O vocabulário que se aprende num almoço de domingo com os jovens é incrível. Aqui vai uma amostra das variantes que consegui captar (muitas não consegui porque eram comunicadas só com olhares e sorrisos) e seus significados (tal como os consegui entender — não significa que sejam o sentido completo das expressões):
– estar numa relação;
– andar com;
– estar com;
– flirtar;
– curtir;
– namorar;
– ter um crush1 (ter uma paixoneta por alguém);
– estar apaixonado;
– ter interesse em;
– ser amigo com benefícios (ou amigo colorido);
– ser "amigo" (amigo com aspas);
– viver com;
– ter um caso;
– seduzir;
– dar ghost2 ou levar um ghosting (ghosting = desaparecimento repentino, prolongado e inexplicado da pessoa de quem se gosta ou com quem se está/esteve – evita os famosos e sempre constrangedores «és muito fixe, mas...»);
– fazer dumping3 (jogar alguém no lixo);
– fazer zumping4 (terminar uma relação por videochamada, Zoom por exemplo);
– fazer pocketing5 (esconder da sociedade ou das redes a pessoa com quem temos uma relação, escondê-la no "bolso");
– shippar6 (torcer para que duas pessoas que conhecemos se relacionem amorosamente; torcer por...);
– fazer prowling7 (quando, numa relação com alguém por quem se tem uma paixoneta, a outra pessoa desaparece sem qualquer razão e deixa o parceiro desorientado e confuso; passado algum tempo, reaparece e atua como se nada tivesse acontecido – pessoa indiferente aos sentimentos do outro);
– fazer whelming8 (transmitir a ideia à pessoa de quem se gosta de que se tem uma vida amorosa muito intensa, com várias pessoas interessadas, sendo mentira e tendo apenas como intenção despertar interesse no outro – normalmente, sinal de insegurança).
Bom, depois deste mergulho no vocabulário atual, dei comigo a pensar que o Ega shippou o amigo Carlos com a Maria Eduarda. Depois de ter um fulminante "coup de foudre", no peristilo do Hotel Central, Maria Eduarda fez prowling e Carlos andou a orbitar (ver também o termo orbiting9) em torno dela, andando como doido entre Lisboa e Sintra. Resolveu entretanto dar ghost à Gouvarinho (que sofreu dumping) e seduzir, com extrema habilidade, Maria Eduarda, que ficou completamente rendida. Mantiveram uma relação ardente, mas Carlos fez sempre pocketing (não era de bom tom passeá-la pela alta sociedade lisboeta, sobretudo em círculos frequentados pelo seu avô). Esta relação, como sabemos, teve um fim repentino, fruto de uma revelação insólita. Ainda tiveram um caso, depois disso, mas resolveram desaparecer da vida um do outro ou, como quem diz, dar ghost.
Nada de novo debaixo do Sol, portanto. Novas palavras, mesmos hábitos humanos.
Notas:
1. crush: colisão
2. ghost: fantasma
3. dumping: despejo, descarga
4. zumping: neologismo resultante da junção de Zoom (aplicação para reuniões) e dumping; acabar o namoro por videochamada
5. pocketing (de pocket): embolsando
6. shippar: neologismo criado a partir de relationship; torcer pelo relacionamento amoroso de alguém
7. prowling: mover-se muito discretamente tentando não ser visto
8. whelming: derivado do inglês overwhelmed (sobrecarregado)
9. orbiting: em sentido figurado, seguir ou rondar, nas redes sociais ou na Internet em geral, a atividade de uma pessoa com quem se teve um relacionamento amoroso que, entretanto, acabou (mais informação aqui).
Apontamento da autora divulgado na sua página pessoal de Facebook, em 08/05/2022, aqui transcrito com a devida vénia.