Um livro publicado em 2016, que resulta da adaptação de uma tese de doutoramento defendida em 2015 na Universidade de Évora. O autor é professor da Escola Superior Pedagógica do Bengo (Caxito, Bengo, Angola).
No prefácio, a orientadora do trabalho, Ana Paula Banza, docente na referida universidade, considera o trabalho como um contributo para a reflexão sobre as áreas da gramática em que «[...] é (mais) visível a originalidade da variedade angolana, com o objetivo de verificar a hipótese de que se possa já falar de uma norma específica de Angola (PA), a par da norma do Português europeu (PE) e da do Português do Brasil (PB)».
A obra compreende uma introdução e sete capítulos, cujos títulos revelam sem hesitação os respetivos conteúdos, sempre à volta do contexto histórico e da fundamentação empírica que valida a tese de já existir uma norma da língua portuguesa: "1. Condicionamento sócio-histórico" (pp. 19-29), "2. Panorama linguístico" (pp. 31-60), "3. Revisão bibliográfica (pp. 61-67), "4. Mudança e variação linguística" (pp. 69-100), "5. Metodologia de Trabalho", "6. Resultados da investigação" (pp. 101-201) e "7. A língua portuguesa em Angola. Perspetivas de futuro" (pp. 203-206).
São de destacar as conclusões do 6.º capítulo, onde se identificam os padrões morfossintáticos (p. ex., "lheísmo", ou seja, lhe como pronome átono geral), fónicos (p. ex. ausência de redução no vocalismo átono, ao contrário do portuguès europeu) e lexicais (em que avultam os numerosos empréstimos vindos das línguas bantas). No 7.º e último capítulo, o autor, de forma muito sucinta, dá conta da singular complexidade da construção da norma em Angola, onde «[..] coexistem, de facto, duas normas, sendo uma real (a do Português de Angola), e a outra ideal (a do Português europeu), correspondente à língua oficial do Estado angolano» (p. 203), com o corolário de «[...] em Angola, ao contrário do que acontece em Portugal, um afastamento considerável entre a norma culta e a norma padrão» (ibidem).
Em suma, com este livro, Márcio Undolo revela a marca da forte personalidade das populações angolanas na apropriação da língua portuguesa. As tendências, pelo contacto com as línguas nacionais, parecem divergentes da modalidade europeia e mesmo da brasileira, mas o horizonte linguístico conscientemente definido é ainda e por enquanto o da unidade do idioma.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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