Não se trata de uma gralha, dado que a situação se repete no lead e no corpo da notícia. Em referência à queda do preço do petróleo, o jornal Correio da Manhã, na sua edição de 8 de março de 2020 (pág. 32) assinalava em subtítulo que «um litro de água engarrafada custa cerca de 0,37 “cêntimos”»
Veja-se que, na indicação «0,37 cêntimos», o algarismo das unidades é — sem qualquer margem para dúvidas ou interpretações alternativas — o que fica imediatamente à esquerda da vírgula: o algarismo zero. Neste caso, a unidade usada é o cêntimo, e a leitura inevitável é «37 centésimas de cêntimo».
Mas, se a unidade usada é o cêntimo, "0,37 cêntimos" é até um valor irrealizável materialmente, pois a moeda mínima em circulação é de um cêntimo . Esta ocorrência é equivalente a indicar 0,37 cm para uma medida que sabemos ser de 0,37 m (que seriam 37 cm e que pela confusão se iriam ler como 3,7 mm (0,37 cm).
Por outro lado, o autor da notícia nunca utiliza as duas formas correctas a que poderia recorrer: ou escrevia 0,37 €, ou escrevia, pura e simplesmente, 37 cêntimos. E o mais estranho é que a revisão tenha passado por cima e "certificado" o erro.
A opacidade da informação, para mais repetida na notícia, presta-se a confusões de consequências imprevisíveis. Na verdade, tudo se limita a um mau uso da expressão escrita, ou má interpretação do real significado do que se está a escrever.
O autor segue a ortografia anterior à norma atualmente em vigor.