Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor
Não «banca rota», mas <i>bancarrota</i>
Uma palavra que já foram duas

A propósito do julgamento do antigo primeiro-ministro português José Sócrates, leu-se a forma errónea "banca rota" num artigo de opinião. O consultor Carlos Rocha explica porque se escreve bancarrota, sem separar banca de rota.

 

 

Pergunta:

Tenho-me deparado com o uso de tchutchuca no português do Brasil.

Por exemplo: 

«Assim, enquanto Musk se comporta como um "tigrão" no Brasil, enfrentando abertamente as autoridades, na Europa, ele assume o papel de "tchutchuca", cedendo rapidamente às exigências regulatórias»   (revista Forum, 05/09/2025) )

«Desmoralizado, Bolsonaro tenta de todas as formas pregar a imagem de "radical" nas redes, no entanto, até mesmo entre os seus apoiadores, o ex-mandatário se revelou "tchutchuca" do STF [Supremo Tribunal Federal]» (revista Forum, 16/04/2025) ).

Gostaria que comentassem esta palavra, que não parece ter registo em dicionários elaborados em Portugal.

Resposta:

O grafema tch só por si indica que a palavra é típica do português do Brasil, porque em Portugal não é corrente escrever tal combinação de letras1.

A palavra tchutchuca tem registo em versões eletrónicas do Dicionário Houaiss e do dicionário de Caldas Aulete, mas não noutros dicionários brasileiros como o Dicionário UNESP do Português Contemporâneo ou o Michaelis. Onde tem entrada, tchutchuca é substantivo e adjetivo definido assim:

 (1) « tratamento carinhoso que se dirige a uma mulher jovem e atraente; amorzinho» (Dicionário Houaiss)

(2) «Gír. Moça ou mulher bonita, de corpo bem-feito, meiga e carinhosa: "Vem tchutchuca linda / Senta aqui com seu pretinho / Vou te pegar no colo / E fazer muito carinho..." (Bonde do Tigrão, Tchutchuca)) [F.: Posv. de or. onom.]» (Caldas Aulete)

Os exemplos apresentados pelo consulente levam a c...

Sobre vidas sob ataque
Quando a paronímia atrapalha a ortoépia

As preposições sobre e sob tendem a confundir-se, quantas vezes a favor da primeira, no contexto errado. A troca é recorrente e detetou-se mais uma vez nas reportagens e comentários à volta dos doze dias de bombardeamentos entre Israel, o Irão e os EUA, como se assinala neste apontamento do consultor Carlos Rocha.

Pergunta:

Procuro uma forma antiga portuguesa (medieval ou renascentista) para traduzir o francês arcaico ris (riso).

Há registros além de riso? Alguma variante ou termo em desuso com esse sentido?

Obrigada.

Resposta:

A palavra atestada desde o século XIII é riso, como se comprova numa cantiga galego-portuguesa:

(1) «Ali perdeste-l'o siso/ quando as [donas] fostes veer,/ ca no falar e no riso/ podérades conhocer/ qual há melhor parecer» (tenção entre Pero Velho de Taveirós e Pai Soares, s. XIII, Cantigas Medievais Galego-Portuguesas)

Está igualmente atestado o uso de riir (forma atual: rir) como substantivação do verbo riir (ou seja, rir):

(2) «[...] perdi ela, que foi a rem milhor/ das que Deus fez,/ e quanto servid'hei / perdi por en, e perdi o riir [...]» (Afonso Sanches, séc. XIII-XIV, fragmento, ibidem).

Pergunta:

Em relação à frase apresentada, a palavra "ebru", tendo origem turca, devia estar entre aspas? 

«Os alunos apreciaram a arte "ebru" ao ponto de realizarem trabalhos.»

Obrigado.

Resposta:

A palavra ebru é um estrangeirismo ainda não integrado no português e, por isso, recomenda-se que seja grafado em itálico, ou, na indisponibilidade deste estilo, entre aspas.

O termo vernáculo é «papel marmoreado» ou «papel marmorizado» (cf. dicionário da Academia das Ciências de Lisboa ).