DÚVIDAS

Alterações da nomenclatura gramatical

A nomenclatura relacionada com a área específica da gramática tem vindo a alterar-se profundamente, desde o pronome oblíquo ao sujeito nulo; desde a expansão dos grupos verbais e nominais ao desaparecimento do condicional como modo, substituído agora pelo futuro perfeito ou futuro do pretérito.

Fico inquieta com tanta alteração que remove a lógica em que assentou toda a minha aprendizagem.

Mais do que uma pergunta, trata-se de um desabafo.

Obrigada.

Resposta

Uma das características do conhecimento científico é a sua evolução constante. A investigação realizada e as novas propostas de análise dos fenómenos permitem que o conhecimento avance em qualquer âmbito de estudo. Nos estudos gramaticais verificamos também esta dinâmica, que vai permitindo uma abordagem mais rigorosa e alargada dos fenómenos da língua. Diferentes gramáticas e trabalhos específicos de investigação têm desenvolvido este percurso. Por seu turno, o sistema escolar tem vindo a incorporar alguns destes avanços, convertendo-os em conteúdos a estudar em diferentes momentos de ensino.

Foi neste âmbito, por exemplo, que o complemento circunstancial deixou de ser considerado pelos programas de Português e se passou a estudar as funções de modificador e de complemento oblíquo. Igualmente neste contexto e a partir da entrada em vigor da Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário, propôs-se a introdução do termo sujeito nulo para as situações em que o sujeito não tem realização lexical. O Dicionário Terminológico, atual documento de referência para o ensino de português, mantém também a designação. No entanto, com o Programa e Metas Curriculares de Português do Ensino Básico (2015), este conceito deixou de ser estudado na escola, opção que as Aprendizagens Essenciais mantiveram. Já o futuro do pretérito, proposta constante, por exemplo, da Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, nunca foi abordado em contexto de ensino não universitário em Portugal. É termo que se usa no Brasil, enquanto em Portugal continua a preferir-se a palavra condicional.

Em síntese, as alterações referidas acima não estão relacionadas com lógica do pensamento gramatical (ou falta dele), mas sim com o avanço dos estudos ou com visões distintas que resultam em novas propostas. Acresce que o ensino do português para os ensinos básico e secundário tem incorporado algumas das propostas que, no quadro dos estudos linguísticos, correspondem a avanços substantivos e consolidados no âmbito do pensamento gramatical.

Aqueles que pretendem manter o seu conhecimento gramatical atual terão de continuar a ler e a estudar para poderem acompanhar uma evolução que não só é natural como desejável, porque dificilmente se chegará a uma fase em que o conhecimento gramatical não avançará mais.

Situação diferente será aquela que se pauta por avanços e recuos nos programas. Este panorama, que tem tido lugar por exemplo no estudo dos advérbios nos ensinos Básico e Secundário, poderá dificultar a vida dos professores que poderão sentir-se perdidos nos vários quadros considerados e nas várias opções terminológicas avançadas.

Disponha sempre!  

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