1. Em Portugal, coincidindo com a entrada do verão (em 21 de junho), a pandemia recobra força e obriga o governo a fechar a Área Metropolitana de Lisboa, que na segunda quinzena de junho entrou na região vermelha de análise da evolução da pandemia. Deu-se, portanto, um «passo atrás» no desconfinamento e diz-se que Lisboa está «no vermelho», expressões que a rubrica A covid-19 na língua regista a par de outras, num total de oito entradas: «testes recomendados», a respeito de eventos familiares que reúnam mais de 10 pessoas(casamentos ou batizados), eventos desportivos e culturais, bem como serviços públicos e empresas com mais de 150 trabalhadores; «trabalhadores de serviços domésticos», a propósito da crise que afeta esta atividade; a designação «plataformas digitais de trabalho», em sinal de novos modos de vida e de a ganhar que a pandemia vai instalando; as frases «[O] dia em que a esperança se converte[u] em confiança» e [Os] milhões da bazuca... ainda a tempo?, alusivas aos 16,6 milhões de euros que, até agosto de 2026, Portugal receberá sob certas condições; e, por último, «sem máscara na rua», dando conta da situação contrária à vivida em Portugal, a que se verifica na França e na Espanha, onde o uso de máscara no exterior deixou de ser obrigatório.
Na imagem, Milho ao Sol (Museu Grão Vasco), de José Malhoa (1855-1933).
2. No Consultório, são sete as respostas subordinadas aos seguintes tópicos: o funcionamento do marcador pois no discurso; o uso de aonde numa oração relativa; a justificação do acento gráfico em vocábulos como mágoa ou polícia; a associação do pronome se à construção formada por pretender e infinitivo («pretendeu-se determinar»); o anglicismo crumble; a grafia dos topónimos começados por A de, como A dos Bispos (Vila Franca de Xira); e a concordância de adjetivos compostos (azul-escuro) com a palavra cor.
3. Na rubrica O Nosso Idioma, um apontamento da professora Carla Marques apresenta uma breve análise dos valores do uso na imprensa de diferentes verbos e substantivos mobilizados pela situação mediática que envolve a Câmara Municipal de Lisboa na divulgação de dados pessoais enviados à Embaixada da Federação da Rússia, respeitantes aos três imigrantes russos em Portugal promotores de uma manifestação contra a prisão, em Moscovo, do oposicionista Alexei Navalny .
4. Mediático foi igualmente o desaparecimento do pequeno Noah na manhã de 16/06/2021, na região de Proença-a-Velha (Castelo Branco). Felizmente, tudo não passou de um prolongado susto que chegou ao fim 36 horas depois, quando a criança, de dois anos e meio, foi encontrada com vida. A projeção mediática do desfecho ocasionou a ativação do vocabulário relevante para o caso: Noah foi «encontrado», obviamente porque andava perdido, e, «salvo», porque deixou de ter a vida em perigo; também se disse que foi «resgatado», já que a uma operação de salvamento também se chama resgate (cf. Infopédia), com o seu quê de superlativa metáfora, nome a que corresponde o verbo resgatar, «salvar da morte ou ruína», conforme definição do dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (que dá como abonação deste uso a frase «o banheiro já resgatara muitas vidas ao mar»). Nas reportagens televisivas ouvia-se ainda uma jornalista falar de «fazer buscas», que é expressão correta e corrente, enquanto um soldado da Guarda Nacional Republicana falava em «batida», palavra que, no contexto, pôde afigurar-se estranho. Com efeito, batida é termo da arte venatória, ou seja, da caça, empregado no sentido de «ação de avançarem (os caçadores) metodicamente pelo terreno, em linha e contra o vento, para abater a caça miúda que se levantar» (Dicionário Houaiss); além disso, pode significar um tipo de ação policial,cujo alvo está longe de ser um bebé inocente: «diligência policial realizada em lugares considerados suspeitos com o fim de busca, apreensão ou prisão» (ibidem). Mas não se pode dizer que se trate de impropriedade vocabular: é que batida também tem registo como «ato ou efeito de percorrer (povoação, mato, caminho, área) em exploração, reconhecimento, observação etc.» (ibidem).
5. Registo ainda de atividades e novidades na linguística ou filologia, com interesse para a investigação e ensino do português:
– O II Congresso Internacional em Variação Linguística nas Línguas Românicas, organizado pelo Centro de Línguas, Literaturas e Culturas da Universidade de Aveiro, que decorre em 22, 23 e 24 de junho de 2021.
– A edição de 2021 do simpósio internacional da associação Tropo UK (Associação de Professores e Invstigadores da Língua Portuguesa), com o título Diversidade linguística do português: oportunidades e desafios pedagógicos e organização da Universidade de Glasgow (programa aqui e inscrições aqui).
– O anúncio do acesso livre à digitalização de dois dos códices mais importantes do período galego-português, o Códice Rico e o Códice de los Músicos, que estão guardados na Real Biblioteca de São Lourenço do Escorial, em Madrid, e contêm as Cantigas de Santa Maria do rei Afonso X de Castela e Leão (1221-1284), avô do rei português D. Dinis (1261-1325).
– E o movimento que em Olivença (hoje na província espanhola de Badajoz) está a organizar-se para declarar o português como bem de interesse cultural para a cidade.
6. Nos domínios da investigação e reflexão jornalísticas, referência a iniciativas que exploram aspetos culturais associados a ambientes de língua portuguesa:
– A série documental da RTP Gente da Minha Rua, sobre o quotidiano de imigrantes de ascendência africana com vida já estabilizada em Portugal.
– Os registos áudio de Línguas, sotaques e dialetos de Lisboa, da autoria da jornalista Catarina Reis, no diário digital A Mensagem.
7. A pandemia tem contribuído para a deterioração da saúde mental das populações. Justifica-se, portanto, aqui assinalar a 1.ª Tertúlia do ciclo "O que nos dizem os livros sobre saúde mental", em 21 de junho de 2021, das 17h00 às 18h30*, a propósito do livro Maria Adelaide Coelho da Cunha: Doida Não e Não!, de Manuela Gonzaga e com organização da DDS/Divisão para a Participação e Cidadania e Divisão da Rede de Bibliotecas (formulário de inscrição aqui).
* Hora oficial de Portugal continental.
8. Nos três programas dedicados pela rádio pública portuguesa.à língua portuguesa, são temas salientes:
– A implantação do português em Timor-Leste, resistindo à concorrência do indonésio (bahasa Indonesia) e do inglês da Austrália, no programa Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 18/06, pelas 13h20**), e a natureza pluricêntrica do português, a par de um apontamento sobre a expressão «direitos fundamentais», em Páginas de Português (Antena 2, no domingo, 20/06, 12h30*) – ambos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
– A linguagem do racismo, de 21 a 25 de junho, no programa Palavras Cruzadas, também na Antena 2 e conduzido pela jornalista Dalila Carvalho (segunda a sexta-feira, às 9h50 e 18h20 **).
**Hora oficial de Portugal continental.
9. Dois últimos registos de atualidade para a atribuição ao escritor Valter Hugo Mãe do Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, com o romance Contra Mim, publicado no final de 2020 pela Porto Editora; e para a professora de Filosofia na Escola Secundária de Amarante, Maria Elsa Cerqueira, vencedora deste ano do Global Teacher Prize Portugal, para muitos «Nobel da Educação».
1. Entre a flexibilização e a «corrida para salvar vidas»: assim vive o mundo neste momento, procurando um equilíbrio que sabe ser difícil, mas que visa a retoma gradual das anteriores condições de frequência dos espaços públicos e de gestão da atividade económica e profissional, ao mesmo tempo que os números das infeções continuam a crescer em diferentes pontos do planeta e, consequentemente, os números de vidas perdidas para a covid-19. Os dois termos destacados passam a integrar na rubrica A covid-19 na língua e a eles juntam-se outros nove: Boletim, «Mil milhões», «Momento histórico», «(Não) marcha atrás», Ocitocina, «Quarentena das escolas», «Sebenta da quarentena», «Tédio social» e «Trabalho híbrido».
2. A grafia da contração da preposição a com o artigo definido a não ocorreu desde sempre com acento grave, tendo a forma à sido determinada apenas pela Reforma Ortográfica de 1911, como se explica nesta resposta que abre as atualizações do Consultório linguístico do Ciberdúvidas. A ela junta-se uma explicação relativa à grafia do aumentativo com o sufixo -aço e apresenta-se um teste sintático fiável para identificar a função de sujeito numa frase. A construção clivada com «é que» volta a oferecer dúvidas, desta feita num contexto interrogativo, associado à flexão verbal. No Consultório, poderá ainda encontrar-se uma explicação relativa à possibilidade de omissão de pronomes átonos na frase, a identificação da classe de palavras de bastante, a sintaxe dos verbos treinar e conduzir e o feminino do substantivo paladino.
3. O conceito de língua nacional é analisado pela linguista Margarita Correia num artigo no qual recorda igualmente que em Portugal há outras línguas nacionais para além do português, nomeadamente o mirandês ou a língua gestual portuguesa (artigo publicado no Diário de Notícias, aqui transcrito com a devida vénia).
4. Entre as efemérides recentes, destacamos o Dia Mundial do Dador de Sangue, comemorado a 14 de junho, e que este ano se converte num dia de importância acrescida, dadas as consequências negativas que a pandemia trouxe às reservas de sangue.
No Ciberdúvidas, encontram-se diversos textos com uma abordagem gramatical de palavras / expressões relacionadas com o tema: «O aumentativo e o diminutivo da palavra sangue», «Desleucocitar», «Doador ou dador?», «Ficar sem pinga de sangue», «Colheita vs. coleta», «Sangue azul», «Dador e doador».
1. Voltam a subir os números da pandemia em Portugal, como que a reforçar os motivos da sua inclusão na «lista âmbar» britânica, do sistema "de semáforo" para quem tencione viajar do ou para o Reino Unido. Assinalando, portanto, mais uma semana de avanços, impasses e retrocessos no combate ao coronavírus, são sete, com a já mencionada «lista âmbar», as novas entradas na rubrica A covid-19 na língua, no qual se registam «bolha paralela», no contexto de surtos virais associados ao arranque do Campeonato Europeu de Futebol; a triste alcunha «copa da morte», para aludir às condições em que o Brasil decide realizar a Copa América; a vacina Janssen, a par dos «12 milhões» de testes feitos em Portugal; a diferença entre patologia e enfermidade; e, para designar uma das sequelas diretas ou indiretas da covid-19, o termo desmemória.
2. Entre as cinco novas questões do consultório, três centram-se na sintaxe, concretamente, na omissão do artigo definido com nomes coordenados («a ansiedade e stresse predominam...»), no uso do verbo passar com complemento oblíquo («passou a tarde na sala de jogos») e na função do grupo adjetival «laborioso e lento» na expressão queirosiana «um manejo laborioso e lento». Completam a atualização duas perguntas: penico e pinico são a mesma palavra? E que significará gabiar?
3. Na rubrica O Nosso idioma, a professora Carla Marques dedica um apontamento aos significados do nome cautela, aos seus contextos de uso e à sua família de palavras, na sequência do novo relevo que o nome do programa de Filomena Cautela, na RTP1: Programa Cautelar, deu ao adjetivo cautelar no espaço público português. Na mesma rubrica, transcrevem-se ainda com a devida vénia:
– Uma crónica do jornalista e escritor brasileiro Lira Neto, que a publicou no Diário Cearense (08/06/2021), acerca das curiosas estratégias que em Portugal se adotam para evitar o pronome você, cujo uso pode suscitar «as reações mais ambíguas».
– Outra crónica, assinada pelo diplomata Francisco Seixas da Costa, no jornal digital Mensagem, (07/06/2021), com o título «Não sou de cá, só cá vim à bola!», reúne uma série de expressões alfacinhas, associadas à recordação de bairros, ruas e espaços de convívio em Lisboa.
4. Nas Notícias, dá-se conta da entrevista que Durão Barroso, ex-primeiro português e anterior presidente da Comissão Europeia, concedeu à agência Lusa , na qual considera que a língua portuguesa merecia ser «mais conhecida» como «segunda língua». Trata-se de nu conjunto de declarações divulgadas em 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que antecipam o discurso de boas-vindas de Durão Barroso no colóquio Portugal e a sua língua no mundo, a ter lugar virtualmente em 23 de junho, integrado na iniciativa Europa. As tuas línguas, do programa Europanetzwerk Deutsch do Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão, e administrada pelo Instituto Goethe. Este encontro surge no contexto da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, que termina em 30 de junho.
5. Relativamente ao tempo de emissão dedicado pela rádio pública portuguesa à língua portuguesa:
– Sobre os desafios da tradução, para cabo-verdiano, da lírica de Camões e da Ode Marítima de Álvaro de Campos, fala o poeta José Luís Tavares, no programa A Língua de Todos, da RDP África (sexta-feira, 11/06/2021, pelas 13h20*; repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*). A situação do português em Timor-Leste é tema de conversa com Dulce Turquel, docente em Díli, em Páginas de Português, da Antena 2,(domingo, 13/06/2021, pelas 12h30*;com repetição no sábado seguinte, 19/06/2021, às 15h30*). Ambos os programas são produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
– Quanto ao programa Palavras Cruzadas, também na Antena 2 – de segunda a sexta-feira, às 9h50 e 18h20, na semana de 14 a 18 de junho –, o convidado é o revisor e copidesque Luís Alho. Entre outros temas: os cuidados com apontuação, a grafia e prolação das siglas e dos acrónimos e à volta dos erros de tradução em filmes e séries da televisão ou do cinema.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. O planeta vive atualmente sob a égide da vacina contra a covid-19, que se assume como uma das respostas científicas mais importantes do século, o que se comprova também pelo investimento que muitos países têm feito em torno da vacinação da sua população e das ações de sensibilização para a importância da inoculação para a gradual recuperação da normalidade por meio do desenvolvimento da imunidade de grupo. As vacinas vão-se assumindo igualmente como fatores de afirmação de poder por parte de certos países, como é o caso dos Estados Unidos, que procuram agora ser reconhecidos como importantes fornecedores de vacinas para os países mais pobres. Na rubrica A covid-19 na língua dá-se conta da importância deste tema na atualidade com novas entradas Geopolítica da vacina, Cultura vacinal, Vacinal e Serrana, termos a que se juntam as expressões «Medidas cautelares» e «País-cemitério».
Primeira imagem: Ernest Board, 1910: - Dr. Jenner realiza a vacinação num rapaz de oito anos em 1796
2. A construção «ser alguém de quem gosto» é preferível a «ser alguém de que gosto»? Este é um dos assuntos que se incluem nas respostas que integram a atualização do Consultório. A acompanhá-lo uma resposta que aborda as regências do adjetivo entusiasmado, outra sobre a aceitabilidade da expressão «aplicar (uma) vacina» e ainda uma tradução da expressão inglesa 'chafing dish'. Analisa-se ainda a função do constituinte «com a liberdade» na frase «Veio com a liberdade» e explora-se o significado do provérbio «casa roubada, trancas à porta», a correção da construção «depois de na segunda-feira» e ainda a etimologia do adjetivo coitado.
3. Os comportamentos dos adeptos ingleses que se dirigiram a Portugal, e nomeadamente à cidade do Porto, por ocasião da final da Liga dos Campeões de futebol e as atitudes do meio político e das forças da ordem levantaram a questão de na sua base se encontrarem «dois pesos e duas medidas». Esta expressão idiomática constitui-se, assim, como o tema da crónica da professora Carla Marques no programa Páginas de Português da Antena 2 (aqui transcrita).
4. No dia 6 de junho celebra-se o Dia Mundial da Língua Russa. Este evento foi recordado pela professora universitária e liguista Margarita Correia, que assinou um artigo no Diário de Notícias no qual aborda aspetos da história da língua russa e a sua evolução no contexto da família das línguas eslavas (aqui transcrito com a devida vénia).
5. A discussão em torno do cânone acontece um pouco por todo o mundo e envolve questões tão complexas como a literatura que assenta numa linguagem de matriz racista. Esta questão agitou Portugal há relativamente pouco tempo com a divulgação de um trabalho de investigação sobre o romance Os Maias, de Eça de Queirós, no qual se sugeria a criação de anotações à obra sinalizando estes aspetos de fundo racial. A questão é agora de novo equacionada pela professora universitária Ana Paula Dourado, que a coloca no plano de um movimento internacional (artigo publicado no jornal Expresso em linha e aqui transcrito com a devida vénia).
6. Estreado na RTP1 no dia 5 de junho, o programa Programa Cautelar teve logo na sua primeira emissão a reflexão volta do adjetivo que lhe dá o título, que se formou a partir de nome comum cautela a que se juntou o sufixo de flexão -ar. A própria apresentadora, Filomena Cautela, deu uma explicação sobre a razão do nome do programa, coincidente com o seu apelido. Nesse jogo de palavras destaca-se, naturalmente, o adjetivo cautelar, já com registo dicionarístico – relacionado com o nome comum, pelo que não constitui um neologismo. O termo, como foi referido, está ainda associado ao sentido de «ajuda para que o país não entre em crise económica e social»; e, no sentido mais lato, acrescente-se o de «prevenir» ou «acautelar» (in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea). O adjetivo surge ainda em expressões jurídicas que gozam de alguma cristalização como «procedimento cautelar» ou «providência cautelar», enquanto o substantivo tem dois usos comuns: «Cuidado para evitar maus resultados» e «Senha representativa de uma quota-parte num bilhete de loteria». E temos ainda a expressão «à cautela» e a interjeição «Cautela!» (in Dicionário Priberam)
A este propósito, recordem-se os textos «Procedimento cautelar e providência cautelar» ou «Passível de credibilidade».
7. Em 2021, conta-se 100 anos passados desde a descoberta da insulina, uma hormona produzida no pâncreas que se veio a revelar fundamental para a terapia da diabetes. Neste âmbito, recorde-se que a palavra insulina entrou no português através da palavra francesa insuline, que, por seu turno, se formou a partir do termo latino insula, ae, que significa «ilha». A seleção deste termo latino fica a dever-se ao facto de a substância insulina ser segregada em áreas do pâncreas designadas ilhotas de Langerhans (in Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).
Recordem-se também os textos «A diabetes» e «Cancro do...» vs. «cancro de...» II».
8. Comemora-se, em Portugal, a 10 de junho o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Celebração cujo primeiro passo data do ano de 1880 com o objetivo de comemorar os 300 anos da data hipotética de morte de Luís de Camões. As comemorações oficiais presididas pelo Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa terão lugar neste ano na ilha da Madeira.
Alguns textos em arquivo sobre este ponto: A língua como valor estratégico no discurso do 10 de Junho de Cavaco Silva + Camões + A Camões + A língua de Camões +O português como língua de Camões é um mito + Camões Superstar + O Cânone + Camões Conseguiu Escrever Muito para Quem só Tinha Um Olho…
1. Quando a pandemia parecia perder ímpeto, eis que Portugal fica excluído da tão promissora lista verde de viagens do Reino Unido. O Ministério dos Negócios Estrangeiros português reage à decisão e no Twitter fala numa «lógica [que] não se alcança». A decisão dever-se-á principalmente a nova ameaça, a variante nepalesa do coronavírus, termo incluído na presente atualização de A covid-19 na língua. São ao todo 16 novas entradas, abrangendo expressões como fluxo, em referência ao tratamento hospitalar, imunidade de longa duração, 120/100 000 mil e 120 mil/dia, bem como casa aberta e «da boa» (em alusão a vacina), a documentarem a aceleração do controlo da doença e do contágio. Não obstante, outros termos revelam movimentos pendulares, com o cancelamento dos festejos de junho nas cidades portuguesas – os santos populares e os seus arraiais –, enquanto uma nova fase, o desconfinamento a dois ritmos (a partir de 14 de junho), torna o teletrabalho não obrigatório e traz medidas como o plano nacional de recuperação das aprendizagens. Assim se configura um país entreaberto, repartido por diferentes níveis de alerta, num efeito bumerangue. Acolhe-se ainda a máxima «Imorrível, "imbroxável", incomível», de lógica pouco exemplar.
2. Depois da conjunção porque, o pronome átono tem obrigatoriamente de figurar antes do verbo? Uma frase como «Isso é verdade, porque, na infância, sonhamos e iludimo-nos muito» estará, portanto, errada? A resposta encontra-se no Consultório, cuja atualização inclui mais cinco questões: que figura de estilo ocorre em «prefere agora as sílabas da sua aflição», verso de um poema de Eugénio de Andrade (1923-2005)? Para estimar distâncias, diz-se «vive a uns 200 m da escola», ou «a alguns 200 m»? E que significa ao certo a expressão preto no branco? Falando da Índia e das suas culturas, como aportuguesar sikh e namaste?
3. Não é sem dificuldade que a leitura avança nas páginas escritas por Aquilino Ribeiro (1885-1963), sempre repletas de vocábulos populares, sobretudo das Beiras. Na Montra de livros, apresenta-se um livro que pode ajudar, o Glossário Aquiliniano, de Henrique Almeida, numa reedição comemorativa do centenário, em 2019, de Terras do Demo, um dos romance mais famosos deste autor português.
4. Na rubrica O Nosso Idioma, o escritor brasileiro Chico Viana dedica uma crónica ao estilo literário oitocentista: «Aí pelo século XIX, não se dizia "O sol nasceu". Uma frase como essa era um resumo que o autor rascunhava e escondia, com medo de que o acusassem de falta de imaginação ou indigência verbal» (texto transcrito, com a devida vénia, do mural Língua e Tradição, no Facebook, 07/05/2021). Na mesma rubrica, disponibiliza-se igualmente um artigo (edição digital da revista Visão, 05/05/2021) da professora e consultora gramatical Sandra Duarte Tavares, que aí apresenta uma lista de 18 erros corrigidos, partindo do seguinte princípio: «A competência linguística, associada ao domínio da comunicação oral e escrita, assume, inequivocamente, um valor sociocultural relevante, promovendo cada vez mais aceitação, credibilidade e prestígio social.»
5. É notícia o facto de o Salão Nobre da Biblioteca Palácio Galveias, em Lisboa, ter passado a chamar-se Sala Agustina Bessa-Luís em 3 de junho de 2021, prevendo-se que a programação desta biblioteca municipal dê destaque mais assíduo à obra da autora, cujo centenário de nascimento se assinala em 2022. Trata-se da terceira sala da biblioteca – uma das maiores e centrais da Rede de Bibliotecas de Lisboa – a distinguir autores portugueses, a par da Sala José Saramago e da Sala Herberto Hélder (a abrir futuramente), numa homenagem aos maiores nomes da literatura portuguesa e numa estratégia de promoção do livro e da leitura.
6. Quanto a três programas que a rádio pública portuguesa dedica à língua portuguesa:
– Nos produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, fala-se do contributo do português para a cidadania em A Língua de Todos, na RDP África (sexta-feira, 04/06/2021, 13h20*; repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*) e dá-se conta da 4.ª Conferência Internacional sobre a Língua Portuguesa no Sistema Mundial no Páginas de Português, na Antena 2 (domingo, 06/06/2021, pelas 12h30*; com repetição no sábado seguinte, 12 de junho, às 15h30*).
– E no programa Palavras Cruzadas, também na Antena 2, o tema da semana de 7 a 11/05/2021 é A comunicação do médico com o doente oncológico. De segunda a sexta-feira, às 9h50 e 18h20.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. No presente, a sociedade procura reencontrar a sua antiga normalidade: no trabalho, na vida social, no lazer. Paulatinamente, os antigos hábitos vão-se recuperando e as antigas rotinas procuram reinstalar-se. Os cinemas adotam o programa «cinema mais seguro» e nas empresas pondera-se o regresso por meio de instrumentos de «avaliação de risco». No entanto, todos estão cientes de que se vive uma fase de «avançar vs. recuar». As atitudes da população condicionam, em muito, o caminho de evolução da pandemia e situações como as que envolveram adeptos das equipas inglesas na final da Liga dos Campeões, supostamente vindos para Portugal numa «bolha de segurança», podem comprometer uma evolução positiva. Entretanto, no Brasil, um país assolado pelas consequências da covid-19, a sua desvalorização pelo presidente Jair Bolsonaro já lhe valeu novo epíteto: «bolsovírus e genocida»; e, na Argentina, deu brado a forma como foi noticiado o falecimento, em Inglaterrra, de William "Bill" Shakespeare, o segundo homem a ser vacinado contra a covid-19 no Reino Unido. Estas são as novas entradas na rubrica A covid-19 na língua, a que se junta ainda o acrónimo IFA.
2. No campo da grafia e da prosódia dos termos técnicos e científicos, têm lugar muitos casos de oscilação que necessitariam de uma regulação promovida por entidades competentes. As dúvidas relacionadas com as palavras hipospadia e onfalocele ou hidrocele são desta realidade um bom exemplo. Ao Consultório chegam também questões direcionadas para a identificação da classe de palavras de dúzia, dezena, década e duplo e para a avaliação da possibilidade de a conjunção enquanto expressar um valor contrastivo. No âmbito sintático, analisa-se a função da locução «uns aos outros» numa frase e, no plano semântico, consideram-se os efeitos de sentidos do verbo tocar com diferentes regências. Ainda uma proposta de tradução do anglicismo outlier.
3. A 4.ª Conferência Internacional sobre a Língua Portuguesa no Sistema Mundial teve lugar nos dias 26 a 28 de maio de 2021, em Cabo Verde. Dos temas tratados e da sua importância para a língua trata o artigo da professora e linguista Margarita Correia (publicado no Diário de Notícias e aqui transcrito com a devida vénia).
4. A importância da música na difusão da língua portuguesa é um dos aspetos abordados pela professora universitária Edleise Mendes na sua crónica difundida no programa Páginas de Português, onde afirma «Somando-se a produção brasileira aos outros países da CPLP, Portugal e, especialmente, a crescente projeção da música produzida nos PALOP, o português tem circundado o mundo numa variedade de ritmos e de versos de aquecer os nossos corações» (aqui transcrita).
5. O dia 1 de junho é o Dia Mundial da Criança. Este ano a data é comemorada, mais uma vez, com as devidas contenções, mas não deixa de recordar a importância da infância para a construção de um adulto equilibrado e o facto de o destino da humanidade residir na geração que agora dá os primeiros passos. Este é também um excelente motivo para recordar alguns textos disponíveis: «A origem da palavra criança», «Criança: etimologia», «Nome coletivo de criança», ««Enquanto crianças» e «em crianças»», «Criança-soldado e crianças-soldados», «Estudo em casa, crianças invisíveis», «Brincadeiras e linguagem», «Como ajudar um filho a estudar Português?», «A origem e o significado de «ao colo»», «A origem e o significado de pirralho»,«O Capuchinho Vermelho», «Estar grávida de...», «Damas e meninos», «Escolas do paraíso», «Unigénito», «"Pais incapazes de gerir(em)"», «A diferença entre pedofilia e pederastia».
6. Entre os registos de atualidade, destacamos:
— A visita oficial do Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, à Eslovénia e à Bulgária.
Este acontecimento motiva a releitura de textos como «A volta dos gentílicos (ou adjetivos pátrios)», «O género de Balcãs», «Balcanização / mexicanização», «Sobre gentílicos de regiões romenas», «República Checa / Eslováquia» e «Sobre a Carníola (actual Eslovénia)».
— A poetisa Ana Luísa Amaral ganhou o Prémio Rainha Sofia da Poesia Ibero-Americana, que visa premiar a obra poética de um autor vivo. Este prémio é o reconhecimento do papel da poesia de Ana Luísa Amaral para o património cultural de Portugal e Espanha.
1. Na resposta coletiva à pandemia, as decisões são políticas, e os erros têm consequências desastrosas. No Brasil, será este o caso da promoção governamental do chamado «tratamento precoce», segundo o jornal brasileiro Época, «um coquetel de medicamentos sem eficácia comprovada contra covid-19 que inclui substâncias como cloroquina, azitromicina e invermectina». Abriu-se um inquérito, e uma das pessoas a depor é a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do Ministério da Saúde, que os media brasileiros já trataram de alcunhar como «capitã cloroquina». Este apodo e o termo TrateCov, designação de uma controversa aplicação de diagnóstico desenvolvida também pelo Ministério de Saúde brasileiro, fazem parte das sete novas entradas na rubrica A covid-19 na língua, igualmente alusivas ao impacto social planetário da covid-19: felicidade, países pobres, recuos e avanços, trabalho infantil e tuk-tuks.
Imagem de Gordon Johnson, Pixabay, 28/05/2021.
2. A análise das frases e seus constituintes (sintaxe) suscita em muitas pessoas uma torrente de lugares-comuns ou memórias incertas de passagens camonianas de construção intrincada. Mas, para o estudo profícuo da sintaxe, basta começar com frases da língua atual, ao alcance da intuição dos falantes. É o que acontece com os esclarecimentos acerca do verbo servir, do nome consentimento e de orações relativas introduzidas pela locução o que, que fazem parte da atualização do Consultório. A estas três respostas, juntam-se quatro respostas sobre variação regional («andar com alguém à escola» e evolução divergente de certos topónimos estrangeiros), derivação (o gentílico de Restelo), e ortografia (e-book).
3. Nas Notícias, dá-se conta da aprovação e publicação do Manual de Linguagem Inclusiva, que, em Portugal, o Conselho Económico e Social (CES), órgão constitucional de consulta e concertação social, aprovou em 20 de maio de 2021. Trata-se de um guia baseado em normativas nacionais e internacionais centradas no uso de linguagem inclusiva e promotora da igual visibilidade e simetria de mulheres e homens. Entre as recomendações, encontram-se alternativas ao uso genérico do masculino plural: propõe-se que casos como «os estudantes» sejam substituídos por «os estudantes e as estudantes». Aconselha-se ainda o recurso a expressões não discriminatórias: por exemplo, em lugar de falar de «os idosos» como um bloco, dá-se preferência à perífrase «pessoas idosas» ou «seniores».
Sobre os aspetos de género da linguagem inclusiva, consultem-se os seguintes artigos: "Parceiros sociais vão ter manual para dialogar de forma 'neutra'", "Uma questão de género: 'Portugueses', ou 'Portugueses e Portuguesas'?", "'Machista' e 'heteropatriarcal', a língua portuguesa?", A gramática não tem sexo, não é inclusiva nem exclusiva", "Elas são eles e eles são elas?", "Os cidadãos e a gramática"
4. Na rubrica O Nosso Idioma, transcreve-se,com a devida vénia, do jornal Público (25/'05/2021), a crónica que, jocosamente, o escritor Miguel Esteves Cardoso dedicou à ponderosa questão da possibilidade de derivar palavras no campo lexical da escatologia (ou seja, da «alusão aos temas das fezes, da imundície, da obscenidade», conforme definição da Infopédia), considerando que «“merdar” faz falta por ser explícito».
5. Ainda fazendo eco da polémica desencadeada pelo jornalista brasileiro Sérgio Rodrigues, em redor das forças centrífugas do português contemporâneo (ver Acordo Ortográfico), assista-se ao debate promovido pelo projeto bilingue PGlobal (jornal Público) e conduzido pela jornalista Leonete Botelho em 25/05/2021, com o título "A língua portuguesa tem futuro ou está condenada?". Intervêm o embaixador Luís Faro Ramos (embaixada de Portugal no Brasil), a professora e investigadora Madalena Vaz Pinto (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e o ator Ricardo Pereira (Conselho da Diáspora Portuguesa).
6. Fonte inesgotável de informação coligida de forma colaborativa, disponível em várias línguas e, portanto, expoente mundial da promoção do multilinguismo, a Wikipédia escrita em português comemorou vinte anos em 11 de maio de 2021. Sobre este aniversário, realçado pelo facto de a Wikipédia em língua portuguesa ter surgido poucos meses depois do lançamento da versão original em inglês em 15 de janeiro de 2001, ler mais aqui.
7. Sobre os três programas que, em Portugal, a rádio pública dedica à língua portuguesa, chama-se a atenção para:
– Os produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa – Língua de Todos, que vai para o ar na RDP África, na sexta-feira, 28 de maio, pelas 13h20* (repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*), e o Páginas de Português, na Antena 2, no domingo, 30 de maio, pelas 12h30* (com repetição no sábado seguinte, 5 de junho, às 15h30*);
– Também na Antena 2, o programa Palavras Cruzadas, de Dalila Carvalho, de segunda a sexta-feira, às 9h50 e 18h20, na semana de 31 de maio a 4 de junho, tem como tema a relevância dada ao inglês nas provas de recrutamento de quadros superiores no mundo empresarial português.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. Numa altura em que Portugal atinge o número de «5 milhões» de vacinas administradas e no Japão se vive a «quarta vaga» de covid-19, o percurso da pandemia continua a colocar desafios relacionados com o facto de estarmos perante uma «infeção perversa» ou com a definição de «parâmetros epidemiológicos». Coloca-se também em primeiro plano o conflito entre o «interesse individual e o bem comum» ou as consequências do isolamento prolongado nas amizades. Em paralelo, cresce a preocupação dos cientistas relativamente à possibilidade de transmissão humana do vírus H5N8, responsável pela gripe aviária. A estas expressões destacadas juntam-se ainda «vírus de disseminação endémica e sazonal», «vírus de disseminação pandémica» e «economia de guerra», num total de 10 novas entradas para A covid-19 na língua.
Segunda imagem: anticorpos contra a covid-19
2. O Consultório recebe novas respostas relacionadas com as regências do adjetivo tarimbado e do verbo dependurar. Os valores dos tempos verbais continuam a levantar dúvidas, como se ilustra com as respostas «"Deixas-me curioso" vs. "Deixaste-me curioso"» e «A coocorrência das duas formas de mais-que-perfeito (simples e composto)». Apresentamos também duas questões relacionadas com a identificação de funções sintáticas de predicativo do sujeito e de complemento indireto, complemento oblíquo e modificador do grupo verbal. Por fim, um esclarecimento quanto à grafia da expressão «de má fama».
3. A identificação de uma deputada pela cor da pele, numa notícia da agência Lusa, levantou a questão da ideologia subjacente ao uso de adjetivos como preto, o que deu mote à crónica da professora Carla Marques (no programa Páginas de Português, da Antena 2, aqui transcrita).
4. Os usos de viva, ora como verbo ora como interjeição, são explicados pela professora Maria Regina Rocha no apontamento «Morram as pandemias!», motivado pelo título de uma crónica do provedor do leitor do jornal Público, do dia 1 de maio de 2021: «Viva as pandemias!»
5. A abordagem da narrativa épica Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, na perspetiva do seu ensino e aprendizagem, constitui a matéria do texto da professora Lúcia Vaz Pedro, disponível na rubrica Ensino, no qual aborda o estudo da obra como o culminar de um percurso de três anos (no 3.º ciclo do ensino em Portugal).
6. A questão do erro, visto tanto na perspetiva dos gramáticos como na dos linguistas, é explorada pelo linguista Aldo Bizzochi no artigo «Afinal, existe ou não existe erro de português?» (aqui transcrita com a devida vénia).
7. Entre as notícias relacionadas com a língua, destaque para o lançamento do manual escolar A Par e Passo (Edições Asa – Leya), da autoria das professoras Carla Marques e Ana Paula Neves (notícia aqui).
1. A crise sanitária causada mundialmente pela covid-19 está longe de debelada, mas velhos problemas voltam a ter lugar destacado na atualidade, e disso são sinal os bombardeamentos na faixa de Gaza e a entrada descontrolada de imigrantes em Ceuta. Em Portugal, as preocupações são outras: entre avanços e recuos locais do desconfinamento, anuncia-se o regresso dos turistas do Reino Unido. É, pois, sobretudo a aspetos inerentes à vacinação que aludem as dez novas entradas em A covid-19 na língua: ampola,«centro de vacinação», Dia D, picadela, «raspadinha covid», recobro, «soro fisiológico», ultracongelação , «vacinações absurdas» e «vacinação adversa».
2. No domínio do nutricionismo, anunciam-se serviços não de «aconselhamento nutricional», mas de nutricoaching, termo de uso muito discutível, porque, apesar da sua aparência anglo-saxónica, os dicionários de língua inglesa não o registam, conforme se comenta numa das novas respostas do Consultório. Juntam-se sete outras questões, a respeito dos seguintes tópicos: o galicismo buffet; a classificação de manter-se como verbo copulativo («mantém-se no hospital); o infinitivo introduzido pela preposição a; o ponto e vírgula a introduzir orações coordenadas; os valores habitual e genérico do presente do indicativo; o aspeto imperfetivo; e o significado do substantivo paguel.
3. Uma notícia da agência Lusa causou mal-estar nos meios jornalístico e político por nela ocorrer um termo racista. No Pelourinho, transcreve-se, com a devida vénia, a crónica que, a propósito do incidente, o humorista Ricardo Araújo Pereira escreveu para a edição de 20/05/2021 da revista Visão.
4. Na Montra de Livros, uma breve nota apresenta Todas as Palavras que Hão de Vir, uma edição digital gratuita do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua e da Imprensa Nacional-Casa da Moeda. É um pequeno livro que, como forma de assinalar o Dia Mundial da Língua Portuguesa de 2021, reúne depoimentos de 16 escritores de oito países da CPLP à volta de memórias e considerações motivadas pelo português, .
5. Acerca da ideia de lusofonia, continua a polémica desencadeada por Sérgio Rodrigues na Folha de S. Paulo em 12/05/2021 –cf. "O brasileiro já é a língua do Brasil?", nas Controvérsias. Uma primeira réplica do historiador e político Rui Tavares encontrou novo eco em Sérgio Rodrigues (Folha de S. Paulo, 19 de maio de 2021) e até suscitou a reação do jornalista Nuno Pacheco, que se juntou ao debate no jornal Público (em 20/05/2021). Às críticas acérrimas às políticas de unidade da língua, o historiador e político Rui Tavares volta ao tema em crónica discordante, neste dia também no jornal Público.
6. Outro registo da atualidade, documentando a vitalidade do português de Angola.Trata-se da adesão de muitos jovens angolanos à recitação, declamação ou "palavra falada", um género poético de cariz urbano, internacionalmente conhecido em inglês como spoken word. Um vídeo da Deutsche Welle em português mostra como, em Angola, esta arte cresce, com vários jovens que a exploram para falar de temas como o feminismo, a sexualidade e o racismo. Ver aqui.
7. Nos três programas que na rádio pública portuguesa abordam temas da língua portuguesa:
– Fala-se do ensino da língua portuguesa em contextos linguísticos diversos e do seu ensino em Angola, de acordo com Filipe Zau, investigador em ciências da educação, professor, autor e compositor angolano – em A Língua de Todos, na RDP África (sexta-feira, 21 de maio, pelas 13h20*; repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*, e posteriormente aqui).
– Apresenta-se o livro Contos com Nível (A1), destinado a aprendentes de Português como Língua Estrangeira (nível de iniciação) e de autoria da linguista Ana Sousa Martins, coordenadora da Ciberescola da Língua Portuguesa – no Páginas de Português, na Antena 2 (domingo, 23 de maio, pelas 12h30*; com repetição no sábado seguinte, 28 de maio, às 15h30*, e depois aqui).
Neste programa, intervêm também o professor e tradutor Marco Neves, que fala sobre o seu último livro, História do Português desde o Big Bang, e a professora Carla Marques, com uma crónica sobre a palavra preto, muitas vezes usada como insulto racista.
– A boa comunicação de médicos e enfermeiros com os seus doentes é o tema que Susana Magalhães, coordenadora científica do curso de Medicina Narrativa da Universidade Católica Portuguesa, desenvolve no programa Palavras Cruzadas, na Antena 2, na semana de 24 a 28 de maio de 2021* (de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às18h20*, e também aqui), em entrevista conduzida por Dalila Carvalho.
*Hora oficial de Portugal continental
1. Entra-se em Portugal, acompanhando outros países, em fase de «vacinação massiva», com a distribuição de mais de 100 mil doses diárias. Este avanço no panorama da covid-19 abre uma nova questão: poderão os vacinados deixar de usar máscara («máscaras vs. vacinados»)? Afirma-se, nos meios políticos, que não é ainda o tempo de abandonar a máscara porque não existe «robustez científica» nos dados relativos aos estudos relacionados com as consequências da ausência de uso de máscaras em população vacinada. Enquanto isso, os britânicos preparam-se para regressar ao Algarve em busca de sol, descanso e boa comida, enchendo os «voos de verão» e lançando a recuperação do setor do turismo. O aparecimento da «vacina francesa» surge também como uma nova luz ao fundo do túnel no avanço da ciência contra o vírus SARS-CoV-2. Será, entretanto, tempo de começar a avaliar as sequelas de todo o isolamento a que a população foi sujeita, nomeadamente das crianças que ficaram «fechadas em casa». Os termos destacados constituem as seis novas entradas na rubrica A covid-19 na língua.
2. A pronúncia e grafia corretas do substantivo ambrósia integram o conjunto de respostas divulgadas na atualização do Consultório. Aqui surgem também respostas relacionadas com aspetos como a formação do plural de inverosímil, a identificação de uma enumeração, a classificação das funções sintáticas em «Eu transformei o príncipe num sapo», a classificação da modalidade na frase «Efetivamente, "George" é um conto muito bonito!», o significado da palavra dormidista e ainda o uso de terceiros como substantivo.
3. O ensino do português enquanto língua pluricêntrica encontra-se na ordem do dia e a ele associam-se relatos de situações escolares que discriminam variantes linguísticas do português. É este o tema da crónica da linguista Edleise Mendes (incluída no programa Páginas de Português, da Antena 2, de 16 de maio).
4. Deixamos aqui o destaque para alguns factos de atualidade e a sua relação com aspetos linguísticos diversificados:
— A visita do Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, à Guiné-Bissau e a Cabo Verde justifica a chamada de atenção para alguns temas linguísticos relacionados com os dois países, disponíveis no arquivo do Ciberdúvidas. Por exemplo «As línguas crioulas de Cabo Verde e Guiné»; «Os gentílicos da Guiné, da Guiné-Bissau e da Guiné Equatorial»; «A língua e os nomes na Guiné-Bissau»; «Os nomes pátrios da Guiné Equatorial e da Guiné-Bissau»; «Cabo-verdiano»; «A insistência cabo-verdiana no erróneo “caboverdeano”».
— A celebração do Dia Internacional dos Museus, em 18 de maio, uma data que este ano faz ainda mais sentido se atendermos ao afastamento que a covid trouxe à relação entre visitantes e museus. As iniciativas promovidas em Portugal para a comemoração da data encontram-se divulgadas no sítio do Património Cultural. Dá-se neste espaço relevo ao Museu Virtual da Lusofonia, que pode ser "visitado" aqui. A ele associam-se outros museus que poderão ser vistados virtualmente (ver aqui e aqui). Destaque ainda para o maior museu de instagram e tik tok da Europa (aberto ao público em Bruxelas desde o verão de 2020) e para a criação de uma aplicação para explorar museus (APP Google).
No Ciberdúvidas estão disponíveis diversos textos relacionados com a palavra museu, que vale a pena recordar: «Da palavra museu à gramática de «não dá»»; ««Museu de Marinha» vs. «Museu da Marinha»»; «O diminutivo de museu»; ««Museu Reina Sofia»... porquê?»; «O surpreendente Museu da Língua Portuguesa»; «O Museu Virtual da Lusofonia e o português no mundo global».
— Sobre o reacendimento do conflito israelo-palestiniano, recordamos o uso dos adjetivos palestino = palestiniano = palestiniense e de Israelianos, israelenses e israelitas; a etimologia de filisteu e palestino e, ainda, o recorrente erro de se qualificar uma tragédia, como esta, de humanitária.
Cf. Conflicto palestino-israelí, claves de redacción
— E, quanto à realização, neste dia, em Roterdão, da 65.ª edição do Festival Eurovisão da Canção (Eurovisão, abreviadamente), importa lembrar a sua grafia correta: com maiúsculas iniciais, enquanto o título das canções se grafa entre aspas ou em itálico. É a mesma regra seguida no castelhano, como consta desta recomendação da Fundéu/RAE (Fundação para o Espanhol Urgente).
Cf. "À séria" e "'muita' bom"... para inglês ouvir
5. Um registo final para a atribuição do Doutoramento Honoris Causa a Jorge Silva de Melo, ator, encenador e cineasta, e a Luís Miguel Cintra, também ator e encenador, pela Universidade de Lisboa, em 18 de maio de 2021. Disponível aqui.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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