O futebol é terreno fértil, como aqui temos dado conta, para deslizes. Não me refiro apenas aos tropeções na bola ou nos jogadores, mas também àqueles que ocorrem no campo da linguística, nomeadamente devido a traduções apressadas ou desajustadas. Um exemplo recente, retirado de uma notícia do jornal desportivo A Bola ("Man. United: Amorim revela o que Alex Ferguson lhe disse", 20/01/2025) à volta do Manchester United e do seu treinador Rúben Amorim, oferece-nos a expressão «uma série de erros individuais dispendiosos».
À primeira vista, talvez não pareça tão estranho. Afinal, dispendioso denota algo que custa caro. No entanto, é aqui que vale a pena refletir: esta formulação parece fazer eco da fraseologia anglófona, especificamente de «costly (individual) mistakes», literalmente «erros individuais dispendiosos, de acordo com a tradução automática do DeepL. Uma consulta no Google, por exemplo, demonstra que esta expressão é amplamente usada na imprensa desportiva britânica para descrever erros que têm impacto decisivo no resultado de um jogo: Manchester United coach disappointed with Andre Onana after costly mistake (SABC Sports) (Google Tradutor: "Manchester United desiludido com Andre Onana após erro caro"). Assim, é plausível que a construção «erros individuais dispendiosos» seja um decalque da associação lexical inglesa «costly mistake».
No entanto, o problema persiste quando consideramos o tom e o uso natural de dispendioso em português. Este adjetivo tem caráter rígido, quase técnico, frequentemente associado ao mundo financeiro. É difícil imaginar um cenário em que um adepto proteste contra um passe errado utilizando a expressão: «Lá está aquele erro tão... dispendioso!»
No entanto, expressões como «erros que saem caro» ou «é um erro que sai caro» conseguem preservar a ideia de algo custoso sem soar artificial. Além desta alternativa, a língua portuguesa também oferece outras igualmente eficazes sem recorrer à ideia de custo financeiro: «erros graves», «erros individuais decisivos», «erros individuais comprometedores». Estas expressões traduzem melhor aquilo que se pretende dizer com costly individual mistakes, evitando os automatismos de certas traduções.
Este caso é mais um exemplo de como traduções descontextualizadas empobrecem o texto e desvalorizam a riqueza expressiva da língua portuguesa. Traduzir não é apenas trocar palavras de uma língua para outra; é entender o contexto, adaptar a mensagem ao público e, acima de tudo, manter a autenticidade do idioma.
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O futebol é terreno fértil, como aqui temos dado conta, para deslizes. Não me refiro apenas aos tropeções na bola ou nos jogadores, mas também àqueles que ocorrem no campo da linguística, nomeadamente devido a traduções apressadas ou desajustadas. Um exemplo recente, retirado de uma notícia do jornal desportivo A Bola ("Man. United: Amorim revela o que Alex Ferguson lhe disse", 20/01/2025) à volta do Manchester United e do seu treinador Rúben Amorim, oferece-nos a expressão «uma série de erros individuais dispendiosos».
À primeira vista, talvez não pareça tão estranho. Afinal, dispendioso denota algo que custa caro. No entanto, é aqui que vale a pena refletir: esta formulação parece fazer eco da fraseologia anglófona, especificamente de «costly (individual) mistakes», literalmente «erros individuais dispendiosos, de acordo com a tradução automática do DeepL. Uma consulta no Google, por exemplo, demonstra que esta expressão é amplamente usada na imprensa desportiva britânica para descrever erros que têm impacto decisivo no resultado de um jogo: Manchester United coach disappointed with Andre Onana after costly mistake (SABC Sports) (Google Tradutor: "Manchester United desiludido com Andre Onana após erro caro"). Assim, é plausível que a construção «erros individuais dispendiosos» seja um decalque da associação lexical inglesa «costly mistake».
No entanto, o problema persiste quando consideramos o tom e o uso natural de dispendioso em português. Este adjetivo tem caráter rígido, quase técnico, frequentemente associado ao mundo financeiro. É difícil imaginar um cenário em que um adepto proteste contra um passe errado utilizando a expressão: «Lá está aquele erro tão... dispendioso!»
No entanto, expressões como «erros que saem caro» ou «é um erro que sai caro» conseguem preservar a ideia de algo custoso sem soar artificial. Além desta alternativa, a língua portuguesa também oferece outras igualmente eficazes sem recorrer à ideia de custo financeiro: «erros graves», «erros individuais decisivos», «erros individuais comprometedores». Estas expressões traduzem melhor aquilo que se pretende dizer com costly individual mistakes, evitando os automatismos de certas traduções.
Este caso é mais um exemplo de como traduções descontextualizadas empobrecem o texto e desvalorizam a riqueza expressiva da língua portuguesa. Traduzir não é apenas trocar palavras de uma língua para outra; é entender o contexto, adaptar a mensagem ao público e, acima de tudo, manter a autenticidade do idioma.