Poderemos considerar, de forma genérica e com intuitos didáticos, que o texto em análise, extraído do conto Saga de Sophia de Mello Breyner Andresen, apresenta um momento de descrição. No entanto, o segmento textual evidencia traços híbridos.
Os segmentos narrativos são caracterizados, entre outros aspetos, por uma sucessão de eventos organizados numa cadeia temporal, os quais conduzem ao desenvolvimento de ações e à transformação de predicados1. Por seu turno, a descrição assenta na enumeração de características ou factos que permitem um melhor conhecimento de uma situação, um local ou uma personagem.
No caso em apreço, a enumeração de atividades desenvolvidas pela personagem pode apontar para o desenvolvimento do modo de descrição. No entanto, não se trata de uma descrição estática, pelo que poderemos considerar que estaremos perante um caso de descrição dinâmica que, segundo Paz assume os seguintes traços: «a descrição dinâmica, a que alguns chamam “exposição narrativa”, devido à sua proximidade da narração, e que regista a indicação clara, por ordem cronológica ou lógica, das diversas fases do processo em causa.»
O facto de se tratar de um caso marcado por algum hibridismo está presente no facto de se usar a enumeração e de se recorrer ao pretérito imperfeito do indicativo. No entanto, existe alguma temporalidade associada à apresentação das situações no segmento, que aponta para o dinamismo próprio da narrativa.
Disponha sempre!
1. Segue-se, em linhas gerais, a proposta de Jean-Michel Adam para a caracterização da sequência narrativa. Cf. J.-M. Adam, Les textes. Types et prototypes. Nathan, 2001.