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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Portugal entra na 5.ª vaga de covid-19, acompanhando, ainda que em menor escala, a Europa no aumento de infeções e de internamentos hospitalares. Em simultâneo, surgem também novas estirpes do vírus, algumas das quais se mostram mais ameaçadoras para a saúde pública. Entre elas encontra-se a B.1.1.529/Ómicron. Este quadro levou a Agência Europeia do Medicamento (EMA) a aconselhar a «vacinação pediátrica» para crianças entre os 5 e os 11 anos de idade. Na sequência desta decisão, também a Sociedade Portuguesa de Pediatria veio divulgar um parecer onde se considera esta vacinação segura e eficaz. Atendendo à evolução da situação, o primeiro-ministro português António Costa anunciou um conjunto de medidas que incluem o regresso do país à situação de calamidade, a partir do dia 1 de dezembro, decisão que, até ao momento, não implica o fecho do país. Optou-se, assim, por um cenário de «confinamento contido», procurando não prejudicar o normal decurso das atividades sociais e económicas. A covid-19 na língua acompanha o desenvolvimento dos acontecimentos registando as quatro expressões atrás destacadas, às quais se juntam ainda as entradas fomite e «Quadro de pressão negativa».  

2.  A CNN Portugal assinalou a sua inauguração no dia 22 de novembro, chegando, no dia do lançamento, a mais de 1,4 milhões de telespetadores. Tendo vindo substituir a TVI24, o novo canal promete trazer novidades no campo da informação. Um reparo para o facto de nas emissões noticiosas se optar por títulos em língua inglesa, como breaking news, expressão que facilmente se substituiria por «notícias de última hora», que tem já alguma tradição em Portugal e que honraria a língua em que se pretende fazer jornalismo.

3. No Consultório, analisa-se a etimologia do nome lengalenga, os significados e ortografia do verbo assilhar e identifica-se a classe de pertença do verbo andar na expressão «andar na faculdade». Responde-se ainda a uma questão relacionada com a função sintática dos constituintes que acompanham o verbo seguir em «Siga depois até à estrada alcatroada». Nesta atualização, contamos com a identificação dos recursos expressivos presentes em «hipocrisia tão santa», expressão patente num sermão de Pe. António Vieira, e ainda com a explicação sobre a formação do plural com marcas de bebidas e o cotejo de alguns traços dialetais das variantes de português europeu e brasileiro.  

4. Na Montra de Livros, divulga-se o Dicionário de expressões (anti) racistas, uma publicação que surge na sequência do Dia Nacional da Consciência Negra, assinalado a 20 de novembro, no Brasil. Trata-se de um repositório de expressões comuns que têm um fundo racista e que são usadas não raro sem uma intenção pejorativa. Esta publicação assume-se como um passo no sentido de promover uma língua mais igualitária e livre de preconceitos sociais de natureza diversa. 

5. Na rubrica Controvérsias, transcrevemos, com a devida vénia, um artigo do ensaísta e crítico literário Eugénio Lisboa a propósito das comemorações do centenário do escritor José Saramago, que o autor do texto associa a um comportamento de «espalhafato lusíada», equiparável à atitude que se tem para com a grandeza dos Descobrimentos.

6. Entre as notícias relacionadas com a língua, destaque para a 2.ª formação técnica do projeto «Terminologias Científicas e Técnicas Comuns de Língua Portuguesa», que decorre na Universidade de Brasília até ao dia 26 de novembro. 

7. Nos programas divulgados pela rádio pública portuguesa, destaque para os seguintes temas: 

♦ O ensino do português, numa perspetiva pluricêntrica e intercultural no seio da CPLP, em Língua de Todos, transmitido pela RDP África (sexta-feira, 26/11/2021, às 13h20*);

♦ A pluricentralidade de ensino da língua portuguesa nas instituições de ensino superior de Macau e ainda aspetos do vocábulo saramago e as palavras dispêndio dispendioso, no Páginas de Português, programa da Antena 2 (domingo, 28/11/2021, às 12h30*) ;

♦ A linguagem dos auditores de empresas e a astrologia, no programa Palavras Cruzadas*, realizado por Dalila Carvalho e transmitido pela Antena 2, de 29 de novembro a 3 de dezembro, às 09h50 e às 18h20*.

 

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1.recrudescimento de casos de covid-19 em novembro de 2021 motiva o regresso de medidas restritivas, impostas pelas autoridades políticas e sanitárias. Nos Países Baixos e noutros países europeus, há oposição popular, com os manifestantes mais violentos a causarem graves distúrbios. Outros têm do combate contra a pandemia visão alternativa e organizam corona parties (ou seja, «festas covid»), numa estratégia de contágios propositados. Muitos, por seu lado, apresentam sinais de coronafobia, ou seja, de extrema ansiedade por receio de contágio. As quatro expressões sublinhadas somam-se assim, nesta atualização, ao reportório de termos, ditos e conceitos que constitui a rubrica A Covid-19 na Língua.

2. O que significa «gado de bico»? Um provérbio português, que inclui esta expressão, é o tópico de uma das seis questões em linha no Consultório, onde também se pergunta: qual é a origem da expressão «bicho de sete cabeças»? O que significa apaludado? Os nomes de grupos musicais – p. ex., «os Xutos e Pontapés» – usam-se sempre no plural?  E tem sentido pluralizar envio? Por último, uma dúvida foca a sintaxe do verbo começar quando ocorre como verbo pleno.

3. O latim parece ausente do currículo não universitário, e, por este motivo, os jovens deixam de se aperceber da relação do português com as línguas românicas, suas irmãs. Em O Nosso Idioma, transcreve-se, com a devida vénia, o artigo de opinião que a professora Cristina Fontes publicou no Correio do Minho (21/11/2021), sobre a importância dessa herança no léxico e no quotidiano. Na mesma rubrica, disponibiliza-se ainda outro texto, da linguista Margarita Correia, que salienta os benefícios da diversidade linguística e cultural para a educação (Diário de Notícias, 22/11/2021).

4. No que toca a notícias ou outras peças jornalísticas à volta do português e da sua relação com outras línguas, registo para:

– O ciclo de encontros dedicados ao discurso académico, promovidos no âmbito da Universidade de Coimbra e do Instituto Politécnico de Leiria (ver Notícias).

– A tradução de Os Lusíadas para turco* pelo diplomata Ibrahim Aybek, que assim cumpriu um desejo surgido em 2008, nos seus tempos de estudante do programa Erasmus em Portugal. Título da epopeia camoniana em língua turca: Lusitanyalılar.

* O turco é a mais importante língua da família turcomana ou túrquica (a que já se chamou altaica), que abrange idiomas falados da Lituânia à Ásia Central. Relacionadas com a Turquia, leiam-se as respostas "O natural de Istambul" e "Paxá". Na imagem, O Velho do Restelo (1904), de Columbano (1857-1929).

 – Uma lista de oito termos publicada em 2017 pela BBC Culture e incluída em tradução na Notícias, na qual se mostra como, da literatura à técnica e à ciência, muitas foram as palavras inventadas que introduziram novas maneiras de pensar à medida que se internacionalizavam e se adaptavam foneticamente a outras línguas.

5. A respeito dos programas de rádio produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa:

–  O ensino do português, numa perspetiva pluricêntrica e intercultural no seio da CPLP, é o tema de uma entrevista com Bernardino Valente Calossa, professor da Universidade Mandume Ya Ndemufayo (Lubango, Angola), em Língua de Todos, transmitido pela RDP África (sexta-feira, 26/11/2021, às 13h20*).

– Sobre a pluricentralidade de ensino da língua portuguesa nas instituições de ensino superior de Macau, fala a professora Vanessa Amaro (Instituto Politécnico de Macau), em Páginas de Português, que vai para o ar na Antena 2 (domingo, 28/11/2021, às 12h30*). Também neste programa, a crónica da professora Carla Marques, dedicada ao vocábulo saramago, nome de homem e nome de planta, numa homenagem ao José Saramago (1922-2010), por altura do início das comemorações do centenário do Nobel português da Literatura. Espaço ainda para a professora Sandra Duarte Tavares comentar as palavras dispêndio e dispendioso.

* Hora oficial de Portugal continental. 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1.  O início da celebração do centenário de José Saramago, um autor cuja complexidade das temáticas que desenvolve e pela linguagem singular que o caracteriza – nomeadamente na pontuação – "assusta" tantas vezes alunos e professores, é pretexto de uma reflexão da professora Lúcia Vaz Pedro, sobre «o enorme potencial que constitui o estudo do Nobel português da Literatura, e como fazer para ultrapassar as dificuldades em sala de aula». 

2. No Consultório, entraram sete novas perguntas: a pronúncia dialetal da palavra baldio, o fenómeno de reanálise em nomes próprios como Tiago, a diferença entre serôdio e sorôdio. Esclarece-se ainda o funcionamento dos adjetivos relacionais, nomeadamente no que diz respeito às suas excecionalidades e casos particulares; as construções com os verbos pensar e repensar e com o nome compaixão. Por último, uma explicação da expressão «meter o Rossio pela Betesga» na obra de Almeida Garrett

3. Sobre a introdução no dicionário francês Le Petit Robert do pronome não binário neutro iel – junção de il ele») e elle ela») — a agência Lusa deu conta de uma acesa querela desencadeada entre linguistas gauleses. É o que fica transcrito na rubrica Diversidades, via jornal digital Observador, com a data de 19 de novembro de 2021.

4. Com o número de doentes internados a duplicar num mês em Portugal, mesmo assim, a situação é considerada pelas autoridades sanitárias como «moderadamente preocupante». Esta expressão e a entrada Task force II são os dois registos mais recentes em A covid-19 na língua.  

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

 1. Em Portugal, como em grande parte da Europa, continuam a aumentar os números da pandemia, e volta o confinamento com o teletrabalho. Deste cenário dão testemunho as novas entradas de A covid-19 na Língua:  «nómada digital», expressão alusiva ao trabalho remoto devido às restrições na circulação e concentração de pessoas; e «testes gratuitos», em referência  aos testes rápidos de antigénio efetuados nas farmácias e laboratórios portugueses aderentes ao regime excecional de comparticipação governamental, que voltaram a ser gratuitos a partir deste dia.

2. A sigla DGS, correspondente a Direção-Geral da Saúde, tão falada em Portugal nestes tempos da pandemia da covid-19 – similar a uma outra igualmente bem conhecida, mas pelas mais sinistras razões, de antes do 25 de Abril de 1974 –, dá o mote para a a crónica de tom humorístico intitulada "O infortúnio das siglas", que o jornalista, poeta e escritor luso-moçambicano Luís Carlos Patraquim assina na rubrica O Nosso Idioma.

3. No Consultório,  ficaram sete novas perguntas em linha relacionadas com os seguintes tópicos: a pronominalização do nome família; a tradução do anglicismo mute (uma funcionalidade de plataformas de videoconferência); a pontuação da exclamação «ai, meu Deus!»; a expressão «à época»; a forma pronominal no-la; o uso poético de «água ardente»; e a regência do adjetivo correspondente.

4. Entre os temas da atualidade, assinalem-se:

– O início em 16 de novembro de 2021 das comemorações do centenário de José Saramago (1922-2010).

Sobre o Nobel  português da Literatura, lembramos, entre outros textos no arquivo do CiberdúvidasUma língua que não se defende, morre; As palavrasDe novo, a vírgula de SaramagoLer e reler Saramago; Saramago, o escritor que brinca com a pontuaçãoSaramago, o IbéricoMemorial do Convento, «uma permanente homenagem à língua portuguesa»; e As armadilhas da língua.

– A homenagem ao escritor Mário de Carvalho promovida pela Faculdade de Letras de Lisboa, no âmbito das comemorações dos 40 anos da sua vida literária, no dia 22 de novembro p.f., pelas 18h30*. Sessão  pública presidida pelo PR português, Marcelo Rebelo de Sousa, e em que são oradores os professores Paula Morão e Manuel Frias Martins.

Cf. Era bom que trocássemos umas ideias sobre o Mário de Carvalho Mário de Carvalho: «Nem tudo o que vem de antes é clássico»

– A preocupante falta de professores nos ensino básico e secundário em Portugal, situação que leva a que a disciplina de Português, segundo o jornal Público (18 de novembro de 2021), seja uma das afetadas no conjunto do currículo.

5. Destacam-se os temas centrais de três dos programas que a rádio pública portuguesa dedica à nossa língua:

– As línguas pluricêntricas (como é o caso do português) e os desafios que colocam à elaboração de gramáticas são os tópicos comuns às entrevistas incluídas em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 19/11/2021, às 13h20*) e Páginas de Português (Antena 2, domingo, 21/11/2021, às 12h30*);

– A linguagem das empresas está em foco no programa Palavras Cruzadas*, realizado por Dalila Carvalho e transmitido pela Antena 2, de 22 a 26 de novembro, às 09h50 e às 18h20*.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Com o surto da quinta vaga da pandemia do covid-19 e o aumento de casos de internamentos, vários países europeus, como a Áustria e os Países Baixos, decidiram impor um confinamento nacional para quem não esteja vacinado. Tal é o contexto da atualização da rubrica A covid-19 na língua, onde se registam as seguintes expressões: «confinamento de não vacinados», «dias sombrios», «direito a desligar» e «vacinas de 2.ª geração».

2. No Consultório, explica-se a função sintática desempenhada por «braçal», na expressão «trabalhador braçal», e «da Amália», na expressão  «um fado da Amália». Além disso, indica-se a pronúncia das sequências vocálicas ee e oo, em palavras como compreender e cooperação. Refere-se igualmente o plural de glúten e como se deve escrever em português bricolage. Também se revelam o significado do verbo rotear e a construção correta de frases negativas com pronomes

3. Na rubrica Lusofonias, ficou em linha uma crónica do jornalista e escritor moçambicano Luís Carlos Patraquim à volta da palavra lusofonia que «chegou muito depois dIndependência» do seu país natal.

4. A palavra docuficção, um neologismo cinéfilo com recente consagração dicionarística, está em destaque em O nosso idioma, num apontamento da professora Lúcia Vaz Pedro.

5. «Qual será o palavrão mais usado em Portugal? A pergunta e a resposta saõ do professor universitário e tradutor Marco Neves – em crónica transcrita, com a devida vénia, também na mesma rubrica, do blogue do autor, Certas Palavras, com a data de 15 de novembro de 2021. 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1.  Miríade tem sido uma palavra atual a propósito da Operação Miríade, nome dado pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária, que investiga militares por suspeitas de tráfico de diamantes e ouro em missões militares em diversos países. Este vocábulo, que tem a variante miríada, significa «dez mil», mas pode igualmente ser usado para referir uma «grande quantidade de coisas em número indeterminado». Sobre o assunto, leia-se um apontamento da professora Carla Marques, disponível na rubrica O Nosso Idioma.  

2.  No Ciberdúvidas há ainda as respostas, sempre cuidadas e completas, para as questões que se colocam no Consultório: esclarecimentos sobre o conceito de dramaturgia e sobre o que não é a dêixis; o regresso do adjetivo abesbílico, cuja formação continua obscura; a explicação acerca do verbo viver, quando sinónimo de  interpretar e representar; a maneira de referir os adeptos do Farense e do Louletano, dois clubes de futebol do Algarve; e as situações em que o nome homem pode escrito com maiúscula inicial. Por último, uma distinção da linguagem técnica e científica, a que existe medir e pesar, quando se fala de massa.

3. Na rubrica Montra de Livros, sugere-se a leitura ou a consulta do livro Apelidos da Galiza, de Portugal e do Brasil de Diego Bernal Rico. Trata-se de um pequeno dicionário de uma subgrupo nomes próprios – os apelidos, como se diz na Galiza e em Portugal, também conhecidos como sobrenomes no Brasil –, que inclui ainda noções elementares dos estudos de onomástica e aspetos da história da antroponímia galego-portuguesa, encarada na perspetiva da Galiza.

4. Nas Controvérsias, destacamos o artigo "Xadrez político dos imortais", publicado na revista Piauí, em 11 de novembro de 2021, e da autoria da jornalista Ana Clara Costa, que faz uma incursão pelas das manobras dos membros da Academia Brasileira de Letras para eleger os seus candidatos favoritos. 

5. A seleção de Portugal não se conseguiu apurar ainda para Mundial de Futebol, a realizar no final de 2022, mas o nome do país organizador continua a ver-se escrito não na forma recomendada na nossa língua: Catar.  A grafia há muito que se encontra registada no Dicionário Onomástico Etimológio da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, e mais recentemente, no Dicionário de Gentílicos e Topónimos (Portal Língua Portuguesa, ILTEC), além de ser a forma usada nos documentos das instituições europeias  (cf. Código de Redação Interinstitucional). A grafia internacional inglesa Qatar, uma vez que a sequência qa não existe na tradição ortográfica portuguesa, tem como aportuguesamento Catar, que se pronuncia (aproximadamente) da mesma maneira, isto é, com /a/ aberto na primeira sílaba e com acento tónico na última sílaba. Os gentílicos do Catar são catarenses e catarianos. O Dicionário Priberam regista também catari como adaptação de qatari (do inglês).

Ao lado, uma imagem de 2015 (fonte: BBC) do projeto do atual estádio Al Janoub, inaugurado em 2019 e um dos equipamentos onde irá decorrer o Mundial de Futebol de 2022, a realizar no Catar.

6. O Dia Nacional da Língua Gestual Portuguesa  um dos idiomas oficiais em Portugal  assinala-se anualmente a 15 de novembro. Objetivo: promover a língua gestual portuguesa (LGP) e garantir o respeito dos direitos das pessoas surdas. Entre várias iniciativas deste dia, assinale-se a da Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto com a apresentação de um conjunto de vídeos sobre o reconhecimento da LGP. E ainda a parceria estabelecida entre a PSP e a Porto Editora para a linguagem gestual passar a constar nas esquadras policiais através de dicionários LGP.

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1. Berbicacho foi palavra de relevo em Portugal quando o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa alertou para as consequências do ""chumbo" do Orçamento de Estadpara 2022 na Assembleia da República: «Se os portugueses não dão uma clara maioria a ninguém, será um berbicacho para o presidente». E o berbicacho chegou mesmo, com a crise política instalada no país. A relevância da palvra justificou um apontamento da professora Carla Marques, disponível na rubrica O Nosso Idioma.  

 2. O Ciberdúvidas tem assumido como uma das suas missões constituir-se como plataforma de apoio à atividade docente no que diz respeito ao ensino da gramática (e de outras áreas). É o caso, numa da seis novas respostas entradas no Consultório da presente atualização, sobre  a distinção das classes do nome e do adjetivo.  Outras questões: o regionalismo algarvio excramelgado, a etimologia do nome dobrada, algumas construções com o verbo sentir, as expressões «ficar em casa» vs. «ficar na casa», à volta da pronúncia do r simples no português europeu e, por último, quanto às normas a adotar em caso de citação e relativas ao uso de aspas e de itálico.  

3. Na  rubrica Montra de Livros, divulga-se a obra Ética e Pedagogia da Literatura Oral Africana, de Bonifácio Tchimboto e Eusébio S. C. Tchamawe, uma edição Facta Lux. Trata-se de uma «obra que fornece aos investigadores uma visão bem estruturada e interessante sobre as funções sociais das literaturas orais africanas, sobretudo a literatura oral [umbundo]», como se pode ler na nota de apresentação. 

4.  A professora e linguista Sandra Tavares Duarte dedica a sua crónica mais recente à invasão de estrangeirismos que se verifica em muitos domínios da vida social e profissional, o que leva a autora a perguntar: «Precisa mesmo dessa palavra?» (texto publicado na revista Visão e aqui transcrito com a devida vénia) 

5. No âmbito das notícias de interesse para a língua, destacamos a VII Jornada de Língua Portuguesa - Investigação e Ensino, promovida pela Cátedra Eugénio Tavares, da Universidade de Cabo Verde, que decorre entre 11 e 13 de novembro, em regime misto (presencial e à distância). Esta edição tem como eixo temático central o ensino e aprendizagem da escrita do português como língua segunda (notícia aqui).

6. Temas dos três programas da rádio pública portuguesa dedicados à lingua portuguesa:

♦ Uma entrevista à professora universitária e linguista Margarita Correia, a propósito da linguagem inclusiva (Língua de Todos, RDP África*);

♦ Uma conversa com professora universitária e linguista Cristina Martins, sobre  curso de mestrado de Português Língua Estrangeira e Língua Segunda, com lugar na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra; e, ainda, sobre a palavra miríade, num apontamento professora Carla Marques (Páginas de PortuguêsAntena 2**);

♦ E, no programa Palavras Cruzadas***, igualmente na Antena 2, o major-general Carlos Branco aborda a especifidade e o tratamento dos cargos de topo da vida militar, enquanto a investigadora Sónia Aires Lima se debruça sobre os costumes da era vitoriana e o que representou o movimento de emancipação das mulheres.

*  Sexta-feira, 12 de novembro de 2021, pelas 13h20, com repetição no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00 (hora oficial portuguesa)

** domingo, 14 de novembro de 2021, pelas 12h30, com repetição no sábado seguinte, 20 de novembro, às 15h30 (hora oficial portuguesa)

*** na Antena 2, de 8 a 12 de novembro, às 09h50 e às 18h20 (hora oficial portuguesa)

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O que são «habilidades motoras»? Não será melhor dizer «capacidades motoras»? Diz-se «estar com aerofagia» ou «ter aerofagia»? E que função sintática exige o verbo vir associado à preposição por? Que diferenças existem entre o verbo fatigar e fadigar? Qual será o melhor termo para traduzir a palavra tester do inglês? Podem-se omitir sempre modificadores do grupo verbal (p. ex. ontem) em frases como «comi o bolo ontem»? A presente atualização do Consultório tem resposta a todas estas perguntas.

2. Na rubrica Diversidades, traduz-se um apontamento do escritor espanhol Juan José Millás publicado no jornal El País, em 5 de novembro de 2021, à volta do verbo abandonar e outros. 

3. Na Montra de Livros, apresenta-se a Revista Internacional em Língua Portuguesa (RILP), uma publicação interdisciplinar da Associação das Universidades de Língua Portuguesa, que dedica o seu número 39 (IV série, 2021) ao tema do ensino da língua portuguesa. Este número conta com a edição científica de Alexandre Chicuna e Manuel Célio Conceição e reúne artigos de docentes do ensino superior (Brasil, Estados Unidos, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique e Portugal), que se referem aos processos de ensino-aprendizagem do português língua não materna (PLNM) ou do português língua estrangeira (PLE).

4. Em 10 de novembro celebra-se o Dia Internacional dos Museus e Centros de Ciência, comemorado pelo Centro de Ciência Viva de Braga (CCVBraga) em conjunto com alguns museus bracarenses. O programa inclui um peddy-paper científico com início a 6 de novembro e término a 13 de novembro. Os participantes poderão visitar cinco museus da cidade e responder às questões formuladas por cada uma dessas entidades. São aderentes o Mosteiro de S. Martinho de Tibães, o Museu dos Biscainhos, o Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, o Centro Interpretativo Memórias da Misericórdia de Braga – Palácio do Raio, as Termas Romanas do Alto da Cividade, a Fonte do Ídolo. Mais informação aqui.

Sobre termos dos campos lexicais do património e da ciência, sugere-se a leitura de alguns artigos e respostas em arquivo: "A expressão património mundial",  "Museu de Marinha vs. Museu da Marinha", "O diminutivo de 'museu'", "A origem da palavra museografia", "O neologismo curatorial", "Os centros de visitantes e de visitas", "O surpreendente Museu da Língua Portuguesa", "A ciência e a língua portuguesa", "Língua portuguesa e ciência" e "Internacionalizar a ciência é anglicizá-la?".

Na imagem, o Palácio do Raio (Braga), construção de meados do séc. XVIII, onde se encontra o Cenrtro Interpretativo Memórias da Misericórdia de Braga.

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1. Em A Covid-19 na língua, alerta-se para o perigo dos boatos com a entrada de «pandemia da pandemia», uma expressão criada pelo escritor luso-angolano José Eduardo Agualusa (ver crónica publicada no jornal brasileiro O Globo, de 29/02/2020), para referir a "infeção" de preconceitos que as notícias falsas fazem circular no contexto da pandemia em curso. A propósito dos ataques de pânico, fobias e sinais de depressão motivados pela covid-19, nomeadamente nas crianças e adolescentes em Portugal, inclui-se também na referida rubrica o vocábulo pânico, palavra que provém do grego panikós, «relativo a Pã», deus perturbador dos espíritos, e denota um sentimento sufocante de ou ansiedade.

2. No Consultório,  algumas questões importantes sobre a língua portuguesa: a hipérbole «toda a vida e mais seis meses»; o verbo achar como transitivo-predicativo; o complemento oblíquo na estrutura «acabar por» + infinitivo; o género do nome terminal; o uso da locução «em certo momento»;

3. Em O Nosso Idioma, aborda-se o verbo desservir, palavra que deriva por prefixação de servir e que, apesar de ter registos bastante antigos, pode parecer recente a muitos falantes da língua portuguesa. É verbo que tem tido utilização recorrente, como assinala a professora Lúcia Vaz Pedro, num apontamento sobre esse verbo. 

4. Destaque para a morte prematura da cantora brasileira Marília Mendonça, num acidente de avião no dia cinco de novembro, cuja voz potente e grande popularidade lhe deu o nome de «rainha da sofrência». Este substantivo feminino, apesar de ainda não dicionarizado, surge por derivação sufixal (a partir do tema sofre-, do verbo sofrer + sufixo -ncia) e aplica-se nomeadamente ao tipo de música que exalta o sentimento intenso de quem sofre com uma desilusão amorosa. Este termo ganhou notoriedade no Brasil graças ao cantor baiano Pablo. Não demorou muito para que as músicas feitas pelo artista fossem associadas à "sofrência", surgindo assim um novo género musical no Brasil, que mistura o ritmo do sertanejo, do arrocha e a música brega. Marília Mendonça era também uma das representantes do movimento batizado "feminejo". Com letras sobre desilusões amorosas, superação de relacionamentos abusivos, autoestima feminina e apoio entre mulheres, Marília Mendonça trouxe o termo para o cenário desse estilo musical ainda tão masculino. O termo, que também ainda não se encontra dicionarizado, resulta de um processo irregular de formação, juntando partes de duas palavras: feminino e sertanejo. A esse processo dá-se o nome de amálgama.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, voltam a subir os números da pandemia, coincidindo com o avanço do outono no hemisfério norte, com as (nem sempre) mais benignas gripes e constipações. Neste contexto, a vacinação simultânea contra a gripe e a covid-19 passou a ser administrada desde outubro de 2021, por determinação da Direcção-Geral da Saúde, «considerando que esta é decisiva para minimizar o risco de propagação de vírus como o SARS-CoV-2 e o vírus da gripe e para diminuir a ocorrência de doença grave». Dando conta da situação, a expressão «dupla vacinação» é uma das novas entradas na rubrica A covid-19 na língua, na qual se inclui ainda a palavra estagflação, aportuguesamento da criação inglesa stagflation. Este termo denomina um dos efeitos da pandemia na vida financeira e económica, por combinação de inflação alta com o crescimento económico estagnado, associados a elevados níveis de desemprego.

Na imagem, o bosque das faias de S. Lourenço, na Serra da Estrela (fonte; Green Trekker, 05/11/2021).

2. No Consultório, cinco novas questões: o que significa a expressão «mandar papaias»? Qual é a subclasse do advérbio talvez? Usando rosa como adjetivo e em relação à cor, diz-se «as blusas são rosas» ou «as blusas são rosa»? Implantação e implementação são sinónimos? E será que a expressão «numa hora» significa o mesmo que «dentro de uma hora»?

3. Em O Nosso idioma, as atenções concentram-se em dois grandes encontros de âmbito internacional, a Web Summit de 2021, que se realizou em Lisboa, entre 1 e 4 de novembro, e a COP26, ou seja, a 26.ª Conferência do Clima, que decorre de 31 de outubro a 12 de novembro em Glasgow, na Escócia. A cada encontro dedica-se um texto nesta rubrica:

– Um apontamento acompanhado de um breve glossário, da autoria de Jéssica Mendes (ISCTE-IUL), acerca dos exageros da anglicização das profissões, de novo evidenciados pela Web Summit 2021;

– Uma lista de recomendações e comentários sobre termos e conceitos ativados pelas notícias respeitantes à COP26.

4. Na rubrica Diversidades, apresenta-se a tradução de um artigo de opinião do escritor espanhol Javier Marías (El País, 30/10/2021), que tece críticas aos aspetos linguísticos do conflito político e regional em Espanha, onde a (falsa) esquerda, ao promover atitudes de intolerância linguística, acaba por se encontrar com as posições ultradireitistas.

5. Registo, ainda, para duas notícias da atualidade:

♦ A criação de três novas cátedras nos EUA – a Cátedra Três Marias (Universidade de Rutgers New Brunswick), a Cátedra Lídia Jorge (Universidade de Massachussets UMass Amherst) e a Cátedra de Língua e Cultura Portuguesa (Universidades do Utah e Brigham Young). É o que preveem os protocolos assinados em 2 de novembro p. p. entre o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e quatro universidades norte-americanas.

♦ A eleição de três novos membros para a Academia Brasileira de Letras: a atriz Fernanda Montenegro (n. 1929), para o lugar do diplomata Affonso Arinos de Mello Franco, falecido em março de 2020; e dos portugueses Guilherme d’Oliveira Martins e Telmo Verdelho, estes como sócios correspondentes, escolhidos para ocuparem, respetivamente, as cadeiras deixadas vagas por Eduardo Lourenço (1923 – 2020) e João Malaca Casteleiro (1936-2020).

6. Temas de três programas que a rádio pública portuguesa dedica à língua portuguesa:

– O ensino do português em Moçambique – em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 5 de novembro, às 13h20) – e na Guiné-Bissau – em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 7 de novembro, às 12h30*).

– Em Palavras Cruzadas (Antena 2, de 8 a 12 de novembro, às 09h50 e às 18h20), entrevista-se o cientista e professor universitário João Caraça, a propósito de conhecimento, linguagem, pessoa cultaelite intelectual e translação.

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* Hora oficial de Portugal continental.