1. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia está perto de perfazer um mês. Entre ofensivas, negociações, destruição e vítimas, ensaiam-se formas mais agressivas de ataque, como o recurso a mísseis hipersónicos, que a Rússia afirma ter usado para destruir, em terreno ucraniano, um armazém subterrâneo com armas e munições. Este míssil, designado Kinzhal pelos russos, é considerado hipersónico devido à velocidade que pode atingir (cinco vezes superior à velocidade do som). Acresce que estes mísseis são também mais difíceis de rastrear, pois, para além da velocidade que atingem, têm também a possibilidade de voar a baixas altitudes. Registe-se aqui que a palavra hipersónico é um composto que resulta da junção do prefixo hiper- à forma sónico. Esta palavra deverá grafar-se sem hífen, pois com hiper-, recorde-se, só haverá lugar a hífen se o segundo termo do composto começar por h- ou por r-.
O Ciberdúvidas tem, no seu acervo, diversos textos relacionados com usos de hiper-, que aqui recordamos: «A grafia com o prefixo hiper-», «O superlativo hipersensível», «O (in)congruente plural de híper», «Hipersexuado», «Sobre hiperligação, hipertexto e "sitegrafia"».
2. A guerra em curso recorda-nos também, a cada momento, os seus refugiados, sobretudo mulheres e crianças que fogem do seu país numa tentativa de salvar a vida, deixando para trás bens e toda uma existência. No plano linguístico, este facto convoca a diferença entre os conceitos de migrante e de refugiado, assunto que dá matéria ao apontamento da professora Carla Marques em O Nosso Idioma.
3. Apesar de a comunicação social centrar toda a sua atenção no conflito da Ucrânia, o que é certo é que neste mesmo país ainda se vive o problema da covid-19. A Ucrânia é dos países europeus com menos pessoas vacinadas e continua a registar números muito altos de infeções e de mortes. Este facto motiva a entrada do termo Ucrânia para a rubrica A covid-19 na língua, termo ao qual se juntam ainda as novas entradas Covifenz, glicoproteínas e Nuvaxovid.
4. No Consultório, sugere-se e justifica-se uma diferença de grafia entre afro-americano e afroamericano, explicitando os sentidos que se poderão associar a cada palavra. Noutra resposta, aborda-se, mais uma vez, a questão da identificação da natureza do pronome clítico se. Para além destas respostas, a nova atualização aborda ainda topónimos da Ucrânia, a grafia do termo «forma sonata», verbos derivados de prazer, a presença do pleonasmo em «pequeno pormenor» e a classificação da palavra que em «o silêncio assume a mesma importância que pode ter a música».
5. Acompanhando os múltiplos eventos que têm lugar para celebrar o centenário do nascimento de José Saramago, o Museu da Língua Portuguesa, situado em São Paulo, dedica o mês de março à Jornada Saramago, propondo leituras e reflexões em torno das obras do autor. No dia 24 de março, a escritora brasileira Andréa del Fuego dinamizará uma sessão de leitura acompanhada da obra O Evangelho segundo Jesus Cristo, um evento que poderá ser acompanhado no Facebook e no canal do YouTube do Museu, a partir das 19h.
6. Assinalou-se a 21 de março o Dia Mundial da Poesia. Um pouco por todo o lado, celebrou-se poder da palavra e a sua importância como veículo de cultura e meio de comunicação e reflexão sobre os mundos interior e exterior. Também neste espaço deixamos a nossa homenagem à língua e ao labor da língua, capaz de trazer à tona as suas formas mais belas. Fazemo-lo partilhando, com a devida vénia, um poema inédito do poeta e teólogo José Tolentino de Mendonça (divulgado no jornal Público):
As palavras são legíveis numa face, ilegíveis noutra
nenhuma das nossas frases sozinha quer dizer alguma coisa
o aparecer do mundo não se dá na transmissão de um significado
que se altera mas no movimento desapropriador, na passagem
outras espécies ouvem outros sons, veem outras cores
semeiam com a semente uma chama
um nome ilimitado exposto ao risco da perda
e aos seus arranjos recíprocos
onde a mais alta força se combina com a fragilidade extrema
e essa é a língua matinal do pensamento
nós porém iludidos cremos ainda na redução
como se fosse a redução toda a ciência possível
Não se trata de saber o que é
cheio de passado para colorir o presente
o destino revela-se surpreendente ainda
devemos antes interrogar a inocência
a sua mão de dedos mutilados sobre a parede:
será uma folha intacta menos folha do que uma folha devorada?
não haverá outras hipóteses para o fotograma das formas
e mil modos inéditos de amotinar a vida?
se fizéssemos um registo integral, camada a camada,
se parássemos a escutar uma única e solitária voz humana
no seu esplendor secreto, na sua incandescência, no seu dilúvio mais recuado
recomeçaríamos a história do mundo
Só o ato de se desnudar cumpre a mutação
pois crê no prodígio
e procura-o
Ocasião também para recordar o poeta Gastão Cruz, recentemente falecido (1941-2022). Autor de inúmeras obras poéticas e tradutor de autores como Blake ou Shakespeare, dedicou a vida à literatura e à cultura, tendo sido agraciado com diversos prémios, como o Grande Prémio de Poesia Maria Amália Vaz de Carvalho.
1. A respeito da guerra na Ucrânia, fala-se nas sanções financeiras e económicas de vários países – dos Estados Unidos ao Japão, passando pelos Estados da União Europeia – contra a Federação Russa. Palavra recorrente nestes dias é, por exemplo, o anglicismo default (no contexto financeiro, o mesmo que «incumprimento de pagamento»[*]), como ilustram dois títulos da comunicação social em Portugal: "Rússia pode entrar em default nas próximas semanas" (ECO, 15/03/2022); "Rússia tenta evitar default e dá ordem para pagar juros da dívida em dólares" (Observador, 16/03/2022). É curioso ver como no corpo das notícias assim intituladas ocorre depois o termo português equivalente: incumprimento (cf. Linguee). Do ponto editorial e gráfico, as sete letras da palavra inglesa terão vantagem sobre as treze do vocábulo português; mas convém lembrar que incumprimento é palavra bem conhecida em Portugal, quando se tornou frequente como forma de designar a situação de dívida pública que em abril de 2011 levou a um pedido de ajuda ao Fundo Monetário Internacional. Sobre a grafia e pronúncia de incumprimento, releia-se o que se escreveu há uma década no Pelourinho.
[* N.E. (22/03/2022) – No Brasil, é corrente o termo inadimplência.]
2. À guerra, junta-se a pandemia, afinal ainda presente na atualidade, com a China a enfrentar recordes nos casos de infeção e a aplicar novas restrições, como o confinamento de 37 milhões de pessoas, três anos depois de o SARS-CoV-2 ter sido detetado no país no final de 2019, em Wuhan. Em Portugal, prolonga-se até 30 de março de 2022 a situação de alerta, o nível mais baixo dos três estados previstos na Lei de Bases da Proteção Civil. A rubrica A Covid-19 na língua dá conta destas situações com duas novas entradas: alerta e «confinados na China».
3. Diz-se «intimo alguma coisa a alguém» ou «intimo alguém a alguma coisa»? No Consultório, esclarece-se esta dúvida e outras cinco: o que é uma preposição acidental? A enumeração, como recurso estilístico, também pode envolver orações? É possível empregar bicamarário como sinónimo de bicameral? Qual é o valor aspetual de uma frase como «venho acompanhando esta obra desde os seus primórdios»? Finalmente, volta-se a comentar um caso mais complicado do uso das preposições quando introduzem orações de infinitivo.
4. Em O Nosso Idioma, transcreve-se com a devida vénia a crónica que o jornalista Nuno Pacheco, no Público de 17 março de 2022, dedicou ao mais recente livro do linguista e escritor Fernando Venâncio, O Português à Descoberta do Brasileiro (Guerra e Paz, 2022). Na mesma rubrica, um apontamento de Sara Mourato comenta a aplicação referencial da palavra grupo.
5. Registos da atualidade:
– Em Timor-Leste, realizam-se em 20 de março 2022 as eleições presidenciais, que contam, segundo as notícias, com os maiores números de sempre, tanto de eleitores como de candidatos (ler aqui).
Relativamente à situação linguística de Timor-Leste, consultem-se os seguintes artigos: "A língua portuguesa em Timor-Leste", "Língua portuguesa e Timor Leste", "O português de Timor-Leste: uma verdadeira língua nacional?", "Timor-Leste, tétum, português, língua indonésia ou inglês?" e "Timor e a língua portuguesa".
– A visita oficial de Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República Portuguesa, a Moçambique, de 17 a 20 de março de 2022 (ler aqui).
Moçambique é um país multilingue, realidade que tem sido objeto de notícia e reflexão em textos em arquivo no Ciberdúvidas: "Dialetos de Moçambique", "Sobre o português de Moçambique", "A vitalidade do português de Moçambique" e "Dicionário do Português de Moçambique (DiPoMo)".
6. Entre os programas da rádio pública de Portugal sobre temas da língua portuguesa, relevo para:
– Língua de Todos (RDP África, na sexta-feira, 18 de março, às 13h20*), com a participação da professora e divulgadora de temas gramaticais Sandra Duarte Tavares, que aborda a expressão «comunicação assertiva», a diferença entre as palavras positividade e positivismo e o neologismo agnotologia.
– Páginas de Português (Antena 2, domingo, 20 de março, às 12h30*), onde se conversa sobre a comemoração dos 450 anos da publicação de Os Lusíadas com José Carlos Seabra Pereira, professor associado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. A propósito do âmbito do conflito na Ucrânia, esta emissão inclui ainda a crónica da professora Carla Marques a respeito das palavras refugiado e migrante.
– O uso da língua nos tribunais é o tema que preenche as emissões de 21 a 25 de março do programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2 (segunda a sexta, às 09h50* e 18h50*).
* Hora oficial de Portugal continental.
1. O atual conflito na Ucrânia continua a fazer vítimas, a provocar saídas em massa do país e a deixar um rasto de destruição atrás de si. A situação vai exigindo que países não envolvidos tomem posição relativamente aos acontecimentos que se vão sucedendo, alguns dos quais poderão implicar crimes de guerra. A própria ameaça de uma intervenção nuclear não deixa ninguém indiferente face a consequências que poderão atingir toda a humanidade. Algumas organizações internacionais e certos países vão oscilando entre posições de neutralidade e de imparcialidade. Convém aqui recordar que estas palavras designam realidades distintas: a neutralidade é a qualidade daquele que não se declara nem a favor nem contra, não se associando a nenhuma posição; já a imparcialidade descreve a atitude daquele que age e/ou julga de forma justa, não favorecendo uma posição em detrimento de outra. A diferença entre os termos mostra que a realidade que se vive não pede neutralidade, mas antes imparcialidade na forma como se julgam os responsáveis pelo cenário de guerra patente na Ucrânia. Terá sido este o contexto que levou países como a Suíça ou a Suécia a reverem as suas históricas posições de neutralidade. É também a neutralidade, neste caso da Ucrânia, que a Rússia apresenta como uma das exigências para o cessar-fogo.
Primeira imagem: Êxodo II, de Lasar Segall, 1949
2. Entretanto, outras guerras seguem o seu curso, um pouco esquecidas pela comunicação social, que assumiu a guerra entre a Ucrânia e a Rússia como tema principal (e muitas vezes, único). No Afeganistão, o conflito vai deixando rasto nos próprios habitantes, que enfrentam atualmente uma situação generalizada de desnutrição, como sintetiza a expressão «Afegãos famintos», a nova entrada de O Afeganistão de A a Z.
3. No Consultório, procura-se um verbo derivado do nome monólatra, numa relação de derivação semelhante a de idólatra – idolatrar. Não se encontra, todavia, um registo que ateste o uso de uma forma como "monolatrar", apesar de poder constituir um verbo corretamente formado do ponto de vista morfológico. Para além desta resposta, a atualização trata ainda o uso da palavra géneros, os significados de educativo vs. educacional e de raiva, rancor e ressentimento. Propõe-se também uma tradução para o termo subjectivation (do francês) e uma reflexão sobre o uso correlativo de tempos do passado.
4. O uso pouco rigoroso dos termos informante e informador motiva um apontamento para a rubrica Pelourinho, da autoria de José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, onde se chama a atenção para traduções pouco rigorosas.
5. A professora universitária Margarita Correia reflete, no seu artigo, sobre a importância de se conceder à educação o valor que ela merece, sobretudo no que respeita à formação de professores de português, que começam a escassear em consequência da desvalorização política e social da carreira (aqui transcrito com a devida vénia).
6. As falsas teorias da conspiração chegam também ao estudo da língua quando se afirma que o português tem origem no grego antigo. Esta e outras ideias do campo do fantástico são desmistificadas pelo professor e tradutor Marco Neves no artigo que aqui se transcreve com a devida vénia.
7. O almofariz é um objeto com um uso que se estende a diferentes civilizações ao longo de muitos séculos. É o que nos conta José Augusto Barroso, oficial de Justiça (aposentado), num texto de apresentação da exposição dedicada ao tema.
8. O Brasil completa, a 7 de setembro de 2022, 200 anos da sua independência, uma data que se comemora e recorda ao longo do presente ano. Este é o mote de uma entrevista ao ministro dos Assuntos Exteriores do Brasil, Carlos França, no diário português Publico do dia 13//03/202, conduzida pela jornalista Isabel Lucas.
1. A situação na Ucrânia abala a Europa e repercute-se noutras regiões do mundo, sempre numa escalada inquietante, não só militar mas também mediática. A atualidade noticiosa vista, ouvida ou lida oscila entre a informação e a propaganda, e mesmo as palavras, seja qual for a língua, se tornam pretexto para intensificar o conflito. Vocábulos como guerra e invasão, por exemplo, podem ser rejeitados – na perspetiva russa, trata-se de uma «operação militar especial» – ou rasurados, entre acusações de notícias falsas. Podem igualmente gerar equívocos, como foi o caso de notícias segundo as quais a ONU teria ordenado aos seus funcionários que os evitassem, instrução que, afinal, não se terá verificado e que foi posteriormente desmentida pela própria organização. Mas as imagens são de guerra, e, portanto, são recorrentes o léxico e a fraseologia de referência bélica nos noticiários e na opinião publicada. É este o mote para, em O Nosso Idioma, a professora Carla Marques dedicar um apontamento às marcas – palavras e provérbios – que este (triste) tema deixa também na língua portuguesa.
2. Diz-se «tomar da palavra» ou «tomar a palavra»? A segunda forma é a correta, de acordo com a explicação dada numa das novas respostas em linha no Consultório. São ao todo sete dúvidas, que abrangem as possibilidades combinatórias dos pronome átonos, a construção de uma réplica discordante, as orações condicionais com o verbo no indicativo, o significado da expressão «literatura de cordel», a origem da palavra blusa e o uso dos termos explicitude e implicitude.
3. Na rubrica Diversidades, transcrevem-se, com a devida vénia, dois textos de duas publicações digitais: do jornal Setenta e Quatro (10/03/2022), um ensaio do antropólogo Miguel Vale de Almeida, que critica a sobrevivência em Portugal das teses do chamado lusotropicalismo, propostas por Gilberto Freyre (1900-1987) e que foram especialmente úteis para a legitimaçáo do colonialismo português; do blogue Certas Palavras (14/10/2018), um apontamento do tradutor e divulgador de temas linguísticos Marco Neves, que dá a conhecer a relação do papiamento da ilha de Curaçau com outras línguas crioulas de base lexical portuguesa.
Na imagem, pormenor de biombo namban (Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa).
4. Registos de iniciativas diplomáticas ou académicas com interesse para quem é estudante e se move no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP):
– A ratificação, em 7 de março p. p., do acordo de mobilidade da CPLP pelo Brasil, cujo ministro das Relações Exteriores brasileiro, Carlos Alberto França, em declarações à imprensa, colocou Portugal entre as parcerias prioritárias.
– As formações em competências transversais (no mundo empresarial conhecidas pelo anglicismo soft skills) promovidas pela Academia Soft Skills do Instituto Superior e Contabilidade da Administração de Lisboa (ISCAL).
– O lançamento da segunda edição de um concurso de fotografia para arquitetos e estudantes, pelo Conselho Internacional dos Arquitectos de Língua Portuguesa (CIALP). "Ser Sustentável no Espaço Lusófono" é o tema deste concurso, cujo júri inclui arquitetos de Angola, Brasil, Macau, Moçambique e Portugal. Inscrições até 17 de março de 2022.
– O seminário "Políticas e práticas linguísticas e de literacia", que se realiza no Iscte-Instituto Universitário de Lisboa (auditório B1.03, Ferreira Almeida, Edifício II), em 15 de março de 2022, 15h00-17h30 (hora de Lisboa). Trata-se de um evento híbrido (presencial e em linha), em que se propõe um debate à volta das «formas de representação de diferentes autores de língua portuguesa e as suas variedades, e a ausência de autores negros na sociedade portuguesa, a começar pela escola» (ver também aqui).
5. Nos programas de rádio produzidos pela Associação Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa, são temas em destaque:
♦ Para falar de um projeto desenvolvido pela Universidade Autónoma de Lisboa (UAL) – a aplicação móvel Gogenius, para aprendizagem assistida do Português como Língua Segunda e como Língua Estrangeira – Sandra Figueiredo, professora da UAL, é a convidada de Língua de Todos, programa transmitido pela RDP África, na sexta-feira, 11 de março, às 13h20*.
♦ A respeito do Caderno de Práticas Teatrais para a Aprendizagem da Língua, um lançamento de 2022 com o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian, participam as autoras deste livro, Sofia Cabrita, atriz e encenadora, e Isabel Galvão, professora de Português Língua Estrangeira do Centro Português para os Refugiados (CPR), em Páginas de Português, um programa da Antena 2 emitido no domingo, 13 de março, às 12h30*. Intervém ainda a professora Sandra Duarte Tavares, dando mais uma achega acerca da etimologia da palavra guerra.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. O conflito entre a Rússia e a Ucrânia continua a ocupar o primeiro plano do interesse mediático, trazendo ao mundo imagens chocantes que evocam outras, de má memória, e que ainda não perfizeram sequer um século. A União Europeia, em reação à agressão russa, vai impondo medidas restritivas contra a Rússia. Algumas delas visam especificamente figuras poderosas que mantêm ligações estreitas com o governo de Vlamidir Putin ou que até o financiam. São sanções, de diferentes naturezas e âmbitos, dirigidas a diferentes setores, entre os quais se destacam os oligarcas russos. Este termo, a par de oligarquia e oligárquico, é pouco frequente no léxico quotidiano português, pelo que merece uma análise etimológica e semântica, percurso que o coordenador executivo do Ciberdúvidas Carlos Rocha desenvolve neste seu apontamento. A esta nota vem juntar-se ainda o esclarecimento relativo à prolação do nome da capital ucraniana, que poderá ter três grafias: Quieve (forma portuguesa), Kiev (forma russa) e Kyiv (forma ucraniana) (ver aqui).
O decurso da guerra traz também palavras do léxico comum para primeiro plano, dando-lhes um sentido particular pelas referências à realidade que evoca. É o caso do verbo resistir, que descreve a atitude de muitos ucranianos que optam por ficar nas suas localidades, defendendo o solo pátrio, se necessário em troca da própria vida. Pela importância que a palavra assume, a professora Carla Marques dedicou-lhe a crónica apresentada no programa Páginas de Português, da Antena 2 (aqui transcrita).
2. A atenção mediática dedicada à covid-19 encontra-se em queda, e, no atual momento, vive-se a esperança de que seja possível avançar para um cenário de fim de pandemia. Dessa vontade encontramos registo na frase proferida pelo primeiro-ministro português António Costa: «À beira de nos podermos libertar, mas...», expressão à qual se junta a palavra covídeos, ambas novas entradas em A covid-19 na língua.
3. No Consultório, divulgam-se as novas perguntas, que constituem a atualização: a diferença entre impressionante e impressivo; a ordem dos elementos que constituem os adjetivos pátrios compostos, os significados e a etimologia de roxina e de milgrada, a antítese na frase do conto "George", de Maria Judite de Carvalho, um caso de coesão por contiguidade e a classificação do verbo vir.
4. O professor universitário e tradutor Marco Neves enceta uma viagem às línguas que se falariam em Portugal em tempos remotos, destacando o facto de o panorama linguístico dessas épocas ser dominantemente plurilingue (artigo transcrito com a devida vénia).
5. O Dia Internacional da Mulher é celebrado anualmente a 8 de março. Este é um dia que evoca a manifestação de 20 de fevereiro de 1909, em Nova Iorque, pelos direitos das mulheres e, em particular, pelo acesso ao voto, uma luta pelo direito à igualdade que, em muitos países, continua a ser necessária. O Ciberdúvidas tem divulgado muitos textos dedicados à questão das mulheres no plano linguístico. Recordamos, aqui, por exemplo, os que se relacionam com as profissões/atividades que ainda não apresentam forma feminina: «As mulheres e o nome das atividades que exercem», «A propósito do feminino de procurador-geral da República», «Sobre o uso da forma presidenta no Brasil e em Portugal», «O sexo das profissões», «O sexo e a língua», «Palavras à procura do feminino» e «As muitas faces (linguísticas) da mulher».
6. Os Encontros Mensais sobre o Discurso Académico (EMDA) contarão esta quarta-feira, dia 9 de março, entre as 18h e as 19h30, com a presença da investigadora da Universidade do Porto Mônica Inês de Castro Netto, que apresenta uma comunicação subordinada ao tema «Contributo dos marcadores discursivos para a textualização do gênero memorial» (evento de acesso livre, via plataforma Zoom ou Youtube).
1. A guerra na Ucrânia domina a atualidade, instalando-se no quotidiano com imagens e palavras mais que preocupantes. Na cobertura mediática dos terríveis acontecimentos, ressurgem em Portugal velhas incorreções a pedirem renovada correção e vigilância. Assim, relembrando, para evitar mais erros:
– Relativamente a evacuação, é este nome, como o verbo evacuar, apenas aplicável a espaços, e não a pessoas. Está, portanto, errada a seguinte sequência: «O primeiro-ministro afirmou hoje que Portugal tem um plano de evacuação de cidadãos portugueses e luso-ucranianos da Ucrânia [...]» (agência Lusa, 24/03/2022). Boa alternativa são formas como «plano de retirada/transferência de cidadãos» ou «plano de evacuação para retirada/transferência de cidadãos». O Ciberdúvidas tem desaconselhado este uso muito controverso: "Evacuar indivíduos?" e "Evacuação".
– Acerca dos Acordos de Minsk, celebrados em 2015 e agora nulos, ouviu-se a pronúncia errónea "acórdos", com o tónico aberto, quando a forma correta é "acôrdos", com o tónico fechado (ouvir como se pronuncia bem e depois mal este plural numa mesma peça da RTP, aqui, em 22/02/2022). No Consultório e no Pelourinho, tem-se insistido na necessidade de corrigir este aspeto.
– Sobre o contraste entre humanitário e humano, um título informa que «Comissário alerta para crise humanitária de "proporções históricas"» (Notícias ao Minuto, 27/02/2022), com uma frase que exibe a expressão «crise humanitária», de correção muito discutível e, portanto, não preferível a «crise humana». Registem-se, a propósito, as expressões corretas «corredor humanitário» (ver Infopédia e aqui) ou «ajuda humanitária» (ver Priberam), em que o adjetivo figura com adequação, no sentido genérico de «que procura o bem da humanidade». Ao longo dos 25 anos do Ciberdúvidas, foram muitas as ocasiões em que se comentaram os usos de humanitário; por exemplo, em "Humanitário e humano" e "Quando é que um drama pode ser 'humanitário'?".
– Relembra-se, por último, que o uso de OTAN (no Brasil e em quase* todos os países latinos, incluindo em Portugal) é preferível ao da sigla inglesa NATO, que, surgida nos países anglófonos, se tem tornado recorrente na imprensa portuguesa, numa cedência à pressão anglicista, situação já abordada no Ciberdúvidas, em "NATO ou OTAN?" e "O capitulacionismo à OTAN".
* Em Itália, usa-se a sigla inglesa NATO, muito embora a denominação completa seja italiana – Organizzazione del Trattato del Nord Atlantico –, como evidencia a Enciclopédia Treccani (consultada em 4 de março de 2022).
2. Quotidiana também se tornou a preocupação com a covid-19, desde que se foi dando conta da desta doença em finais de 2019. Em 2 março de 2022, assinalou-se o segundo ano da identificação, em Portugal, dos primeiros dois casos de covid-19; e, em 11 de março de 2022, perfazem-se dois anos da declaração de pandemia pela OMS. «Ano dois» é, portanto, uma das novas entradas da rubrica A Covid-19 na língua, que recebe igualmente as expressões «doença sazonal», relativa à previsão segundo a qual a doença provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2 passará a ser sazonal, e Stalkerware, uma aplicação que serve para espiar o que outros fazem em linha, sobretudo parceiros românticos.
3. São sete as novas perguntas disponíveis no Consultório, a respeito da (im)possibilidade de crase de a com o artigo a no começo de oração; o significado do adjetivo restrito; a regência da locução «ter pressa»; a sigla de «Campeonato Africano das Nações»; a forma de catalão em palavras compostas; o valor condicional da conjunção copulativa e; e o uso reflexo de propor-se.
4. Na Montra de Livros, apresentam-se duas obras: Falar(es) Bracarense(s). Janelas da transformação de um espaço rural, de José Teixeira (Edições Húmus, 2021), cujo caráter inovador assenta na introdução de pesquisa linguística em espaço urbano, desenvolvida na cidade de Braga, com o objetivo de preservar a memórias de falares bracarenses; e Verbos no Passado – 100 exercícios com explicação, da autoria de Diana Oliveira e Sofia Rente e editado pela editora Lidel, que tem por objetivo facilitar a aprendizagem dos tempos verbais do passado do modo indicativo no contexto do Português como Língua Estrangeira (PLE).
5. Em O Nosso Idioma, disponibiliza-se uma crónica da linguista brasileira Edleise Mendes (Universidade Federal da Bahia), que assinala a reabertura do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, ocorrida em 31 de julho de 2021. Texto dito pela autora na emissão do programa Páginas de Português pela Antena 2, em 27 de fevereiro de 2022.
6. Entre os programas de rádio que, na rádio pública de Portugal, são dedicados à língua portuguesa, relevo para:
– Língua de Todos (RDP África), cuja emissão de sexta-feira, 04/03/2022 (às 13h20*) se centra no Duvidário: 100 dúvidas da língua portuguesa, um instrumento de consulta elaborado na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria, para ajudar os falantes do idioma;
– Páginas de Português (Antena 2 ), que, no domingo, 06/03/2022, 12h30*, dá destaque à aplicação Gogenius, criada pela Universidade Autónoma de Lisboa (UAB) para a área de Português como Língua Segunda e Língua Estrangeira, e inclui uma crónica da professora Carla Marques dedicada ao verbo resistir, que caracteriza a ação de muitos ucranianos nos tempos que vivemos.
– Palavras Cruzadas (Antena 2 ), um programa diário realizada por Dalila Carvalho na Antena 2, onde, de 7 a 11 de março, o convidado é Jaime Nogueira Pinto, politólogo, professor, analista político português, para falar da linguagem política (segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50*).
* Hora oficial de Portuga continental
1. Tal como se esperava, às primeiras horas da madrugada de 24 de fevereiro, teve início a invasão da Ucrânia pelas tropas russas, que, no mesmo dia, tomaram a central nuclear de Chernóbil e, a 25 de fevereiro, cercavam já a capital Kiev. Esta ação militar foi descrita pelo presidente russo Vladimir Putin como tendo o objetivo central de «desnazificar» a Ucrânia – neologismo usado na justificação do que chamou de «operação militar especial»: «Defender as pessoas que há oito anos sofrem perseguição e genocídio pelo regime de Kiev». Por seu turno, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky entende esta ofensiva como uma «guerra de agressão», tal como é considerada pela maioria dos países ocidentais.
Primeira imagem: Banksy, grafitti de uma pomba em armadura de corpo, numa parede em Belém, Palestina.
2. Ao mesmo tempo que se assiste ao início de uma guerra na Europa, o planeta encontra-se ainda a braços com o problema da covid-19, cuja evolução reclama continuamente novas medidas e intervenções. Em Portugal, redefinem-se as regras relativas ao isolamento e aos testes a realizar («Isolamento + testes»), enquanto noutros países continuamos a encontrar manifestações antivacinas, como a de George Becali, presidente do Steaua de Bucareste, da Roménia, que proibiu os jogadores do seu clube de receberem a vacina contra a covid-19 («presidente antivacinas»). Já no Brasil, promove-se uma a reação contra a campanha de desinformação que anuncia o final da pandemia e os efeitos negativos da vacina em crianças («Criminoso»). As três expressões assinaladas constituem as três novas entradas em A Covid-19 na Língua.
3. As questões que chegaram ao longo da semana ao Consultório do Ciberdúvidas denotam uma tendência para dúvidas relacionadas com a distinção entre classes de palavras (nome vs. adjetivo), funções sintáticas (complemento de nome vs. modificador do nome) ou relativas à classe a que pertence uma palavra, como pouco. Outro conjunto de questões incide sobre a correção de estruturas como «de até», "em referente a" (que deverá ser substituída por «no referente a») ou da frase «61% dos portugueses não leram um só livro no último ano».
4. A morfologia é um domínio bastante complexo para qualquer estudante de língua portuguesa. Se se tratar de um estudante de Português Língua Estrangeira, as dificuldades serão ainda mais acrescidas. Não obstante, a compreensão de alguns fenómenos de formação de palavras, no âmbito, por exemplo, da derivação poderá revelar-se um instrumento útil na aprendizagem da língua, como explica neste apontamento Inês Gama, colaboradora do Ciberdúvidas.
5. O conflito entre a Rússia e a Ucrânia tem também implicações sociolinguísticas, que podem inclusive relacionar-se com questões de solidariedade e união, as quais levam a equacionar a importância da língua e da cultura na união de um país. É o caso do artigo de Renato Epifânio, professor universitário e presidente do Movimento Internacional Lusófono, texto que aqui transcrevemos com a devida vénia.
6. Das sonoridades das línguas portuguesa e ucraniana à questão do bilinguismo e suas consequências sociais e políticas, escreve o tradutor Serge Lunin, num artigo aqui transcrito, com a devida vénia, e divulgado originalmente no blogue Certas Palavras do professor universitário Marco Neves.
7. Nos programas da rádio pública portuguesa relacionados com a língua, abordam-se os temas do ensino do português como língua não materna (Língua de Todos, da RDP África*) e a importância do ensino do latim para a aprendizagem do português (Páginas de Português, da Antena 2**). O programa Palavras Cruzadas, igualmente na Antena 2, convida Carmo Jardim, antiga paraquedista e fundadora da SIM – Solidariedade Internacional a Moçambique***.
8. Devido ao feriado no dia de Carnaval, 1 de março, a próxima atualização do Ciberdúvidas tem lugar apenas na sexta-feira, 4 de março.
* sexta-feira, 25 de fevereiro, às 13h20, com repetição no dia seguinte, pouco depois do noticiário das 09h00 (hora oficial de Portugal continental).
** domingo, 27 de fevereiro, às 12h30, com repetição no sábado, 5 de março, às 15h30 (hora oficial de Portugal continental).
*** de segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50 (hora oficial de Portugal continental).
1. A atualidade na Europa continua marcada pela crise russo-ucraniana, com a Federação Russa a reconhecer as repúblicas separatistas de Lugansk e Donetsk, na Ucrânia, gesto político formalizado em 21 de fevereiro de 2022. Na declaração que fez, o presidente Putin defendeu uma visão histórica que remonta a Catarina a Grande e a Lenine, considerando a queda do Muro de Berlim uma catástrofe geopolítica a reparar, começando pela Ucrânia (anexação?) e deixando adivinhar o recuo da fronteira oriental da OTAN a limites, se não iguais, próximos dos de 1989. Mencionar a palavra guerra torna-se, portanto, redundante, porque fica patente a escalada bélica, confirmada pela ativação mediática de vocábulos em seu torno. Em O Nosso Idioma, evidencia-se a constituição desse campo lexical, que, em português, conjuga duas heranças linguísticas, a germânica e a latina, conforme aponta a professora Carla Marques. Nesta rubrica, a mesma consultora, com Carlos Rocha, comenta algumas das palavras que são notícia: desde neologismos como putinologia aos topónimos envolvidos nesta crise – por exemplo, nomes geográficos com forma portuguesa estável como Ucrânia ou Crimeia e outros sem tradição em português, caso de Donbas (ucraniano) ou Donbass (russo).
Na imagem, "Aldeia à beira do rio" (1900), de Serhii Vasylkivsky (1854-1917). Fonte: Internet Encyclopaedia of Ukraine.
2. Entretanto, vários países, incluindo Portugal, levantam ou atenuam ainda mais as medidas sanitárias restritivas perante o que parece um recuo significativo da pandemia. Sobre o tema, a rubrica A covid-19 na língua inclui três novas entradas: antibióticos, relativamente à redução do consumo de antibióticos em Portugal, favorecida pelo novo coronavírus; faseamento, termo recorrente na referência ao combate da covid-19; e SILBA (abreviação da expressão científica inglesa SARS-CoV-2 Inactivated for Lung B and T cell Activation), um acrónimo que denomina a vacina portuguesa, administrada por inalação, ainda em fase de ensaios clínicos na biotecnológica Immunethep.
3. Quando se diz «quero crer na paz», fala-se daquilo em que se acredita ou do que se deseja? A pergunta diz respeito a um tipo de modalidade – a modalidade desiderativa – e tem resposta no Consultório. Outras perguntas: a frase «juntei o feijão na água, quando entra pela janela o mais belo pássaro» configura um erro de concordância temporal? Qual é o sujeito de «o assassino era o escriba»? Pode-se omitir o de da locução «antes de»? Qual a origem da preposição desde?
4. Em Diversidades, transcrevem-se com a devida vénia dois artigos: um do professor universitário Paulo Batista Ramos, sobre a terminologia associada ao cibercrime (revista Sábado, em 17 de fevereiro de 2022); e outro da linguista e professora universitária Margarita Correia, para assinalar o Dia Internacional da Língua Materna, comemorado a 21 de fevereiro (ver Diário de Notícias).
5. Nas Controvérsias, disponibiliza-se mais um contributo sobre as relações da gramática com as representações de género, do professor Carlos Ascenso André (página pessoal do Facebook, em 13 de fevereiro de 2022), que se pronuncia sobre a forma "presidenta" e sobre o masculino plural.
1. Enquanto ao longe se ouvem os ecos de guerra, a Europa vai procurando retomar a antiga "normalidade". Gradualmente, trilha-se o caminho que levará «de pandemia a endemia», que abre espaço ao gradual abandono das medidas impostas pelos diferentes governos, pelo facto de se considerar que a situação evoluirá no sentido de a doença tender a aparecer em determinadas regiões com um número de casos controlados. Em Portugal, esta nova conceção está na base do mais recente pacote de medidas, que aponta para um conjunto de passos seguros na forma como se lida com a realidade sanitária. Por essa razão, considera-se que o país se encontra no momento no «nível 1 da pandemia», estando o vírus a fazer um percurso que o levará a ser considerado como um «vírus endémico», o que prefigura a possibilidade de a covid-19 vir a ser tratada como uma doença sazonal. São três novas entradas na rubrica A covid-19 na língua.
2. Com a aproximação da época do Entrudo chegam ao Consultório do Ciberdúvidas questões que evocam temas relacionados com o período festivo, relacionadas com os verbos carnavalear, carnavalar e carnavelejar e com uma deturpação lexical presente na letra de um samba da cantora brasileira Clementina de Jesus. A estas respostas vêm juntar-se ainda as seguintes: "O uso frásico de opinar", "O nós de modéstia", "Nesse/desse vs. Naquele/daquele", "Humano e 'ser humano'", "A classe de palavras de conforme II" e "Tornar todos eles personagens".
3. Em Viana do Castelo, luta-se contra a escassez de mão de obra com um portal intitulado Work in Viana, o que evidencia um recurso injustificado ao inglês. Esta opção motiva uma nota para o Pelourinho, da autoria do jornalista José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
4. Na Montra de Livros, apresentamos o mais recente número da revista Palavras – Revista em Linha, editada pela professora universitária e linguista Margarita Correia. Esta publicação é dedicada ao tema do português como língua pluricêntrica e conta com a colaboração de diversos linguistas e de um conjunto de responsáveis políticos cuja ação tem incidência no tema em discussão.
5. Mais uma vez palavra guerra dá matéria à reflexão linguística. Desta feita, com a crónica do tradutor e professor universitário Marco Neves, na qual se identifica a origem da palavra e se passa em revista alguma da sua história linguística (aqui transcrita com a devida vénia).
6. Nas Controvérsias, regista-se a crónica da professora universitária Edleise Mendes, na qual a autora reflete sobre a avaliação do uso da língua como forma de discriminação, particularmente em ambiente digital (crónica difundida no programa Páginas de Português, da Antena 2).
7. Entre os eventos de interesse, destacamos:
— O 6.º Encontro Mensal sobre Discurso Académico (EMDA), orientado pela professora universitária Margarita Correia, que será dedicado ao tema da terminologia do discurso académico em português, com lugar no dia 23 de fevereiro, entre as 18h e as 19h30 (conferência digital de acesso livre– mais informações aqui).
— O espetáculo A Divina Comédia de Dante contada às crianças, que se realizará na Biblioteca Palácio Galveias, no dia 26 de fevereiro, pelas 11h e pelas 15h.
8. Os programas da rádio pública portuguesa dedicados ao português* centrar-se-ão na 2.ª Conferência Internacional das Línguas Portuguesa e Espanhola (CILPE 2022), trazendo à antena especialista que abordarão temáticas relacionadas com o evento (notícia). O programa Palavras Cruzadas** tratará questões linguísticas relacionadas com o futebol, trazendo à antena o antigo jornalista e comentador desportivo Fernando Correia.
*O Programa Língua de Todos, da RDP África será difundido na sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022, pelas 13h20, com repetição no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00; o programa Páginas de Português, na Antena 2 terá lugar no domingo, 20 de fevereiro, pelas 12h30, com repetição no sábado seguinte, 26 de fevereiro, às 15h30.
**de segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50
1. Para incredulidade de muitos, a palavra guerra "normaliza-se"* nas notícias a respeito da crise da Ucrânia, sinistramente evocativas das vésperas da Primeira ou da Segunda Guerras Mundiais. O presidente ucraniano sugere até que o ataque russo está agendado: será na quarta-feira, 16 de fevereiro. A sensação de absurdo e negatividade do ambiente europeu adensa, portanto, a grave crise mundial causada pela covid-19 e por grande turbulência social, a que agora se associam os protestos dos chamados «comboio(s) da liberdade» no Canadá, em França ou na Bélgica. Mesmo assim, em Portugal um ténue sinal de esperança parece vir da descida do índice de transmissibilidade do SARS-CoV-2 – diz-se mesmo que caiu «a pique» –, e a Direção-Geral de Saúde apela ao «reforço vacinal». Entretanto, a identificação da proteína N promete uma vacinação «eficaz e duradoura». As quatro expressões sublinhadas constituem, nesta atualização, as novas entradas da rubrica A covid-19 na língua.
* Sobre a origem de guerra, leia-se a publicação do tradutor e professor universitário Marco Neves em Certas Palavras em 14 de fevereiro de 2022. Sobre normalizar, é verbo que se tornou recorrente num sentido parafraseável como «aceitar ou referir de forma acrítica e anódina comportamentos sociais ou políticos inaceitáveis». Na imagem, de Meneses Ferreira, “Noite de S. O. S.”, João Ninguém, soldado da Grande Guerra. Impressões humorísticas do C. E. P., Lisboa, 1921 (fonte: Carlos Silveira, "A Arte em tempo de Guerra", A Guerra de 1914-1918).
2. O verbo imprimir tem dois particípios passados, ocorrendo a forma regular (imprimido) em tempos compostos («tinha imprimido») e a forma irregular (impresso) na voz passiva («foi impresso»). Mas não é verdade que se diz «foi imprimida grande dinâmica ao processo»? Será este uso incorreto? A resposta inclui-se no Consultório, num conjunto de questões que também abordam a sintaxe de verbos (evadir e alargar) e topónimos (denominações de arruamentos e edifícios), os valores semânticos associados às orações (por exemplo, introduzidas por «mesmo quando» ou «ainda quando») e a opção entre variantes («até acima» vs. «até cima»).
3. O princípio de objetividade e isenção da linguagem mediática tem sido comprometido pela proliferação de conteúdos desinformativos e manipuladores. No Ciberdúvidas, transcrevem-se, com a devida vénia, duas crónicas da linguista Margarita Correia centradas neste tema: a primeira (Diário de Notícias, 7 de fevereiro de 2022) fica disponível em O Nosso Idioma e diz respeito a uma suposta intenção de substituir a palavra mãe por «pessoa lactante»; e a segunda (ibidem, 14 de fevereiro de 2022) inclui-se na rubrica Ensino e nela a autora critica a forma como, em Portugal, certo título noticioso deturpou o sentido de um relatório do Conselho Nacional de Educação.
4. Ainda em Portugal, acredita-se frequentemente que o país é linguisticamente muito uniforme. O retrato que o portal Ethnologue faz (com algumas incorreções, reconheça-se) não pode ser mais contrário a esta visão, conforme explicou o professor Marco Neves num apontamento publicado no Sapo 24, em 23 de maio de 2021 e no qual discutiu igualmente o valor que têm as línguas quando comparadas (ver Diversidades).
5. Há cem anos, a Semana de Arte Moderna, que decorreu em São Paulo entre 11 e 18 de fevereiro de 1922, revelava um Brasil moderno e artisticamente intrépido, pronto a ultrapassar limites, mesmo que tal implicasse pôr em causa convenções, como as do modelo de língua literária oitocentista. A efeméride tem, naturalmente, sido assinalada com vários eventos no Brasil, mas Portugal também não fica alheio ao aniversário. Registe-se, por exemplo, o colóquio sobre o Modernismo brasileiro realizado na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, em 15 de fevereiro de 2022, das 14h30 às 19h30.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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