1. Donald Trump tomou posse como quadragésimo sétimo presidente dos Estados Unidos da América, no dia 20 de janeiro. O seu regresso ao poder ficou marcado por toda uma subversão lexical caracterizada pela associação de novos valores a algumas palavras, que são mobilizadas para dizer algo diferente do seu valor habitual, como se pode constatar pela análise dos mais recentes discursos presidenciais. O mundo assistiu, logo após a tomada de posse, a uma fúria legislativa que conduziu à emissão de perto de largas dezenas de ordens executivas, uma decisão que permitiu ao líder americano afirmar que seria «ditador por um dia», associando a palavra ao sentido de «aquele que decide muito rapidamente». Na subida de Trump ao poder, destaca-se a descrição do seu mandato como uma nova «era dourada», uma expressão aplicada habitualmente a um período de paz, harmonia, estabilidade e prosperidade, mas que, sendo usado como um valor proléptico, acaba por poder cobrir qualquer realidade, mesmo a mais inesperada. No discurso de tomada de posse, Trump descreveu-se como «pacificador», mas não deixou de agitar as águas ao exigir o Canal do Panamá; acrescentou à palavra «imigração» o valor de "invasão" e sustentou que «ser daltónico» é ver apenas dois géneros: masculino e feminino. Entretanto, o planeta ficará à espera de perceber como os valores lexicais se alargarão para cobrir novas realidades ditas com termos de valores eufóricos e sempre justificadas pelo desejo de «tornar a América grande», ainda que o fosso entre a realidade e as palavras se possa revelar abismal.
2. Em cada nova situação, a língua vai-se ajustando a novas possibilidades de sentido ou criando condições para o aparecimento de novas palavras. Neste âmbito, registamos esta semana o termo aporofobia, criado pela filósofa espanhola Adela Cortina para referir a «aversão aos pobres», e a palavra doxocracia, usada pela politóloga italiana Nadia Urbinati para descrever «um poder monopolista da nossa mente», que, segundo ela, poderá caracterizar a ação de Donald Trump em associação à do multimilionário Elon Musk.
3. Na atualização do Consultório, destacamos o predomínio de questões relacionadas com aspetos lexicais: «O verbo plasmar», «Luthier, lutier, luteiro e violeiro», «Laço e gravata-borboleta» e «Realidade e verdade». Ainda duas questões de natureza sintático-semântica («Infinitivo simples e infinitivo composto» e «A sintaxe de comparticipar»), uma relacionada com a morfologia («A palavra boboca») e uma interpretação estilístico de alguns versos d'Os Lusíadas («Uma aliteração camoniana»).
4. Na rubrica Dúvida da semana, a professora Carla Marques analisa a questão da contração ou não da preposição seguida de artigo em diferentes contextos sintáticos e considerando a realidade do português europeu (divulgada no programa Páginas de Português, na Antena 2).
5. A escritora e professora universitária Dora Gago propõe uma reflexão assente na analogia entre a fábula da cigarra e da formiga e o comportamento de alguns alunos em contexto escolar e social, deixando uma avaliação de natureza moral para os tempos modernos.
6. Entre os eventos de relevo, destaque para:
– A Conferência: Criatividades Periféricas "Juventudes, Territórios e Políticas Públicas", com lugar na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, nos dias 30 e 31 de janeiro (mais informações);
– O 8.º Encontro Internacional do Interacionismo Sociodiscursivo, organizado pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, nos dias 22 a 24 de janeiro (mais informações).