DÚVIDAS

A omissão do pronome pessoal átono em «avise-me» e «avise»

Tenho uma dúvida acerca dos pronomes oblíquos. Posso ocultar tais pronomes?

Vou exemplificar: «Quando você chegar, avise-me»

Poderia refazer essa oração assim: «Quando você chegar, avise»?

Esse tipo de construção é possível dentro das normas do português do Brasil?

Grato!

Resposta

Na linguagem coloquial usado num registo informal a elipse do pronome átono é muito frequente:

(1) « ̶  Viste o João?»  

      « ̶  Sim, vi.» (= «Sim, vi-o.»)

Este fenómeno, designado objeto nulo, não prejudica a comunicação porque o contexto discursivo ou situacional permite recuperar o constituinte elidido, de modo a que não se perca informação. No entanto, na escrita, em registo formal, é sempre preferível optar pela realização do complemento direto/ objeto direto, evitando a elipse de pronomes átonos.

No caso apresentado pelo consulente, podemos considerar que evidencia uma situação similar à anteriormente descrita. Não obstante, poderemos ainda estabelecer uma diferença entre as frases (2) e (3):

(2) «Quando você chegar, avise-me.»

(3) «Quando você chegar, avise.»

Na frase (2), o cumprimento do pedido tem como alvo expresso o locutor. Já na frase (3), a interpretação do complemento omitido é genérica, pois não se refere um alvo concreto, pelo que poderá corresponder a qualquer pessoa («avise alguém»).1

Disponha sempre!

 

1. Para maior aprofundamento cf. Duarte e Costa in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp.2339 - 2348.

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