A resposta dada por Ana Martins aborda apenas as características regulares e típicas do adjetivo relacional, daí não prever exceções ou casos particulares.
Consideremos, agora, os aspetos focados pela consulente:
I. Os adjetivos são graduáveis quando se podem associar a uma escala. Por essa razão, os adjetivos relacionais típicos não variam em grau, uma vez que formam com o nome uma relação fechada que não é suscetível de variar segundo uma escala. Por exemplo, de um polícia não se poderá afirmar que é «muito ou pouco civil». No entanto, em contexto figurados/de natureza estilística, a subclasse pode moldar-se à expressão de sentidos não literais, que se poderão processar através de graduação do adjetivo. Será o que explica a possibilidade de «Enredo kafkianíssimo» ou «uma invasão pouco americana».
II. Geralmente, os adjetivos relacionais não aceitam a posição predicativa. Há, no entanto, exceções, previstas1:
(i) o adjetivo relacional pode estar ao serviço de uma construção contrastiva (explícita ou implícita), o que pode acontecer em (1):
(1) «O jornal é diário (não semanal).»
(ii) «os adjetivos relacionais formados a partir de outros adjetivos relacionais, como amoral, monocromático ou multirracial, ao contrário das suas bases, aceitam facilmente a função predicativa»2.
III. Tradicionalmente, os adjetivos relacionais não se podem antepor ao nome, pois tal implica a anulação da leitura restritiva que os caracteriza. No entanto, podemos aventar a hipótese de monocromático poder surgir anteposto ao nome pelas razões apontadas por Casteleiro no parágrafo anterior (este aspeto será merecedor de estudos mais aprofundados). Não obstante, é certo que a anteposição de um adjetivo fica associada à expressão de um determinado valor afetivo, o que parece ser o caso de «meu monocromático amigo», que se abre assim a uma leitura metafórica (e não literal).
IV. Por fim, monocromático e policromático são adjetivos compostos, como já ficou dito. Neste caso, o que se opõe são os radicais mono- e poli-.
Disponha sempre!
1. Consulte-se, por exemplo, Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian.
2. Casteleiro, apud Veloso e Raposo, in id., ibid., p. 1385