Estas duas impressões do consulente estão corretas: 1) de fato, há um valor genérico atribuído à palavra caminhão, ou seja, na frase «E caminhão demora mais a frear», a palavra caminhão significa «todos os caminhões, qualquer caminhão»; e 2) a ausência do artigo definido realmente costuma imprimir um caráter generalista ao substantivo e, consequentemente, à frase.
Eis outros exemplos:
Note que os substantivos homem, meninos e aluno têm um valor genérico, contemplando todos os homens, todos os meninos, todos os alunos, o que prova o caráter generalista ensejado pela ausência do artigo definido.
No entanto, isso não ocorre sempre. Por exemplo, diante de nomes de pessoas ou de lugares, a ausência do artigo definido não confere esse tom generalizador/indeterminador, como se vê em «Pedro virá ao encontro de hoje, certo?» ou «Espanha é um belo país».
Perceba que a ausência (ou a presença) do artigo definido antes de «Pedro» e de «Espanha» não altera o sentido das frases.
Sempre às ordens!
N. E. (12/02/2025) – A resposta é dada na perspetiva dos usos do português do Brasil, variedade em que a ocorrência de um substantivo (isto é, um nome) no singular, sem artigo definido e com valor genérico, é descrita, por exemplo, por Celso Cunha e Lindley, na Nova Gramática do Português Contemporâneo (Edições João Sá da Costa, 1984, p. 244; as abreviaturas remetem para as obras literárias que se encontram na fonte consultada e donde foram extraídas as abonações deste uso): «Esta omissão aparece frequentemente em provérbios. "Cão ladrador nunca é bom caçador." / "Espada na mão de sandeu, perigo de quem lha deu." Advirta-se que, na língua dos nosso dias, esta construção é mais frequente no Brasil do que em Portugal. Comparem-se estes exemplos: "Criança tem amigos e inimigos." (Gilberto Amado, HMI, 8.) / "– Noivo não se deixa na solta (José Lins do Rego, MV A, 270); "Vida não tem adjetivo." (Clarice Lispector, SV, 18.)» Em Portugal, se o nome assume valor genérico, tende-se ao plural: «As crianças têm amigos e inimigos»; «Os noivos não se deixam à solta». Ainda no português de Portugal, se o nome for não contável (p. ex., paciência) ou puder ser interpretado como não contável, denotando uma abstração (p. ex., vida), associa-se o artigo definido: «A paciência não é fácil», «A vida não tem adjetivo.»