Todos os constituintes introduzidos por preposição / locução prepositiva regida pelo verbo falar têm a função de complemento relativo1 e 2.
O verbo falar admite vários tipos de construção:
(i) como verbo intransitivo, que não pede, portanto, complementos:
(1) «Todos os deputados falaram.»
(ii) como verbo transitivo direto, ou seja, que pede complemento direto/objeto direto:
(2) «Ele falou o que lhe apeteceu.»
(iii) como verbo transitivo indireto, pedindo ou complemento indireto / objeto indireto (3) ou complemento oblíquo/complemento relativo (4):
(3) «Ele falou à Maria.»
(4) «Ele falou do projeto.»
Nos casos apresentados pelo consulente, o verbo falar é construído com um complemento relativo. Este complemento pode ser introduzido por diferentes preposições / locuções prepositivas, tais como de, sobre, a respeito de. A preposição é pedida pelo verbo, tendo cada preposição / locução um valor semântico distinto. Assim, nas frases apresentadas, os constituintes destacados têm todos a função de complemento relativo:
(5) «A menina da qual estávamos falando chegou.»
(6) «Estávamos falando a respeito da menina.»
(7) «Estávamos falando sobre a menina.»
(8) «Estávamos falando da menina.»
Note-se ainda que os adjuntos adverbiais são, como explica Bechara, «semântica e sintaticamente opcionais. Respondem às clássicas perguntas como?, quando?, onde?, por quê?» (in Moderna Gramática Portuguesa. Ed. Lucerna, p. 360). Como se pode constatar, nenhum dos constituintes destacados nas frases (5) a (8) tem este comportamento. Teriam a função de adjunto adverbial3 constituintes como os destacados nas frases (9) a (11), que são opcionais e não constituem argumentos pedidos pelo verbo:
(9) «Estávamos falando da menina muito baixinho.»
(10) «Estávamos falando da menina durante a aula.»
(11) «Estávamos falando da menina no café.»
Acrescente-se, por fim, que o objeto indireto é o constituinte que é tradicionalmente introduzido pela preposição a e que é substituível pelo pronome -lhe(s).
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1. Adotamos aqui o conceito de complemento relativo tal como o concebe Evanildo Bechara, que o define como desempenhada pelo «signo léxico que delimite e especifique a experiência comunicada [, à semelhança do que vimos com o complemento direto]. A diferença é que neste segundo caso o determinante do predicado complexo vem introduzido por preposição» (Moderna Gramática Portuguesa. Ed. Lucerna, p. 346).
2. De acordo com o quadro estabelecido pelo Dicionário Terminológico, estes constituintes têm a função de complemento oblíquo.
3. De acordo com o quadro estabelecido pelo Dicionário Terminológico, estes constituintes têm a função de modificador do grupo verbal.