A história da mesóclise1 está ligada à história da formação do futuro simples do indicativo em português. Este tempo verbal tem origem numa perífrase verbal do latim vulgar. Por exemplo, amarei representa o resultado de amare habeo.
Acontece que a forma em apreço manteve até determinada época a autonomia dos seus elementos constituintes, a ponto de entre estes poder inserir-se um pronome pessoal complemento: assim, de amare illum habeo, a evolução para o galego-português foi no sentido de possibilitar formas como amá-lo-ei, que historicamente é equivalente a «hei de amá-lo», mas de acordo com uma ordem sintática diferente.
1 A mesóclise consiste na «colocação do pronome oblíquo átono [_pronome pessoal átono] entre o radical e a desinência das formas verbais do futuro do presente e do futuro do pretérito (p.ex.: vê-lo-ei, contar-me-ás)» (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).
[N. E. (20/03/2020) – Acrescente-se as considerações do linguista galego Manuel Ferreiro, na sua Gramática Histórica Galega (Edicións Laiovento, 1996, p. 298): «No galego-português medieval, a natureza analítica deste tempo (e mais do Pospretérito) estaba plenamente vixente, sendo posíbel a separación da forma de infinitivo da desinencia por meio dun pronome persoal (tmese: amá-lo-ei, amar-vos-ei, etc. , a carón de amarei-o, amarei-vos, etc. Esta construcción desapareceu en galego moderno, manténdose ainda no portugués literario.» O termo Pospretéritoé equivalente aos termos condicional (usado em Portugal) e futuro do pretérito (Brasil.]