A metáfora constitui um recurso que abre caminho a belíssimos passos literários que proporcionam aos leitores mais sensíveis verdadeiros momentos de fruição linguística.
A mesma metáfora é capaz de descer ao discurso quotidiano, mostrando que se trata de um processo cognitivo a que os falantes recorrem com muita frequência para interpretar a realidade e para a dizer. Isto fica claro, por exemplo, na frase «O João mora num palácio», que pretende associar a casa do João aos traços de luxo que se considera serem características de um espaço como o palácio.
A campanha para as eleições legislativas antecipadas de 30 de janeiro de 2022, em Portugal, é também espaço fértil (outra metáfora) para a criação de metáforas que poderão dizer muito sobre o horizonte de expectativas de quem as cria. Neste âmbito, é frequente a conceção da situação como um labirinto, no qual é difícil encontrar a saída: afirma-se que «uma maioria trará uma encruzilhada» ou que os partidos apresentam um «labirinto de propostas».
É também muito frequente a conceção do confronto eleitoral como um jogo desportivo, que envolve competição e, por vezes, violência: é o partido que «quer entrar em campo», é o «pingue-pongue entre esquerda e direita», o «duelo Costa-Rio» ou o partido que funciona como «arma de arremesso». E, ainda no campo desportivo, afirma-se que estamos quase a chegar «à reta final», agora que o dia 30 de janeiro se avizinha (dia das eleições em Portugal).
O campo das deficiências/doenças é convocado quando um partido afirma não querer ser «a muleta do PS» ou outro sustenta que não teve um deputado na Assembleia da República por uma «unha negra». Mas, quando se fala da «sombra do Chega», a associação é ainda mais negativa, porque são as forças negras que vêm ao de cima na metáfora burilada.
Já próximo das relações comerciais fica o «cheque em branco» que não se quer passar ao partido do governo.
E é assim que as metáforas jorram (outra metáfora) no discurso político e no da análise política deixando rastos (outra metáfora) que permitem a interpretação da razão de ser que as criou.