1. A atualidade económica e financeira é dominada pelo impacto da propagação da doença do coronavírus, mas, noutro quadrante, a queda do preço do petróleo, decorrente de um diferendo entre a Federação Russa e a Arábia Saudita, também se reflete nos mercados. A propósito de combustível barato, um jornal português fala até do preço mais elevado do litro de água, à volta dos "0,37 cêntimos". Mas será mesmo este o valor que se pretende referir? No Pelourinho, um apontamento do professor Guilherme de Almeida, especialista em termos e unidades de medida, mostra como o descaso com o registo de valores em euros e cêntimos pode levar as notícias ao absurdo.
2. Concebidos geralmente como um tipo de «publicação anual com calendário, diversas informações úteis para cada mês e textos de índole variada (de caráter literário, de divulgação científica, de cariz humorístico, etc.)» (Infopédia), os almanaques tiveram lugar importante nos consumos culturais em língua portuguesa: basta lembrar o antigo Almanach de Lembranças Luso-Brasileiras, publicado durante oito décadas, de 1851 a 1932. Retomando com engenho esta tradição, o professor universitário e tradutor Marco Neves escreveu e publicou recentemente mais um livro dedicado ao português: trata-se de Almanaque da Língua Portuguesa, obra que «reúne curiosidades e dificuldades de natureza linguística, num formato de almanaque, destinada ao grande público», conforme assinala Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, na apresentação que fez para a Montra de Livros.
3. Com os prazeres da leitura oitocentista ou deste segundo milénio, conjuga-se bem um chá reconfortante, reforçado talvez com um duchesse, um éclair, um croissant, um... Para completar a série, consulte-se a lista de galicismos que o professor João Nogueira da Costa elaborou para a sua página de Facebook e que se transcreve agora em O nosso idioma.
4. No Consultório, duas perguntas da Polónia centram-se no uso de preposições com os verbos permitir e perguntar. Outra questão diz respeito a uma palavra derivada de elicitar, verbo que ainda não reúne consenso normativo. A sintaxe e a coesão textual também voltam a ser abordadas nesta atualização: será que um pronome pessoal, vós, por exemplo, pode ter a função de vocativo? Numa frase como «a equipa visitante derrotou a equipa visita, mas esta tinha um jogador a mais», a que equipa se refere o demonstrativo esta?
5. Continua imparável o fluxo de notícias sobre a propagação mundial da doença do coronavírus (COVID-19): depois de, em 11/03/2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter classificado a situação já como uma pandemia,* um pouco por todo o mundo há o registo da adoção de medidas drásticas para evitar a transmissão do coronavírus. É o caso de Portugal, cujo governo decretou em 12/03/2020 um conjunto de medidas restritivas, que inclui a suspensão de todas as atividades letivas – também tendo já o mesmo acontecido no Brasil. Entretanto, para os aspetos terminológicos associados a este tema, releiam-se os registos e comentários das aberturas de 11/03/2020, 09/03/2020, 02/03/2020, 03/02/2020, 30/01/2020 e 24/01/2020.
* Consultar "Pandemia, epidemia e endemia". Recorde-se que COVID-19 (género feminino) é o termo adotado pela OMS para designar a doença do coronavírus. A denominação, que é nome próprio, também ocorre como nome comum, sob a forma covid-19, com letras minúsculas. Quanto ao vírus causador da doença, emprega-se correntemente o nome genérico coronavírus, que é aceitável, embora o Comité Internacional para a Taxonimia dos Virus lhe atribua o nome oficial de SARS-CoV-2, de modo a distingui-lo claramente de outros do género Coronavirus e da família Coronaviridae. Todas estas distinções terminológicas provêm das linhas de orientação que, para os usos mediáticos da língua espanhola, foram definidas pela Fundéu BBVA, baseando-se nas decisões terminológicas das organizações internacionais médicas e sanitárias envolvidas no acompanhamento da atual crise. Para o português, parece faltar, por enquanto, a intervenção de entidades reconhecidas capazes de fixar com clareza a transposição de tais termos. Assim, dado não haver normas da língua portuguesa a respeito da ortografia destas denominações, afigura-se recomendável manter as grafias fixadas internacionalmente: COVID-19 ou covid-19, com hífen; e SARS-CoV-2, também hifenizado.
6. Temas com destaque nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa: no Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 13 de março, pelas 13h20*, algumas questões da nossa língua comum como, por exemplo, a diferença entre neologismos, estrangeirismos e empréstimos; e no Página de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 15 de março, pelas 12h30*, o que vai ser feito na Guiné Equatorial quanto ao ensino do português de acordo com um depoimento da linguista Margarita Correia, professora na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e presidente do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), na sequência da sua recente deslocação a este país, integrada numa delegação da CPLP.
O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 14 de março, depois do noticiário das 09h00; e o Páginas de Português tem repetição no sábado, dia 21 de março, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.