Aberturas - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A palavra reparação encontra-se na ordem do dia. O termo foi usado pelo Presidente da República português Marcelo Rebelo de Sousa no decurso de um jantar com jornalistas estrangeiros (no dia 23/04/24), onde defendeu que os portugueses deveriam pagar os custos do colonialismo como forma de reparação histórica dos seus atos passados. Neste contexto, o substantivo reparação não foi usado no seu sentido denotativo, que aponta para o «ato ou efeito de consertar, restaurar» e que já se encontra no seu étimo latino reparatĭo, onde já se encontrava o sentido de «renovação, remodelação». Com a evolução dos usos e o enriquecimento semântico, a palavra reparação passou também a incluir valores como «restabelecimento ou recuperação de forças, após esforço físico; ação de corrigir o que está mal; compensação, indemnização por danos ou prejuízos causados». É nesta última aceção que o termo restauração foi usado pelo Presidente da República e é esta a significação que está a desencadear um debate aceso na sociedade portuguesa, suscitando posições muito contrárias e mesmo extremadas, que, de alguma forma, emergiram no espaço público associadas às comemorações do 25 de Abril. Este ano, o evento ficou marcado por desfiles em várias cidades, onde se reuniu um número muito alargado de pessoas, como há muito não se via. Um «mar de gente» que recordou a importância de se continuar a lutar pela liberdade conquistada, e cujos valores, tal como a língua portuguesa, se espalham pelos corações, como nos recorda no seu artigo a professora universitária e linguista Margarita Correia (partilhado com a devida vénia). 

Primeira imagem: Fundação da cidade de Rio de Janeiro, de Antônio Firmino Monteiro (1855-1888).

2. A expressão «ainda em cima», cuja correção atualmente deixa reservas, tinha plena vitalidade no século XIX, uma importância que perdeu posteriormente para a expressão «ainda por cima». Este é o panorama que se traça na resposta que se encontra incluída na atualização do Consultório, onde se poderão encontrar também respostas para a seguintes questões: Qual a concordância correta: «pai e filha assomaram a cabeça» ou «pai e filha assomaram as cabeças»? A expressão «aos pejelhos» existe?  Qual a função sintática de «na serra» na frase «Eles decidiram ficar na serra»? Como construir uma enumeração que envolve verbos com regências diferentes? Quais as interpretações da frase «Ela deixou a plateia emocionada»? O constituinte «à Pelé» em «Ele fez um gol à Pelé» associa-se a uma crase?

3. Sobretudo na oralidade, registam-se casos de confusão entre as palavras tráfico e tráfego, o que motiva a consultora Inês Gama a apresentar um apontamento onde se esclarecem as dúvidas relacionadas com esta questão (divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2).

4. O regresso à Guiné-Bissau e a recordação de traços característicos do crioulo aí falado conduzem a professora Arlinda Mártires numa evocação sobre a poética da língua guineense em que, nas suas palavras, «a própria língua se reveste de uma tónica carinhosa e nos abraça como os seus falantes nos abraçam».

5. Os resultados obtidos pelos alunos portugueses em estudos como o PISA, o TIMSS ou o PIRLS levam Maria Regina Rocha, professora e antiga colaboradora do Ciberdúvidas, ao desenvolvimento de uma análise crítica da atual situação e à apresentação de um conjunto de propostas que visam encontrar soluções e conduzir à melhoria dos resultados da aprendizagem (artigo publicado no jornal digital Observador aqui partilhado com a devida vénia). 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Há meio século, em 25 de abril de 1974, desencadeou-se um processo de enorme impacto político e social em Portugal, traduzido na instauração da democracia e na descolonização. O tropel de acontecimentos e as transformações sucessivas – a chamada Revolução dos Cravos – teria consequências forçosas na língua, uma das quais foi a de os países africanos anteriormente controlados por Portugal participarem hoje ativamente na mudança e projeção do português, reforçando o estatuto que o Brasil já lhe conferia como idioma cimeiro entre os mais falados no hemisfério sul. O Ciberdúvidas da Língua Portuguesa junta-se igualmente à comemoração do 25 de Abril de 1974, com dois novos textos disponíveis na rubrica O Nosso Idioma:

– "50 palavras nos 50 anos no 25 de Abril em Portugal", um balanço léxico-semântico feito pelo jornalista José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, que assim recolhe palavras, expressões e tropeções linguísticos emblemáticos destes cinco decénios em Portugal, com destaque para os usos mais marcantes da primeira década da restauração da democracia em Portugal.

– Liberdade conta-se certamente entre os vocábulos mais reiterados em manifestações e discursos políticos nos primeiros anos da democracia portuguesa. Igualmente a propósito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, a consultora Inês Gama explora o significado da palavra liberdade.

Na imagem, instalação no átrio principal da Escola Artística António Arroio (Lisboa) realizada por alunos em 2024 no âmbito das comemorações do 25 de Abril.

2. Aproximam-se as eleições europeias, a ter lugar entre 6 e 9 de junho de 2024, e a comunicação social portuguesa dá relevo ao acontecimento, nem sempre da melhor forma. É o caso de uma transmissão da RTP, em 18/04/2024, na qual o verbo vacilar figurava incorretamente como "vassilar". No Pelourinho, a consultora Sara Mourato dá conta do erro e explica a origem de uma confusão comum na língua portuguesa.

3. Deve dizer-se homófobo ou homofóbico? A resposta faz parte do conjunto de seis que atualizam o Consultório e que abrangem ainda outros tópicos: a sigla TVDE; uma oração com a função de agente da passiva; um modificador do nome restritivo; a sintaxe do verbo levar; e a diferença aspetual, no modo indicativo, entre o pretérito perfeito e o pretérito imperfeito.

4. Voltando à rubrica O Nosso Idioma, transcreve-se, com a devida vénia, da autoria do revisor Gabriel Lago, um apontamento sobre os usos expressivos do ponto final, que foi publicado em 20/04/2024 no mural Língua e Tradição (Facebook).

5. Está disponível um novo episódio de Ciberdúvidas – o podcast, desta vez dedicado ao uso do imperfeito de cortesia, nem sempre bem compreendido entre os falantes e que, em Portugal, é o mote para uma piada velha: «Queria? Já não quer?»

6. Dois registos da atualidade com relação direta e indireta com a língua portuguesa:

– O abaixo-assinado lançado em 21/04/2024 pela Conferência Internacional do Processamento Computacional da Língua Portuguesa (PROPOR) para solicitar aos países lusófonos que se juntem e invistam em modelos de Inteligência Artificial (IA) generativa, de modo a evitar que a língua portuguesa dependa das grandes empresas tecnológicas (cf. Expresso, 24/04/2024).

– O debate de alto nível que a ONU News realizou para marcar os 50 anos da Revolução dos Cravos, reunindo o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e os representantes permanentes nas Nações Unidas de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e Timor-Leste.

7.  Finalmente, refiram-se três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa:

Língua de Todos, programa difundido na RDP África, na sexta-feira, 26/04/2024, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*);

Páginas de Português, transmitido pela Antena 2 no domingo, 28/04/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 04/05/2024 às 15h30*);

– e também na Antena 2, o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.

*Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. No Dia Mundial da Terra, assinalado a 22 de abril, foi apresentando o relatório sobre o Estado do Clima na Europa em 2023, no qual se destaca a expressão nuclear: «stress térmico extremo», que refere situações em que o calor é equivalente a uma temperatura superior a 46 ºC, situação que exige a tomada de medidas para evitar riscos para a saúde, como a insolação. A Europa registou em 2023 um número recorde de dias de stress térmico, que se associou a ondas de calor fortíssimas, incêndios florestais, secas e inundações, um conjunto de fenómenos registados na Europa entre junho e setembro de 2023. Esta é uma realidade que se verificou em 41% do Sul da Europa no pico da onda de calor que ocorreu em julho de 2023. A noção de situação limite convocada pela expressão é acompanhada, nos textos que tratam este assunto, por expressões como «precipitação recorde», «efeitos catastróficos», «ano mais chuvoso», «onda de calor marítimo mais forte de sempre», «maior incêndio florestal jamais registado na União Europeia». Em todas as construções, assinala-se a ideia de um limite que se ultrapassa no sentido de uma realidade desastrosa. Isto significa que também a linguagem denota a situação extrema que o planeta está a viver e regista os perigos crescentes que ameaçam a existência das espécies. A propósito da questão do aquecimento global, recordamos que o símbolo dos graus Celsius é ºC, devendo escrever-se, por exemplo, 45 ºC (e não 45º C, 45ºC ou 45 º C). 

2. Quando procedemos ao relato do discurso por meio do discurso indireto, o uso de tempos verbais deve obedecer a princípios rígidos ou verifica-se flexibilidade nas opções? As regras de transformação de discurso direto em discurso indireto ensinadas em contexto pedagógico devem ser aplicadas em todos os contextos? A atualização do Consultório inclui uma resposta que aborda estas questões que colocam frequentemente dúvidas relacionadas com os usos do discurso indireto. Entre as novas respostas, encontra-se tratada a natureza da partícula se em diversos contextos («Pronome pessoal recíproco e expressões de reforço» e «Pronome se: reflexivo vs. apassivador») e apresentamos várias respostas relacionadas com a correção/pertinência de usos (««Escrever no papel» e «sobre o papel»», ««Sob a égide» e «sob os auspícios»», «Mentoriamentorado», «Redundância: «sozinho para si mesmo»» e «Os significados de «dar conta de»»). Tratam-se ainda questões do âmbito da sintaxe: «Concordância com «a metade de ...»» e «Adjunto adnominal: «criei um grupo com os meus amigos»». 

3. A frase «Ele é amicíssimo meu» está correta? É possível flexionar um substantivo em grau usando o sufixo -íssimo? Estas questões dão matéria ao apontamento da professora Carla Marques, divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2. 

4. Os consulentes do Ciberdúvidas estabelecem com os consultores uma comunicação diária intensa, que se visa sobretudo o esclarecimento de dúvidas relacionadas com a língua. Não obstante, também há ocasiões em que chegam ao nosso correio palavras de apreço pela atividade que aqui se desenvolve diariamente, sempre ao serviço da língua e dos seus falantes.  

5.  A comemoração dos 500 anos do nascimento do poeta Luís de Camões continua a motivar reflexões. Desta feita, partilhamos o texto do professor universitário, escritor e tradutor Frederico Lourenço dedicado à poesia lírica camoniana e à sua celebração da mulher, em particular de Bárbara escrava. 

6.  No âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de abril, destaque para o encontro 50 Anos, 5 Visões, promovido pelo Núcleos de Estudantes do Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – FLUL, que terá lugar dia 23 de abril, no Anfiteatro 3 da FLUL, das 14h às 19h. 

7. Na presente semana, excecionalmente, a próxima atualização e a respetiva Abertura são antecipadas para quinta-feira, dia em que se comemora em Portugal o cinquentenário do 25 de Abril de 1974.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

 1. A pressão da língua inglesa em Portugal dá sinais de intensificar-se na vida quotidiana e nos consumos culturais, tendência que se nota, por exemplo, no crescimento da venda de livros em língua inglesa em detrimento da tradução portuguesa. A Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) manifesta-se através do seu presidente, Pedro Sobral, o qual, não negando o lado positivo de haver novas gerações competentes em inglês, alerta para a prioridade da defesa da língua portuguesa (ver Comunidade Cultura e Arte, 18/04/2024). Nos media, é imparável o impacto anglófono, e, na CNN Portugal, separadores e espaços informativos têm denominações inglesas como Breaking News, Latest News, CNN Prime Tiime, GTI Plus e Teach For Portugal, como aponta o jornalista José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, no Pelourinho, a propósito de um novo canal de notícias em Portugal, o News Now, paradoxalmente dirigido a portugueses e lusófonos, apesar do nome inglês.

2. É com enorme preocupação que se acompanha a situação no Médio Oriente, agravada pelo ataque do Irão a Israel. O desenrolar dos acontecimentos é muito comentado nos canais de televisão em Portugal, em direto, só que a qualidade do português das intervenções deixa muito a desejar. Também no Pelourinho, um apontamento da consultora Sara Mourato dá conta de três tropeções ouvidos numa transmissão da CNN Portugal: «Israel está sobre ameaça», «todas as casualidades» e, em vez das formas vernáculas Cisjordânia ou «Margem Ocidental», «West Bank».

3. Entretanto, sobre o programa do novo governo português, há debate acalorado na Assembleia da República, sobretudo, entre os partidos mais votados, PSDPS e Chega. E o moderador de um programa televisivo pergunta: pode falar-se num «duelo a três»? Em O Nosso Idioma, a consultora Inês Gama explica que duelo só se entende como «combate a dois». Abordando a competição na área desportiva, o consultor Paulo J. S. Barata regista e descreve o uso da expressão «ir a campo», ainda na mesma rubrica.

4. Qual é a frase correta: «as filhas aprendiam a serem» ou «aprendiam a ser»? A esta pergunta somam-se seis, totalizando sete novas questões a compor a atualização do Consultorio: há forma portuguesa para o topónimo hebraico Beersheva? Os nomes dos povos indígenas do Brasil seguem a regras da ortografia comum? Como se denomina uma loja onde se vendem doces? Que função sintática desempenha «entusiasmada» na frase «entusiasmada, a professora sorriu»? Como se emprega adjetivalmente o particípio passado atento? Que relação existe entre compasso e «compasso de espera»?

5. Uma ordem política mundial capaz de assegurar a paz internacional é preocupação antiga de políticos e pensadores. Um filósofo que também lhe dedicou atenção foi Immanuel Kant, nascido em 22 de abril de 1724, em Könisberg, na antiga Prússia, cidade hoje conhecida como Kaliningrad, na Federação Russa (em português, Caliningrado ou Calininegrado; ver Abertura de 24/06/2022). Assinala-se, portanto, o tricentenário deste importantíssimo filósofo alemão, observando que o apelido Kant tem etimologia incerta, oscilando entre uma tese escocesa e uma hipótese báltica. Sobre o topónimo Könisberg, o equivalente vernáculo é Conisberga; e, a respeito de Prússia, é originalmente designação da região habitada pelos Prussianos, grupo étnico de língua báltica e de nome historicamente obscuro, embora a variante ou o sinónimo borusso (ou brússio) sugira uma expressão eslava que significaria «perto dos russos» (cf. Dicionário Houaiss). Em português, atesta-se o topónimo Prússia a partir do século XV (ver José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa). Recorde-se que, de Kant, se deriva o adjetivo kantiano, que mantém a grafia estrangeira do nome próprio, como acontece aos vocábulos derivados de nomes próprios estrangeiros.

6. Registos vários, todos relacionados com a língua portuguesa:

– O pedido do presidente do parlamento português, José Pedro Aguiar-Branco, aos deputados portugueses, para que usem as formulações «senhor deputado» e «senhor presidente» e evitem o tratamento por tu ou você, «de forma a dignificar o debate parlamentar sem coartar o conteúdo do mesmo, dignificando a casa da democracia» ( in Diário de Notícias, 16/04/2024).

– O XIV Congresso da Associação Internacional de Estudos Galegos, que decorre de 17 a 20 de abril, na Universidade do Minho.

– O anúncio de FeLiCidade – Festival da Língua e da Liberdade na Cidade, uma iniciativa a ter lugar no Centro Cultural de Belém (Lisboa), para assinalar o Dia Mundial da Língua Portuguesa, celebrado em 5 de maio.

– A Jornada "Variação Linguística, Educação e Cidadania", promovida pela Associação de Professores de Português (APP) e pela Associação Portuguesa de Linguística (APL) e a ter lugar em 3 de junho p.f., na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

– O vídeo "Por que expressões típicas do Brasil estão pegando em Portugal?", um trabalho da jornalista Julia Braun para a BBC Brasil (igualmente disponível em "O português de Portugal está ficando mais brasileiro?").

7. Entre os programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:

– Em Língua de Todos, programa difundido na RDP África, na sexta-feira, 19/04/2024, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a professora Sandra Duarte Tavares analisa a etimologia e sinonímia de certos termos como positividade, positivismo e agnotologia. Discorre ainda sobre e significado da palavra pleonasmo, dando vários exemplos.

– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2 no domingo, 21/04/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 27/04/2024 às 15h30*), entrevista-se a professora Gilda Santos, atual vice-presidente cultural do Centro de Estudos do Real Gabinete Português de Leitura. Para além de apresentar este centro e as suas funções, das quais se destacam a promoção da literatura e cultura portuguesa no Brasil, refere também os eventos planeados pelo Real Gabinete para celebrar os 500 anos do nascimento de Luís de Camões. A professora e consultora do Ciberdúvidas Carla Marques traz ainda um apontamento gramatical.

– Igualmente na Antena 2, refira-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.

*Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O recente aumento da tensão entre Israel e o Irão colocou o Médio Oriente no centro das atenções devido ao perigo de vir a desencadear uma nova guerra com consequências imprevisíveis. Esta situação motivou uma reunião de emergência dos líderes do G7 e levou tanto a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, como o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, a deixarem um apelo de «máxima contenção» às partes envolvidas. A palavra contenção, aqui usada com o valor de «ato ou efeito de conter(-se)»1, levanta, por vezes, dúvidas relativamente à sua grafia, sendo confundida com a forma contensão. A este propósito, convém aqui esclarecer que a palavra contenção, com o significado acima referido, é resultante da junção do verbo conter (na forma conten-) ao sufixo -ção e não se pode grafar como contensão. Existe, sim, registo de uma outra palavra, também grafada contenção, que advém do étimo latino contentĭo ou de contensio, ōnis, que significa «ato ou efeito de contender; 1. Desforço físico; briga, luta; 2. Desentendimento verbal ou da ordem das ideias, altercação, debate, disputa»1. É a palavra com esta etimologia e com este significado que tem como variante a forma contensão. Esta situação resulta do facto de as palavras terem origem nas variantes latinas já mencionadas, o que gerou uma flutuação ortográfica, que se verifica apenas no caso desta última palavra.

  1. As aceções apresentadas constam do Dicionário Houaiss.

Primeira imagem: mapa do Médio Oriente, com destaque, a cor para Israel (a laranja) e Irão (a verde).  

2. Quando entre o verbo e o seu complemento se coloca um advérbio, este deve ser isolado por vírgulas? A resposta a esta questão considera o caso dos advérbios curtos colocados junto da forma verbal. Na atualização do Consultório poderão ainda ser consultadas respostas sobre os seguintes aspetos: a pronúncia de R depois das letras S, N ou L; a grafia da expressão «autor matriz»; a grafia da expressão «há um ror de dias»; a natureza do verbo fazer numa construção passiva; a colocação do clítico com orações infinitiva; uso do verbo sujar como pronominal reflexo; a relação semântica entre supor e pressupor; uma possível tradução do anglicismo misnomer e os gentílicos de Buenos Aires e de Cidade do México.

3. Tal é uma palavra polifuncional, que pode pertencer a várias classes de palavras. Partindo da frase «Não tenho conhecimentos para tal», a professora Carla Marques analisa o comportamento deste vocábulo na língua (apontamento divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2). 

4. O consultor do Ciberdúvidas Paulo J.S. Barata apresenta um apontamento sobre dois neologismos: conspiritualidade e conspiracionar.

5. A má qualidade de alguns aspetos da tradução do docudrama Recordo a Piazza Fontana é aqui assinalada por José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, na rubrica Pelourinho

6. A comunidade brasileira em Portugal tem vindo a crescer de forma significativa, devido ao movimento de emigração. Este facto gera proximidade entre variantes linguísticas e levanta a questão relacionada com as possíveis influências de marcas do português brasileiro no português europeu. No artigo, de autoria da jornalista brasileira Julia Braun, aqui transcrito com a devida vénia, vários especialistas abordam a questão.

7. Destaque para as seguintes notícias:

Manuel Alegre, escritor e político português, foi condecorado com a Grã-cruz da Ordem de Camões pelo Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, no dia 15 de abril, após o lançamento e apresentação da obra Memórias minhas, de Manuel Alegre, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

– Exposição A revolução em Marcha — os cartazes do PREC, na Biblioteca Nacional de Portugal, com inauguração a 19 de abril, ficando patente ao público até 21 de setembro de 2024. 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, discute-se o programa do novo governo – XXIV Governo Constitucional – saído das eleições legislativas de 10 de março. Programa é, portanto, palavra recorrente na comunicação social portuguesa, muito presente no contexto político e noutros âmbitos («programa de rádio», «programa de televisão», «programa de computador»), mas cuja história merece um breve comentário. Refira-se, portanto, que o vocábulo programa está atestado, pelo menos, desde 1789, no conhecido dicionário de Morais, com a seguinte definição (mantém-se a ortografia e pontuação originais): «escrito, que se affixa, ou publica para convidar a fazer alguma coisa, v. g. os que publicão as Academias para se dissertar sobre alguma materia, resolver algum problema &c.» Programa não alterou substantivamente a sua significação e, continuando a aludir a uma atuação pública, pode hoje ser sinónimo de projeto e plano. Terá sido introduzido no idioma provavelmente pelo francês programme, forma com registos desde finais do século XVII (cf. Dicionário Houaiss). Este termo é afrancesamento do latim tardio programma, programmătis, que significa «publicação por escrito, edital, cartaz»; e este, por sua vez, é adaptação do grego prógramma, prográmmatos, «ordem do dia, inscrição», um derivado do verbo prográphō, formado por pró- («diante de») e gráphō, «escrever, inscrever»,  e que tem as aceções de «escrever anteriormente, descrever publicamente» (cf. ibidem). Programa faz parte, portanto, do léxico de cunho internacional, visto encontrar formas semelhantes, com a mesma origem e com o mesmo radical (cognatas) em espanhol, francês, italiano, inglês, alemão e muitas outras.

Na imagem, o programa de um recital de poesia que teve lugar em 1963, na Sociedade Nacional de Belas Artes (Lisboa).

2. Revolução e revolta serão sinónimos? Em O Nosso Idioma, num apontamento escrito a pensar nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, a consultora Inês Gama analisa as subtis diferenças semânticas entre estas duas palavras. Ainda na mesma rubrica:

–  Sara Mourato explora a origem e o significado do neologismo pele-limpa, surgido em referência a questões de defesa e espionagem;

– e, transcrito com devida vénia do mural Língua e Tradição (Facebook, 29/03/2024), disponibiliza-se um apontamento do linguista Jefferson Evaristo sobre o excesso de que, induzido pela recorrência da locução «é que» entre os falantes do Brasil (e certamente dos outros países de língua portuguesa).

3. A forma «copia-lo» está correta? Não deveria ser «copia-o»? A dúvida faz parte do conjunto de seis questões que constitui a atualização do Consultório. Outros tópicos são abordados: a explicação da próclise na frase «na tua irreverência se vê a tua singularidade»; a expressão «mais e mais»; o nome muçum; o feminino de piloto; e o termo translocação.

4. À volta de fraseologia pitoresca, estrangeirismos, curiosidades linguísticas e neologismos, são de realçar:

– No jornal Público, as crónicas que o escritor Miguel Esteves Cardoso tem dedicado a certas fraseologias do português falado em Portugal, como «e já vai com sorte...» e «não digas que vais daqui...», sendo também de mencionar «Enough said, Mr Mamede», sobre o uso anglicista de quão e suficiente.

– No podcast Pilha de Livros, o professor universitário Marco Neves prossegue no seu trabalho de divulgação linguística, destacando-se os episódios dedicados à origem de OK (episódio 222); à palavra pirilampo, com uma evocação de Bluteau (episódio 223); à diferença entre língua e dialeto, a propósito do quimbundo, uma importante língua nacional de Angola (episódio 224); e ao suaíli, língua possuidora de sistema peculiar de representação das horas (episódio 225).

– No Diário dos Açores, o neologismo trumpinoma é o mote de um artigo do médico, político e empresário António Simas Santos, que o apresenta como «termo que, de uma forma criativa, descreve a malignidade ou impacto negativo que muitos sectores, americanos e internacionais, associam à figura de Donald Trump» (mantém-se a ortografia original).

5. Uma chamada de atenção para uma publicação académica que, embora já conte com dois anos de publicação, mantém toda a atualidade: trata-se de Descrição Linguística , Educação e Cultura em Contextos Pós-Coloniais, um livro em PDF organizado pelos linguistas Ezra Alberto Chambal Nhampoca, David Alberto Seth Langa e Alexandre António Timbane.

6. Iniciativas e eventos com interesse linguístico:

– em 11 de abril, em Miranda do Douro, a realização do 3.º Encontro de Línguas Minoritárias (OWL+), promovido pela União Europeia;

– a intenção do novo governo português de retomar a proposta de a língua portuguesa se tornar língua oficial na ONU;

– a disponibilização em formato digital do arquivo da Academia das Ciências de Lisboa, fundada em 1779.

7. Quanto aos temas de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:

– No programa Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 12/04/2024 às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a linguista Sandra Duarte Tavares fala sobre a didática necessária ao desenvolvimento da competência linguística dos alunos.

– O analfabetismo em Portugal é o tema de uma entrevista à professora e investigadora Carmen Cavaco (Instituto de Educação da Universidade de Lisboa), transmitida em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 14/04/2024, 12h30*; repetido em 20/04/2024, 15h30*). O programa inclui um apontamento gramatical da professora Carla Marques, acerca da palavra tal.

– Igualmente na Antena 2, refira-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.

*Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Com a sua entrada em funções, o novo governo de Portugal tomou a sua primeira medida, tendo decidido alterar o logótipo da República Portuguesa em uso e regressar ao anterior, que inclui o escudo, as quinas e a esfera armilar, uma decisão que foi amplamente debatida na imprensa escrita e nos comentários televisivos e radiofónicos. Foi exatamente no espaço da oralidade que se voltou a ouvir a prolação incorreta da palavra, pronunciada como "logotípo". Como já aconteceu noutras ocasiões, o Ciberdúvidas recorda que a palavra deve ser pronunciada colocando o acento tónico no segundo "o" – logótipo –, uma vez que esta é uma palavra proparoxítona, o que é assinalado pelo acento agudo. E porque os acontecimentos políticos e sociais podem vir a convocar outras palavras que recorrentemente se pronunciam de forma incorreta, deixamos aqui registo da correta prolação de algumas delas: "Rubrica (e não "rúbrica")", "A pronúncia de seniores e juniores, novamente", "Pronúncia de carácter ou caracteres", "A pronúncia de acordo(s)",  "A pronúncia de circuito, fortuito, gratuito e intuito". 

2. No decurso da mais recente campanha eleitoral em Portugal, assinalámos vários tropeções linguísticos, a que se juntaram diversas inovações lexicais, um conjunto de fenómenos linguísticos que José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, recorda no seu apontamento intitulado "Do melhor e do pior".  

3. A atualização do Consultório do Ciberdúvidas traz-nos a análise de uma dúvida relacionada com a possibilidade de utilizar o pronome indefinido alguém em construções negativas, a par de ninguém. A esta resposta juntam-se outras nove, que tratam os seguintes aspetos da língua portuguesa: a equivalência de mau grado e malgrado; a correção da forma «paços de conselho»; as regências com orações relativas; o uso de vírgula com modificador do grupo verbal; a correção da expressão «no pressuposto de que»; o uso das expressões «contra si» e «contra ele»; a construção «posso ajudar» com pronomes pessoais; a correção de «menos pior» e atos ilocutórios na Farsa de Inês Pereira

4. No seu apontamento desta semana, a professora Carla Marques coteja as palavras ámen e amém no sentido de esclarecer se existe uma forma correta e qual o seu plural (divulgado no programa Páginas de Português da Antena 2). 

5.  A comemoração dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões cria o contexto para uma reflexão sobre a vida e obra do génio da literatura portuguesa, tal como o considera o professor universitário e autor Frederico Lourenço no texto que publica no seu mural de Facebook e que aqui partilhamos com a devida vénia.  

6.  A professora universitária e linguista Margarita Correia analisa, desta feita, a situação linguística da Guiné Equatorial, o nono membro da CPLP, em artigo publicado no Diário de Notícias, que partilhamos com a devida vénia.

7. Divulgam-se alguns encontros científicos de interesse:

– Decorre na Universidade Federal do Piauí Colóquio Internacional sobre Argumentação, Retórica e Análise do Discurso (I CIARD), entre 8 e 10 de abril;

– O 3.º Simpósio Internacional de Jovens Investigadores em Literatura para a Infância e Juventude, intitulado "Livros para transformar o mundo: simpósio sobre Literatura para a Infância e Juventude", decorrerá na Universidade Aveiro nos dias 11 e 12 de abril.  

8. Um registo final para Eugénio Lisboa, que faleceu na manhã de 9 de abril de 2024, vítima de doença oncológica. Eugénio Lisboa foi ensaísta e crítico literário, especialista em José Régio. Deixou-nos também obra poética e um conjunto alargado de diários e memórias. Assim como algumas polémicas literárias, duas delas registadas no Ciberdúvidas: "A festa antes do tempo" e "Promover a literatura portuguesa". À controvérsia do cânone literário dedicou em 2021 o livro Vamos Ler! – Um Cânone para o Leitor Relutante.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Conforme se assinalou na Abertura de 22/03/2024, as atualizações regulares do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa têm uma pausa de 25 de  março a 8 de abril, coincidindo com a interrupção escolar do período da Páscoa. Fica também inativo o acesso ao formulário para envio de questões e, portanto, durante os próximos dias, não haverá novas respostas no Consultório. A plena atividade é retomada em 9 de abril. Como sempre, mantém-se disponível a consulta de todo o vasto arquivo do Ciberdúvidas, constituído por perto de 38 000 respostas e mais de 12 000 artigos sobre os temas da língua portuguesa – tanto na sua unidade como na sua diversidade.

Na imagem, Natureza-morta, flores e livro (1919), de Carlos Bonvalot (1893-1934).

2. De modo mais espaçado, novos artigos sobre a língua portuguesa continuam a marcar presença nas demais rubricas do Ciberdúvidas. Registam-se:

• "O Afeganistão de A a Z"

Bashar al-Assad, Daesh-K, Estado Islâmico de Coraçone, Hafiz Saeed Khan, ISIS-K, Khorazan (seis entradas em 26/03/2024, tendo em conta o reivindicado ataque terrorista na sala de concertos Crocus City Hall de Moscovo).

Lusofonias

 – "Guiné Equatorial – o 9.º membro da CPLP – 1", da linguista e professora universitária Margarita Correia (transcrição de artigo de opnião publicado no Diário de Notícias em 01/04/2024).

O Nosso Idioma

– "Adesão vs. aderência" (26/03/2024) e "A palavra Páscoa e outros vocábulos relacionados", de Inês Gama, consultora do Ciberdúvidas;

– "O neologismo cosmeticorexia" e "Variação linguística e ortografia" (03/04/2024), de Sara Mourato, consultora do Ciberdúvidas.

Ensino

– "O modelo social-democrata de escola dificilmente sobreviverá", do professor do ensino básico e secundário Paulo Prudêncio (transcrição de artigo de opinião do jornal Público em 23/03/2024);

– "Os primórdios do ensino de português na China", da linguista e professora universitária Margarita Correia (transcrição de artigo do Diário de Notícias em 25/03/2024).

 

Atualizado em 27/03/2024 e 04/04/2024.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, após as eleições legislativas de 10 de março, declara-se a vitória, por escassíssima margem, da coligação Aliança Democrática (AD) e, já na madrugada de 21/03/2024, é indigitado como primeiro-ministro o líder desta formação política, Luís Montenegro. A formação e continuidade do novo governo depende da negociação de equilíbrios parlamentares que se preveem frágeis, disto mesmo dando conta algumas expressões e neologismos recorrentes na comunicação social. Por  exemplo, «não é não», resposta de Montenegro à eventualidade de um acordo com o partido Chega; «negociações ad hoc», designação do cenário previsível do novo governo para a aprovação das medidas mais prementes – mantêm-se as reclamações salariais dos professores, das forças de segurança, dos profissionais de saúde e dos oficiais de justiça –, nomeadamente no âmbito do orçamento retificativo, seja com o Partido Socialista, seja com a Iniciativa Liberal e com o próprio Chega; por consequência, fala-se em «acordos à direita e/ou  acordos à esquerda», com o plural acordos raramente conforme a prolação recomendada, com o fechado; e, em alusão crítica aos apoiantes do Chega, avulta «“tiktokada” bolsonarista» (ver Público, 20/03/2024), formada por um derivado de TikTok, nome da conhecida aplicação, a que se associa o afixo de valor depreciativo -ada, e bolsonarista, outro derivado de um nome próprio famoso, Bolsonaro. Em O Nosso Idioma, um trabalho da consultora Inês Gama expande a breve lista aqui apresentada e identifica algumas confusões nos usos lexicais de políticos e profissionais dos media que caracterizam o momento político vivido em Portugal.

2. Ainda no contexto das eleições portuguesas, pergunta-se se o termo deputado pode ser sinónimo de mandato e eleito. A resposta faz parte do conjunto de seis que atualizam o Consultório e abrangem outros tópicos: o topónimo Nozedo (Bragança), a pronúncia do helenismo lógos, um caso de metonímia, a colocação pronominal depois do quantificador cada e os valores modais do verbo pensar.

3.O que faz uma perguntóloga? Tomando contacto com a área da filosofia para crianças, o consultor Paulo J. S. Barata revela em O Nosso Idioma a etimologia e o significado dos neologismos filocriatividade e perguntologia, além de avaliar a sua viabilidade.

4.O japonês integra várias palavras com origem no português, as quais se fixaram nesta língua sobretudo entre a segunda metade do século XVI e os primeiros decénios do século XVII. Em Diversidades, um apontamento da consultora Sara Mourato aborda dois desses empréstimos: kompeitō e kasutera.

5. Na Montra de Livros, apresenta-se Les mots diversement rangés. Grammaire Systématique du Portugais, de R. A. Lawton (Imprensa da Universidade de Coimbra, 2024), uma gramática do português escrita em língua francesa que se afirma pela diferença teórica e metodológica do seu quadro de análise.

6. De outras publicações, transcrevem-se dois textos com a devida vénia. Nas Controvérsias, "Qual é o masculino de dona de casa", da ilustradora e ativista Clara Não (Expresso, 18/03/2024); e, na rubrica Ensino, "Escola pública: carta aberta ao futuro Governo", do professor e geólogo Galopim de Carvalho (Público, 20/03/2024).

7. Regista-se com pesar o falecimento do poeta português Nuno Júdice em 17 de março de 2024. Sobre o lugar que ocupa na literatura de Portugal e acerca da sua ação em cargos públicos com impacto no ensino e na cultura, leia-se "Ironia e melancolia: na morte de Nuno Júdice", de Fernando Pinto do Amaral (Público, 18/03/2024), e "Morreu o poeta Nuno Júdice" (RTP, 18/03/2024). Na Antologia, são quatro os textos deste autor, todos à volta de questões da língua e da linguagem.

8. Entre atividades e eventos ligados à língua portuguesa e às suas literaturas, assinalam-se o Dia Mundial da Poesia em 21 março, a propósito do qual se sugere a leitura de "Poetisa inferioriza?"; a inauguração em 19 de março da Cátedra Lídia Jorge na Universidade Federal de Goiás, numa cerimónia que contou com a presença da própria escritora*; e a Semana da Leitura, que decorre de 18 a 23 de março, numa iniciativa do Plano Nacional de Leitura.

* Ler "Lídia Jorge: Ideia de português ser preponderante 'caiu por terra'" (Diário de Notícias, 20/03/2024), notícia que dá conta de declarações prestadas pela escritora acerca da língua portuguesa e da sua variação.

9. Temas de três dos programas que, na rádio pública portuguesa, são dedicados ao português:

– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 22/03/2024 às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a professora e linguista Isabel Margarida Duarte, (Faculdade de Letras da Universidade do Porto), e Maria de Lurdes Gonçalves, coordenadora do Ensino do Português na Suíça, discorrem sobre a didática aplicável ao ensino do Português Língua de Herança como idioma pluricêntrico.

– No programa Páginas de Português (Antena 2, domingo, 24/03/2024, às 12h30*; repetido no sábado seguinte, 30/03/2024, 15h30*), abordam-se as comemorações oficiais do V Centenário de nascimento de Luís de Camões numa conversa com a sua comissária, a professora Rita Marnoto (Universidade de Coimbra). Ainda a diferença entre adesão e aderência, num apontamento gramatical de Inês Gama.

– Em Palavras Cruzadas (Antena 2), programa realizado por Dalila Carvalho, as emissões de 25 a 29 de março (segunda a sexta, às 09h50* e 18h50*) são dedicadas aos acrónimos do mundo do trabalho, numa entrevista com João Gata, membro organizador do Mental – Festival de Saúde Mental, cuja 8.ª edição tem lugar entre 11 e 25 de maio.

*Hora oficial de Portugal continental.

10. De 25 de  março a 8 de abril, faz-se uma pausa nas atualizações regulares do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, coincidindo assim com a interrupção escolar do período da Páscoa. Fica também inativo o acesso ao formulário para envio de questões e, portanto, durante os próximos dias, não haverá novas respostas no Consultório. Contudo, a plena atividade é retomada em 9 de abril, e, entretanto, de modo mais espaçado, as atualidades e novos artigos sobre a língua portuguesa continuarão a marcar aqui presença. Como sempre, mantém-se disponível a consulta de todo o vasto arquivo do Ciberdúvidas, constituído por perto de 38 000 respostas e mais de 12 000 artigos sobre os temas da língua portuguesa – tanto na sua unidade como na sua diversidade.

Na imagem, à esquerda, Primavera (1933) , de José Malhoa (1855-1933) – Museu José Malhoa, nas Caldas da Rainha.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1.  Como é sabido, situações novas constituem terreno fértil para a inovação lexical, nomeadamente com a criação de neologismos, os quais permitem nomear novas realidades. A situação política que se vive em Portugal é desta realidade um bom exemplo. Numa altura em que se desenham cenários relativamente ao que poderá vir a ser o novo mapa do exercício das funções parlamentares e governativas, há quem acuse a direita, que provavelmente virá a ser a detentora do poder, de pretender retomar o projeto "troikiano", que o último governo do PSD, conduzido por Pedro Passos Coelho, executava. Há também quem aponte como pouco construtiva a linguagem "chegana", que se associa ao discurso agressivo e, por vezes, excessivamente coloquial de alguns militantes do partido Chega. Ambas as palavras constituem neologismos formados por derivação a partir de um nome próprio pré-existente (Troika e Chega), ao qual se juntou o sufixo -ano, que associa à nova palavra o valor de «que é feito à maneira de». Fértil continua a ser também o terreno político para o recurso à linguagem metafórica. Deparámo-nos recentemente com expressões como: «chegar com pezinhos de lã», «preparar para a guerra», «utilizar a bomba atómica», «cálice amargo», «prova de fogo», entre outras que ilustram a criatividade linguística ao serviço da análise das perspetivas oferecidas pela realidade. 

Primeira imagem: Parlamento português ou Assembleia da República

2. A identificação de uma forma feminina para referir certos cargos ou profissões nem sempre está prevista nos dicionários, aspeto que constitui o ponto de partida para a resposta relacionada com o nome subcomandante. A ela juntam-se, nesta atualização do Consultório, oito outras, que tratam questões de sintaxe («Modificador do grupo verbal: «O avô tinha o livro na estante», «Apostos especificativo e explicativo», «Orações completivas introduzidas por para»), de semântica («Garantir com indicativo ou conjuntivo»), de ortoépia («A pronúncia de berma»), de ortografia («Os grafemas rr e ss na translineação»), de lexicologia («O gentílico de Iucatão») e do âmbito da teoria gramatical («A distinção entre morfologia e sintaxe»).

3. A data de 19 de março coincide, em Portugal com o Dia do Pai. A palavra pai encontra-se em vários textos disponíveis no arquivo do Ciberdúvidas, cuja leitura aqui se sugere: «Pai», «A etimologia das palavras pai e mãe», «Pai, merónimo de família, e família, holónimo de pai», «Pátrio, pátria e pai», «Pai e Mãe Nossa que estais no céu», «O pai-nosso», «Querido pai», «Maiúscula inicial em mãe e pai».

4. A identificação natureza da locução «por exemplo» dá matéria ao apontamento da professora Carla Marques (divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2).

5. O uso incorreto do verbo desmarcar, num contexto em que se deveria ter usado a forma demarcar, é analisado pelo consultor do Ciberdúvidas Paulo J. S. Barata, neste apontamento disponível na rubrica Pelourinho. 

6. Partilhamos, com a devida vénia, alguns textos de interesse linguístico e didático:

Labrosta, calhordas, escanifobética são algumas das palavras que o tradutor Gonçalo Puga recorda num texto que alerta para o desaparecimento de muitos lexemas, que estão a deixar de constar do léxico ativo de muitos falantes. 

– A palavra povo e os seus usos em diferentes contextos permitem o desenvolvimento de valores específicos, tal como regista o professor Paulo Guinote no seu artigo em torno das conotações políticas do lexema.

– A obra A crise da Narração, de Byung Chul Han, ilustra, na perspetiva da professora universitária Dora Gago, a atitude dos alunos que têm cada vez mais dificuldades em ouvir o outro, revelando uma crescente dependência dos conteúdos digitais.