Para que o país não gafeirasse, o Governo de Sua Majestade britânica mandou, faz agora três ou quatro semanas, fechar a África Austral. Quem investigou e comunicou ao mundo a nova variante do SARS-CoV-2 era penalizado por isso. Consumava-se a ostracização dos leprosos para que a Imunitas das sociedades prósperas e organizadas não fosse ameaçada. Um gesto político a esconder o resquício de um trato e de uma consideração de muito baixa intensidade em relação ao imenso sul. O secretário-geral da ONU classificou a medida como uma forma de apartheid.
Mas o reino gafeirou. A transmissão da ómicron tornou-se comunitária e galopante. Fleet Street, a célebre rua londrina dos jornais, não fala de outra coisa. Em inglês. Os jornais mudaram de lugar e estão maioritariamente no GAFA (Google, Amazon, Facebook e Apple). Não se trata de uma gaffe, em francês, mas o gafeirar perigoso do jornalismo tomado pelas redes sociais. Circundemos este lazareto que o capitalismo de vigilância expande no palco cibernético.
Quanto à decisão de excluir e confinar a África Austral, ele há ironias virulentas… porque investigações imediatamente posteriores ao anúncio sul-africano tropeçaram com a ómicron já a circular nos Países Baixos antes da declaração das autoridades sanitárias de Pretória. Ora, espículas!
A União Europeia e os Estados Unidos, tendo adoptado as mesmas normas, estão agora a ficar gafeirentos. A OMS avisa que 77 países já comunicaram a presença da variante nos seus territórios. Por uma vez, os leprosos, em suas vestes de abandono, carentes de vacinas, fizeram ouvir o sino da sua solidão. Eles não queriam, não querem. Ninguém quer. A ómicron é ominosa e estamos todos em risco de gafeirar.
A drástica atitude, bio-qualquer-coisa, começa agora a ser revertida e a África Austral, homiziada, já pode voar… baixinho, é verdade.
Como em Manchester, no tempo da revolução industrial, as grandes farmacêuticas afadigam-se no tear invisível dos esparadrapos embebidos em inegáveis e sofisticadas biotecnologias vacinais. Será que a noção de «guerra infinita» se tornou pandémica e passou a incluir os «jabs on the arms»? É que o mundo das finanças só tem piada na língua instrumental em que o idioma de Shakespeare se tornou.
Que não se cumpra o vaticínio de Cassandra: a próxima variante pode vir da Papua-Nova Guiné. Há uma letra do alfabeto grego que estremece. E a felicidade na Austrália ali tão perto!