1. Dia 8 de março celebra-se o Dia Internacional da Mulher, data instituída oficialmente em 1957, pelas Nacões Unidas. Embora haja quem associe o dia a um momento de festejo, o seu mais profundo intuito é de protesto pelos direitos que as mulheres ainda não conseguiram ver reconhecidos. E é por esta razão que este dia mantém a sua essência. Com efeito, em pleno século XXI, continuamos a verificar a existência de direitos diferentes com base apenas na discrimunação de género. As mulheres continuam a ter salários inferiores para o mesmo trabalho, continuam a ter dificuldades em aceder a cargos de chefia nos diferentes domínios e muitas continuam a acumular empregos com tarefas domésticas e exercício da maternidade, para já não falar de outras diferenças mais gritantes ainda que se observam em diferentes culturas e em diferentes pontos do planeta. Também a linguagem sinaliza estas assimetrias, funcionando como uma projeção da forma como se concebe a sociedade. Recordemos o caso das profissões que não têm feminino ou cujo feminino tem dificuldades em impor-se. A este propósito, deixamos aqui apontamento das muitas respostas que o Ciberdúvidas tem tratado a respeito deste tema: «O feminino de guarda-noturno», «O feminino de palhaço», «Feminino de piloto aviador», «A Juíza + a aprendiza», «Capataz ou capataza?», «Ainda o feminino de capitão», «Feminino de escanção», «Qual o feminino de bombeiro?», «A tropa no feminino», «O feminino de gramático», «O feminino de músico», «Político-mulher» e ainda o artigo «Palavras à procura de feminino». A evocação dos direitos da mulher não nos deve permitir esquecer que continuam a fazer parte do quotidiano de muitíssimas mulheres terríveis situações de violência doméstica, algumas das quais resultam em feminícidio (palavra tratada aqui por diversas ocasiões «Ginocídio e feminicício», «Feminicício ≠ uxoricídio»). Esta é uma luta que a todos convoca. O Dia da Mulher é também motivo bastante para que recordemos aqui o texto intitulado «Porque sou feminista», da jornalista Anabela Mota Ribeiro, no qual, assumindo-se como exemplo, esta evoca todo um percurso de libertação e conquistas da mulher portuguesa ao longo de três gerações, passando também pela pintura de Paula Rego e pelas personagens femininas do escritor brasileiro Machado de Assis. Da mulher e das suas histórias à arte e ao mundo, vistos a partir do espaço doméstico onde a mulher existe e se reconstrói (texto divulgado no blogue pessoal da autora e que foi lido no International Seminar Female Public Intellectuals: critical thinking and social activism, com lugar na Universidade dos Açores, em 26 e 27 Setembro de 2019).
A propósito ainda do dia da «mais bela metade do mundo», como lhes chamou Jean-Jacques Rosseau: Vestidas de Negro + O Dia Internacional da Mulher ainda é necessário? Sim! Saiba porquê
Primeira imagem: Anjo, Paula Rego, 1998.
2. A acentuação resulta de um conjunto de convenções que procuram, em simultâneo, resolver questões especificamente associadas à representação dos sons. O caso dos sons nasais e, em particular, dos ditongos nasais exige um olhar atento que se proporciona nesta resposta que integra a atualização do Consultório. Nesta secção, encontramos ainda uma análise aos complementos do verbo falar e às preposições que este rege bem como a identificação da função sintática do constituinte que acompanha o nome pergunta em «pergunta sobre o sentido que a dada altura nos assalta». Apresentamos também duas respostas de âmbito lexical: uma sobre a existência e significado do verbo desadensar e outra que coteja os adjetivos favorito e preferido.
3. O preconceito racial confunde-se com a história de vários países. Portugal não é exceção e a sua língua, sendo permeável à cultura do povo que a fala, não permanece neutra, acabando por denunciar uma matriz discriminatória na base de algum do seu léxico. Partindo destes princípios, a professora e investigadora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Margarita Correia propõe, num artigo intitulado «A discriminação racial nos dicionários de língua», colocar novas questões relativas à forma como as palavras que designam conceitos relacionados com a raça e com a etnia deverão ser abordadas num dicionário: deve procurar-se o socialmente correto ou optar-se por uma perspetiva meramente descritiva?
4. Entre as notícias que se relacionam com a língua portuguesa, damos destaque a dois eventos:
– O Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa foi o último convidado do «Camões dá que falar», promovido no dia 4 de março pelo Camões – Instituto da Cooperação e da língua. Aqui se falou do desafio que coloca a expansão da língua portuguesa e do seu ensino pelo mundo, considerando o orador que o grande desafio é o de promover a língua portuguesa como «língua universal» (ver notícia);
– A peça «A menor língua do mundo» está em cena até dia 15 de março no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. Trata-se de um texto que resulta de uma viagem da equipa artística por diferentes regiões do país ao encontro das línguas e dialetos que em Portugal e na Península Ibérica estão ameaçadas: «a língua gestual portuguesa, o minderico, o aragonês, o barranquenho e o mirandês entre outras», lê-se no texto de apresentação do espetáculo.
5. Nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa, recordamos:
– A entrevista ao linguista Fernando Venâncio a propósito da sua obra Assim Nasceu uma Língua, no programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 9 de março, pelas 13h20*;
– A entrevista dada pela professora Teresa Simão ao programa Página de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 8 de março, pelas 12h30*, abordando a sua obra Dicionário do Falar Raiano de Marvão.
O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 7 de março, depois do noticiário das 09h00; e o Páginas de Português tem repetição no sábado, dia 14 de março, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.