As duas formas adjetivais estão corretas.
É possível que haja alguma interferência estrangeira (como o consulente sugere, mas que não é aqui possível confirmar) favorecedora da ativação da forma adjetival mediterrâneo, cuja configuração, no entanto, permite compreender por que razão mediterrânico tem uso recorrente. Na verdade, a forma sufixada em -ico permite indicar com clareza o adjetivo relacional que denota «aquilo que é do Mediterrâneo», enquanto mediterrâneo o faz de forma ambígua, pois entende-se não só como «(o que é) relativo ao Mediterrâneo» mas também como «(o que é) relativo ao que se situa entre terras, no interior», confundindo-se com o nome próprio Mediterrâneo.
Disto mesmo dá conta uma consideração feita num artigo de A folha, boletim dos serviços de tradução do português na União Europeia:
«O caso do espanhol (ou castelhano) parece-me paradigmático: se o tomo como referência quando estabelece uma diferenciação (vantajosa, para mim) entre o sinónimo de why (por qué) e o sinónimo de because (porque), por outro lado não me sinto nada tentado a segui-lo quando amalgama numa só palavra (mediterráneo) o substantivo que em português tem a forma de Mediterrâneo e o adjectivo que nós exprimimos por mediterrânico.» (Jorge Madeira Mendes, "Por que porque (conclusão)", A folha, verão de 2006, p. 8)
Esta posição parece, portanto, encontrar um argumento de peso, quando defende a opção por mediterrânico, para não confundir o que é conceptualmente distinto. Contudo, acontece que a consulta de textos de autores reputados no domínio dos estudos geográficos – Amorim Girão, Orlando Ribeiro ou Suzanne Daveau – não é de molde a corroborar tal ponto de vista, visto usarem sistematicamente o adjetivo relacional mediterrâneo, como se atesta a seguir (sublinhado nosso):
(1) Das duas espécies de carvalhos de folhagem persistente, já reveladoras das influências mediterrâneas [...], o sobreiro (Q. suber) reveste de preferência o Alentejo litoral [...].» (Amorim Girão, Atlas de Portugal, carta n.º 9, Universidade de Coimbra/Instituto de Estudos Geográficos, 1958).
(2) «Há um clima mediterrâneo, a que se liga a ideia de temperatura média elevada [...].» (Orlando Ribeiro, Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico, Lisboa, Letra Livre, 2011, p. 22)
(3) «As regiões do mundo em que o ritmo das estações é talvez o mais complexo são as do clima mediterrâneo, que ocupam apenas 1,3% da superfície dos continentes.» (Suzanne Daveau, O Ambiente Geográfico Natural, Lisboa, Museu da Paisagem, 2021, p. 54)
Em relação a «dieta mediterrânea», também é possível recolher abonações em textos científicos, por exemplo, num conjunto de estudos em que parece mera variante de «dieta mediterrânica»
(4) «Apresenta-se, de forma sucinta, a origem e processo de difusão de alguns componentes da chamada «dieta mediterrânea», em concreto, os que datam de época pré-histórica.» (António Faustino Carvalho, As origens da dieta mediterrânea", in A. Freitas et al. (coord.), Dimensões da Dieta Mediterrânica, Património Cultural Imaterial da Humanidade, Faro: Universidade do Algarve, 2015, p. 113)
Em suma, «clima mediterrâneo» e «dieta mediterrânea» são expressões que exibem um uso correto, o de mediterrâneo como adjetivo.
Agradecem-se as palavras finais de apreço.