A ode da antiguidade clássica era uma composição poética composta por estrofes simétricas, e destinava-se a ser cantada. Ricardo Reis, enquanto poeta neoclássico, recupera este modelo em muitas das suas composições.
As estrofes simétricas caracterizam-se por serem compostas por versos de medida diferente, numa estrutura que é repetida na estrofe seguinte. Daí falar-se em simetria de estrofes.
Um exemplo desta construção pode ser encontrado na ode de Ricardo Reis, intitulada “Felizes, cujos corpos sob as árvores”, que aqui transcrevemos:
Felizes, cujos corpos sob as árvores
Jazem na húmida terra,
Que nunca mais sofrem o sol, ou sabem
Das doenças da lua.
Verta Éolo a caverna inteira sobre
O orbe esfarrapado,
Lance Neptuno, em cheias mãos, ao alto
As ondas estoirando.
Tudo lhe é nada, e o próprio pegureiro
Que passa, finda a tarde,
Sob a árvore onde jaz quem foi a sombra
Imperfeita de um deus,
Não sabe que os seus passos vão cobrindo
O que podia ser,
Se a vida fosse sempre a vida, a glória
De uma beleza eterna.
1-6-1916
Odes de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994). - 66.
Nesta composição, os versos de cada estrofe são decassílabos e hexassílabos, alternadamente. Esta estrutura repete-se em cada uma das quatro estrofes, o que nos permite afirmar que as estrofes deste poema são simétricas.
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