O facto de se associar a casal o conceito de casa mais os seus habitantes pode advir do significado mais antigo da palavra, que, antes de designar duas pessoas ligadas por laços afectivos, designava a propriedade onde viviam todos os membros da família. Ainda hoje se utiliza a palavra casal no sentido de herdade ou propriedade rural.
Por seu lado, par significa igual e inicialmente designava, e ainda designa, os membros de um grupo que tinham direitos e deveres iguais. Este conceito deu mesmo origem à expressão latina ‘inter pares’.
Em dado momento da sua evolução, ambas as palavras passaram a designar duas pessoas ligadas afectivamente. Primeiro, considerando apenas laços entre um homem e uma mulher; depois, designando explicitamente ligações entre pessoas do mesmo sexo. A consulta de dicionários mais ou menos recentes permite-nos verificar esta evolução.
Do meu ponto de vista, a designação par é socialmente mais rica, pois tem pressuposta a ideia de que as pessoas que formam um par são efectivamente iguais, e estou a referir-me a valor humano e não a sexo, ou género como agora sói dizer-se.
Como vê, caro consulente, não vislumbro nada de negativo na designação de par. Repare que até se diz que um casal forma um belo par, mas não se diz que um par forma um belo casal. Em par, parece-me haver uma ideia mais forte de igualdade, enquanto casal, até pela origem da palavra, veicula uma ideia de tradição e de hierarquia. No par não há cabeça. No casal há!
Por outro lado, ainda que venha a verificar-se uma distinção, usando por exemplo casal para um par heterossexual e par para um par homossexual, esse facto pode apenas resultar de uma processo característico da língua, que consiste em associar a cada palavra, preferencialmente, um conceito, economizando desta forma outras palavras. Se, por exemplo, daqui a vinte anos, todos os falantes, ao ouvirem par, associarem automaticamente a casal homossexual e, ao ouvirem casal, pensarem num par heterossexual (ou vice-versa), isso vai constituir uma grande economia e uma grande clareza.
Cf. Bromance + A polémica expressão «pessoas que menstruam» + Nem todas as pessoas que menstruam são mulheres + “Mulher” é pouco inclusivo. E que tal “pessoa com vagina”?