Farto de tropeçar em palavras e expressões inglesas [...] venho aqui desabafar esse meu enfado a propósito da mensagem do ministro dos Negócios Estrangeiros, publicada quinta-feira neste jornal [Públcio, 07/05/2022]. Eis o desabafo: li com sincero apreço, diria até com discreto orgulho a entusiástica mensagem do ministro, que visava celebrar o Dia Mundial da Língua Portuguesa: são inegáveis as «virtualidades como ferramenta de comunicação» da Língua Portuguesa, é notável a sua “plasticidade”, e com isso, mas não só, se tornou ela, no vasto universo dos seus falantes, «uma língua cheia de mundo». Mas ao ler com o devido carinho, também ri – ri à maneira do Caeiro, «como quem tem chorado muito» – por ver a alma (língua) lusa tantas vezes rejeitada onde e quando menos se esperava: digam-me dessa visita ao Quake, tremendo museu e espaço de imersão em Lisboa! Digam-me dessa descoberta do Open house Lisboa 2022, dedicado à promoção do «património edificado, bem como a sua história, de modo a aproximar os cidadãos da cidade» (sic)! E pague por contactless, e trabalhe «em home office» (assim falou quarta-feira um eminente político!), contribuindo dessa forma ao louvável (e eficaz) esforço do processo "task force".
Eu sei que andamos muito precisados do inglês, mas não podemos promover a Língua Portuguesa no mundo desprezando-a cá em casa.
["Cartas ao diretor", Público, em 7 de maio de 2022. Respeitou-se a norma ortográfica de 1945 do original.]
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