefixos de negação: «O uso da palavra não como prefixo de negação», «O prefixo in-», «A utilização dos prefixos in- e des-», «Os adjectivos atemporal e não-espacial», « Aconfessional» e «A palavra ininteligente», entre outros.

2. O termo unido será sempre um particípio passado independentemente do seu comportamento da frase ou em determinadas ocasiões converte-se em adjetivo? Esta questão é analisada nesta resposta onde se abordam as várias possibilidades associadas a este fenómeno sintático. Na atualização do Ciberdúvidas podem ainda ler-se respostas para as seguintes questões: ««Bolo de laranja», «bolo de ovos»», «Preposição: «ausente ao serviço»», «Postergação e postergamento»,  «O complemento do nome síndrome», «Uso do futuro composto do indicativo», «Chance», «O adjetivo deráchico». 

3. O novo canal noticioso português terá a designação News Now, uma opção questionada, no Pelourinho, pelo cofundador do Ciberdúvidas José Mário Costa, que não encontra justificação para a adoção de um termo inglês para um meio de comunicação português. 

4. A formação da língua talian, num percurso desde a chegada de emigrantes italianos ao Brasil à criação de uma língua franca que permitisse a comunicação entre falantes de diferentes dialetos italianos, constitui a base do artigo publicado no Diário de Notícias (aqui partilhado com a devida vénia).

5. O que é ser professor de português? Com base no contexto escolar angolano, o professor e linguista Adilson Fernando João passa em revista alguns dos aspetos fundamentais para o desempenho da função docente na área da língua portuguesa e desfaz algumas ideias que não são pertinentes nesta realidade (artigo partilhado com a devida vénia).

6. Entre os acontecimentos dignos de registo, destaque para:

– O banquete temático em homenagem a Camões, no âmbito das comemorações dos 500 anos do seu nascimento, que terá lugar no dia 17 de maio, em Coimbra, e que abre com uma conferência proferida pelo professor universitário José Cardoso Bernardes intitulada "O banquete de Camões";

– A atribuição do prémio literário Glória de Sant'Anna 2024 ao escritor José Luís Barreto Guimarães, com a obra Aberto todos os dias

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, além das alegrias e das tristezas do futebol, nota-se certo clima emocional na vida política e não só. Por exemplo, têm ampla projeção mediática a exoneração da provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e o comportamento mais recente do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, alvo de numerosas críticas. Entre estas, conta-se a de um antigo governante português, hoje comentador televisivo, que considera que os Portugueses precisam de «um presidente sério e "à séria"». É irónico que quem critica também mereça reparo, por usar «à séria» em lugar  de «a sério», forma correta da locução, conforme aponta o jornalista e cofundador do Ciberdúvidas José Mário Costa, na rubrica Pelourinho.

2. Cresce o número de publicações dedicadas à implantação e ao ensino do português nos países africanos onde este idioma tem estatuto oficial. É o caso de Políticas linguísticas educacionais em contextos africanos, organizada por Cristine Gorski SeveroEzra Alberto Chambal Nhampoca e Ezequiel Pedro José Bernardo, obra apresentada na Montra de Livros.

A propósito da dinâmica do português em África, leia-se a notícia referente às declarações de Francisco Ramos, presidente do Observatório da Língua Portuguesa, no contexto da celebração do Dia Mundial da Língua Portuguesa.

3. Na frase «Esqueça aquela garota, afinal ela não merece seus sentimentos», afinal é uma conjunção? Não, é um marcador discursivo, por razões explicadas na presente atualização do Consultório, a qual inclui outras sete novas questões: antibiótico é hiperónimo de penicilina? Qual é o gentílico de Porto de Mós? Diz-se «passear pela praia» ou «na praia»? O que é mais correto: «ao fim da tarde» ou «no fim da tarde»? Donde vem o nome escritor? A oração «com você olhando assim para mim» está correta? E que vem a ser um ponto continuativo?

4. Em O Nosso Idioma, o linguista Jefferson Evaristo refere-se à flexibilidade de certos elementos da frase para uma boa escrita. Trata-se da transcrição de um texto deste autor, publicado em 27/04/2024 no mural Língua e Tradição (Facebook).

5. O poeta cabo-verdiano Daniel Filipe (1925-1964), autor de A Invenção do Amor e Pátria, Lugar de Exílio, faleceu há 60 anos. Na rubrica Literatura, transcreve-se, com a devida vénia, o texto evocativo que o jornalista Nuno Pacheco lhe dedicou no jornal Público em 09/05/2024.

6. Registos diversos, relacionados com a língua portuguesa:

– O lançamento, nos cinemas brasileiros, do documentário Verissimo, um filme realizado por Angelo Defanti, que acompanha 15 dias da rotina do escritor e humorista Luis Fernando Verissimo, antes do seu 80.º aniversário, em 2016 (ver Nexo, 02/05/2024).

– O apelo do secretário executivo da CPLP, Zacarias da Costa, no sentido de um educação de qualidade, em que o ensino da língua portuguesa nos Estados-membros tenha o reforço de investimentos na formação de professores e em infraestruturas (Sapo, 06/05/2024).

– Do professor universitário e divulgador Marco Neves, dois episódios do programa Pilha de Livros: "O nome da língua do Brasil e os dois alfabetos do sérvio" (07/05/2024)   e "Dois livros sobre o 25 de Abril" (08/05/2024).

– Na Universidade de Pádua, a realização em 07/05/2024, da jornada Os Prodígios da Liberdade e da Língua Portuguesa. Nos 50 anos de Abril com Lídia Jorge, em torno dos 50 anos da Revolução dos Cravos, do Dia Mundial da Língua Portuguesa e da obra e do pensamento de Lídia Jorge.

– O escritor angolano João Melo é o vencedor do Prémio de Literatura stdAngola/Camões (Empreendedor, 08/05/2024).

7. Relativamente a três programas dedicados à língua portuguesa na rádio pública portuguesa:

– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 10/05/2024, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), transmite-se uma entrevista com Margarita Correia, linguista e professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, sobre o estatuto do português nos países africanos de língua oficial portuguesa.

– Em Páginas de Português, transmitido na Antena 2, no domingo, 12/05/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 18/05/2024, às 15h30*), participa igualmente a professora e linguista Margarita Correia, para se referir ao estatuto internacional do português na atualidade, na sequência da instauração do regime democrático em Portugal, em abril de 1974.

– Refira-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho, de segunda à sexta-feira, às 09h50 e 18h50*, na Antena 2. O tema dos episódios de 13 a 17 de maio é a linguagem castrense.

 *Hora oficial de Portugal continental.

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1.  Na madrugada de sexta-feira, dia 3 de maio, no Porto, grupos de homens encapuzados atacaram imigrantes, na sua maioria de nacionalidade argelina. Esta situação com contornos de uma preocupante violência traz consigo duas palavras nucleares: racismo e xenofobia, que têm sido usadas tanto para descrever a orientação de discursos conotados com a extrema-direita como fenómenos pontuais associados a maior ou menor violência física e verbal contra imigrantes. Um conjunto de acontecimentos que têm deixado um lastro de preocupação num país que habitualmente se pauta pelos brandos costumes e pela tolerância relativamente à diferença. Do ponto de vista linguístico, convém aqui estabelecer a distinção entre as duas palavras do ponto de vista da sua significação. Assim, racismo é usado para referir o «preconceito extremado contra indivíduos pertencentes a grupos ou etnias diferentes, geralmente considerados inferiores».* Note-se que o lexema racismo não deve ser associado à noção de superioridade racial, uma vez que o conceito de raça não tem bases científicas. Para referir diferenças desta natureza, preferem-se os termos etnia, povo ou grupo étnico. Xenofobia, por seu turno, é uma palavra que refere a «aversão ou hostilidade a pessoas estrangeiras». Deste modo se conclui que racismo e xenofobia descrevem sentimentos de rejeição associados a realidades distintas. Em termos etimológicos, racismo forma-se pela junção do sufixo -ismo à palavra raça, ao passo que xenofobia resulta da junção dos elementos compositivos gregos xénos, que significa «estrangeiro, estranho, insólito», e phóbos, que significa «medo, pavor, temor». A este propósito, justifica-se recordar alguns dos textos relacionados com o tema disponíveis no Ciberdúvidas: «Que nos contam as palavras racismo e xenofobia?», «O âmbito do termo xenofobia», «Raça e expressões racistas», «Xenofobia linguística», «A pronúncia de racismo», «Pronúncia do x: xenofobia e sintaxe».  

* Foram consultados o Dicionário Houaiss e o Dicionário da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa.

2. O termo aceiro que surge na toponímia na freguesia de Pinhal Novo (concelho de Palmela) e também no concelho de Montijo é abordado do ponto de vista da sua significação ao mesmo tempo que se ensaia uma justificação para o seu uso. Esta explicação integra uma das oito novas respostas que poderão ser consultadas na atualização do Consultório, que inclui ainda as seguintes: «Processos de coesão, correferência não anafórica», «A expressão «como se fosse ontem»», «O verbo usar e o modificador do grupo verbal», «A locução conjuntiva adversativa «só que»», «Valores de pois», «Ordenar alfabeticamente avô e avó», «Oração condicional contrafactual e imperfeito do conjuntivo».

3.  As frases «Maria é uma das vencedoras» e «Maria é um dos vencedores» colocam um problema de concordância. Estará uma das frases incorreta ou estas abrangem realidades extralinguísticas distintas? Este é o tema do apontamento da responsabilidade da professora Carla Marques, desenvolvido em colaboração com o programa Páginas de Português, na Antena 2

4. Um registo com a forma incorreta "fique-mo-nos" motiva o apontamento do consultor Paulo J. S. Barata para a rubrica Pelourinho, onde se explica o processo de formação e as regras gramaticais envolvidas na estrutura fiquemo-nos (esta, sim, correta). 

5. O abismo entre os usos da oralidade e os da escrita envolve muitas vezes questões complexas relacionas com escolarização e letramento. O contraste entre o caso brasileiro e, por exemplo, o sueco parece exemplificar de forma clara esta tese, tal como argumento o linguista brasileiro Aldo Bizzochi no artigo que aqui partilhamos com a devida vénia. 

6. Entre os eventos de interesse para a língua portuguesa, destaque para a terceira edição do Congresso Internacional Dia Mundial da Língua Portuguesa: A Sintaxe do Português no Século XXI, que pretende refletir sobre os aspetos linguísticos da língua portuguesa no contexto global, com lugar nos dias 7 e 8 de maio na Universidade Roma Tre e no Instituto Guimarães Rosa, em Roma.

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1. A data de 5 de maio é dedicada internacionalmente ao português, desde que em 27/11/2019 a 40.ª sessão da Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) decidiu  proclamá-la em cada ano como Dia Mundial da Língua Portuguesa. O Ciberdúvidas não tem deixado de registar a celebração*, que dá ampla projeção ao português como idioma de escala global e fator de afirmação cultural e geopolítica dos países e das comunidades que nele se exprimem. Na rubrica O Nosso Idioma, a consultora do Inês Gama sublinha, num texto elaborado a propósito deste dia, que a língua portuguesa é «portadora de uma longa história [e] não se pode esgotar na descrição do seu sistema linguístico, devendo ser também entendida como um veículo de comunicação por excelência e um forte laço de união dos povos que a utilizam».

* Ler as Aberturas de 05/05/202303/05/2022, 04/05/2021 e 06/05/2020.

2.  A locução «sendo que» continua a levantar dúvidas e, por isso, é retomada com mais pormenor no conjunto de sete novas perguntas que fazem a atualização do Consultório. São ainda abordados os seguintes tópicos: a referência bibliografia de uma seleção de textos de um mesmo autor; o advérbio insinuadamente; o uso intransitivo do verbo encurvar; a correspondência entre adjuntos adverbiais e as orações subordinada adverbiais; os adjetivos neural e neuronal; e o uso da anáfora num texto da escritora Luísa Costa Gomes.

3. Uma «doença do fórum psiquiátrico» ou do «foro psiquiátrico»? Há quem confunda, e a questão motiva um apontamento disponível no Pelourinho, do consultor Carlos Rocha, que se refere às relações etimológicas, semânticas e lexicais entre as palavras fórum e foro.

4. Na rubrica Ensino, dois artigos de opinião transcrito com a devida vénia de jornais portugueses:

– Num artigo de opinião transcrito da edição de 25/04/2024 do jornal Público, a socióloga Cristina Roldão, professora na Escola Superior de Educação-Instituto Politécnico de Setúbal, critica a ocultação das vítimas africanas na narrativa da guerra colonial portuguesa (1961-1974) que se encontra em alguns manuais de História dos ensinos básicosecundário de Portugal.

– Noutro artigo de opinião, publicado no Observador, em 28/04/2024, a professora Maria Regina Rocha identifica quatro aspectos que prejudicam o ensino português: a escala de classificação; a dimensão das turmas; a duração dos tempos letivos; os horários letivos semanais.

Sobre o ensino e o papel social da escola ler também, no jornal Público,  "A escola como antídoto contra a xenofobia" (30/04/2024) e "A IA chegou às salas de aula. Onde entra o professor?" (01/05/2024).

5. Entre publicações académicas com interesse para o aprofundamento de temas da língua portuguesa, salientam-se:

– em inglês, Decolonizing Linguistics («Descolonizar a Linguística»), da Oxford University Press, uma obra que visa intervir no condicionamento exercido pela mentalidade colonial na linguística e nas áreas relacionadas;

Políticas linguísticas educacionais em contextos africanos (Belo Horizonte, Mazza Edições, 2024), um volume organizado por Ezequiel Pedro José BernardoEzra Alberto Chambal Nhampoca e Cristine Gorski;

– e, da Galiza, centrado no debate acerca de norma linguística, A estandarización das linguas da Península Ibérica: procesos, problemas e novos horizontes (Consello da Cultura Galega), um volume organizado pelo linguista Henrique Monteagudo (Universidade de Santiago de Compostela), que é também o autor de  Galiza mater, raíz anterga. Manuel Rodrigues Lapa na lingua e a cultura galega (Editorial Galaxia), à volta do decisivo contributo do filólogo Manuel Rodrigues Lapa (1897-1989) para as relações culturais luso-galegas.

6. Outros registos da atualidade:

– No Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, nos dias 4 e 5 de maio, realiza-se o FeLiCidade – Festival da Língua e da Liberdade na Cidade, para assinalar os 50 anos da Revolução dos Cravos e questionar «a língua como casa» (ver programa). Este evento inclui uma aula do professor universitário e classicista Frederico Lourenço sobre Luís de Camões, no contexto da comemoração do 5.º centenário do nascimento do poeta.

– Ainda no âmbito da celebração do Dia Mundial da Língua Portuguesa, refira-se o evento organizado pela Universidade Aberta (UAb) com o título "A língua portuguesa como espaço de cidadania e de liberdade", a ter lugar no Palácio Ceia (Lisboa) no dia 6 de maio, das 16h30 às 17h45 (ver programa).

– O Brasil considera prioritário o projeto de tornar o português língua oficial da ONU, de acordo com declarações do ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira (mais informação no Observatório da Língua Portuguesa).

– O abaixo-assinado lançado por um grupo de investigadores de Inteligência Artificial e tecnologia da língua portuguesa, apelando à intervenção das autoridades no desenvolvimento de um plano de preparação tecnológica do português para enfrentar os desafios dessa área (mais informação aqui).

7. Dos programas que, na rádio pública de Portugal, versam sobre língua portuguesa, salientam-se:

– No programa Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 03/05/2024 às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), conversa-se com a escritora e antiga ministra da Educação Isabel Alçada, sobre o poder e valor da leitura no século XXI.

– No programa Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 05/05/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 10/05/2024 às 15h30*), entrevista-se a professora Maria Aldina Marques, investigadora do Centro de Estudos Humanísticos (Universidade do Minho), sobre o discurso académico e científico, com especial foco nas competências linguísticas dos estudantes do ensino superior. Ainda um apontamento gramatical da consultora do Ciberdúvidas Inês Gama.

– Igualmente na Antena 2, refira-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.

 *Hora oficial de Portugal continental.