Não há termo português que coincida exatamente com o termo inglês eggcorn. No entanto, o termo reanálise parece capaz de o traduzir adequadamente, apesar de, conceptualmente, ter compreensão mais vasta.
Fala-se em fenómeno de eggcorn, quando uma palavra ou expressão resultam da má compreensão de outras, através da substituição da forma original por outra foneticamente semelhante, cujo sentido também é contextualmente coerente1.
A forma do termo inglês é alusiva ao próprio fenómeno, pois provém da história verídica de alguém que pronunciava eggcorn (literalmente «grão de ovo») por deturpação de acorn («bolota»). Ao que parece, a troca passava despercebida, dada a similitude de eggcorn com a palavra correta (acorn) e a possibilidade de comparar uma bolota a um pequeno ovo. O caso foi relatado pelo linguista norte-americano Mark Liberman no seu blogue Language Log, em 23/09/2003, onde outro linguista, Geoff Pullum, sugeriu em comentário que às deturpações deste tipo se aplicasse a forma que levou à sua identificação, ou seja, eggcorn.
O fenómeno é idiossincrático, isto é, trata-se da deturpação cometida por um indivíduo. Este tipo de confusões pode ser frequente com certos títulos e letras de canções que se conhecem só por ouvido. Um exemplo em português poderia ser o caso de um jovem que dizia "Carminha Miranda" para se referir aos Carmina Burana2, conhecida obra medieval recriada pelo compositor alemão Carl Orff (1895-1982). Outro exemplo do português, embora coletivamente generalizado, será o da expressão «ovelha ranhosa» que a tradição purista condena, porquanto a expressão original será «ovelha ronhosa».
O fenómeno de eggcorn parece aproximar-se do conjunto de mudanças fonéticas, morfológicas e sintáticas que decorrem do processo de reanálise, ou seja, de «um processo de interpretação criativa de dados linguísticos ambíguos» (Gramática do Português, Fundação Calouste Gulbenkian, 2013-2020, p. 34). Na história da língua, conta-se o caso da formação do nome Tiago, cujo t provém da reanálise da expressão Sant'Iago, identificada com casos em que santo passa a são antes de consoante. Assim, se se diz São Tomé, então Sant'Iago é passível de reinterpretação como São Tiago, e daqui isola-se Tiago como forma alternativa de um nome próprio que, na Idade Média, aparecia como Iago (de iacobu-, forma do latim tardio de Jacob; cf. ibidem).
Em relação à sinonímia de eggcorn, importa assinalar que o termo oronym, formado pelo elementos clássicos or- (do latim os, oris, «boca») e o onym («respeitante a nome», do grego), tem o problema de produzir ambiguidade, por coincidir com o homónimo oronym, que se traduz por orónimo, «nome de montanha», (cf. oronym, no Wiktionary em inglês). Outro termo é mondegreen, que se aplica apenas à interpretação incorreta de palavra ou frase cantadas (cf. mondegreen, ibidem).
Por último, note-se que, no segundo par de exemplos apresentado na resposta, relativo ao português, o exemplo 1 é o legítimo, e não o exemplo 2, que é reanálise de 1. Com efeito, esparramar significa «espalhar», o que é coerente com o conhecimento que se pode ter de plantas cujas folhas se estendem pelo chão. Este será um caso afim de reanálise, que surge no intuito de tornar inteligível um vocábulo (esparramar) eventualmente menos corrente no uso.
1 Cf. Lexico Oxford, s. v. eggcorn.
2 Trata-se de um caso que terá ocorrido nos anos 80 do século passado e que foi contado ao autor desta resposta.