1. A Guiné Equatorial foi integrada na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em 23 de julho de 2014 na Cimeira de Díli, sob duas condições: a abolição da pena de morte e a adotar o português como língua oficial, de par com o espanhol (ler aqui). Seis anos depois, o segundo compromisso estará, finalmente, prestes a ser concretizado. Pelo menos, Teodoro Obiang, presidente guinéu-equatoriano, parece assim disposto, conforme relata a jornalista Bárbara Reis no Público de 10/03/2020: «Se na Guiné Equatorial há uma escola espanhola, uma escola francesa e uma escola turca, porque não uma escola portuguesa? O presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo gostou da ideia proposta pelo secretário-executivo da (...) CPLP [ o embaixador Francisco Ribeiro Telles], que esteve em visita oficial no país [juntamente com a linguista Margarita Correia, na sua qualidade de presidente do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa – Cf. ponto 4, em baixo] e comprometeu-se a financiar uma futura escola de língua portuguesa gerida pela CPLP.» Entretanto, registe-se que a página oficial do governo da Guiné Equatorial continua a ter versões em espanhol, em francês e em inglês, mas em português ainda não: à data desta Abertura, o português, apesar de figurar na lista de línguas disponíveis (menu no topo da página à direita), não é uma opção ativa, porque os conteúdos se mantêm em espanhol.
Sobre o compromisso assumido da abolição da pena de morte na Guiné Equatorial transcreva-se o que se lê a dado passo na notícia acima citada: «Na reunião com a delegação da CPLP, o Presidente Obiang disse que o seu Governo terminou um projecto de reforma profunda do Código de Processo Penal (CPP), no qual está prevista a abolição da pena de morte, e que em breve deverá ser entregue ao parlamento. Há mais de um ano, no entanto, que o regime de Malabo diz que essa reforma legislativa está “quase pronta”.»
2. A presente crise sanitária mundial, decorrente do alastramento da doença do coronavírus, confronta a informação mediática com o uso de neologismos terminológicos, muitos grafados sob numerosas variantes. Pergunta-se, então: que palavras se aplicam internacionalmente a esta doença e à sua causa viral? Como grafá-las? O Consultório procura ir ao encontro destas interrogações com uma resposta à volta da forma COVID-19, acrónimo fixado em 11/02/2020 pela Organização Mundial da Saúde. Outra pergunta, ainda, da presente atualização: em que aceção se emprega mais o nome classismo? E duas questões sobre gramática e escrita literária: como classificar duas construções introduzidas pela conjunção como numa carta de Monteiro Lobato (1882-1948) ? Que importância têm os deíticos no estilo de José Saramago (1922-2010)?
Na imagem à direita, mapa mundial indicativo da situação, em 11/03/2020, dos países afetados pelo surto de COVID-19 (fonte: "Surto de COVID-19", Wikipédia, consultado em 11/03/2020).
2. Associada a uma guerra de preços do petróleo entre a Federação Russa e a Arábia Saudita, a situação criada pela COVID-19 entre a população mundial repercute-se também na economia globalizada e nos mercados financeiros. Nos títulos notíciosos são recorrentes vocábulos e expressão como colapso (das bolsas), queda (das bolsas), recessão. Junta-se-lhes ainda o anglicismo sell-off, que pode ter vários equivalentes corretos em português, desde os simples venda ou liquidação a expressões compostas como «venda apressada (para se desfazer de ações na bolsa)», «venda (de ações) ao desbarato». Virando a atenção para o que se faz em línguas irmãs, refira-se que, para o espanhol, a Fundéu BBVA recomendou em 10/03/2020 o emprego alternativo de venta masiva e oleada de ventas, expressões adaptáveis sem dificuldade ao português como «venda maciça» e «onda de vendas». É fórmula correta, sobretudo, pela sua expressividade, a perífrase «onda de vendas», que já tem uso na escrita jornalística em português ("Onda de vendas acentua crise na Turquia", Dinheiro Vivo, 13/08/2018), com eventuais variações adjetivadas: «onda generalizada de venda».
3. A propósito de petróleo, ocorre evocar o nome geográfico Golfo Pérsico. Pois, passando ao domínio risonho dos prazeres da vida, entre eles, o de comer uma bela peça de fruta, quem havia de dizer que, por exemplo, a palavra pêssego é uma forma divergente de pérsico? Este é um dos cinco nomes de frutos com origem em topónimos, isto é, derivados de nomes de lugares ou regiões, a que o colaborador João Nogueira da Costa dedicou na sua página de Facebook um interessante apontamento etimológico, que agora se divulga em O nosso idioma.
4. Nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa, são temas centrais:
– no programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 13 de março, pelas 13h20*, algumas questões da nossa língua comum esclarecidas e comentadas pela professora Sandra Duarte Tavares, colaboradora do Ciberdúvidas: qual a diferença entre neologismos, estrangeirismos e empréstimos?
– no Página de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 15 de março, pelas 12h30*, a linguista Margarita Correia, professora na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e presidente do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), aborda o que ficou decidido sobre o ensino do português na Guiné Equatorial, na sequência da sua recente deslocação a este país, integrada numa delegação da CPLP [ver ponto 1, em cima].
O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 14 de março, depois do noticiário das 09h00; e o Páginas de Português tem repetição no sábado, dia 21 de março, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.