«Em pleno século XXI, um dos maiores indicadores de desenvolvimento econômico e social dos países é o seu investimento em tecnologia, com diferentes reflexos nos variados setores da vida produtiva e da vida social.»
Em pleno século XXI, um dos maiores indicadores de desenvolvimento econômico e social dos países é o seu investimento em tecnologia, com diferentes reflexos nos variados setores da vida produtiva e da vida social. Um desses importantes setores é o da Internet e o seu impacto no desenvolvimento das sociedades, para o que é fundamental a compreensão do papel e do valor das línguas como recursos importantes para esse desenvolvimento.
Em 2021, começou a ser desenvolvido o Projeto Presença da Língua Portuguesa na Internet, comparada com outras línguas (PPI), financiado pelo Departamento Cultural e Educacional do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, no âmbito do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP/CPLP) e executado pelo Observatório da Diversidade Linguística e Cultural na Internet1, sob a coordenação da Cátedra UNESCO em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo2, com sede na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil. O projeto utilizou-se de metodologia inovadora e de informações atualizadas sobre a presença do português na internet, a partir da consulta a um amplo conjunto de fontes de dados. Seus resultados iniciais foram apresentados na IV Conferência para o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial, realizada em Cabo Verde, em maio de 20213.
Esses dados mostram que a população de falantes de português mais importante de pessoas conectadas por país pertence, respectivamente, ao Brasil (90%), Portugal (4,3%), Angola (1,7%), Moçambique (1,6%), França (0,5%) e Estados Unidos (0,4%). Guiné-Bissau e Angola apresentam dados extremamente baixos de acesso à internet e Moçambique muito baixo acesso. Portugal apresenta números de Internet relativamente baixos em comparação com outros países da OCDE e baixa taxa de crescimento, ao contrário de Cabo Verde, que apresenta alta taxa de crescimento e de presença na Internet em relação aos outros PALOP. Os falantes de português representam 3,05% da população mundial conectada à internet e a língua divide a sexta posição junto com outras 4 línguas: árabe, russo, alemão e japonês. A perspectiva de curto prazo é que a língua portuguesa possa liderar este grupo; a longo prazo, o árabe deve levar vantagem demográfica e o português deve se consolidar no 7.º lugar.
Os medidores da presença do português na internet nos orientam sobre a sua posição em relação a outras línguas de relevância global, destacando o papel de cada país de língua portuguesa nesse processo e de outros países onde a língua está presente, além dos pontos fracos ou “brechas digitais” que precisam ser reforçados ou corrigidos pelos nossos governos. Além disso, como destacam os pesquisadores Daniel Pimienta e Gilvan Oliveira, estudos desse tipo representam uma ferramenta poderosa para o planejamento estratégico de ações públicas ou privadas na área do acesso, da produção de conteúdo, das indústrias culturais, do e-comércio, da educação e da produção da ciência e tecnologia, entre outros. Que os Estados membros da CPLP reconheçam esse campo como estratégico e invistam para corrigir a defasagem de acesso ao mundo digital que há entre os nossos países.
1 Coordenação de Daniel Pimienta (FUNREDES). O Observatório tem trabalhado com o tema do espaço das línguas na Internet desde 1998.
2 Coordenação de Gilvan Müller de Oliveira (Universidade Federal de Santa Catarina). Disponível em: https://www.unescochairlpm.org/.
3 Evento realizado em modalidade virtual. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=AzVEm5OsLng&t=4677s. Acesso em: 10 jan. 2022.
Crónica do programa Páginas de Português (Antena 2), em 16 de janeiro de 2022.