A análise proposta pela consulente é correta, dando conta de um comportamento distinto do verbo começar nas duas frases.
O verbo começar pode ter naturezas diversas:
(i) verbo intransitivo:
(1) «A aula começou.»
(ii) verbo transitivo direto:
(2) «O João começou o trabalho.»
(iii) verbo transitivo indireto:
(3) «O trabalho começa na página dois.»
Para identificar os complementos do verbo, distinguindo-os dos modificadores, podemos fazer uso de dois testes sintáticos: o teste da estrutura pseudoclivada e o teste de clivagem. Estes têm como objetivo separar o modificador do verbo e seus complementos. Apliquemo-los às frases apresentadas pela consulente.
(i) Teste da estrutura pseudoclivada:
(4) «O que este percurso pedestre faz é começar num miradouro.»
(4a) «*O que este percurso pedestre faz num miradouro é começar.»
(5) «?O que este percurso pedestre faz é começar agora.»
(5a) «O que este percurso pedestre faz agora é começar.»
(ii) Teste de clivagem:
(4c) «*É começar num miradouro que o percurso pedestre faz?»
(4d) «É começar que o percurso pedestre faz num miradouro?»
(5c) «É começar agora que o percurso pedestre faz?»
(5d) «?É começar que o percurso pedestre faz agora?»
Os testes mostram-nos que o verbo começar na frase (4) não aceita separar-se de «num miradouro», o que indica que este constituinte tem a função de complemento oblíquo, sendo o verbo transitivo indireto. Já na frase (5), o verbo aceita separar-se de agora, o que aponta para o facto de o constituinte desempenhar a função de modificador do grupo verbal, sendo o verbo intransitivo.
Disponha sempre!
*assinala a inaceitabilidade da frase.
?assinala a estranheza da frase.