Tanto votar como voto são palavras que encontram a sua origem no substantivo latino votum, que se usava num contexto de matriz religiosa. O votum era, às vezes, uma promessa, outras vezes, um pedido que se fazia aos deuses, num conceito que se encontra ainda hoje consagrado em expressões como «voto de castidade» ou «voto de pobreza». O sentido de pedido a uma força superior está ainda presente em construções como «faço votos de que o ano seja bom». Votum encontrava-se ainda associado aos desejos manifestados pelos noivos no ato do casamento.
Por volta do século XIV, encontramos a palavra ligada ao latim eclesiástico, que a associava ainda ao sentido de desejo e compromisso espiritual.
Não se sabe quando terá a palavra adquirido o sentido de sufrágio que descreve o ato que em breve se realizará em Portugal com as eleições legislativas antecipadas. O certo, porém, é que este sufrágio continua a ter muito de expectativa agora não na promessa que se faz aos deuses, mas nas promessas que nos são feitas a nós eleitores.
Possam a promessa e o prometido converter-se em real e realizado. Vamos, pois, a votos.
Áudio disponível aqui:
[AUDIO: Votar e voto]
Crónica incluída no programa Páginas de Português, na Antena 2, no dia 23 de janeiro de 2022.