1. Outras notícias haverá além das protagonizadas pelo novo Presidente dos EUA Donald Trump, mas os acontecimentos à sua volta motivam usos mais ou menos inovadores nos media em português. Para já, entre as numerosas medidas anunciadas pelo recém-empossado presidente dos EUA, uma que evidencia o papel da toponímia numa estratégia de afirmação nacionalista: a decisão (ou intenção) de substituir «golfo do México» (em inglês, «gulf of Mexico») por «golfo da América» («gulf of America»), substituição que não tem de ser seguida em língua portuguesa. Maior relevo teve o sermão de Mariann Edgar Budde, líder da Igreja Episcopal de Washington, que, em 21/01/2025, na catedral de Washington (na imagem), dirigiu um pedido a Trump, gerando controvérsia (Observador, 22/01/2025). Porque se trata de uma mulher que exerce as funções de bispo, leu-se a palavra bispa em muitas publicações; outras, em minoria, optam por «mulher bispo», que lembra o funcionamento dos nomes epicenos e pode não ser solução feliz. Bispa tem vantagem: é vocábulo bem formado, como nome do género feminino correspondente a bispo e, tal como a ministro corresponde ministra, surge pela simples mudança do morfema -o em -a, ou seja, em linguagem especializada, pela troca dos índices temáticos associados à categoria gramatical de género. Se estranheza existe, esta advirá de, nos meios católicos, o cargo de bispo ainda só ser desempenhado por homens. Não é assim nas igrejas de tradição protestante, facto reconhecido pelo registo de bispa na Infopédia – «mulher que chefia uma diocese, em certas religiões cristãs não católicas». O Dicionário Priberam igualmente consigna o termo com definição próxima da anterior, sem, no entanto, especificar a corrente cristã, e, como sinónimo de bispa, apresenta ainda episcopisa, com mais tradição para denotar «nos primórdios do cristianismo, mulher que exercia algumas funções sacerdotais, especialmente nos cultos litúrgicos» (Dicionário Houaiss). Episcopisa tem contraparte masculina em epíscopo, forma erudita pouco corrente e sinónima de bispo (ibidem); no entanto, a sua legitimidade funda-se também em papisa, feminino de papa que se fixou e evoca uma lenda famosa. Mas, se o homem que ocupa este alto cargo eclesiástico é geralmente conhecido como bispo, e não como epíscopo, para quê preferir episcopisa a bispa, muito mais transparente?
2. O português conserva muitos galicismos que documentam um intenso contacto com a cultura de língua francesa, de finais do século XVIII a meados do século XX. Em Diversidades, a consultora Inês Gama propõe inverter a perspetiva e apresenta alguns lusismos franceses, isto é, palavras francesas cuja origem é portuguesa.
3. Até que ponto é adequado falar de «erros "dispendiosos"» num jogo de futebol? No Pelourinho, a consultora Sara Mourato dedica um apontamento a este emprego do adjetivo dispendioso.
4. Pode-se afirmar que, em qualquer narrativa, o imperfeito do indicativo configura momentos de descrição? A resposta inclui-se no conjunto de seis que atualizam o Consultório e abrangem ainda os seguintes tópicos: o dativo ético, as construções partitivas com numerais cardinais, a grafia de láctico, o uso de demonstrar-se com predicativo do sujeito e as noções de frase, oração e sintagma.
5. «A descrição gramatical far-se-á obrigatoriamente em corpus de língua escrita dada a cabal impossibilidade de fazê-lo em corpus de língua oral» – declara Ricardo Cavaliere, linguista, filólogo e membro da Academia Brasileira de Letras, numa reflexão sobre a definição da norma linguística no Brasil. O texto, publicado na página Língua e Tradição (Facebook, 05/01/2025), transcreve-se com a devida vénia na rubrica Controvérsias.
6. Relativamente aos projetos de divulgação e didática do Ciberdúvidas, retoma-se o comentário do nome Melchior e fala-se da grafia de Baltasar no 19.º episódio de Ciberdúvidas Responde, e aprende-se a identificar as funções sintáticas das orações subordinadas substantivas no 14.º episódio de Ciberdúvidas Vai às Escolas (com a participação da Escola Secundária Fernando Namora, em Condeixa-a-Nova).
7. Da atualidade da atividade académica em língua portuguesa, salienta-se: a realização do 8.º Encontro Internacional do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), subordinado ao tema “Do social ao linguístico e retorno(s): textos, língua e desenvolvimento”, de 22 a 24 de janeiro de 2025, na NOVA FCSH, em Lisboa, Portugal; a chamada para a apresentação de trabalhos no XIII EMEP – Encontro Mundial sobre o Ensino de Português, organizado pela American Organization of Teachers of Portuguese (Associação Americana de Professores de Português), a ter lugar na Duke University em 1 e 2 de agosto de 2025; e a chamada de artigos para o dossiê Novos estudos em História da Língua Portuguesa: Novas abordagens para uma redefinição da periodização linguística do português, incluído na Revista Philologus.
8. Nos programas que, na rádio pública de Portugal, têm a língua portuguesa por tema, são temas de relevo:
– Em Língua de Todos, difundido pela RDP África, na sexta-feira, 24/0172025, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), conversa-se com Carlos Nuno Granja a propósito da sua recente obra A Arte de Gostar de Ler. Ainda um apontamento gramatical de linguista Sandra Duarte Tavares acerca da frase «A União Europeia decidiu apoiar as milhares de vítimas da catástrofe».
– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 26/01/2025, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 01/02/2025, às 15h30*), Carlos Nuno Granja é o seu livro preenchem a maior parte da emissão. O programa inclui a resposta da professora e consultora permanente do Ciberdúvidas, Carla Marques, à pergunta: será que a palavra não tem forma plural?
* Hora oficial de Portugal continental.