1. Em Portugal, comemora-se em 1 de dezembro a Restauração da Independência1, ocorrida em 1640 no quadro das muitas convulsões havidas na Europa ao longo do século XVII2. A Restauração marca também a recuperação do império que permitiu difundir a língua – não obstante a perda de muitas possessões asiáticas para os Holandeses e a cidade de Ceuta ter permanecido fiel à coroa espanhola. No território ibérico, a fronteira portuguesa, incluindo Olivença, retomou quase toda a forma de 1580, ano da união dinástica; só cinco aldeias transmontanas ficaram de fora: trata-se de Ermesende (hoje Hermisende), Teixeira, São Cibrão (em galego, San Cibrao, e em San Ciprián em espanhol), Castromil e Castrelos, cinco lugares da atual província de Zamora cuja fala tradicional, apesar de geralmente considerada galega, parece guardar traços linguísticos que serão mais propriamente portugueses. Acerca do dialeto desta região, assista-se a um episódio do programa galego Ben Falado e, sobre a cultura e a dialetologia da chamada Raia (fronteira), consulte-se o portal do projeto Frontespo (Fronteira Hispano-Portuguesa).
1 Ao lado, uma imagem do livro de banda desenhada A Restauração da Independência (Porto, Edições ASA, 1986), de José Garcês e A. do Carmo Reis.
2 A Guerra dos 30 Anos envolveu vários países do centro e do ocidente europeus e conheceu diferentes fases. Convenciona-se que este conflito começou com a chamada Defenestração de Praga, «nome dado aos actos de violência, cometidos em Praga, em 1618, contra os governadores imperiais, que [...] foram atirados pelas janelas do palácio pelos protestantes da Boémia [parte ocidental da atual República Checa] [...]» (Dicionário Prático Ilustrado, Lello e Irmão – Editores, 1959). A palavra defenestração é o substantivo que corresponde a defenestrar, isto é, «atirar pela janela»; o substantivo e o verbos terão origem no francês, em, respetivamente, défénestration e défénestrer, derivados de fenestre, forma antiga de fenêtre, «janela» (cf. Dicionário Houaiss). Uma defenestração também marcou em Lisboa a Restauração de 1640 – a de Miguel de Vasconcelos, secretário da vice-rainha de Portugal, a Duquesa de Mântua. Os conjurados deram com ele escondido num armário e imediatamente o eliminaram, atirando logo depois o corpo pelas janelas do Paço da Ribeira.
2. O período da união com Espanha e a Restauração converteram Os Lusíadas num símbolo de exaltação nacional e até de fervor nacionalista. No século XXI, é preciso dar voz viva aos ideais de humanidade e universalismo que também se salientam nesse extraordinário poema do Renascimento. A este propósito, assinale-se o audiolivro Os Lusíadas como nunca os ouviu, um trabalho do ator António Fonseca, que, de 29 de novembro a 5 de janeiro, faz a interpretação integral da epopeia em espaços culturais de diferentes localidades portuguesas. O processo criativo na origem e lançamento deste audiolivro é o tema de um interessante documentário de 2013, intitulado 8816 Versos, da autoria da atriz e realizadora Sofia Marques (apresentação do filme aqui).
3. Ao fado, ao cante alentejano e ao fabrico de chocalhos, junta-se agora o barro preto de Bisalhães*, que a partir de 29 de novembro p.p. passa também a estar inscrito na lista do Património Cultural Imaterial da UNESCO. O mesmo aconteceu, um dia depois, com a falcoaria (ou cetraria) portuguesa**.
* Sobre o campo lexical da olaria veja-se um episódio do programa Cuidado com a Língua! (8.ª série, 4.º episódio).
** Cf. O masculino de águia e de falcão.
4. Da atualidade é também comunicado de 23 de novembro p. p., da Academia das Ciências de Lisboa (ACL), a qual, com vista à elaboração da 2.ª edição do seu Dicionário do Português Contemporâneo, anuncia estar «empenhada no aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico de 1990» (ver também documento Subsídios para um Aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de Ana Salgado, lexicógrafa e membro da secção de Filologia e Linguística da Classe de Letras da ACL). O mesmo já fora proposto, anteriormente, pela Academia Brasileira de Letras – responsável com a ACL da presente reforma –, cabendo ao Instituto Internacional da Língua Portuguesa, por inerência das suas específicas atribuições estatutárias no quadro multilateral da CPLP, a compilação e concretização desses acertos, e no âmbito dos trabalhos à volta da concretização dos vocabulários nacionais dos países africanos de língua oficial portuguesa e de Timor-Leste, do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa e, mais recentemente, para a fixação da terminologia técnica e científica, conforme o artigo 2.º do AO.
5. No consultório, pergunta-se: abalizado ou avalizado? «Tal e qual» ou «tal qual»? E, escrevendo o nome da cidade martirizada pela guerra civil na Síria, deve empregar-se "Aleppo" ou "Alepo"?
6. Quais as medidas a adotar para que a língua portuguesa desempenhe um papel mais central nos panoramas cultural e político mundiais? Nos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa, os desafios que a língua portuguesa enfrenta são o tema de uma entrevista concedida pelo ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, transmitida pelo Língua de Todos de sexta-feira, 2 de dezembro (às 13h15***, na RDP África, com repetição no sábado, 3 de dezembro, depois do noticiário das 9h00***). No Páginas de Português, pode ouvir-se no domingo, 4 de dezembro (na Antena 2, às 12h30***, com repetição no sábado seguinte, às 15h30***).
*** Hora oficial de Portugal continental.
7. Devido ao feriado em Portugal do 1.º de Dezembro, dia da Restauração de 1640, a próxima atualização fica marcada para segunda-feira, 5 de dezembro.