1. O projeto do Ministério de Educação português designado por «provas-ensaio» decorre na semana entre 10 e 14 de fevereiro com o objetivo de preparar os alunos dos 4.º, 6.º e 9.º anos para a transição de uma avaliação externa em papel para o formato digital. Esta iniciativa tem trazido alguma instabilidade às escolas quer porque evidencia as fragilidades dos sistemas informáticos no ensino quer porque desencadeou um movimento contra a realização destes testes, cuja validade se questiona, e contra a obrigatoriedade da sua correção por parte dos professores, uma opção que aumentará o volume de trabalho já excessivo. No plano linguístico, as alterações na área da avaliação externa têm propiciado a inovação lexical, como se verifica pelo aparecimento de estruturas lexicais como «provas-ensaio» e «provas ModA». A primeira é um composto que resulta da junção de dois nomes associados por meio de um hífen. A obrigatoriedade de hifenizar compostos formados por dois nomes não está claramente prevista no Acordo Ortográfico de 90, mas constitui uma opção que se funda na tradição que, de igual forma, dita que a junção de um verbo a um nome se faz por meio de hífen (como em «lava-louça»). Note-se ainda que o plural desta palavra assume a forma «provas-ensaio», pluralizando apenas o primeiro nome e não o da direita porque este é analisado como um modificador que incide sobre o núcleo do composto, o único que, por esta razão, assume forma singular e plural. Inovador é também o nome ModA, um acrónimo formado a partir da expressão «monitorização da aprendizagem», e que se destaca pela originalidade de incluir uma maiúscula no seu interior. Estamos perante uma opção que não se enquadra nos modelos canónicos de grafia de acrónimos. Não obstante, é possível assinalar também o seu uso em acrónimos como UAb (Universidade Aberta) ou UAlg (Universidade do Algarve), onde se recorre ao uso de maiúsculas interiores como forma de destacar um dos elementos constitutivos da nova palavra.
2. O provérbio «Sarampo, sarampelo, sete vezes vem ao pelo» foi usado em tempos pretéritos com um significado que contraria os factos médicos relacionados com o sarampo, mas, no entanto, tem um fundo de verdade, como explica a professora Carla Marques no seu apontamento dedicado à Dúvida da Semana (divulgada no programa Páginas de Português, na Antena 2).
3. Por que razão na sigla GNR, a primeira letra se lê como gê e não como guê? Encontramos a explicação para este fenómeno na atualização do Consultório, onde se disponibilizam igualmente outras cinco novas respostas a questões colocadas pelos consulentes: «O termo jubilado», «Concordância: «Gratidão é bom»», «Singular genérico: «caminhão demora a frear»», «O uso nominal de querer» e «O nome pessoa com modificador».
4. A posição de alguns linguistas, que questionam os modelos de padrão normativo seguidos pelos gramáticos, motiva a reflexão do linguista brasileiro Aldo Bizzocchi sobre a gramática que queremos, partilhada, com a devida vénia, na rubrica Controvérsias.
5. Entre os eventos a decorrer, destacamos:
– O V PHONOSHUTTLE OPO-LIS - Ponte aérea de Fonologia, encontro de fonologia promovido pelo Centro de Linguística da Universidade do Porto e pelo Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, com lugar nos dias 13 e 20 de fevereiro, entre as 12h00 e as 13h30, em formato virtual, através da plataforma Zoom;
– O 40.º Colóquio da Lusofonia, com lugar nos dias 23 a 27 de abril, em São Miguel (Açores).