Aberturas - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Aberturas
Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A celebração do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, deu azo a que o 5.º centenário do nascimento de Camões ganhasse apelo e enorme projeção mediática. Entre o muito que se publicou sobre a efeméride, além dos registos já incluídos na Abertura de 11/06/2024, destaca-se ainda o conjunto de peças publicadas no jornal Público em 09/06/2024, à volta do legado de Camões em áreas da cultura e do ensino:  "O mal de Camões é que, se durasse eternamente, ninguém mais escrevia" (entrevista ao professor universitário e escritor Helder Macedo), "Camões – uma poética de conjeturas", "O rei que amava os livros (e Camões)", "Retratos de Camões: da vera efígie às recriações românticas", "O ensino de Camões continua refém das sua 'versão oficial'" e  "Camões ocupa um lugar único na memória colectiva”. Assinale-se igualmente o lançamento, em 16/06/2024, de uma nova biografia do Poeta, da autoria de Isabel Rio Novo e intitulada Fortuna, caso, tempo e sorte (Jornal de Notícias, 10/06/2024). Para uma visão ajustada do contributo camoniano para a língua portuguesa, cabe referir "Camões e os erros de ortografia", do tradutor e divulgador de temas linguísticos Marco Neves (Youtube, 13/06/2024). Mas, para aprofundar a questão, em O Nosso Idioma, transcreve-se com a devida vénia o estudo que Fernando Venâncio apresentou em 2017 em torno do impacto da linguagem literária de Camões e dos seus contemporâneos na história do léxico português*. Defende este investigador a tese «dum esforço quinhentista, implícito mas actuante, pela internacionalização do léxico português, iniciada pela apropriação de recursos castelhanos» (mantém-se a ortografia original), sublinhando que «essa apropriação foi abundante».

* In Ernestina Carrilho et alii, Estudos Linguísticos e Filológicos Oferecidos a Ivo Castro (Lisboa: Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, 2019, pp. 1541-1560). O texto está também disponível na página de Fernando Venâncio na Internet e no Observatório da Língua Portuguesa. Na imagem, Retrato de Luís de Camões, de José Malhoa (1855-1933) – fonte: Wikipédia.

2. Se há cerca de 40 anos o uso do português em Moçambique parecia longe de extensivo e consolidado, as perspetivas atuais são animadoras, dado o enorme aumento de falantes, sobretudo em meios urbanos. Em Lusofonias, no sentido de compreender a situação do português e o funcionamento do seu ensino em Moçambique, a consultora Inês Gama entrevista  a professora Marta Sitoe, investigadora e professora da Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique). É um trabalho que se publica em duas partes, em que esta especialista aborda a complexa realidade linguística deste país africano.

3. A concordância do verbo ser tem subtilezas nem sempre redutíveis  a regras sem exceção, como evidenciam duas questões feitas no Consultório: a propósito das festas de junho, dedicadas aos Santos Populares, pode dizer-se «Festas de Lisboa é na Madragoa»? E aceita-se «todos os dias é dia da criança»? A presente atualização é completada por mais cinco perguntas: qual é a origem do nome melancia? «Tenho a dizer» é galicismo? Cataclismo é sinónimo exato de catástrofe? A voz passiva em «fui sobrevoado» está correta? E, de regresso, uma dúvida recorrente: como é a colocação pronominal no português do Brasil?

4A história da grafia escuteiro, em concorrência com escoteiro, e as diferentes interpretações culturais associadas às duas palavras são tema de um apontamento da consultora Sara Mourato, na rubrica O Nosso Idioma.

5. A data de 14 de junho marca o começo do campeonato de futebol europeu, o Euro 2024, organizado pela UEFA e que se realiza na Alemanha até 14 de  julho. Recorde-se que UEFA é um acrónimo formado pelas iniciais da denominação em língua inglesa Union of European Football Associations, o mesmo que União de Associações de Futebol, em português, cujas siglas – UAFE – não parecem ter tido alguma vez popularidade.

A respeito da linguagem do futebol, consultem-se os seguintes conteúdos: "Futebolês", "Futebolês, outra vez", "Viva o futebolês!"; "Viagem pelo futebolês mais desregrado"; "O dialeto luso em futebolês"; Incidências do futebolês"; "O plural da palavra futebol"; "O vocábulo coletivo em relação a uma equipa de futebol"; "A intensificação da linguagem do futebol".

6. Registos da atualidade direta ou indiretamente relacionada com a língua portuguesa: o Curso de Aperfeiçoamento em Língua Portuguesa promovido pelo Centro Educativo de Língua Portuguesa na Guiné-Bissau; a Semana da Língua Portuguesa, de 11 a 14/06/2024 na Universidade Livre de Berlim (RTP Notícias, 11/06/2024); o apontamento que o tradutor e divulgador de temas linguísticos Marco Neves dedicou no canal Pilha de Livros às palavras raras (Youtube, 12/06/2024); o papel que a escola pode ter na utilização da Inteligência Artificial, na perspetiva de Marco Bento, investigador em Tecnologia Educativa e professor na Escola Superior de Educação de Coimbra (entrevista incluída no jornal Público, 13/06/2024).

7. Quanto a três dos programas que versam sobre temas e tópicos do português na rádio pública de Portugal:

– em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 14/06/2024, 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a professora Sandra Duarte Tavares define a expressão  «comunicação assertiva», define a diferença entre os termos positividade e positivismo e comenta a função dos pleonasmos num texto;

– em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 16/06/2024, 12h30*; repetido no sábado seguinte, 22/06/2024, 15h30*), João Pedro Aido, vice-presidente da Associação de Professores de Português, analisa a prova de aferição de Português do 8.º ano de escolaridade em Portugal, Joana Batalha (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa) aborda a questão da variação linguística na educação e a professora Carla Marques fala sobre o advérbio nunca.

– e mencione-se ainda  o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido pela Antena 2 de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.

*Hora oficial de Portugal continental.

8. A próxima atualização fica agendada para 21 de junho. Como sempre, mantém-se o livre acesso ao vasto arquivo do Ciberdúvidas, cujo Consultório conta atualmente com mais de 38 000 respostas, a que acrescem os conteúdos das demais rubricas (Na 1.ª Pessoa, Atualidades, Montra de Livros) com mais de 6000 artigos.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Luís de Camões, poeta maior da língua portuguesa, viu alargadas as comemorações do seu dia, 10 de junho, à celebração do quinto centenário do seu nascimento, que se assinala até 2026. Autor de uma obra lírica e épica ímpar, que marcou de forma indelével a literatura portuguesa, alcançou a glória de libertar-se da «lei da morte», feito só concedido aos grandes. N’Os Lusíadas, o poeta indicava o caminho da fama e assinalava a importância fundamental de se estimar e reconhecer os poetas e a sua obra, o que, afirmava, motivava os autores e permitia que se recordassem os grandes heróis e seus feitos: «Não há também Virgílios nem Homeros;/ Nem haverá, se este costume dura,/ Pios Eneias nem Aquiles feros». A grandeza e o alcance da lírica camoniana verificam-se também em factos tão simples como o de terem conseguido impregnar o discurso quotidiano com expressões várias, que são usadas por muitos que desconhecem tanto o seu autor como os poemas a que pertencem. Separados do seu contexto de origem, vários são os versos camonianos que se prestam a usos e mensagens diversas. Um dos que mais frequentemente se encontra talvez seja «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades», verso que se ergueu à condição de máxima e que serve para assinalar qualquer transformação ou a consequência da própria mudança. Os escolhidos ou eleitos numa dada situação, desde o futebol à equipa de sonho numa empresa passando pela política, são, muitas vezes, referidos como «os barões assinalados» e um sentimento forte é não raro descrito como «fogo que arde sem se ver» ou, quando se fala do poder de quem se ama, afirma-se que ela é a «cativa, / que me tem cativo». Os momentos de felicidade podem ser brindados com um «Verdes são os campos,/ De cor de limão: / Assim são os olhos/ Do meu coração.» Já a separação dos que se amam é evocada por meio de «Alma minha gentil que te partiste/ Tão cedo desta vida descontente» ou pela memória daquela «triste e leda madrugada». Quando as palavras do poeta descem à rua e entram naturalmente nos discursos mais improvisados e informais, é sinal que estas conseguem traduzir o que vai na alma dos Portugueses. Poucos serão os poetas que se poderão orgulhar desse feito.

Recordamos alguns textos relacionados com Camões, que se encontram disponíveis no Ciberdúvidas: «Luís de Camões e «outra coisa»», «Camões: 500 anos», «Camões», «A origem do adjetivo lusíada», «O português como língua de Camões é um mito», «Qual era o país de Camões?», «Lembrar Luís de Camões, "numa época de apoucamento da língua"».  

Na imprensa portuguesa, verifica-se igualmente a referência à figura de Camões em artigos de natureza diversa. Deixamos a indicação de alguns: «Qual a ortografia de Camões?», ««Que a sociedade parta à descoberta de Camões», ««Camões ultrapassa as fronteiras do mito»», ««A vida de Camões não carece de artifícios»», «Portugal cabe todo n’Os Lusíadas», «Luís de Camões. um génio arruivado e quezilento que escrevia como ninguém»  e «A expressão «Vai chatear o Camões»». Registe-se, ainda, no Rio de Janeiro, a exposição "Quinhentos Camões, O Poeta Reverberado"; e, em Díli,  uma maratona a ler  "Os Lusíadas.

2. Qual a origem da expressão «favas contadas», que se usa informalmente para referir algo que é dado como certo? O tratamento desta questão abre a atualização do Consultório, uma resposta que vem acompanhada de outras seis: «A palavra aquímico», «Valor aspetual genérico: "a leitura é um hábito"», «A expressão "dar  o nome de"», «Subordinação nominal e concordância: "intimação a pagar"», «A regência do verbo agendar» e «"Com que"» causal».

3.  A relação do povo cabo-verdiano com a língua portuguesa é abordada pela professora Goreti Freire, na quarta parte deste trabalho que aqui divulgamos, na qual apresenta e analisa os resultados de um inquérito realizado a alunos e professores. 

4.  A justificação da grafia de supramencionado à luz do Acordo Ortográfico de 1990 leva a uma revisão de alguns usos do hífen, num apontamento da responsabilidade da professora Carla Marques divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2. 

5. O número crescente de alunos que não falam português nas salas de aula em Portugal levanta questões relacionadas com os melhores processos de integração e de aprendizagem da língua. A professora universitária Ana Cristina Silva partilha algumas sugestões que poderão enquadrar uma abordagem bem-sucedida neste campo da aprendizagem (texto divulgado no Diário de Notícias e aqui partilhado com a devida vénia). 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. As eleições europeias realizam-se entre 6 e 9 de junho, num ambiente de inquietação quanto ao futuro da União Europeia e da própria Europa, hoje bem longe dos tempos em que a viam no centro do mundo. Até as línguas europeias de projeção global se descentram, com novos focos de inovação e mudança noutros continentes, como acontece com o inglês, com o francês, o espanhol e, claro, o português. É de África que chegam atualmente sinais da vitalidade da língua portuguesa, sobretudo nos meios urbanos de Angola e Moçambique; noutros países, por exemplo, em Cabo Verde, o devir do idioma concorre com o das línguas crioulas. Propondo fazer um ponto da situação, incluem-se neste dia:

– em O Nosso Idioma, a primeira parte de um trabalho mais extenso da consultora Inês Gama, que entrevista três professoras do ensino superior a respeito da situação do português em Moçambique, Cabo Verde e Angola, países onde estas docentes têm desenvolvido a sua atividade;

– nas Lusofonias, disponibiliza-se a terceira parte de um estudo da linguista Goreti Freire sobre o contributo do português para a construção da identidade cabo-verdiana.

2. O número de falantes cresce no Brasil, em Angola ou Moçambique, países cuja história linguística foi profundamente afetada pelo movimento expansionista de Portugal, em pleno fulgor nas primeiras décadas do século XVI. Luís Vaz de Camões, que terá nascido por volta de 1524, foi capaz de captar literariamente o espírito da sua época, dando-lhe expressão lírica e épica, de tal maneira que, ainda hoje, os textos camonianos definem a personalidade da própria língua. A propósito da celebração do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, apresenta-se em Montra de Livros o volume Camões – Uma Antologia (Quetzal Editores, 2024), organizado pelo classicista, tradutor e ensaísta Frederico Lourenço, que assinala deste modo o 5.º centenário do nascimento do Poeta.

Sobre esta comemoração, ler aqui notícia na RTP, datada de 04/06/2024. Sugere-se também a leitura de "Portugal cabe todo n'Os Lusíadas: viagens ao mundo do épico de Camões" (Expresso, 07/06/2024).

3. Os poemas de Camões também levantam dúvidas e questões no Consultório. É o caso dos versos «Mas eu, que tenho o mundo conhecido, / E quase que sobre ele ando dobrado», que integram o soneto "Julga-me a gente toda por perdido". Que quererão eles dizer? A esta pergunta, acrescem cinco, num total de seis: que modalidade se associa à construção «é de salientar que...»? Existe a palavra "felão", relacionado com felonia? Outrossim significa apenas «também» ou pode ter outros valores? Como classificar o que incluído na exclamação «até que era engraçado!»? 

Na imagem, Camões e as Tágides (1894), da autoria de Columbano Bordalo Pinheiro, no Museu Nacional Grão Vasco (Viseu).

4. Todo o cuidado é pouco com os muitos casos de falta de correspondência entre a pronúncia e a grafia. No Pelourinho, comentam-se duas confusões gráficas verificadas no espaço mediático de Portugal: a troca de c intervocálico por -ss-, que dá a forma errónea "comíssio", em lugar de comício, num registo transcrito do Observatório da Lingua Portuguesa; e a confusão entre prol e prole, explicada pela consultora Sara Mourato.

5. O mês de junho é o Mês do Orgulho LGBTI+, em memória da Revolta de Stonewall, ocorrida em Nova Iorque em 28 de junho de 1969. Em O Nosso Idioma, transcreve-se com a devida vénia do jornal Público um artigo da empresária brasileira Natália Beauty, que lista seis palavras relativas a atitudes preconceituosas e discriminatórias manifestadas nas redes sociais.

6. Quanto a iniciativas, notícias e comentários que envolvam a língua portuguesa, destacam-se: a conferência do linguista Márcio Undolo intitulada "Características do português de Angola" em 06/06/2024 na Academia Angolana de Letras; a publicação pela Universidade de Coimbra de uma retextualização do conto A instrumentalina, de Lídia Jorge (ver Notícias); um trabalho jornalístico sobre a influência do português do Brasil em Portugal (Observatório da Língua Portuguesa, 04/06/2024); o sucesso do português, como segunda língua mais procurada no acesso a  universidades dos EUA (RTP 3 Madeira); a exposição "Talking brains – programados para falar" patente ao público até 01/09/2024, no Pavilhão do Conhecimento – Centro Ciência Viva, em Lisboa ( Estrela e Ouriços, Sapo); o alerta do realizador Sana Na N'Hada: «A lingua portuguesa está a desaparecer na Guiné-Bissau.» (Observador, 01/06/2024).

7. Quanto aos conteúdos de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa:

– No programa Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 07/06/2024 às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), entrevista com a professora Clara Keating (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra) sobre a temática da variação linguística e da educação.

– Entrevista com o ensaísta e crítico literário António Carlos Cortez acerca de Luís de Camões e, particularmente, d’Os Lusíadas, no programa Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 09/06/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 15/06/2024, às 15h30*).

– Mencione-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*.

* Hora de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1.conflito entre Israel e a Palestina continua a subir de tom, revelando uma total indiferença aos pedidos de paz oriundos de muitos pontos do planeta e também à pressão exercida pelos próprios povos palestiniano e israelita. Neste contexto, assinalamos um novo neologismo para descrever um dos alvos dos ataques israelitas: a destruição de universidades e escolas em território da Palestina. Todas as 11 universidades de Gaza foram destruídas no decurso das investidas israelitas, o que deixou cerca de 90 mil palestinianos sem acesso à educação superior. Esta realidade é descrita pelo conceito de "escolasticídio", palavra cunhada pela jurista e professora palestiniana Kelma Nabulsi, em 2009, para descrever a destruição sistemática do sistema de educação material e imaterial  em Gaza e na Cisjordânia pelo Exército de Israel. Este termo é decalcado do inglês scholasticide, que, por seu turno, é uma palavra resultante da junção da forma truncada scholasti(c) ao elemento pospostivo -cide (-cídi(o), em português). Trata-se, assim, de uma palavra resultante de uma amálgama, um processo irregular de formação de palavras, que permitiu combinar o sentido de "escola" ao de «ação de matar ou de quem mata». Encontramos o mesmo decalque em espanhol (escolasticidio) e em francês (scholasticide). Já em italiano, usa-se também o termo educidio, cujo elemento inicial é a forma truncada de edu(c)- (que significa «cuidar, educar, instruir»).

A propósito da situação palestiniana e outros conflitos armados pelo mudo fora, registem-se ainda cinco neologismos: culturcídio (destruição de uma cultura, especialmente aquela exclusiva de um grupo étnico, político, religioso ou social específico), ecocídio (destruir o meio ambiente –  termo cunhado em 1970 pelo professor de biologia Walter W Galston, protestando contra o uso do herbicida tóxico Agente Laranja pelos EUA no Vietname para destruir o crescimento de plantas sob as quais os vietcongues se escondiam), educídio (assassinato sistemático de académicos e intelectuais, ou o genocídio da educação, de acordo com a académica britânica Rula Alousi), genocídio (assassínio deliberado de um grande número de pessoas de uma determinada nação ou grupo étnico com o objetivo de destruir essa nação ou grupo), politicídio (ocorre quando um ator poderoso trabalha para executar politicamente as esferas pública e privada do seu inimigo.) e urbicídio (termo criado na década de 1960 para descrever a destruição deliberada de uma cidade). 

CfGenocídio, urbanicídio, domicídio – como falar sobre a guerra de Israel em Gaza + Domicídio, enantiossema, dorama, blogodesenvolvido e o português em Macau

Primeira imagem: Universidade Al-Azhar de Gaza antes e depois de Israel bombardear a instituição. Imagem publicada na revista Jacobina. Segunda imagem: Universidade Islâmica na Cidade de Gaza em novembro. (Foto de Omar El-Qattaa / AFP via Getty Images)

2.   Entre os processos irregulares de formação de palavras encontramos também a formação de siglas ou de acrónimos. Esta é uma questão abordada neste apontamento da professora Carla Marques com base na explicação da formação da palavra ONU (divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2).  

3. Na atualização do Consultório, analisam-se as relações existentes entre palavras, de modo a determinar, por um lado, se a junção de mais a além gera uma redundância e, por outro, se gigante é sinónimo de gigantesco. Analisa-se também a natureza e o funcionamento de palavras ou locuções como «durante que», «apenas», «em lugar de/ em vez de / ao invés de» e «sempre». Disponibiliza-se ainda uma resposta sobre a correção das construções «de cima até abaixo» e «de cima até embaixo» e «o livro fala de». Por fim, tratam-se os valores do condicional simples e composto e explica-se o significado do provérbio «vencer a língua é mais que vencer arraiais».

4. A opção pelo masculino para designar profissões desempenhadas por mulheres fornece matéria para a reflexão do cofundador do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa José Mário Costa, que, no Pelourinho, aponta o caso do uso de capitão em lugar de capitã, em contexto militar, no qual se verifica uma grande resistência à adoção das formas femininas dos nomes de cargos e profissões. 

5. Continuamos a divulgação dos textos integrantes do dossiê temático relativo ao papel da língua portuguesa na construção da identidade cabo-verdiana, da autoria da professora universitária Goreti Freire, com um texto onde aborda o papel da língua cabo-verdiana e da língua portuguesa no arquipélago. 

6. A situação da língua portuguesa na relação entre as diferentes variedades e no que respeita à produção editorial motiva uma nova reflexão crítica sobre o papel do Acordo Ortográfico (AO90), apresentada pelo jornalista Nuno Pacheco (publicada no jornal Público e aqui partilhada com a devida vénia).

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Se o passado já foi, não teria sentido rebuscar factos e registos para os corrigir. Não é o que a atualidade revela quando muitos dos conflitos em curso parecem encontrar legitimação histórica. As línguas também não escapam ao peso da memória, por várias razões, entre elas, políticas, e assim se desenvolve hoje um processo de reinterpretação da história do português, em convergência com preocupações à volta da tensão entre a unidade e a diversidade do idioma. Assinala-se, portanto, o lançamento do livro Assim Nasceu Uma Língua no Brasil, do linguista, crítico literário e escritor Fernando Venâncio, acontecimento que motivou a entrevista concedida por este autor à revista Veja em 28 de maio de 2024 e que, com a devida vénia, se divulga na rubrica Controvérsias. Em claro choque com as narrativas tradicionais ou até académicas, Fernando Venâncio propõe outra visão das origens da língua portuguesa, que sintetiza polemicamente na seguinte frase: «O português não foi criado em Portugal, surgiu mesmo bem antes de Portugal existir, e mais exatamente em território galego.»

Na imagem, Origem da Lingoa Portuguesa (1606), de Duarte Nunes de Leão (c. 1530-1608).

2. Num dos espetáculos que a cantora Taylor Swift deu em Lisboa, em 24 e 25 de maio de 2024, ouvindo-se o tema «We Are Never Ever Getting Back Together», ou seja, «nunca mais voltamos a andar (juntos)», um dos bailarinos reforçou jocosamente a mensagem da canção com a expressão «nem que a vaca tussa». A propósito deste acontecimento, em O Nosso Idioma, a consultora Inês Gama dedica um texto às expressões idiomáticas, em especial, às que são sinónimas de «nunca mais».

3. Numa notícia sobre o futebol português, citando um conhecido treinador, escreveu-se «"tive" à altura», em vez da forma correta «estive à altura», e «"biforcarem"», em lugar de bifurcarem. A consultora Sara Mourato comenta o caso num apontamento incluído no Pelourinho.

4. «Comparecer pessoalmente» é uma redundância ou não? No Consultório, responde a esta e a outras cinco perguntas:  que significa a expressão «um amigo para o inverno»? Pode-se associar um infinitivo ao verbo pedir? A frase «vem visitar-me em Como» está correta? As maiúsculas são obrigatórias em «Imposição de Insígnias»? E a qual é a classe de palavras de algo em «pessoa algo insuportável»?

5. O Dicionário Sério de Calão, Javardices e Alarvidades (Guerra e Paz, 2024) é o título sugestivo de um novo livro do sociólogo João Pedro George. Trata-se de um dicionário que reúne um conjunto de léxico e expressões pertencentes ao calão mais «javardo e alarve» e que se apresenta em Montra de Livros.

6. A respeito do ensino da língua portuguesa, dentro ou fora da CPLP, são de salientar: a notícia sobre um projeto de professores-ambulantes em desenvolvimento na província angolana do Bié ("Projeto de professores-ambulantes quer levar a escola às aldeias angolanas mais recônditas", RTP Notícias, 27/05/2024); a reportagem do jornalista Miguel Soares sobre a situação do português nas escolas galegas ("Língua comum. O ensino do português na Galiza", ibidem, 29/05/2024); e o projeto de literatura infantil com que a associação Sílaba visa promover a língua portuguesa no território de Macau (Macau Hoje, 23/05/2024).

7. Outros registos da atualidade, direta ou indiretamente relacionados com temas dos países de língua portuguesa:

– o anúncio de uma nova edição do Diário de Notícias, o DN Brasil, para leitores brasileiros (Diário de Notícias, 27/05/2024);

– em 29/05/2024, o falecimento de Santana Castilho, especialista em Educação que se notabilizou pelas críticas às políticas educativas seguidas em Portugal nas últimas duas décadas (ver Público, 29/05/2024);

– um apontamento do tradutor e divulgador de temas linguísticos Marco Neves sobre a origem dos dias da semana (Youtube, 29/05/2024);

– a defesa do suaíli, que tem falantes em Moçambique e países vizinhos, como língua de comunicação em África pelo presidente do Zimbabué, Emmerson Dambudzo Mnangagwa (Correio da Manhã, 29/05/2024).

8. Quanto aos conteúdos de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa:

– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 31/05/2024, 13h20*), entrevista-se a investigadora moçambicana Ezra Chambal Nhampoca (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) sobre variação linguística e ensino na perspetiva de Moçambique.

– Em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 2/06/2024, às 12h30*), conversa-se com Clara Keating (Universidade de Coimbra) sobre a participação na jornada “Variação Linguística, Educação e Cidadania”, evento a decorrer em 03/06/2024 e promovido pela Associação Portuguesa de Linguística (APL) e pela Associação de Professores de Português (APP).

Mencione-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*.

* Hora de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. No plano internacional, assinala-se a visita a Portugal do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, esta terça-feira (28/05), para assinar um acordo bilateral de segurança e cooperação militar, cujos termos foram definidos em conversações mantidas nas últimas semanas entre o líder ucraniano e o primeiro-ministro português Luís Montenegro. A palavra bilateral, em destaque neste evento, significa no atual contexto, «que tem dois lados», embora também possa ser usada para referir «lados opostos». Bilateral formou-se da junção do prefixo bi- («dois lados») a lateral (de laterālis,e, «relativo ao lado»). Opõe-se a unilateral («que tem um só lado, parcial») e é sinónimo de ambilateral. Já no plano nacional, deixa-se destaque para os resultados das eleições regionais da Madeira, que ditaram a vitória do PSD, ainda que sem maioria. Este cenário político leva a que os partidos tenham de procurar obter entendimentos, o que já levou a que se comentasse jocosamente que a solução para o governo regional não se encontra numa geringonça (palavra usada para descrever a solução governativa encontrada pelo PS em 2015), mas antes uma "gerimponcha", neologismo que joga com a truncação de geringonça associada ao nome poncha, a bebida tradicional da ilha da Madeira. Um registo, ainda para o neologismo geringonçar, usado pelo primeiro-ministro Luís Montenegro, criticando a iniciativa do PS Madeira: «Os vencedores das eleições concentrados em governar, enquanto os derrotados das eleições estão concentrados em ‘geringonçar’.»

Cf.  A geringonça vocabular do ano +  475 anos de geringonça Geringonça, a palavra que deu a volta ao texto + «A Geringonça, mas a da "Esopaida" de António José da Silva»

2. O advérbio agora pode ser usado também como um conector que assinala uma relação consequencial entre dois segmentos textuais, funcionamento que se explica nesta resposta que integra a atualização do Consultório, onde encontram também respostas questões de natureza sintático-semântica («Inversão de sujeito», «E como palavra denotativa», ««Em vez de» e «na vez de»», «A sintaxe do verbo impor» e «Ou inclusivo vs. ou exclusivo», «O nome objetivo, o complemento nominal e o predicativo do sujeito»), de natureza ortográfica («A expressão «mais conhecido/a que o cão ruço») e de natureza morfológica («O género de manche»).

3. Do ponto de vista normativo, qual a forma correta: «O João já tinha limpo o quarto» ou «O João já tinha limpado o quarto»? A resposta é dada pela consultora Inês Gama, num apontamento sobre os particípios passado duplos. 

4.  A presença da língua portuguesa em Cabo Verde é indissociável da história e da identidade do povo. O estudo desenvolvido por Goreti Freire, professora da Universidade de Cabo Verde, centra-se nestas questões e integra um dossiê que agora se abre dedicado a esta temática, o qual permitirá conhecer melhor a realidade linguística e identitária em Cabo Verde. 

5.  A importância da literatura para a formação pessoal e cultural dos alunos assume-se como conceito-chave deste artigo de opinião do poeta e crítico literário António Carlos Cortez, onde se aborda também a relação da literatura com as perceções em torno do exame nacional de português (publicado no Diário de Notícias e aqui partilhado com a devida vénia).

6. Entre os acontecimentos de relevo, destaque para a exposição temporária Línguas africanas que fazem o Brasil, patente no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo,  aberta ao público do dia 24 de maio até janeiro de 2025 (mais informações aqui). 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. São numerosos os desafios com que se depara a língua portuguesa atualmente. Do ponto de vista tecnológico, a Inteligência Artificial parece criar uma dinâmica pouco favorável a línguas menos apoiadas pela investigação e indústria informáticas, e o português pode ser uma delas. O futuro é, portanto, exigente, como já frisou o abaixo-assinado promovido pelos organizadores da Conferência Internacional sobre o Processamento Computacional da Língua Portuguesa (Propor), realizado entre 13 e 15 de março p. p. (ver Abertura de 03/05/2024). No entanto, a demografia tem vindo a reforçar a posição do português entre os idiomas mais falados no mundo e, mais especificamente, em África. É o caso de Moçambique de acordo com o Instituto Nacional de Estatística de Moçambique (INE), que no final de 2023 lançou Padrão Linguístico em Moçambique, documento que apresenta uma “fotografia” da situação linguística e social neste país. Em Montra de Livros, dá-se conta da referida publicação, sendo de salientar que os dados recolhidos apontam para o impressionante aumento do uso do português entre os moçambicanos.

Assinale-se, a propósito, que, na sessão de abertura do primeiro encontro dos Observadores Consultivos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP),  realizada em 21/05/2024, em Lisboa, o secretário executivo desta organização, Zacarias da Costa, propôs aos presentes sete medidas para «fortalecimento das parcerias», de modo a promover o maior «uso e reconhecimento da língua portuguesa» (ver RTP Notícias). Na imagem, Abstrato, de Sdunduro.

2. O que significa a palavra japonesa hikikomori (japonesismo), que vai aparecendo nas notícias em português, a propósito de problemas comportamentais? Como traduzi-la? A estas questões responde a consultora Sara Mourato, em O Nosso Idioma, num texto que aborda o fenómeno que afeta a saúde mental e que ultrapassou as fronteiras do Japão.

3. Na mesma rubrica, recorda-se o impacto da língua árabe no território português, após a ocupação da Península Ibérica entre os séculos VIII e XIII, com um trabalho do jornalista e escritor português Rodrigues Vaz, que enumera e comenta exemplos de arabismo, que vão do vocabulário mais corrente à toponímia.

4. Relendo o capítulo IX de Os Maias, de Eça de Queirós, a atenção detém-se numa frase de Carlos da Maia acerca do seu amigo João da Ega: «Coitado, lá está para Celorico [de Basto].» Que significará ao certo esta construção de estar com a preposição para seguida de nome de lugar? No Consultório, a resposta faz parte do conjunto de nove da presente atualização, acerca de outros tópicos: a escrita de dados de identificação pessoal no Brasil; os advérbios futuramente e simultaneamente; a dêixis temporal; as orações temporais; a personificação e a enumeração; o uso frásico de toneladas; a expressão «pegar fogo»; e a impossibilidade da vírgula numa construção apassivante.

5. No Pelourinho, o consultor Carlos Rocha dedica um apontamento aos verbos parónimos enveredar e envidar, a propósito de uma confusão num texto jornalístico que assinala a vitória do Sporting Clube de Portugal no campeonato da Liga Portugal.

6. Registo de alguns conteúdos com interesse para a discussão de temas da língua portuguesa:

– o Dia do Autor Português, que se celebrou em 22/05/2024;

– o lançamento de um manifesto em defesa dos tradutores literários em Portugal, pelo Coletivo de Tradutores Literários (CTL);

– o II Colóquio Internacional sobre Línguas Nacionais que se realiza em 23 e 24 de maio no Instituto Superior Politécnico Jean Piaget de Benguela;

– o II Workshop Desafios e Descobertas: perspetivas do Português como língua não materna, promovido pelo Centro de Linguística da Universidade do Porto em 24 de maio de 2024;

– na Galiza, o 10.º aniversário da Lei Paz-Andrade, que visa, entre outras medidas, favorecer a aprendizagem e o uso da língua portuguesa nas escolas galegas;

– um apontamento e um vídeo do professor universitário e tradutor Marco Neves a respeito de sete disparates (mitos urbanos) da língua portuguesa.

7. Entre os programas que, na rádio pública de Portugal, versam sobre temas da língua, salientam-se:

Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 24/05/ 2024, 13h20*), no qual participa a  linguista Ana Sousa Martins , coordenadora da Ciberescola da Língua Portuguesa, para falar sobre Histórias do Mundo, adaptação de contos a aprendentes de Português Língua Não Materna;

Páginas de Português (Antena 2, domingo, 26/05/2024, 12h30*), que inclui uma entrevista com Vítor Barros, autor da Gramática do Português Europeu, e um apontamento da professora Carla Marques sobre as diferenças entre um gramático e um linguista;

Mencione-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*.

 * Hora de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1.  No âmbito do debate sobre o futuro aeroporto de Lisboa, que ocorreu no dia 17 de maio, o deputado André Ventura proferiu afirmações relacionadas com o povo turco que foram sentidas como injuriosas pelos diferentes partidos da Assembleia da República, mas que não motivaram uma advertência por parte do presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, por considerar que se tratava de uma situação de liberdade de expressão. A sua posição foi justificada com a afirmação que o deputado «tem liberdade de expressão para se exprimir». Esta construção poderá ser considerada um pleonasmo por ser redundante no uso de palavras que têm o mesmo significado, se se considerar que o sentido de «liberdade de expressão» corresponde à liberdade total para proferir toda e qualquer afirmação, mesmo injuriosa ou boçal. No entanto, a expressão poderá não ser sentida como pleonástica se o conceito de «liberdade de expressão» não contemplar tipos de expressão ligados à linguagem xenófoba ou discriminatória. Este é um debate que mobiliza a sociedade portuguesa e que conta com manifestações de opinião oriundas de diferentes áreas: do direito à política, da sociologia à linguística. Neste quadro, partilhamos, com a devida vénia, o artigo da professora e linguista Margarita Correia, no qual esta se posiciona criticamente perante a atitude de Aguiar-Branco. 

O Ciberdúvidas disponibiliza diversos textos sobre questões relacionadas com o pleonasmo: «Pleonasmo e informatividade», «Pleonasmo», «Sobre os pleonasmos viciosos», «Pleonasmo: «sair de lá» vs. «sair para fora»».

2.  A conjunção mas pode ser usada com diversos valores que vão além do contraste. A frase «você pode sair à noite, mas não vá a nenhuma boate» ilustra um caso de uso com valor de restrição, conforme se explica na resposta que integra a atualização do Consultório. Poderão igualmente ser consultadas respostas que abordam os seguintes aspetos: a construção «vir de» com infinitivo; tipos de predicado; a construção «servir de» com infinitivo; a função da locução «ao que»recurso expressivos em versos de Almeida Garrett; a forma tónica dos pronomes pessoais oblíquos; o significado e uso da locução «no imediato»; e meios sintáticos de expressão da comparação

3.  Oxalá deve ser acompanhado de que a introduzir uma oração? Partindo do contraste entre as frases «Oxalá não chova!» e «Oxalá que não chova!», a professora Carla Marques trata a etimologia e a sintaxe da palavra oxalá.

4. Na Montra de Livros, divulgamos a publicação A estandarización das linguas da Península Ibérica, organizada por Henrique Monteagudo, que conta com a colaboração de inúmeros especialistas. 

5. A problemática em torno do Acordo Ortográfico de 90 (AO90) é retomada pelo jornalista Nuno Pacheco, a propósito das afirmações do deputado angolano Paulo de Carvalho, presidente da Comissão de Língua, Educação, Ciência e Cultura da Assembleia Parlamentar da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) (artigo de opinião divulgado no jornal Público e aqui partilhado com a devida vénia).

6. Destacamos os seguintes eventos:

– A exposição Eduardo PESSOA Lourenço, montada a partir da biblioteca pessoana de Eduardo Lourenço, patente na Sala de São Pedro (2.º piso da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra) até 30 de julho.

– Simpósio Internacional Teatro e Ditadura no Séc. XX: Contextos Ibéricos, a decorrer nos dias 30 e 31 de maio, na Universidade da Corunha, via plataforma Teams

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Aproximam-se as eleições para o Parlamento Europeu, a realizar entre 6 e 9 de junho p. f., e, pouco depois, de 14 junho a 14 de julho, as expetativas e as emoções de muitos europeus andarão em torno do Campeonato Europeu de Futebol, o Euro 2024, que tem lugar na Alemanha. Paralelamente, as notícias dão conta de como o futuro da Europa se afigura sombrio e incerto, fazendo recordar acontecimentos e situações de há 90 anos, nas vésperas da 2.ª Guerra Mundial. Em O Nosso idoma, a consultora Inês Gama reflete, neste apontamento, sobre a história da palavra Europa e outros termos da sua família e respetivas etimologias.

Na imagem, O Rapto de Europa (sem data), de Júlio Pomar (1926-2018). Crédito da foto: Arte Notes.

2. A palavra infodemia é um nome coletivo? No Consultório, responde-se a esta e a outras sete perguntas, num total de oito: o uso do infinitivo flexionado é redutível a uma regra simples? Diz-se «não devemos ter medo de nada e não desistir», ou «não devemos ter medo de nada nem desistir»? Qual a função sintática de «de mudança» na expressão «composto de mudança»? E a de «para a seleção» na frase «ele chamou-o para a seleção»? Macela é o mesmo que camomila? A expressão «toda vida que» é gramatical? Como se dizia raio na Idade Média?

3. Regressa ao Pelourinho a questão do excesso de anglicismos, desta vez, a propósito de um adepto de futebol que, ao elogiar o treinador do Sporting Clube de Portugal, utiliza big em vez do equivalente português maior, conforme regista e comenta a consultora Sara Mourato.

4. O léxico da língua portuguesa é fundamentalmente de origem latina, mas os contributos de outras línguas não são despiciendos. O juiz Rui Carvalho Moreira, em artigo publicado no jornal  digital Observador (12/05/2024) e transcrito com a devida vénia em O Nosso Idioma, identifica algumas das várias palavras que refletem a influência do grego, do árabe, do francês ou das línguas de África e da Ásia.

5. Convém dar atenção à diversidade linguística de Espanha e às suas consequências políticas. Nas Diversidades, assinala-se a situação preocupante do catalão das Ilhas Baleares com um texto do sindicalista balear Rafael Borràs Ensenyat, que se refere à grande manifestação de protesto realizada em 05/05/2024 contra as medidas restritivas do uso da língua catalã que estão a ser aplicadas pelo governo regional na administração e no ensino.

6. Um registo de pesar pelo falecimento do poeta português Casimiro de Brito (1938-2024), em Braga. É figura notável na história recente da literatura portuguesa, tendo-se destacado, quando jovem, a dirigir a coleção de poesia A Palavra, onde se revelaram poetas do importante movimento literário Poesia 61, como Fiama Hasse Pais Brandão, Gastão Cruz, Luiza Neto JorgeMaria Teresa Horta e o próprio Casimiro de Brito (ler "Morreu o escritor Casimiro de Brito aos 86 anos", Diário de Notícias, 16/05/2024).

7. Entre notícias e atividades relacionadas com a língua portuguesa, cabe salientar:

– em Portugal, a tendência para diminuir o número de leitores de livros em português e aumentar o de leitores de publicações em inglês (cf. "Há jovens que leem livros em inglês – e isso preocupa as editoras", Público, 13/05/2024);

–  a atribuição, a três jovens timorenses, do Prémio de Língua Portuguesa (6.ª edição), um concurso que a Fundação Oriente promove em Timor-Leste e que em 2024 teve por mote uma frase do escritor Luís Cardoso – «só se cansa do mar, quem do mar só vê água» (cf. Sapo 24, 16/05/2024);

– o episódio sobre os plurais do português da série Assim ou Assado, animada pelo professor universitário Marco Neves e o músico Sam The Kid;

– o encontro Desafios e Descobertas: Perspetivas do Português como Língua Não Materna, que o Centro de Linguística da Universidade do Porto leva a cabo em ambiente virtual em 24/05/2024, das 9h às 13h (hora de Portugal continental) (mais informação aqui).

8. Nos programas que, na rádio pública de Portugal, têm a língua portuguesa por tema, são temas de relevo:

– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 17/05/2024, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), conversa-se com a linguista e professora universitária Edleise Mendes (Universidade Federal da Bahia) sobre o português como afirmação de cidadania nos países africanos da CPLP, perante os desafios do analfabetismo, das opções educacionais e das diversidades culturais de cada país.

– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 19/05/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 25/05/2024, às 15h30*), também é convidada a professora Edleise Mendes, que fala sobre as perspetivas e desafios do português na nova geopolítica global. O programa inclui ainda o apontamento gramatical da professora Carla Marques, que esta semana discorre sobre a correção ou não das frases: «oxalá que não chova!» ou «oxalá não chova!»

–  Refere-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*.

 * Hora de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1.  A 68.ª edição do Festival da Eurovisão da Canção teve lugar em Malmö, na Suécia, no dia 12 de maio, e os factos mais marcantes deste evento não estiveram relacionados com a música, mas sim com a política. Este festival reúne, em competição, canções de diferentes países (25 nesta edição), definindo-se como apolítico. No entanto, este ano, o facto de a organização ter suspendido a participação da Rússia, ao mesmo tempo que permitiu a de Israel desencadeou inúmeras manifestações motivadas pelo conflito israelo-palestiniano, tendo vários representantes políticos e artistas feito apelos para que a participação de Israel fosse vetada, o que não aconteceu. Esta decisão levou a que se apontasse a incoerência da atuação da organização, tendo ainda existido denúncias de imposições censórias aos concorrentes. A este rol de acusações veio ainda juntar-se o facto de o vídeo da atuação da cantora portuguesa Iolanda, que exibia unhas de gel com padrões alusivos à Palestina e à resistência palestiniana, ter sido substituído por outro onde a concorrente trazia unhas pintadas de branco, situação que só foi corrigida depois de a RTP se ter manifestado. Em termos lexicais, as palavras que estes acontecimentos convocam mostram a importância da ação dos prefixos na formação de palavras e na alteração do valor de base das palavras. Assim, em apolítico, o prefixo a- associa ao lexema um valor de negação. O mesmo valor é introduzido pelo prefixo in- em incoerência. Há, com efeito, um conjunto de prefixos que associa este valor de negação ou de privação à forma de base, como é o caso também de des-, dis- ou an-, cuja ação se traduz num processo de economia linguística por evitar o recurso a construções perifrásticas para expressar a negação.

No Ciberdúvidas, são vários os textos que tratam aspetos relacionados com prefixos de negação: «O uso da palavra não como prefixo de negação», «O prefixo in-», «A utilização dos prefixos in- e des-», «Os adjectivos atemporal e não-espacial», « Aconfessional» e «A palavra ininteligente», entre outros.

2. O termo unido será sempre um particípio passado independentemente do seu comportamento da frase ou em determinadas ocasiões converte-se em adjetivo? Esta questão é analisada nesta resposta onde se abordam as várias possibilidades associadas a este fenómeno sintático. Na atualização do Ciberdúvidas podem ainda ler-se respostas para as seguintes questões: ««Bolo de laranja», «bolo de ovos»», «Preposição: «ausente ao serviço»», «Postergação e postergamento»,  «O complemento do nome síndrome», «Uso do futuro composto do indicativo», «Chance», «O adjetivo deráchico». 

3. O novo canal noticioso português terá a designação News Now, uma opção questionada, no Pelourinho, pelo cofundador do Ciberdúvidas José Mário Costa, que não encontra justificação para a adoção de um termo inglês para um meio de comunicação português. 

4. A formação da língua talian, num percurso desde a chegada de emigrantes italianos ao Brasil à criação de uma língua franca que permitisse a comunicação entre falantes de diferentes dialetos italianos, constitui a base do artigo publicado no Diário de Notícias (aqui partilhado com a devida vénia).

5. O que é ser professor de português? Com base no contexto escolar angolano, o professor e linguista Adilson Fernando João passa em revista alguns dos aspetos fundamentais para o desempenho da função docente na área da língua portuguesa e desfaz algumas ideias que não são pertinentes nesta realidade (artigo partilhado com a devida vénia).

6. Entre os acontecimentos dignos de registo, destaque para:

– O banquete temático em homenagem a Camões, no âmbito das comemorações dos 500 anos do seu nascimento, que terá lugar no dia 17 de maio, em Coimbra, e que abre com uma conferência proferida pelo professor universitário José Cardoso Bernardes intitulada "O banquete de Camões";

– A atribuição do prémio literário Glória de Sant'Anna 2024 ao escritor José Luís Barreto Guimarães, com a obra Aberto todos os dias