Em Portugal, mesmo na fala informal, mantém-se o uso dos pronomes átonos – os «pronomes oblíquos átonos» da terminologia brasileira, ou seja, da Nomenclatura Gramatical Brasileira de 1959 – com a função de complemento direto (ou objeto direto, para seguir a terminologia brasileira).
São, portanto, insólitas as formas «ele viu eu» ou «ela me viu eu», e normal a forma «ela viu-me» (com a tendência para ênclise do português de Portugal, em frases simples cujo verbo não esteja modificado por advérbios).
Contudo, como já foi dito em resposta anterior, é preciso assinalar que construções na 3.ª pessoa, como «eu conheço ele», «eu encontrei ela» ou «eu vi elas» não são desconhecidas de todo, quando verbos de perceção como ver ou verbos causativos como mandar são seguidos de orações de infinitivo: «eu vi ela chegar» (em vez do correto «(eu) vi-a chegar»); «mandei ela escrever uma carta» (talvez menos frequente, em vez do correto «mandei-a escrever»).
Também são correntes os pronomes oblíquos em construções muito informais – «olha ela toda bonita» – e até algo infantis como «ó mãe, olha eu a andar de bicicleta sem mãos».
É possível, portanto, que o uso brasileiro resulte de alguma convergência entre inovações locais e construções mais marginais que já eram produzidas pelos colonizadores portugueses. É uma hipótese que, dadas as fontes consultadas, não se pode aqui confirmar.