1. No dia 27 de janeiro de 2025 passaram 80 anos desde o dia em que o campo de concentração de Auschwitz foi libertado pelas tropas soviéticas. A entrada no campo dos soldados deixou a descoberto as atrocidades cometidas naquele local, onde se exterminou cerca de um milhão e meio de judeus (de um total de seis milhões assassinados no decurso da Segunda Guerra Mundial). Um momento da História que a memória humana não deve esquecer para que barbaridades desta natureza não voltem a ter lugar. Estranhamente, no entanto, o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto convive com tempos de negacionismo do extermínio levado a cabo nos campos de concentração criados pelo regime nazista e assiste a atos de violência extrema que recordam genocídios passados e que vão a par de ondas de antissemitismo. Situações que espelham o passado e que convocam, de forma mais intensa, a necessidade da perenidade da memória. Falar do passado, analisá-lo e refletir sobre as suas implicações poderá ser o caminho para evitar amnésia do mal, que ameaça grassar um pouco por todo o lado. Os acontecimentos relacionados com aquele período negro da História dizem-se com palavras. Aqui ficam algumas que poderão contribuir para a consciência sempre ativa de que é preciso querer que a «banalidade do mal» (expressão e teoria da filósofa Hannah Arendt) não se instale de novo: nazi e nazista são ambas palavras corretas, que poderão ser usadas quer como substantivos quer como adjetivos; embora seja uma sigla, SS (de Schutz, «proteção, defesa» e Staffel, «equipa») pode ser acompanhado de artigo no plural, o que se justifica pela força do uso; a palavra holocausto grafa-se com maiúscula quando refere o período em que ocorreu o massacre dos judeus e outras minorias; judeu ou judia podem ser usados como substantivos ou adjetivos, mas judaico, apenas como adjetivo; judaísmo leva acento no -i- e não é palavra derivada de judeu ou judia; o verbo judiar pode significar «observar os preceitos da religião judaica», mas também tem valor depreciativo de «fazer troça de; fazer diabruras ou maldades». (A propósito desta temática, recorde-se também o artigo «Churban, Holocausto e Shoah, ou da difícil nomeação»).
Primeira imagem: Entrada principal de Auschwitz, onde se pode ler a frase «O trabalho liberta» (Fonte Agência Brasil).
2. Poderá o complemento direto (ou objeto direto, na nomenclatura brasileira) ser introduzido por uma preposição? A resposta a esta questão é a primeira que se inclui na atualização do Consultório. A ela associam-se outras seis: as datas exigem próclise do pronome átono? Quais os recursos expressivos presentes nos versos «Que a abominável onda / O não molhe tão cedo», de Ricardo Reis? O que significa a expressão «etimologia obscura», patente nos dicionários? Qual o significado de crente e evangélico? Qual a origem das palavras capacitismo, deterrência e especialismo? E qual o aumentativo de comedor?
3. A locução «cerca de», que pode surgir em construções como «A consulta demorou cerca de uma hora» integra que classe de palavras? A professora Carla Marques apresenta a explicação, no âmbito do desafio semanal, uma rubrica destinada às redes sociais do Ciberdúvidas e divulgada no programa da Antena 2, Páginas de Português.
4. O professor universitário brasileiro Rafael Rigolon apresenta um apontamento dedicado à família de palavras de idiota, considerando a sua etimologia.
5. Entre os destaques desta semana, assinalamos:
– O início dos serviços em linha de empréstimo de livros eletrónicos, por meio da biblioteca pública de leitura e empréstimo digital BiblioLED, disponível nos municípios portugueses que aderiram ao projeto;
– O artigo de análise dos impactos da Inteligência Artificial no ensino e na avaliação dos estudantes e onde se propõem modelos de aprendizagem autónoma, divulgado no jornal Público (disponível aqui).