1. A atualidade está marcada pelo aviso do presidente do EUA Donald Trump de que poderá criar taxas aduaneiras para os produtos europeus. Esta sua declaração insere-se no quadro das iniciativas MAGA, um acrónimo que abrevia o slôgane da sua campanha presidencial: «Make America Great Again» e que atualmente funciona linguisticamente como um hiperónimo que aglutina todas as iniciativas promovidas pelo novo governo americano. Trump continua, deste modo, a contribuir não só para a instabilidade da política internacional como ainda estimula uma atividade linguística que promove a criação de neologismos. Entre os mecanismos de inovação lexical associados à ação do presidente, assinalamos hoje a extensão semântica do termo inglês to weave / weaving (à letra, «a trama / a tecelagem»). Com efeito, é o próprio Trump que assume que os processos de criação dos seus discursos assentam no que ele designa por «the weave». Na ótica do presidente, este é um novo estilo de oratória marcado pela genialidade e que ele descreve da seguinte forma: «falo sobre cerca de nove coisas diferentes, e elas acabam por se harmonizar de forma brilhante» (tradução nossa). Não obstante a visão autoelogiosa, os discursos de Trump têm sido considerados errantes, ininteligíveis e incoerentes, podendo inclusive constituir um sinal da sua decadência cognitiva. No meio-termo, os europeus continuam a aguardar as novidades resultantes da "tecelagem" do presidente americano, o que talvez nos permita encontrar a palavra certa para descrever os seus processos mentais e discursivos.
Primeira imagem: Foto das notas de Donald Trump, numa conferência de imprensa (Fonte: Jornal The New Republic).
2. A tensão linguística patente na escolha o uso de «ter de» ou de «ter que» é resolvida, do ponto de vista da tradição normativa, pela opção pela primeira estrutura. No entanto, os usos continuam a não confirmar em absoluto o respeito por esta opção gramatical. Partindo da análise dos usos patentes numa fonte jornalística, o gramática brasileiro Fernando Pestana procede a uma análise dos dados, cujos resultados partilha neste seu apontamento (aqui divulgado com a devida vénia).
3. Ao Consultório chegam diversas perguntas de âmbito ortográfico de palavras/estruturas como «cabeça de cartaz», lombossagrado e cossolicitante. No quadro da sintaxe, analisa-se a função sintática desempenhada pela oração relativa em «aqui, onde vivo...», o comportamento dos pronomes relativos conjugados com o verbo servir e o uso de vírgula com modificadores relacionados com cargos ou parentesco. Divulgamos ainda uma resposta sobre a etimologia do substantivo princípio, uma outra sobre o género de BADESC.
4. A questão da literacia em Portugal está na base da crónica da professora universitária e escritora Dora Gago, que nos deixa a seguinte reflexão: «Terra da Iliteracia encontra-se em expansão, como o comprovam vários estudos, como foi o caso, muito recentemente do Relatório Global da OCDE sobre as competências dos adultos, no qual Portugal evidenciou desafios na literacia, numeracia e resolução de problemas da população adulta, classificando-se muito abaixo da média.»
5. Entre os eventos dignos de referência, destaque para:
– O Dia Mundial da Leitura em Voz Alta, assinalado a 5 de fevereiro, que o Plano Nacional de Leitura (PNL) assinala com o lançamento de pequenos desafios;
– O Congresso Internacional Fernando Pessoa, nos dias 12, 13 e 14 de fevereiro de 2025, que terá lugar na Fundação Calouste Gulbenkian, Auditório 2.
6. Uma nota final de pesar para a jornalista, escritora e poetisa Maria Teresa Horta, que faleceu hoje (04/01/2025), em Lisboa. Com uma vasta obra poética e ficcional, Maria Teresa Horta deixa um legado inconfundível, no qual se destacam as Novas Cartas Portuguesas, obra escrita em coautoria com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa (as autoras ficaram conhecidas como «as três Marias»), conhecida pela sua matriz feminista e pelo contributo para a queda do regime de Marcello Caetano.
Imagem: pormenor do mural «Mulheres da Revolução de Abril», de Elton Hipólito (2019), em Vila Nova de Cerveira