1. Os provérbios têm uma presença muito frequente nos usos dos falantes. São estruturas enraizadas nos processos de comunicação oral que veiculam ensinamentos relacionados com conhecimentos sobre a vida, os quais estão relacionados não só com saberes e experiências comuns ou com o folclore como também com pensamentos filosóficos ou com manifestações artísticas diversas. Os provérbios são normalmente uma criação de autor anónimo que vai sendo transmitida por via oral de geração em geração, o que se processa com naturalidade porque estes são agradáveis ao ouvido e fáceis de memorizar e de repetir. Alguns têm origem mais precisa, pois advêm de fontes bíblicas, foram criados por grandes pensadores ou por poetas, mas também foram recuparados de publicicidades ou de músicas. Com o seu forte pendor argumentativo, são ideais para enfatizar formas de comportamento preferenciais e assinalar atitudes ou opções erradas. Servem, muitas vezes, para descrever situações típicas ou perfis que se associam a um processo de generalização. Sobre o provérbio «Burro velho não toma andadura», a rubrica O Nosso Idioma inclui um apontamento da professora Carla Marques.
2. No Consultório, fala-se da função sintática de todo numa frase e da diferença entre modificador do nome e complemento do nome. Entre as nove questóes da presente atualização também se salienta esta outra: é possível empregar regionalismos num texto formal?
3. «Um terço dos mais jovens não sabe falar galego. Onde está a sua "liberdade de escolha"?» – interroga-se Xosé-Henrique Costas, linguista e professor da Universidade de Vigo acerca dos dados alarmantes de um inquérito do Instituto Galego de Estatística (IGE), os quais revelam a descida preocupante do número de falantes de galego, principalmente entre os jovens. Na rubrica Controvérsias, transcreve-se com a devida vénia o original galego e apresenta-se uma versão em português do artigo de opinião que este linguista galego assinou 11/10/2024 no Diário Nós.
1. No plano internacional, aos conflitos armados acresce a tensão decorrente da questão de Taiwan e avoluma-se a expetativa quanto às eleições presidenciais nos EUA, que se avizinham. Em Portugal, a situação será comparativamente pacífica, mas as negociações para a votação do Orçamento do Estado 2025 na Assembleia da República motivam declarações políticas nada idílicas; e a escolha do novo presidente da República em 2026 já vai dando que fazer e falar. Por exemplo, no Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer (12/10/2024), em comentário à declaração favorável do primeiro-ministro português à candidatura do político e comentador Marques Mendes, ouviu-se em tom irónico a forma «endorsado», a qual pressupõe "endorsar" e "endorsamento". São formas que adaptam livremente as palavras inglesas to endorse e endorsement, atualmente recorrentes nos media norte-americanos, para denotar o apoio de uma figura pública a um político (ou a um produto) e que podem bem traduzir-se pelas perífrases vernáculas «tomar partido» ou «declarar apoio» (cf. "Taylor Swift declara apoio a Kamala Harris, Sábado, 11/09/2024). Independentemente da intenção jocosa associada a "endorsado", será este um aportuguesamento viável? A esta e outras questões dedica a consultora Sara Mourato um apontamento disponível em O Nosso Idioma.
2. Segundo dados divulgados pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, nunca se venderam tantos livros em Portugal e os principais compradores são gente nova. Trata-se, contudo, de leituras completamente fora do cânone literário clássico. Na rubrica Literatura, a consultora Inês Gama discorre sobre os hábitos de leitura dos jovens e a sua relação com os grandes clássicos.
3. Diz-se «do mesmo jeito que...» ou «mesmo jeito como...»? E o uso desta expressão é típico de que país de língua portuguesa? Com esta, são oito as respostas que atualizam o Consultório e que dão esclarecimentos a respeito de outros tópicos: o significado das expressões «o Roque e a amiga» e «em razão disso»; a etimologia do verbo esparralhar; o uso do conjuntivo numa relativa sem antecedente; a sintaxe do verbo apontar; e o plural associado a «um ou mais...».
4. Em Ciberdúvidas Responde, um novo vídeo trata da colocação do pronome pessoal átono que acompanha um infinitivo. Sobre o uso mais correto, pergunta-se: diz-se «obrigado por informar-me» ou «obrigado por me informar»?
5. O projeto Ciberdúvidas Vai às Escolas divulga um novo vídeo, acerca da identificação do predicativo do sujeito numa frase. A pergunta vem do Agrupamento de Escolas de Nelas, cuja participação muito se agradece.
6. Nas Notícias, dá-se conta do falecimento do jornalista Emídio Fernando (1965-2024), numa nota assinada pela jornalista Paula Torres de Carvalho.
7. Registos da atualidade:
– Na Galiza, os dados de um inquérito do Instituto Galego de Estatística (IGE) revelam a descida preocupante do número de falantes de galego, principalmente entre os jovens. Há fortes reações dos setores afetos à promoção do galego, que acusam o governo autonómico, a Xunta, de não saber ou não querer contrariar esta tendência (cf. Diário Nós, 11/10/2024).
– A publicação de uma reflexão Associação de Professores de Português (APP) a respeito do perfil do docente de Português Língua Não Materna (PLNM).
– A comemoração do centenário de António Ramos Rosa, nascido em Faro em 17 de outubro de 1924 e falecido em Lisboa em 2013. Na Antologia, disponibilizam-se dois poemas deste poeta português: "Coágulo do tempo" e "A palavra".
8. Quanto aos temas de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:
– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 18/10/2024 às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), entrevista-se a escritora luso-moçambicana Fernanda Melo Alves sobre o seu romance recentemente editado À Procura dos Rinocerontes Perdidos;
– Em Páginas de Português, programa transmitido pela Antena 2, no domingo, 20/10/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 26/10/2024, às 15h30*), apresenta-se uma conversa com a professora Helena Rebelo (Universidade da Madeira) sobre o património linguístico deste arquipélago, nomeadamente os múltiplos hipónimos da palavra pão. Ainda o apontamento gramatical da autoria da professora Carla Marques;
– Menciona-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e igualmente transmitido na Antena 2, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. Em Portugal, a tensão política em torno do Orçamento do Estado para 2025 tem fornecido matéria de relevo à comunicação social, que se tem esforçado por descrever todas as movimentações dos líderes políticos e todas as suas reações. Uma das mais recentes notícias vindas a público descreve a forma como o secretário-geral do PS [Partido Socialista], Pedro Nuno Santos, lidou com os comentadores políticos afetos ao seu partido: «Pedro Nuno afasta-se do Orçamento e zurze comentadores do PS que defendem viabilização» (jornal Público). Este título faz uso de um verbo pouco frequente nas interações quotidianas: zurzir. Os seus significados têm uma grande amplitude que vai do domínio físico («golpear com chibata») ao foro psicológico («causar dor ou sofrimento; maltratar; magoar»). No caso da situação descrita no título, o sentido não será tão violento, pois a intenção da jornalista passará por referir a atitude de «repreender com severidade» (Infopédia). Curiosamente, o verbo zurzir tem a mesma etimologia do verbo cerzir, derivando ambos do verbo sarcīre («remendar, coser vestidos, reparar, consertar»). O verbo cerzir derivou da forma latina por via do latim vulgar, tendo durante um período de tempo coexistido com a forma serzir, que acabou por desaparecer, e manteve significados próximos do verbo original. Por seu turno, a forma zurzir, que se revela mais distante da sua origem etimológica, terá entrado no português por via do castelhano zurcir. A sua evolução semântica é também curiosa uma vez que perdeu os sentidos ligados ao ato de costurar e evoluiu para a descrição de ações que infligem algum tipo de dor no outro.
2. A expressão «muita água pode correr debaixo da ponte» admite muitas variantes: «por baixo da ponte», «por debaixo da ponte» ou «sob a ponte». Todavia, na rubrica Pelourinho, assinala-se o uso inesperado da expressão «abaixo da ponte» que é incompatível com o que se pretende afirmar, tal como é explicado pelo consultor Carlos Rocha.
3. A questão das classificações textuais pode ser efetuada de acordo com diferentes óticas e no contexto de diferentes quadros conceptuais. Por esta razão, um mesmo texto pode admitir diferentes classificações que o integram em diferentes tipologias textuais. Este é o caso do Sermão de Santo António, da autoria de Padre António Vieira, o qual poderá ser considerado tanto um sermão, como um texto argumentativo ou ainda uma alegoria, como se explica nesta resposta que integra a atualização do Consultório. Damos destaque também a duas respostas que se centram em textos clássicos: uma dificuldade de tradução num passo de Odisseia; a identificação de um recurso expressivo em O Sentimento dum Ocidental, de Cesário Verde. Poderão ainda ser consultadas respostas que tratam questões relacionadas com as preposições em e de usadas com o nome qualificações e com a locução prepositiva «mais de». Ainda respostas relacionadas com o uso do adjetivo senil, a vírgula antes do advérbio não duplicado, o uso de maiúsculas em nomes de cargos e a regência do verbo trazer.
4. A identificação da sílaba tónica da palavra mãezinha é o tema do apontamento da professora Carla Marques, no qual também se aborda a função do til numa palavra e a sua relação com a identificação da sílaba tónica (apontamento divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2).
5. Damos destaque na atualização aos seguintes acontecimentos:
– O lançamento do Dicionário Fonético do Português Europeu, de João Veloso, Ana Isabel Fernandes e Fátima Silva (Inovação Educativa – Reitoria da Universidade do Porto), uma publicação disponível em linha que trata, de forma visual e muito esclarecedora, questões relacionadas com a anatomia, os sons vocálicos e os sons consonânticos.
– A atribuição à escritora e jornalista Maria Teresa Horta do Prémio Rodrigues Sampaio, da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, um galardão atribuído pela primeira vez a uma mulher.
1. Depois do aparecimento de Ciberdúvidas Responde, em 19/09/2024, surge agora o projeto Ciberdúvidas Vai às Escolas, iniciativa e realização da equipa do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Como se explica nas Notícias, no âmbito da intenção do alargamento da ação do Ciberdúvidas nas redes sociais, trata-se de o levar às escolas onde se ensina a língua portuguesa, em Portugal e no mundo. De forma presencial ou à distância, um consultor do Ciberdúvidas esclarece, ao vivo e em direto, dúvidas dos alunos relacionadas com questões de gramática. As sessões são gravadas em formato vídeo e divulgadas posteriormente nas redes sociais do Ciberdúvidas, dando a conhecer a resposta a cada uma das dúvidas apresentadas, de modo a outros alunos e professores acederem aos conhecimentos envolvidos. As escolas interessadas em participar neste projeto, recebendo o Ciberdúvidas presencialmente ou à distância, poderão contactar os responsáveis pelo projeto por correio eletrónico: ciberduvidas@iscte-iul.pt
* Com colaboração do Laboratório de Competências Transversais do Iscte-IUL. Na imagem, fotograma do vídeo n.º 1 deste projeto do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa (mais vídeos no canal Youtube).
2. A propósito de gramática e práticas didático-pedagógicas, na Montra de Livros apresenta-se Reflexões sobre Lingua(gem) em Contextos de Ensino é uma compilação de textos e artigos científicos, organizada por Wagner Rodrigues Silva e publicada pela editora da Universidade Federal do Tocantis (EDUFT).
3. Quem poderia imaginar que o verbo empolgar e o nome polegar partilham o mesmo radical de origem latina? Em O Nosso Idioma, a consultora Sara Mourato explica como.
4. No Consultório, discute-se uma ideia ainda popular: qual é a cidade ou a região onde melhor se fala? Será Coimbra? E que sentido têm estas perguntas? Outras questões sobre norma e variação são abordadas na atualização deste dia: o regionalismo foxe e as oscilações entre «São Hugo» e «Santo Hugo» e entre «giraldinha» e «giraldina». Completam o conjunto dúvidas sobre sintaxe: a função frásica de sexualmente; a realização pronominal do complemento indireto; o uso de preposições com «ter tempo»; e um modificador associado ao verbo arrancar.
5. Regista-se com pesar o falecimento do jornalista angolano Rui Ramos em 09//10/2024. Nas Notícias, o jornalista José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, dá conta do percurso político e profissional de Rui Ramos, que colaborou também nestas páginas, como consultor de temas da língua portuguesa em Angola.
Refira-se também o falecimento da linguista Gabriela Vitorino. Investigadora principal do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, era responsável pelo Atlas Linguístico do Litoral Português e do Mapa Dialectal Sonoro de Portugal. Mais informação aqui.
6. Eventos relacionados com temas da língua portuguesa:
– O lançamento do novo livro do tradutor e divulgador de temas linguísticos Marco Neves: Queria? Já Não Quer? Mitos e Disparates da Língua Portuguesa, editado pela Guerra e Paz (pormenores aqui).
– Em 21/10/2024, a sessão "Leitura e viagens", uma conversa com a escritora e professora Dora Gago promovida pelo Instituto Português do Oriente na Biblioteca Camilo Pessanha, em Macau (mais informação aqui).
7. Quanto aos temas de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa:
– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 11/12/2024 às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), entrevista-se Cristine Gorski Severo, Ezra Alberto Chambal Nhampoca e Ezequiel Pedro José Bernardo sobre a obra que organizaram, Políticas Linguísticas Educacionais em Contextos Africanos, na qual se analisam os contextos educacionais africanos, principalmente os de Angola e Moçambique.
– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 13/10/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 19/10/2024, às 15h30*), conversa-se com Maria Teresa Nóbrega Duarte Soares, professora da Rede de Ensino do Português no Estrangeiro (EPE) na Alemanha do IC/ Camões, sobre um inquérito – «O Português para mim é.…» – a cerca de 700 alunos, entre os 7 e 16 anos, que frequentam os cursos de Língua e Cultura Portuguesas na Alemanha, Suíça e Luxemburgo. Ainda o apontamento gramatical de Carla Marques.
– Igualmente na Antena 2, mencione-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. Num mundo onde a globalização está na ordem do dia, muitos países sentem a invasão do que é "estrangeiro", tanto no plano material como no imaterial. A língua também não é alheia a estes movimentos, pois é muito permeável à entrada de palavras estrangeiras, sobretudo em setores inovadores, que já geraram inovação lexical numa língua fonte, como é frequentemente o caso do inglês, que tem influenciado de forma muito evidente diversas áreas do português. Fenómenos desta natureza têm motivado o aparecimento de correntes de nacionalismo linguístico, que, em casos desta natureza, defendem a proteção do idioma pátrio como forma de identidade e de afirmação. São estes mesmos nacionalismos que, noutras situações, advogam a causa da "libertação" da língua face a outra à qual se encontra subjugada. Uma manifestação deste último fenómeno tem surgido associada à variedade de português do Brasil pelas mãos de uma corrente que defende que, no Brasil, a língua usada já não é o português, mas sim o brasileiro, uma língua que evoluiu, autonomizando-se face ao português europeu, que tem uma norma e especificidades fonéticas, semânticas, lexicais e sintáticas distintas. Os defensores desta perspetiva afirmam que a intercompreensão entre portugueses e brasileiros se torna cada vez mais difícil e, nalguns casos, mesmo muito difícil, o que parece não ser um facto assente em muitas situações; e há quem rebata este ponto de vista, considerando que as diferenças não são de molde a poder falar-se de separação. A este propósito, recorde-se a experiência do tradutor e professor universitário Marco Neves (aqui relatada em vídeo). Recorde-se também a posição do primeiro-ministro português Luís Montenegro, que — tal como já antes o manifestara também o Presidente brasileiro Lula da Silva — reclamou o estatuto do português como língua oficial na ONU, só possivel, naturalmente, como sucede com o inglês, o francês, o espanhol, o mandarim, o russo e o árabe, independentemente das respetivas variantes geográficas. As manifestações de nacionalismo linguístico têm gerado fortes reações um pouco por todo o mundo lusófono, no pressuposto de ser na unidade da língua portuguesa que assenta uma eficaz estratégia de política linguística para a sua afirmação e difusão nternacional. Recentemente, o escritor José Eduardo Agualusa veio também manifestar a sua preocupação com a ascensão do fenómeno e com as suas implicações, numa entrevista dada ao jornal digita Observador, na qual apresentou o seu novo romance, Mestre dos Batuques, com a chancela da Quetzal (disponível aqui, com a devida vénia).
A este propósito, recordamos alguns textos disponíveis no acervo do Ciberdúvidas: «O português de Portugal está ficando mais brasileiro?», «A língua e os seus proprietários», «Como se ensina uma língua pluricêntrica?», «O que queremos desta língua?», «O brasileiro já é a língua do Brasil?». Nota ainda para a polémica recente desencadeada pela entrevista do jornalista brasileiro Sérgio Rodrigues ao jornal Expresso, que motivou reações como a do jornalista Miguel Sousa Tavares.
2. A identificação da função desempenhada pelo pronome relativo que é um dos aspetos que oferecem dificuldades aos alunos no âmbito do estudo da sintaxe. Abrimos a atualização do Consultório com o esclarecimento relativo aos processos que permitem identificar as situações em que o pronome tem a função de complemento direto. Poderão também ser consultadas várias respostas de âmbito sintático: a sintaxe de «cair no esquecimento», a colocação do clítico em «bons olhos o vejam», a regência do verbo importar-se e as construções com o verbo retaliar. No plano semântico-lexical, esclarecemos as dúvidas relacionadas com a forma registrar e as diferenças entre lembrar e relembrar. Ainda um esclarecimento sobre algumas formas de tratamento e sobre o conceito de géneros digitais.
3. A consultora Inês Gama apresenta um apontamento sobre as palavras elegível e ilegível, as quais estabelecem relações de dissemelhança no plano gráfico, mas são frequentemente articuladas da mesma forma, uma vez que tradicionalmente muitos ee átonos e a começar palavra (pré-tónicos) tendem a ser pronunciados como [i] (apontamento divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2).
4. Entre os acontecimentos de relevo, destacamos os seguintes:
– Lançamento do romance À Procura dos Rinocerontes Perdidos, da autoria de Fernanda Melo Alves, nas edições Cordel de Prata (notícia);
– Festival Fólio, uma edição subordinada ao tema "Inquietação", que decorrerá em Óbidos, entre 10 e 20 de outubro (mais informações);
– A atribuição do Prémio Literário António Gedeão 2024 para a poesia a Rui Lage, com a obra Firmamento, da Assírio & Alvim (notícia).
1. Que textos podem constituir-se como fonte e modelo dos usos linguísticos normativos? Esta é a pergunta de um debate inesgotável que nos últimos tempos, no Brasil, tem motivado intervenções críticas de certas conceções da norma culta com origem universitária. Em Controvérsias, transcreve-se com a devida vénia um apontamento do gramático Fernando Pestana, que, sobre a questão, reúne alguns dados e se interroga sobre o valor dos textos jornalísticos como fonte confiável da norma-padrão. Este é mais um texto que se soma aos que o Ciberdúvidas tem recolhido a propósito do problema da definição da norma culta e do da autonomia da variedade brasileira; são eles: "'Me empurra' e 'empurra-me'", "Norma culta brasileira", "Era uma vez um estrangeiro que desejava aprender 'brasileiro'", "Quem dera que fosse ficção...", "Sabe aquela sensação... ?", "A evolução esbarra na educação", "Os 'peixe'", "Ó pá, fique lá com o seu gerúndio e deixe o Camões em paz!", "Bilinguismo luso-brasileiro", "Sobre a língua brasileira", "'O brasileiro'?!", "O 'jeitinho brasileiro' de falar ", "O português de Portugal está em risco?".
Na imagem, Fonte da Pipa, c. 1915, aguarela sobre cartão, de Álvaro da Fonseca (1887-1920) (crédito: Almada na História. Boletim de Fontes Documentais, 27/28, 2014).
2. É inegável o progresso dos tradutores automáticos, mas serão eles de fiar? No Pelourinho, o consultor Paulo J. S. Barata dá conta da confusão entre férias e feriados num aviso em que provavelmente a tradução automática do italiano para o português não correu da melhor maneira. Na mesma rubrica, o jornalista José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, assinala a frequente prolação errada do topónimo Salém em noticiários das televisões portuguesas, acerca da peça As Bruxas de Salém, do dramaturgo norte-americano Arthur Miller, em cena até 06/10/2014 no Teatro São João (Porto).
3. A frase «chegando a casa, foi dormir» terá ou não o mesmo significado que «tendo chegado a casa, foi dormir»? Na presente atualização do Consultório, além dos valores das formas simples e composta de gerúndio, são tópicos em questão a correção dos termos reconchegar e deleonismo, o significado de «primos paralelos» e «primos cruzados», a diferença semântica entre os adjetivos choroso, lagrimoso e plangente, a vírgula entre duas conjunções seguidas, a grafia de niilismo, o uso de artigo definido com determinante possessivo, o uso demonstrativo de o numa estrutura de coordenação e a expressão «fora de órbita».
4. No século XIX, a influência da língua francesa foi especialmente intensa em Portugal, país que, entre 1807 e 1810, também se confrontou com o poder militar de França, ao sofrer três invasões dos exércitos de Napoleão. Em O Nosso Idioma, a consultora Inês Gama explora algumas das expressões idiomáticas alusivas aos contactos históricos entre Portugal e França. Ainda em O Nosso Idioma, a consultora Sara Mourato aborda a origem e significado de fanfic, termo referente a um tipo de narrativa geralmente criada e partilhada por fãs na Internet, utilizando personagens ou universos de obras já existentes.
5. Comemora-se em Portugal a implantação da República, ocorrida em 5 de outubro de 1910. Relativamente a aspetos associados à palavra república, sugere-se a consulta de "Os usos de bolsonarista, a função dos adjetivos, a «ocidental praia lusitana» e o nome república", "'Viva a República' e 'vivà República'" e "As palavras república e monarquia". Registe-se que, na mesma data, se celebra o Dia Mundial dos Professores.
6. Em 2024, o anúncio dos Prémios Nobel faz-se entre 7 e 14 de outubro (cf. página em inglês da organização do Prémio Nobel), e a Academia das Ciências de Lisboa (ACL) promove um encontro de especialistas em 23 e 24 de outubro «para discutir as contribuições e mérito dos galardoados com os Prémios Nobel 2024» (mural da ACL no Facebook em 04/10/2024). Como sempre, convém aqui lembrar que o nome Nobel deve pronunciar-se como palavra aguda, isto é, como "nobél", e não "nóbel". Sugere-se a (re)leitura de alguns dos muitos conteúdos que o Ciberdúvidas dedica ao tema: "Nobel", "Nóbel ou Nobél?", "Ainda o Nobel", "Como (bem) dizer ONU e Nobel... em português", "Fugiu o Nobel, ficou o erro", "Nobel, palavra oxítona (aguda): /Nobél/", "Outra vez a pronúncia de Nobel".
7. Recorda-se que decorre, até 6 de outubro p. f., o 39.º Colóquio da Lusofonia, uma iniciativa do jornalista e escritor Chrys Chrystello. Nesta edição, que tem lugar na Biblioteca Municipal de Vila do Porto (Santa Maria, Açores), são homenageados os escritores Pedro Almeida Maia e Arsénio Puim, bem como, postumamente, Helena Chrystello, vice-presidente da Associação Internacional dos Colóquios da Lusofonia.
8. Quanto aos temas de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:
– No programa Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 04/10/2024 às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a professora universitária Rita Marnoto (Universidade de Coimbra) fala sobre Camões e a identidade literária do português. Discutem-se ainda o papel do épico na consolidação da nossa língua como veículo literário e os reflexos que Os Lusíadas eternizam na língua e na cultura portuguesas.
– Camões é também o tema principal da conversa com a professora jubilada Fátima Mendonça (Universidade Eduardo Mondlane) em Páginas de Português, transmitido na Antena 2, no domingo, 06/10/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 12/10/2024, às 15h30*). O programa inclui também um apontamento gramatical de Inês Gama, que esta semana discorre sobre os termos elegível e ilegível.
– Igualmente na Antena 2, refira-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. A imigração é um fenómeno global que tem feito sentir a sua pressão em diversos países da Europa. As reações às alterações económicas e sociais que a mobilidade tem trazido consigo são muito diversas e, por vezes, conflituosas. Os movimentos anti-imigração têm emergido, muitas vezes associados à extrema-direita, cujo crescimento se tem feito sentir um pouco por todo o lado. Não sendo alheia a esta agitação social, Lisboa foi palco, no dia 29 de setembro, de duas manifestações simultâneas, convocadas para o mesmo espaço físico: uma contra a imigração e outra a favor da inclusão dos imigrantes. Os participantes trouxeram consigo palavras de ordem que nem sempre foram usadas com o devido rigor. É o caso de racismo, que refere uma teoria, sem bases científicas, que aponta a superioridade de uma raça humana relativa a outra. Ora, como já aqui se referiu diversas vezes, a humanidade não se divide em raças, pelo que não se poderá falar de racismo para descrever sentimentos de rejeição de determinados povos. Poder-se-á, sim, usar o termo xenofobia, para designar a «aversão ou hostilidade manifestada a pessoas ou coisas estrangeiras» (DLP). Estes movimentos trouxeram também consigo termos que são menos frequentes no domínio público, como remigração («ato ou efeito de voltar ao ponto de onde se emigrou» (Infopédia)), que constituiu uma das exigências feitas por uma das manifestações, ou contramanifestação («manifestação convocada em oposição a outra simultânea ou anterior, com o objetivo de minimizar os seus efeitos» (Infopédia)), termo que se aplicou à manifestação organizada contra o movimento anti-imigração.
A propósito deste tema, recordamos alguns textos disponíveis no acervo do Ciberdúvidas: «Raça e expressões racistas», «A Capital e os imigrantes vs. emigrantes», «Refugiados, e não migrantes», «A diferença entre êxodo e migração» e «O significado de migrante».
2. Os critérios que permitem distinguir, em contexto escolar português, conjunções de alguns advérbios conectivos podem trazer dúvidas e dificultar a ação didática. Neste contexto, apresenta-se uma síntese das diferenças entre estas duas realidades sintático-semânticas. Na atualização do Consultório ficam disponíveis ainda as respostas a questões que incidem sobre os seguintes aspetos: valores das orações de gerúndio; função de «nem sempre» numa frase; uso do objeto direto preposicionado; diferenças entre «costumava jogar» e «jogava»; os verbos embatucar e embatocar; o uso de adjetivos valorativos e depreciativos numa crítica; e o dito «quanto mais prima, mais se lhe arrima».
3. No contexto da polémica em torno do caso das gémeas luso-brasileiras, o advogado da mãe das crianças, Wilson Bicalho, usou o termo «país alienígena» no canal de televisão português Now, referindo-se a Portugal. O significado desta expressão, algo estranho ao ouvido habituado ao português europeu, é explicado pelo consultor do Ciberdúvidas Paulo J. S. Barata neste apontamento.
4. Na Montra de Livros, apresenta-se a publicação Daily European Portuguese – 100 Most Common Verbs, de Rita Faria e James Lawer, cujo objetivo é facilitar a aprendizagem de 100 verbos portugueses (aqui).
5. O apontamento semanal da professora Carla Marques centra-se na explicação de qual a concordância correta nas frases «Sentiam admiração pela sua cultura e qualidades» ou «Sentiam admiração pelas suas cultura e qualidades». (Divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2).
1. Decorre até 30 de setembro, em Nova Iorque, a 79.ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, onde também interveio o primeiro-ministro português Luís Montenegro, que, insistindo na importância da língua portuguesa como língua oficial das ONU, defendeu o multilateralismo, os valores globais e a paz. Mas como será possível a pacificação num mundo repleto de experiências e interesses muitas vezes desencontrados no tempo e no espaço? Talvez pela abertura à diferença linguística e às tradições locais, como porta para a descoberta das muitas facetas da universalidade. Neste sentido parecem convergir as reflexões desenvolvidas pelo juiz Rui Carvalho Moreira (Observador, 19/09/2024) e que se transcrevem com a devida vénia em Diversidades. Lê-se nesse texto: «A língua e o Universo têm códigos, enigmas, segredos. Vislumbramos tão-só as partículas de luz que se evadem por frestas e postigos. O reflexo ilude a essência. E a essência acolhe a verdade. Na corrente do tempo e das palavras, o infinito não é um mero passageiro.»
Sobre o acrónimo ONU, recorde-se que esta forma se lê como palavra aguda: "onu" (e não "ónu"). Cf. "O acrónimo ONU" e "Como (bem) dizer ONU...".
2. A palavra raça figurou numa notícia que circulou nos media portugueses, e as críticas, justificadas, não se fizeram esperar. No Pelourinho, um apontamento do jornalista Carlos Narciso aborda este caso, no contexto do qual ocorreu outro uso discutível, o da expressão em crioulo cabo-verdiano "Marxa Kabral", em lugar de «Marcha Cabral».
3. A palavra mulato é ofensiva? Ou tornou-se ofensiva? Em O Nosso Idioma, a consultora Inês Gama dedica um apontamento a este e outros vocábulos que podem ser ativados com a intenção de insultar e ofender.
4. Na mesma rubrica, levanta-se uma questão: o que poderá ser classificado como piscinável? Como se forma este adjetivo? O comentário da consultora Sara Mourato.
5. Quando o tema é o desenvolvimento do potencial humano físico e intelectual através da tecnologia, usa-se atualmente o anglicismo biohackig. Que significa ao certo? No Consultório, encontra-se o esclarecimento deste termo, no meio de um total de seis novas respostas, que abrangem também os seguintes tópicos: o uso de «por quê» no Brasil; a pronúncia de saudável; emposta e outros regionalismos do Algarve; a etimologia de autor; e a expressão fixa «fazer de lavado».
6. Registos com atualidade e com interesse:
– de 2 a 6/10/2024, na Biblioteca Municipal de Vila do Porto (Santa Maria, Açores), o 39.º Colóquio da Lusofonia, uma iniciativa do do jornalista e escritor Chrys Chrystello, que tem como figuras homenageadas, além dos escritores Pedro Almeida Maia e Arsénio Puim, a investigadora, escritora, professora e vice-presidente da Associação Internacional dos Colóquios da Lusofonia Helena Chrystello, falecida em 26/01/2024.
– o trabalho "Telemóveis nas salas de aula, sim ou não?", disponível nas páginas da Fundação Francisco Manuel dos Santos (14/09/2024);
– a falta de professores que continua a fazer sentir-se nas escolas do ensino básico e secundário em Portugal, em especial no currículo transversal, incluindo a disciplina de Português (Público, 23/09/2024).
7.Quanto a três dos programas que, na rádio pública de Portugal, tratam de temas da língua portuguesa:
– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 27/09/2024 às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), os professores Paulo Nunes da Silva (Universidade Aberta), Luís Filipe Barbeiro (Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Politécnico de Leiria) e Fausto Caels (Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Politécnico de Leiria) discutem as classificações textuais e os documentos programáticos da disciplina de Português, assim como se referem aos géneros escolares e à sua aprendizagem;
– Em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 29/09/2024, às 12h30*; repetido no sábado seguinte, 05/10/2024 às 15h30*), a professora universitária Rita Marnoto (Universidade de Coimbra) aborda Camões e a identidade literária da língua portuguesa. Nesta conversa, fala-se também sobre a contribuição de Os Lusíadas para a evolução da língua portuguesa e o papel de Camões como poeta. Ainda o apontamento gramatical da professora Carla Marques sobre a concordância.
1. No próximo dia 29 de setembro, assinala-se o Dia Internacional da Consciencialização sobre a Perda e o Desperdício Alimentar, cujo objetivo nuclear é o de sensibilizar a população para a prevenção do desperdício alimentar. Neste âmbito, a União Europeia pediu aos seus Estados-Membros que promovessem medidas que visem a redução do desperdício alimentar em 10% na área da transformação e em 30% per capita no comércio retalhista e no consumo. Neste âmbito, a plataforma Too Good to Go promove, entre 23 e 29 de setembro, uma semana de sensibilização e mobilização para o problema do desperdício, numa altura em que divulga que, em média, cada português gasta 350€ em alimentos que não consome. Em termos mundiais, a WWF (World Wide Fund for Nature) assinala que 2,5 mil milhões de toneladas de alimentos são desperdiçados todos os anos, o que equivale a 80000 quilos de alimentos desperdiçados em todo o mundo, a cada segundo. Reduzir é, pois, a palavra-chave desta campanha. Trata-se de um verbo que tem a sua origem na forma latina reducere, que significava «reconduzir, trazer para si, tirar para trás» (Dicionário Houaiss), valores que, ao longo do tempo, foram ficando secundarizados, pois o sentido primordial da palavra passou a ser o de «tornar menor, limitar» e é este o sentido que deve ficar na consciência sempre que contribuímos para o desperdício alimentar.
2. A dúvida sobre uso dos advérbios tão ou tanto com adjetivo, no contexto da estrutura comparativa, abre a atualização do Consultório, onde se encontram também respostas relacionadas com a pronúncia do nome superfície, o uso de preposição com orações relativas, a grafia do verbo dar com clítico e a escrita de números. Incluímos ainda na atualização, uma resposta com conselhos sobre a melhor forma de abordar questões sobre as quais os gramáticos estão em desacordo, um esclarecimento sobre a classificação da classe do advérbio a usar em contexto escolar não universitário e uma explicação teórica sobre o conceito de quarta pessoa gramatical. Fechamos com uma explicação/interpretação do sentido da construção «fazer manta aos lobos», de Aquilino Ribeiro.
3. A palavra latina sic é recorrentemente usada em determinados géneros textuais, por exemplo do âmbito jurídico, académico ou até político. Esta vitalidade justifica o apontamento da professora Carla Marques, que passa em revista a sua etimologia e recorda os contextos discursivos em que o termo é utilizado (divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2).
4. Recentemente, têm-se feito ouvir vozes em defesa da separação entre o português europeu e o português do Brasil, assumindo que este último é já uma língua distinta, o brasileiro. O professor e investigador José Luís Bandeira vem apresentar-se contra esta proposta e aduzir argumentos que comprovam que, do ponto de vista estratégico, esta seria uma má decisão para o Brasil e para a importância da língua portuguesa no mundo.
5. A polémica entrevista de Sérgio Rodrigues, escritor e jornalista especializado em língua portuguesa, ao jornal Expresso motivou uma reação do também escritor e autor Miguel Sousa Tavares, na qual este contradita algumas afirmações relativas aos critérios de edição praticados em Portugal e no Brasil e aos gostos de leitura dos portugueses, entre outros assuntos (texto partilhado com a devida vénia).
6. O léxico do Novo Testamento motiva uma reflexão do professor universitário e tradutor Frederico Lourenço a propósito da origem das palavras deste texto e da sua beleza (partilhada com a devida vénia).
1. O começo do ano letivo em Portugal está também a ser marcado por questões relativas ao currículo – foi manifestada a intenção de rever os programas (cf. Expresso, 12/09/2024) – e à natureza da formação dos professores, por exemplo, para dar resposta ao número crescente de alunos para quem o português é língua não materna. Em Ensino, a consultora Inês Gama propõe uma reflexão sobre os desafios enfrentados pelas escolas em Portugal no processo de integração de jovens com contacto recente ou precário com a língua portuguesa. Na mesma rubrica, a escritora e professora Dora Gago, num texto intitulado "Em busca das palavras perdidas", dá conta de um problema decorrente do consumo massificado de conteúdos digitais: a nula experiência de leitura dos próprios alunos falantes nativos, com uma consequente atrofia na aquisição lexical, incapacitadora da elaboração do discurso e do pensamento.
Para uma visão crítica da situação do ensino básico e secundário, ler "A degradação programada: a ideologia da cultura inculta (parte 1)" (Diário de Notícias, 14/09/2024). Acerca da utilização de telemóveis pelos adolescentes, ler "Valores mais altos do que os telemóveis" (Público, 14/09/2024) e "Telas, déficit cognitivo e crise da educação" (Outras Palavras, 18/09/2024).Crédito da imagem: TheoRivierenlaan , de Pixabay.
2. Nos últimos dias, os enormes incêndios deflagrados em múltiplos pontos do centro e norte de Portugal têm tido ampla projeção mediática. Mas, em certas reportagens televisivas, falta critério jornalístico e domínio da escrita correta, assinala o cofundador do Ciberdúvidas, José Mário Costa, que fala de uma «linguagem estereotipada» no Pelourinho.
3. Estará correto o uso de «a mesma» na frase «a chegada da ministra e as declarações da mesma foram surpreendentes»? A resposta sobre o demonstrativo «o mesmo» faz parte do conjunto de sete questões da atualização Consultório. Restantes tópicos abordados: o aportuguesamento de keffiyeh, nome do simbólico lenço palestiniano; a metáfora «ganhar cama», que figura numa frase de Húmus, de Raul Brandão; as preposições compatíveis com o verbo sair; a sintaxe histórica de desprezar; a ausência de artigo definido associado ao nome geográfico Angola; e a expressão «a mais».
4. Em O Nosso Idioma, recorda-se um momento televisivo de agosto de 2024, quando o comentador Luís Marques Mendes mencionou um termo hoje menos comum: genuflexório. A consultora Sara Mourato comenta o significado e a formação deste vocábulo, bem como identifica outras palavras da mesma família.
5. Festejou-se em 17 de setembro o Dia da Língua Mirandesa – l Die de la Lhéngua Mirandesa –, o qual deu ensejo à realização de muitos eventos e à publicação de vários artigos. Em Diversidades, transcreve-se com a devida vénia, um artigo de opinião, em mirandês, de Aníbal Fernandes, membro do Movimento Cultural Terra de Miranda, que, congratulando-se com a celebração, não deixa de apelar para a defesa urgente deste idioma (ler também "Mirandês assinala hoje 26 anos como segunda língua oficial de Portugal", Rádio Brigantia, 17/09/2024). Ainda na rubrica Diversidades, inclui-se um apontamento do escritor e jornalista Carlos Coutinho sobre o termo apresigo e nomes de enchidos transmontanos evocativos de lendas e seres míticos.
6. Quatro registos com atualidade:
– a moda da inscrição de alcunhas e pseudónimos nas paredes de edifícios de Lisboa (Expresso, 12/09/2024);
– a visita a Timor-Leste do ministro do Negócios Estrangeiros português, Paulo Rangel, que defende o ensino pré-escolar do português às crianças timorenses (Lusa, 14/09/2029);
– "O jovem Camões em Coimbra", episódio 12 do programa Visita Guiada, de Paula Moura Pinheiro (RTP);
– a evocação do dramaturgo Luiz Francisco Rebello (1924-2011) num encontro promovido pela Associação Portuguesa de Escritores e realizado em 18/09/2024, na Biblioteca Palácio Galveias (Lisboa).
7. Entre os programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:
– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 20/09/2024 às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), entrevistam-se os professores Paulo Nunes da Silva (Universidade Aberta), Luís Filipe Barbeiro (Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Politécnico de Leiria) e Fausto Caels (Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Politécnico de Leiria) que falam acerca do conceito de género textual, da pluralidade de classificações textuais e da presença desta área de estudos nos manuais escolares;
– Os mesmos convidados em Páginas de Português, programa transmitido pela Antena 2, no domingo, 22/09/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 28/09/2024 às 15h30*), para concluírem a entrevista sobre o conceito de género textual: a pluralidade de classificações textuais, a dificuldades que os professores de Português enfrentam ao lidar com a variedade de géneros textuais e os manuais escolares e outros recursos didáticos. Ainda o apontamento gramatical dedicado à expressão latina sic.
– Igualmente na Antena 2, refira-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.
*Hora oficial de Portugal continental.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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