1. Em Portugal, apesar da pandemia, da grave crise ambiental e da ameaça bélica na fronteira russo-ucraniana, as atenções viram-se todas para o resultado das eleições legislativas de 30 de janeiro de 2022, que deram uma inesperada maioria absoluta ao Partido Socialista (PS). Dias antes, António Costa, secretário-geral do PS e primeiro-ministro do governo cessante e do próximo que se constituirá, considerava que «hoje em dia, a maioria absoluta não é um poder absoluto, é ter condições para governar», argumentando que, com Marcelo Rebelo de Sousa, o atual Presidente da República, ninguém acreditaria numa «maioria absoluta que pisasse o risco» (Expresso, 13/01/2022). À expressão metafórica «pisar o risco» depressa se associou no comentário político a figura que vigia e previne essa veleidade, como é o caso em declarações do politólogo e ex-ministro Miguel Poiares Maduro (ver "Nasce Marcelo III, o tutor da maioria absoluta", de Ana Sá Lopes, no Público, em 01/02/2022), que vaticina ao Presidente da República Portuguesa o papel de "tutor" da nova situação política. Sobre a palavra tutor, recordem-se os registos desde o século XIII (com as variantes titor e tetor) e a etimologia latina, de tutor, oris, «guarda, defensor, protetor, curador, tutor», do verbo do latim tardio tuere, «ter debaixo da vista, defender, proteger» (cf. Dicionário Houaiss). Da mesma raiz vem o vocábulo tutela (ibidem).
Entre respostas e artigos em arquivo, sugere-se também a leitura de "A etimologia de tutor", "Tutoria e tutório", "Tutorial", "Aulas de apoio tutorial", "O plural de aluno-tutorando" e "Tutelado".
2. Entretanto, da França, chegam notícias de que 232 dias constitui o máximo de duração do resultado positivo em testes à covid-19. Na Dinamarca, impôs-se o basta! às restrições sanitárias em vigor há praticamente dois anos, com o anúncio oficial de um plano para lhes pôr termo a partir de 1 de fevereiro de 2022 – o que faz deste país o primeiro da União Europeia a ter uma iniciativa do género, logo seguido da Finlândia, mais generalizadamente. Finalmente, a Organização Mundial de Saúde lança um alerta porque o aumento de resíduos médicos produzidos e distribuídos para o combate à pandemia estão a exercer uma pressão preocupante sobre os sistemas da sua gestão, ameaçando o ambiente e a saúde humana. São, portanto, três as novas entradas (em destaque) na rubrica A covid-19 na língua.
3. Ambas introduzem orações concessivas, mas será que a conjunção embora tem a mesma semântica que a locução «mesmo que»? A pergunta faz parte da atualização do Consultório, que inclui ainda questões acerca do feminino de mestre-escola, do significado do nome essa, do verbo caminhar e da sintaxe de haver.
4. Angola afirma cada vez mais a sua personalidade linguística no seio da CPLP, como evidencia o conjunto de estudos intitulado O Português de/em Angola – Peculiaridades Linguísticas e a Diversidade no Ensino (Opção Editora), obra apresentada na Montra de Livros.
5. Na rubrica O Nosso Idioma, transcreve-se, com a devida vénia, uma crónica bem-humorada de autoria do escritor Miguel Esteves Cardoso e incluída no jornal Público em 29 de janeiro, a respeito do uso idiomático do demonstrativo isso.
6. Um último registo para a primeira tradução de Os Lusíadas em língua árabe, um trabalho do professor Abdeljelil Larbi (Faculdade das Ciências Humanas e Sociais da Universidade Nova de Lisboa). Mais informação, aqui.
1. Dia 30 de janeiro realizam-se em Portugal as eleições legislativas antecipadas. Este momento político foi antecedido, como é habitual, por um período de campanha política onde se esgrimiram argumentos e onde não faltaram metáforas de natureza diversa, algumas das quais muito esclarecedoras quanto à intenção de quem as criou ou usou, como assinala a professora Carla Marques neste apontamento dedicado ao tema.
2. As descobertas científicas relacionadas com a covid-19 não param de evoluir. Desta feita, a comunidade científica veio revelar que a miocardite é 60 vezes mais grave em crianças infetadas com o vírus SARS-CoV-2 que não tenham sido vacinadas. Este termo passa, por esta razão, a integrar A Covid-19 na Língua e a ele juntam-se também «doença residente», fertilidade, superimunidade e «vacina contra a ómicron».
3. Ao Consultório chegam expressões e provérbios cujo significado se procura determinar. São elas «saco de gatos» e «três vezes na cadeia é sinal de força». Registamos ainda a resposta às seguintes questões: a expressão «banquete pantagruélico» é um pleonasmo? É correto dizer «continente australiano»? Fórmula 1 escreve-se com maiúscula ou com minúscula? A expressão «nos dias úteis» é correta? Existe diferença entre «passear pelo parque» e «passear no parque»? O que são estrofes simétricas?
4. Na rubrica Pelourinho, um título de jornal motiva um apontamento do cofundador do Ciberdúvidas José Mário Costa, dedicado ao uso de insonso, uma variante de insosso, ensosso ou ainda de insulso.
5. Entre os artigos relacionados com a língua, transcrevemos, com a devida vénia, os seguintes:
— A reflexão da professora universitária Margarita Correia sobre as questões de política da língua presentes nos programas eleitorais dos partidos políticos, no Diário de Notícias de 24/01/2022.
— A crónica do escritor Miguel Esteves Cardoso dedicada à pronúncia de dióspiro, in Público, de 27/01/ 2022.
— O artigo do jornalista Nuno Pacheco sobre as referências feitas pelos partidos políticos ao Acordo Ortográfico de 90 (ibidem).
6. Entre as propostas de interesse para a língua, destacamos a compilação de materiais didáticos disponibilizados pelo Instituto Camões e organizada pela Coordenação do Ensino do Português no Reino Unido e Ilhas do Canal, uma publicação destinada ao ensino-aprendizagem do português como língua de herança e como língua segunda. Referência ainda ao quiz Que palavras conheces de outros países de língua portuguesa?, dinamizado pela Associação de Professores de Português para o Jornal de Notícias.
7. Os programas da rádio pública portuguesa dedicados ao idioma oficial dos países da CPLP da semana presente têm como tema o ensino do português língua não materna (Língua de Todos, da RDP África, na sexta, 28 de janeiro, às 13h20*) e a linguagem inclusiva (Páginas de Português, na Antena 2, no domingo, 30 de janeiro, às 12h30*). Os chavões usados na comunicação estratégica dão tema ao Palavras Cruzadas (às 09h50 e às 18h50*, de segunda a sexta), que convida a jornalista Alexandra Abreu Loureiro.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. Em Portugal, a campanha para as eleições legislativas antecipadas aproxima-se do termo, já que 30 de janeiro é dia de sufrágio. Contudo, fazendo frente às contingências da pandemia, possibilitaram-se formas de voto antecipado, como a que decorreu em 23 de janeiro. Nesta data, a propósito do processo eleitoral, o programa de rádio Páginas de Português (Antena 2) incluiu um apontamento da professora Carla Marques sobre a etimologia do nome voto e a semântica do verbo correspondente, votar – texto também disponível em O Nosso Idioma.
2. As opiniões e as notícias continuam desencontradas no tocante ao evoluir da pandemia – ler aqui e aqui. Com a vacinação, perspetiva-se uma redução do número de fatalidades, apesar do fácil contágio da variante ómicron e de outras que eventualmente surjam. Fala-se, portanto, com alguma esperança da desejada situação de «imunidade geral», termo que, na presente atualização, dá entrada na rubrica A covid-19 na língua.
3. O famigerado gerúndio, forma verbal invariável, terminada em -ndo (amando, sabendo, sorrindo) e tantas vezes criticada, ocorre corretamente em construções frásicas que requerem alguma análise detida, mas longe de inacessível aos mais receosos das subtilezas da sintaxe. Numa nova resposta do Consultório, comenta-se precisamente um caso de oração de gerúndio (ou oração gerundiva), a par de outros quatro tópicos: ainda no âmbito sintático, a análise de «edifício da empresa»; no campo do léxico e da sua distribuição por registos linguísticos, a palavra caga-tacos (calão); na perspetiva da morfologia, a boa formação de subponderar e sobreponderar; e, no domínio da pontuação, o uso de pontos para destaque de palavras num parágrafo, a propósito de uma sequência do livro Um de nós mente de Karen M. McManus.
4. Virando a atenção para Angola, onde a questão da diversidade linguística do país tem tanta vitalidade como o debate à volta do português como língua nacional, justificam-se três registos:
– A publicação do número 8 da gazeta Lavra & Oficina (outubro, novembro e dezembro de 2021), produzida pela União de Escritores Angolanos, que dedica esta edição ao binómio literatura-poder no contexto angolano.
– Uma nota sobre o léxico angolano de filiação bantu da autoria do investigador e professor universitário Bonifácio Tchimboto (Benguela), e acerca do significado linguístico e cultural de kasinda, que, como nome próprio – Kasinda –, alude à pessoa que nasceu depois de gémeos. À palavra associa-se a visão de os irmãos mais velhos "puxarem" (nascerem antes) os mais novos e estes empurrarem aqueles, o que motiva um uso específico de puxar no português de Angola: «ouvimos muitas vezes gente a dizer o fulano puxou o sicrano» ou seja, «nasceu imediatamente antes de sicrano.»
– Por último, uma efeméride de 25 de janeiro: o Dia da Cidade de Luanda, fundada há 446 anos, conforme sublinha a Angop (Agência Angola Press).
A respeito do falar da capital angolana, leiam-se "Luandês, a nova língua da lusofonia", "Ainda sobre o luandês" e "O linguajar luandense".
1. «Está longe de acabar» – foi a frase do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, para se referir à disseminação fulminante da variante ómicron, aumentando a probabilidade de novas mutações do coronavírus. A esta preocupação junta-se a acusação de «apartheid vacinal», expressão que Boaventura de Sousa Santos inclui num apelo a maior ação da Organização das Nações Unidas contra os interesses das farmacêuticas produtoras de vacinas – «que se recusam a abrir mão dos direitos de patente» –, de modo a garantir a segurança sanitária global (Público, 13/01/2022). Problemática é igualmente a proximidade com animais suscetíveis de se tornarem hospedeiros de agentes infecciosos – os «animais reservatórios». As expressões sublinhadas fazem parte da atualização da rubrica A covid-19 na língua, totalizando quatro novas entradas com o nome UpHill, denominação de uma ferramenta interativa de conteúdo médico, visando o esclarecimento de dúvidas para combate da covid-19.
2. Que significados terá «de caminho» em enunciados como «agora não, mas de caminho faço isso»? No Consultório revelam-se as aceções associadas a esta locução, além de se esclarecerem ou comentarem quatro tópicos: a pronúncia de «batatas a murro» e da sequência ti de tia no português europeu; a possibilidade de incoerência e redundância nas expressões «erro ortográfico» e «bonita caligrafia»; e o uso da palavra continuação como fórmula de encerramento na correspondência pessoal e formal.
3. Há falantes de imaginação fértil que analisam arbitrariamente as palavras: por exemplo, perante coragem, fantasiando que vem de cor(ação) e de agir, concluem que significa originariamente «aja com o coração». Em O Nosso Idioma, transcreve-se com a devida vénia o apontamento que o escritor Eduardo Affonso dedicou, no mural de Língua e Tradição (Facebook, 09/01/2022), ao cuidado a ter com as falsas etimologias que pululam na Internet, em especial, com as de influenciadores digitais mal informados.
4. No tocante a atualidades relativas ao português, relevo para a notícia da abertura, em outubro de 2022, de um curso de licenciatura em Língua e Literatura Portuguesas na Universidade de Liubliana, na Eslovénia, «único Estado-membro da União Europeia onde não existia ainda um grau universitário em Língua e Cultura Portuguesa» (CNN, 18/01/2022). É de destacar ainda o arranque das comemorações do centenário de Eugénio de Andrade (1923-2005), cuja figura e obra vão ser objeto de dois eventos em 2022, conforme veio a lume na comunicação social (ver Público, em 18/01/2022).
De Eugénio de Andrade, leiam-se os poemas e outros textos reunidos na rubrica Antologia.
5. Temas de três dos programas da rádio pública portuguesa sobre o idioma oficial dos países da CPLP:
♦ Ainda a passagem do 25.º aniversário do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 21/01/2022, 13h20*);
♦ O lançamento de uma unidade curricular de Português Académico promovida pelo ISCTE e dirigida aos alunos dos PALOP desta instituição, em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 23/01/2022, 12h30*).
♦ Também na Antena 2, de 24 a 28 de janeiro de 2022, o programa Palavras Cruzadas (às 09h50 e às18h50, de segunda a sexta) aborda as palavras e expressões usadas na área da Contabilidade.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. Continuando a assinalar os 25 anos de atividade do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, justifica-se lembrar a colaboração com outros canais de divulgação, esclarecimento e debate de temas da língua portuguesa. É o caso do Cuidado com a Língua, concebido para a televisão pública portuguesa pelo jornalista José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas e um dos seus coordenadores editoriais, além de criador de Mambos da Língua (2014-2015), para a Rádio Nacional de Angola. Não menos importantes, e regularmente aqui referidos, são os programas de rádio Língua de Todos, na RDP África, e Páginas de Português, na Antena 2, pelos quais é atualmente responsável o professor José Manuel Matias, também coordenador editorial do Ciberdúvidas. Acerca do aniversário deste espaço sobre a nossa língua comum, sugere-se ouvir a emissão que lhe dedicou o Páginas de Português em 16 de janeiro de 2022 – aqui.
2. É igualmente de salientar o interesse que, desde cedo, o Ciberdúvidas suscitou junto da comunidade científica, tornando-se objeto de investigação de projetos académicos, como o PorLinha (2003). É o que recorda a linguista Margarita Correia em crónica publicada no Diário de Notícias de 17 de janeiro de 2022 – e que se inclui, com a devida atribuição de fonte, em O Nosso idioma. Na mesma rubrica, a professora Carla Marques completa o balanço de duas décadas e meia de trabalho árduo no Ciberdúvidas, descrevendo as suas rubricas e a evolução da equipa de especialistas que as dinamiza, num texto intitulado "Ainda os 25 anos do Ciberdúvidas – um quarto de século a cuidar da língua portuguesa".
3. Na rubrica A Covid-19 na Língua, seis novas entradas: cérebro, certificados falsificados, máscaras comunitárias, máscara NP2, modelação e reação adversa.
4. O que será mais correto: «museu da eletricidade» ou «de eletricidade»? São duas opções corretas, conforme se explica no Consultório, que inclui outras quatro perguntas: qual será o gentílico correspondente a Médio Oriente? Ainda se usa o termo gramatical «complemento determinativo»? Na análise sintática convencional, a função do advérbio não tem algum nome especial? A forma incorreta «tu sois», que se regista ou registou no Nordeste do Brasil, atesta alguma tendência de uso mais antiga?
5. O que é a norma-padrão? E a variação linguística? Que lugar cabe a estas duas realidades no ensino? São perguntas que motivam a reflexão de Inês Gama na rubrica Ensino.
6. A proeminência do uso de certas línguas na Internet é também índice de desenvolvimento social – sustenta a linguista Edleise Mendes, a respeito de estratégias para promoção da presença do português no espaço digital, em crónica lida no programa Páginas de Português (Antena 2, 16 de janeiro de 2022) e agora também disponível em Lusofonias.
7. Por último, voltando a O Nosso Idioma, dá-se conta do apontamento que o professor universitário e tradutor Marco Neves dedicou, em 16 de janeiro de 2022, à origem da palavra gravata (texto transcrito, com a devida vénia, do blogue Certas Palavras).
1. Em 15 de janeiro de 1997, quando começavam na Internet a multiplicar-se os usos orais e escritos em português, surgia o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, por iniciativa dos jornalistas João Carreira Bom (1945-2002) e José Mário Costa. A primeira Abertura fixava já o grande objetivo do novo espaço digital: «[dar] respostas às mil e uma dúvidas de quem escreve, fala ou trabalha com o português», para «esclarecer, clarificar, facilitar – mas sem substituir, nunca, o que só a Gramática ensina e o Dicionário ou um qualquer prontuário podem auxiliar». O firme propósito normativo era conjugado, de forma inovadora, com a reivindicação de uma perspetiva dinâmica, de abertura às especificidades dos países de língua portuguesa, onde vivem mais de 200 milhões de falantes. Volvidos 25 anos, é extraordinariamente positivo e compensador o balanço da proposta do Ciberdúvidas, graças à recetividade dos consulentes dos quatro cantos do mundo, sempre muito participativos, não só para pedir ajuda, mas também para dar sugestões, partilhar reflexões ou manifestar enorme apreço pelo serviço aqui prestado. De tudo isto dá conta Carla Marques em O Nosso Idioma, salientando a vitalidade e a pertinência do projeto, bem como a diversidade de públicos que, para conhecer melhor a nossa língua comum, leem os conteúdos das diferentes rubricas do Ciberdúvidas – nomeadamente o Consultório e todas as demais rubricas que se reúnem em O Português na 1.ª Pessoa, nas Atualidades (incluindo a Montra de Livros) e em Outros (onde se destaca a Antologia). O 25.º aniversário do lançamento do Ciberdúvidas é, pois, uma grata comemoração, que a equipa editorial dedica a quem dá sentido ao trabalho por ela desenvolvido: os falantes e as comunidades que a língua portuguesa tem unido na sua diversidade.
2. O tema da vacinação continua na ordem do dia, face aos números sempre elevados da pandemia, infelizmente reforçados pela facilidade do contágio com a variante ómicron do coronavírus. Em Portugal, uma nova modalidade posta em prática por vários municípios, para chegar a maiores de 75 anos, é a vacinação itinerante, termo registado na presente atualização da rubrica A covid-19 na língua, que conta com mais seis novas entradas: ciberpirataria, covidiano, covídico, isolamento reduzido, L452R e mutação dupla.
3. No Consultório, além das formas verbais que expressam o futuro (fará, vai fazer e irá fazer), abordam-se os seguintes tópicos: sintaxe do verbo disputar; a construção «três dos únicos»; o advérbio afinal; o nome caráter e as expressões que o incluem («sem caráter», «com mau caráter» e mau-caráter); a abreviatura de atenciosamente; e a descrição da vogal a.
4. Na rubrica Ensino, uma reflexão de Lúcia Vaz Pedro sobre a importância de os alunos começarem desde cedo a registar apontamentos dos conteúdos transmitidos nas aulas.
5. A propósito do ciberataque ao grupo Impresa, ocorrido em 3 de janeiro de 2022, Carlos Rocha inventaria e comenta os anglicismos ativados nas notícias e comentários feitos sobre o tema, na rubrica O Nosso Idioma.
6. Entre as efemérides que marcam o ano de 2022, conta-se a de um aniversário de enorme importância para a elaboração da língua moderna: os 450 anos da publicação de Os Lusíadas. Sobre este tema, leia-se o apontamento que, em 13 de janeiro de 2022, o linguista Aldo Bizzocchi incluiu no seu blogue Diário de um Linguista.
7. Entre os programas que, em Portugal, a rádio pública dedica à língua portuguesa, chama-se a atenção para:
♦ O Língua de Todos, emitido na RDP África, sexta-feira, 14 de janeiro de 2021, pelas 13h20* (com repetição no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*), que inclui uma entrevista com a investigadora Dina Baptista, da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda e da Universidade de Aveiro, sobre o domínio da língua portuguesa dos estudantes do ensino universitário
♦ O Páginas de Português, na Antena 2, domingo, 16 de janeiro, pelas 12h30* (com repetição no sábado seguinte, 22 de janeiro, às 15h30*), que assinala a passagem do 25.º aniversário do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, em 15 de janeiro, com os depoimentos da professora universitária Margarita Correia (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) e do linguista brasileiro Carlos Faraco (Universidade Federal do Paraná). Este programa inclui a crónica da professora brasileira Edleise Mendes acerca da presença dos países de língua portuguesa na Internet, onde o Ciberdúvidas se destaca.
♦ Também na Antena 2, o Palavras Cruzadas, programa da autoria de Dalila Carvalho, dedica as suas emissões de 17 a 21 de janeiro (segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50) a temas variados, do teletrabalho à linguagem dos leilões.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. Em Portugal, o processo de eleições legislativas vive presentemente a fase dos debates televisivos entre os representantes dos diferentes partidos políticos. Entre as propostas que se discutem e os argumentos que se esgrimem surgem ocasionalmente novos conceitos e, consequentemente, novas palavras que os designam. Desta feita, o destaque vai para a expressão ecogeringonça, proposta pelo historiador Rui Tavares, líder do Livre. Com este neologismo, formado pela junção do elemento não autónomo eco à palavra geringonça, o termo serve as intenções de descrever um possível acordo entre partidos para as questões ambientais. Recorde-se que a palavra geringonça ganhou, em 2015, novos sentidos ao ser usada para descrever o acordo entre PS, PCP, Os Verdes e BE, que permitiu aos socialista uma solução de governo. Esta foi, em 2016, eleita a palavra do ano.
No Ciberdúvidas, recolhemos diversos textos que abordaram aspetos relacionados com a palavra, que aqui recordamos: «Geringonça a palavra que deu a volta ao texto», «475 anos de geringonça», «A geringonça vocabular do ano».
Primeira imagem: exposição interativa sobre poesia no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, no Brasil.
2. Indiferente aos cenários políticos que se vão desenhando, a covid-19 continua a motivar em Portugal números elevados de infeções e de mortes. Os cuidados intensivos dos hospitais mantêm-se, deste modo, sob pressão, e a pandemia parece não dar tréguas. Ainda assim, o segundo período escolar teve início a 10 de janeiro, buscando a normalidade num contexto de incerteza, no qual o número crescente de alunos vacinados e de professores com a dose de reforço vem trazer alguma esperança de equilíbrio. Acompanhando o percurso da situação sanitária em Portugal e no mundo, a rubrica A covid-19 na língua regista sete novas entradas: «Call center», «Contenção alterada», «Doente crónico», «Open da Austrália», «Regresso às aulas», «Parasitas obrigatórios» e «Quebra do isolamento».
3. Ainda no contexto das legislativas de 2022, é pertinente refletir um pouco sobre a palavra eleições. No programa Página de Português, da Antena 2, a professora Carla Marques dedicou a sua mais recente crónica às origem deste termo e à sua significação (aqui transcrita).
4. Ao Consultório, chegam-nos perguntas de âmbito muito diversificado, o que denota interesses e abordagens muito diversificadas da língua. Entre elas, encontra-se a questão da correção das expressões «deve-haver» / «deve e haver» ou da grafia de Andalus/Andaluz. A problemática das regências regressa também, desta vez a propósito dos verbos partilhar e compartilhar. Abordamos ainda o significado da construção «é/era ver», o uso catafórico do advérbio assim e a identificação de uma oração substantiva relativa. Por fim, analisamos a expressão «bem-vindo de volta», no sentido de verificar se se trata de um pleonasmo, e refletimos sobre os apelidos compostos.
5. Em o Afeganistão de A a Z, acrescentou-se a entrada do termo «Faizullah Julal», um renomado académico afegão detido em Cabul.
6. Também em França se avizinham eleições presidenciais. É no contexto da divulgação das propostas políticas que um dos candidatos, Éric Zemmour, vem defender o retorno aos "nomes franceses", como forma de reforçar a identidade nacional, aspeto que dá o mote para a reflexão da professora universitária Margarita Correia (crónica publicada no Diário de Notícias e aqui divulgada com a devida vénia).
7. O professor universitário António Bento compilou no seu artigo dedicado ao filósofo Bento de Espinosa um conjunto de argumentos que comprovam que Espinosa falava, na sua vida quotidiana, a língua portuguesa (artigo divulgado no jornal Público e aqui transcrito com a devida vénia).
8. O grupo de trabalho DPDA do CELGA-ILTEC vai promover a sua segunda oficina de trabalho. Esta sessão será dedicada ao tema da etnografia linguística no âmbito do discurso académico e será dinamizada pela professora universitária Clara Keating. A sessão terá lugar no dia 29 de janeiro, entre as 09h30 e as 17h00, e tem um limite de 15 participantes, sendo possível participar presencialmente ou à distância (inscrições até ao dia 27 de janeiro aqui).
9. Um registo final, de pesar, pelo precoce falecimento do presidente do Parlamento Europeu, o italiano David Sassolo. Entre outros contributos relevantes que se lhe assinalam, primeiro como jornalista e, depois, como eurodeputado, teve um papel decisivo na concretização, pela União Europeia, do certificado digital covid-19.
1. Terminada a quadra do Natal, a pandemia entra no seu terceiro ano, entre declarações (prematuramente?) otimistas – poderá evoluir como endemia – e visões muito menos entusiásticas, pois continuam a surgir variantes de preocupação. Em Portugal, vigoram novas medidas anticovid a partir de 10 de janeiro p. f., sintetizadas pela expressão «Alívio, mas... "com cautela"», que passa a constar da rubrica A covid-19 na língua. Recolhem-se ainda outras expressões, totalizando 10 entradas: ameaças, Cerberus, «"chatear" os não vacinados», contacto(s), «covid sem tréguas», «doença(s) crónica(s)», «doença grave», «doença ligeira vs. moderada», «infeção oportunista» e «resgate antecipado».
2. No Consultório, cinco tópicos: o predicativo do sujeito numa frase como «estivemos a mil numa montanha russa»; um aposto de valor locativo na sequência «o Mosteiro dos Jerónimos, em Belém»; a modalidade apreciativa associada à expressão «as linhas mais intrigantes»; o uso do adjetivo assembleário; e as possiblidades de coordenar os nomes compostos hifenizados como quarta-feira e quinta-feira.
3. Na rubrica Ensino, a professora Lúcia Vaz Pedro fala sobre o que é e que necessidades tem o Português Académico, a propósito do lançamento, no ano letivo de 2021/2022, de uma unidade curricular nesta área pelo Laboratório de Competências Transversais do Iscte em colaboração com o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
4. A presente atualização também abrange o reportório vocabular e fraseológico O Afeganistão de A-Z, que recebe duas novas entradas: crianças e «manequins... decapitados».
5. Como se diz Ano Novo em alemão? A resposta é dada por Andréia Bohn no blogue que esta professora brasileira dedica ao ensino da língua alemã, mais precisamente, no artigo que se transcreve, com a devida vénia, na rubrica Diversidades.
6. Não haverá atualmente excesso de mensagens automáticas associadas às aplicações informáticas? O jornalista Nuno Pacheco diz que sim e manifesta o seu desagrado em "'Como posso ajudar?' Talvez desaprecendo, não?", crónica incluída no jornal Público de 6 de dezembro de 2022 e agora igualmente disponível em O Nosso Idioma.
7. Na tradição cristã, o ciclo do Natal encerra com a Epifania, ou seja, a festa que evoca a apresentação de Cristo recém-nascido aos gentios, incluindo os misteriosos Reis Magos (cf. Dicionário Houaiss). Rei tem origem latina, mas donde virá mago? O tradutor e professor universitário Marco Neves explica a origem desta palavra e de outras, todas de origem persa, no blogue Certas Palavras, em artigo que aqui se regista e cuja leitura se recomenda.
8. Voltando ao tema da covid-19 e às novas medidas que em Portugal se anunciam perante a alta transmissibilidade da variante ómicron, refira-se que se confirma o recomeço das aulas em 10 de janeiro, mas o teletrabalho mantém-se obrigatório até 14 do mesmo mês (cf. Correio da Manhã de 6 de dezembro de 2022).
Sobre a palavra teletrabalho, observe-se que é termo que o Ciberdúvidas já registava em 1998, muito longe, portanto, de se imaginar o presente cenário de pandemia.
9.Temas centrais de três dos programas dedicados pela rádio pública portuguesa ao idioma oficial dos países da CPLP:
♦ A publicação do livro O Português de/ em Angola: Peculiaridades Linguísticas e a Diversidade no Ensino, em Língua de Todos, na RDP África (sexta-feira, 07/01/2022, 13h20*).
♦ As estratégias de motivação para a aprendizagem do português no ensino superior, em Páginas de Português, na Antena 2 (domingo, 09/01/2022, 12h30*).
♦ Também na Antena 2, no programa Palavras Cruzadas, transmitido pela Antena 2 de segunda a sexta (de 10 a 14/01/2022, às 09h50 e às 18h50), procura compreender-se o que são os offshores («paraísos fiscais»).
* Hora oficial de Portugal continental.
1. Com a chegada de 2022, desejamos a todos os nossos consulentes um bom ano, com saúde, realização em todos os planos e, claro, com bom português. Este início de ano traz consigo, em Portugal, o quadro das eleições legislativas antecipadas. É um acontecimento que abre caminho à realização de debates políticos, que vão tendo lugar nos diferentes canais televisivos e também na rádio. Entre os assuntos aí abordados encontra-se frequentemente a questão dos acordos que poderão vir a ser celebrados entre diferentes partidos. E porque a prolação desta palavra nem sempre é a correta, nunca será demais recordar que o som "o" da palavra tanto no singular como no plural deverá ser sempre fechado: leia-se e diga-se /acôrdo/ e /acôrdos/.
Cf. Acordo(s) + Uma rajada de "(des)acórdos" + À volta da(s) pronúncia(s) e da acentuação + Oito erros fonéticos recorrentes
2. 2022 é também o ano do 20.º aniversário do euro, a moeda comum europeia que foi lançada a 1 de janeiro de 1999 por 11 países da União Europeia. Neste campo, o Ciberdúvidas tem, ao longo dos tempos, acompanhado e esclarecido dúvidas que esta nova realidade trouxe ao campo linguístico, pelo que é oportuno recordar textos como «Euro, euros / cêntimo, cêntimos, novamente», «Sobre a flexão de euro», «Símbolo do Euro», «Como usar o símbolo do euro», «Euro, frações».
3. Em A Covid-19 na Língua continuamos a acompanhar a evolução da pandemia em Portugal e no mundo, dando conta de termos e fraseologia diversa que vão sendo associados ao fenómeno. Neste atualização, registamos 31 novas entradas: «Apartheid dos não-vacinados», «Atividade assistencial», «Baixa covid», «Contraindicações», «Covid safe», «Doença(s) pós-covid», «100 dólares», «Espaços fechados», «Fobias sociais», Flurona, «Ganância e nacionalismo das vacinas», «Imunidade adquirida», «Imunidade inata», «Infeção natural», «Infeção nosocomial», «Medidas adicionais», «Microscópio digital», «247,1 M €/292,7 M €», «Morrer de/com/por covid», Neutralizantes, «Nova geração», «Pandemias esquecidas», Redução, «Resposta vacinal», «Solidariedade vacinal», Soropositivo, Teletrabalhar, «Teste obrigatório», «Vacinação, ano I», «Vacinação obrigatória» e Viropolítica».
4. Vacina foi a palavra do ano de 2021 escolhida por 15 mil portugueses que responderam à conhecida iniciativa da Porto Editora, representando cerca de 45% dos votos apurados. Em segundo lugar, ficou a palavra resiliência, com apenas 30% dos votos. Pormenores na rubrica Notícias.
5. Tradição é outra palavra recorrente, especialmente no períodos de festas natalícias e da passagem de ano. É a ela que a professora Carla Marques dedicou a sua crónica apresentada no programa radiofónico Páginas de Português. Também neste programa, a professora universitária brasileira Edleise Mendes apresentou uma crónica intitulada «Receitas de felicidade para o Ano Novo», em que faz uma viagem entre tradições de diferentes países..
6. A forma como as palavras são pronunciadas é marcada pela variação geográfica. Não obstante, os falantes de determinada região têm frequentemente dúvidas relacionadas com outras prolações. Veja-se a questão que incide nos termos ganhar, quarenta, rio e Loulé. À atualização do Consultório juntam-se ainda a explicação de um trecho de Lições de Português pela análise sintática, de Evanildo Bechara, e a clarificação da diferença articulatória entre vogais e consoantes. A fechar, apresenta-se a justificação para a incorreção verificada na expressão «o casal vai ser pai» e aborda-se a questão do género da palavra bitcoin.
7. Duvidário: 100 dúvidas da Língua Portuguesa é a obra eletrónica coordenada por Paula Cristina Ferreira e Noémia Jorge, professoras da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Politécnico de Leiria, que apresentamos na rubrica Montra de Livros. Trata-se de uma publicação que resultou do desafio feito a estudantes no sentido de desenvolverem pequenas investigações conducentes à identificação de explicações para dúvidas comuns entre os falantes.
8. Divulgamos o 5.º Encontro Mensal sobre o Discurso Académico, que terá como convidada a jovem investigadora Ana Margarida Simões, que abordará o tema do «Ensino explícito da escrita ao desenvolvimento da consciência discursiva: um estudo de caso numa turma de português de 12.º ano». O encontro terá lugar dia 19 de janeiro e poderá ser acompanhada num destes canais: sessão zoom (ligação aqui) ou canal YouTube.
9. Nheengatu: A Língua da Amazónia é um documentário do realizador português José Barahona, passado na RTP 2, sobre este idioma imposto aos índios nativos da região pelos colonizadores portugueses no século XVl. Por meio dessa língua misturada, ainda falada por alguns povos indígenas do Norte do Brasil, mostra-se o encontro de dois mundos e das suas diferentes questões culturais, históricas e sociais. O documentário – não sendo propriamente de uma abordagem da língua neheengatu de forma científica, mas um registo da sua história oral popular ainda remanescente e da sua contemporaneidade, através das estórias destas populações – pode ainda ser visto na RTP Play.
10. Em nota final, deixamos duas informações relacionadas com a atividade do Ciberdúvidas:
— Nas redes sociais do Ciberdúvidas (Facebook e Instagram) estamos a lançar desafios relacionados com a língua, uma atividade no âmbito da passagem dos 25 anos de Ciberdúvidas.
— As atualizações semanais do Ciberdúvidas passarão a ter lugar às terças e sextas-feiras.
Como foi assinalado na Abertura, em 17 de dezembro p. p., durante o período de Natal faz-se uma pausa nas atualizações regulares do Consultório e das demais rubricas do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. O regresso à plena atividade está marcado para 4 de janeiro de 2022.
Entretanto, fica inativo o formulário para envio de perguntas (aqui), muito embora continue livre o acesso às perguntas e aos artigos do vasto arquivo do Ciberdúvidas.
Também se colocarão pontualmente novos conteúdos nas diferentes rubricas de O Português na 1.ª Pessoa, nas Atualidades e em Outros, sempre que a atualidade ou a pertinência temática o imponham.
A quantos procuram este espaço de esclarecimento e debate sobre o uso e as normas da língua portuguesa, os votos de um Natal feliz e de um ano novo com saúde e paz.
Por último, um poema alusivo à quadra, do poeta e escritor português (açoriano) Vitorino Nemésio (1901-1978):
Natal chique
Percorro o dia, que esmorece
Nas ruas cheias de rumor;
Minha alma vã desaparece
Na muita pressa e pouco amor.
Hoje é Natal. Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.
Valeu-me um príncipe esfarrapado
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado…
Só esse pobre me pareceu Cristo.
O Pão e a Culpa (1955)
Na imagem, El Greco, Adoração dos Pastores, 1612 (na página principal, pormenor).
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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