Aberturas - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. No conhecido verso camoniano «vi, claramente visto, o lume vivo»  (canto V, est. 18, Os Lusíadas), em que a personagem de Vasco da Gama começa a descrever a experiência do fenómeno do fogo de Santelmo, o pleonasmo gerado pela repetição do verbo ver tem intenção expressiva e, portanto, justifica-se como garantia da veracidade do relato*. O génio de Camões não é, portanto, posto em causa, nem por este, nem por outros versos que hão de certamente ser citados no discurso público português por ocasião do 10 de Junho, Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades, que, em 2025, ainda se enquadra nas comemorações do V Centenário do Nascimento de Camões, prolongadas até 2026. Previsível será igualmente a ocorrência de expressões como «musas inspiradoras», sobre a qual recaem suspeitas de pleonasmo vicioso. Contudo, no Consultório, dá-se conta de que essa é avaliação parcial, por não considerar o valor estilístico de certos usos aparentemente redundantes. Outros tópicos abordados na presente atualização: os fenómenos de assimilação e dissimilação de fizeste e armário; a transcrição fonética da palavra leite; a expressão «passar no exame»; e o ato ilocutório configurado por «falo do tempo e de pedras» (frase de José Saramago). Entretanto, devido ao feriado de 10 de Junho em Portugal, a próxima atualização fica agendada para 13 de junho, mas, acerca de Camões, da sua obra e do seu contributo para a afirmação da língua portuguesa, sugere-se a consulta dos textos que se disponibilizam na Antologia e aqui

Na imagem, Encontro de Vasco da Gama com o Rei de Melinde, pintura que se encontra no Centro Cultural Português, em Santos (Brasil).

 * O campo lexical da visão motiva abundantes aproveitamentos estilísticos no comentário político em Portugal. Uma palavra recorrente é evidente, que encerra etimologicamente a mesma raiz do verbo ver. Sobre a expressão «parece evidente», leia-se o artigo de opinião intulado "Inverdades, eufemismos, e outras coisas que parecem evidentes", que os neurologistas Rui AraújoDiogo Carneiro assinaram no Público em 28/05/2025. Dizem estes autores, : «A expressão “parece-me evidente” é especialmente frequente [no discurso político], e causa alguma estranheza. Ora, se algo é evidente, ou seja, “que se compreende sem esforço, que é claro ou manifesto”, [...], “parecer evidente” é, na mais neutra das hipóteses, uma redundância. Contudo, pode-se ir ainda mais além. A utilização da expressão “parece-me” abre a possibilidade de dúvida e de explicações opostas, sendo utilizada precisamente quando a situação não é evidente.» 

2. Falando de Camões, discute-se também o problema de desenvolver o gosto pela leitura da sua obra, questão que se generaliza a muitos outros autores. Em Montra de Livros, apresenta-se o Guia de Leitura que o Plano Nacional de Leitura lançou em Portugal, visando apoiar o trabalho dos docentes de Português como Língua Não Materna (PLNM).

3. Uma assentada foi a forma de protesto que o grupo ativista Climáximo organizou em 01/06/2025, junto do Aeroporto Sá Carneiro, no Porto. Em O Nosso Idioma, o consultor Carlos Rocha comenta esta nova significação de assentada.

4. Relativamente aos projetos em vídeo do Ciberdúvidas, o episódio 37 de Ciberdúvidas Responde incide no uso da expressão «menor de idade» no Brasil, e, em Ciberdúvidas Vai ás Escolas, distingue-se senão de «se não» (episódio 32, realizado com a participação do Agrupamento de Escolas Verde Horizonte em Mação).

5. A propósito das filas de imigrantes que, em Portugal, esperam a emissão ou a validação de documentos, registe-se o artigo "Carimbo, n.m." (Público, 31/05/2025), do professor universitário António Cerdeira, que revela uma curiosidade: a palavra carimbo e o verbo carimbar são especificidades da língua portuguesa, no contexto das línguas vizinhas. Com efeito, observa o autor que, em Santiago de Compostela, para certificar a realização da peregrinação, «[é] muito frequente, no caso dos peregrinos portugueses, serem incompreendidos nesse pedido, pois, ignorando a palavra espanhola que designa a marca deixada pelo sinete no papel (sello), ou a galega (selo), ou sequer a catalã (segell), os portugueses, exercitando o tão plástico portunhol, pedem que lhes “carimbien la credencial”.»  Sobre a origem de carimbo, acrescenta: «a palavra carimbo provém do quimbundo do noroeste angolano kirimbu, significando "marca", e refere-se ao método cruel com que os captores, muitas vezes africanos, e os traficantes, quase sempre portugueses, marcavam indelevelmente os escravos negros com um ferro em brasa.»

5. Temas de dois dos programas que a rádio pública de Portugal dedica ao idioma de Camões.

 – a emergência das variedades africanas, numa entrevista com o linguista e professor universitário Augusto Soares da Silva (Universidade Católica Portuguesa) incluída em Língua de Todos, na RDP África, sexta-feira, 6 de junho, pelas 13h20 (repetição no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00);

–  e, para comentar a padronização do português, enquanto língua pluricêntrica, o mesmo convidado em Páginas de Português, na Antena 2, domingo, 8 de junho, pelas 12h30 (com repetição no sábado seguinte, 7 de junho, às 15h30): Augusto Soares da Silva refere-se à sua participação na 11.ª Conferência sobre Línguas Pluricêntricas e suas Variedades Não-Dominantes, que decorreu de 22 a 24 de maio no Iscte-IUL, em Lisboa. O programa inclui ainda o apontamento gramatical da professora Carla Marques, sobre a utilização do hífen. 

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1. No domingo, dia 1 de junho, a comunicação social fez saber que a Ucrânia usou um «cavalo de Troia» para atacar a Rússia. Numa operação militar ousada, planeada ao longo de um ano e meio, as tropas ucranianas fizeram entrar em território russo drones carregados com explosivos. Estes foram escondidos em contentores transportados por camiões e levados para regiões a mais de 4000 km da frente de guerra. Os drones danificaram aviões e provocaram incêndios em bases aéreas situadas na região de Irkutsk e em cidades do norte da Rússia. O uso da expressão «cavalo de Troia» para descrever esta ação militar convoca o episódio brevemente contado por Homero na Ilíada e na Odisseia e ampliado por Virgílio na Eneida. Aí se relata que, no decurso da guerra de Troia, os gregos conseguiram entrar na cidade muralhada usando um cavalo gigante, dentro do qual se esconderam, e que deixaram às portas da cidade. Uma estratégia militar que lhes permitiu ganhar a guerra. Assim, embora não seja certo que o cavalo tenha mesmo existido, a mistura da realidade com a fantasia dos autores trouxe a expressão até à contemporaneidade, onde readquiriu vigor no âmbito informático. Aí um «cavalo de Troia» é um software malicioso (malware, em inglês) que se introduz nos computadores dos utilizadores enganando-os quanto à sua verdadeira intenção. Recentemente, vimos a expressão voltar a ser usada em contexto militar no conflito entre a Ucrânia e a Rússia, no âmbito do qual o cavalo passou a ter a estrutura de um camião e os gregos foram substituídos por drones armados. O método foi o mesmo: o da ilusão ao serviço da estratégia de ataque.

Imagem na página principal: cena do filme Troia; imagem no corpo do texto: foto dos drones ucranianos escondidos em contentores

2.  No Consultório, apresentamos um novo conjunto de respostas às questões que continuam a chegar ao Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Entre elas, encontra-se a dúvida relativa ao neologismo foodie. Terá este uma tradução em português? Aqui fica a nossa resposta, à qual se juntam outras três que abordam questões de âmbito lexical e semântico: «Qual a expressão preferível para designar o recipiente do gás – garrafa ou botija?»; «Poderemos dizer que um roupão de banho é um tipo de indumentária?» e «Qual o valor aspetual do complexo verbal «começou a fazer»?»

3.  O falecimento do linguista e escritor Fernando Venâncio tem motivado um conjunto de reações muito diversificadas, associadas quer a obituários de cariz biobibliográfico quer a registos em tom memorialístico. O consultor do Ciberdúvidas Paulo J. S. Barata partilha com os leitores, neste pequeno apontamento, algumas memórias pessoais de momentos vividos com Fernando Venâncio. Pode ler-se também o obituário de Fernando Venâncio, disponível na secção Notícias

4.  O significado do provérbio «Quem com porcos anda, farelo come» dá matéria ao desafio semanal. A professora Carla Marques explica o seu significado neste apontamento divulgado no programa de rádio Páginas de Português (Antena 2) e disponível na rubrica O nosso idioma

5. Entre as notícias de relevo para a língua, damos destaque às seguintes:

– Projeto desenvolvido pela Universidade de Évora com o objetivo de preservar o espólio do Laboratório de Fonética Experimental da Universidade de Coimbra (mais informação aqui);

– A propósito do Dia Mundial da Criança, dia 1 de junho, o apontamento de Marco Neves sobre a origem da palavra criança.

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1. Decorre até 13 de outubro, em Osaca* (Japão), a Expo 2025, subordinada ao tema genérico "Conceber a sociedade futura para as nossas vidas". Toda a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) está representada: o Brasil, com um pavilhão dourado que evoca a luz, a energia e a renovação do Sol; Cabo Verde, expondo os bons resultados da cooperação com o país anfitrião; a Guiné-Bissau tem o pavilhão "Herança e Inovação: a Guiné-Bissau, uma Ponte entre a Tradição e o Futuro”; Moçambique está presente, para potenciar a sua máxima de política externa, «fazer mais amigos e estabelecer mais parcerias»; Portugal participa com o pavilhão "Oceano, diálogo azul" (consultar página); São Tomé e Príncipe marca igualmente presença; e junta-se ainda Timor-Leste, centrando-se na promoção cultural e na cooperação regional. É uma exposição que dá também visibilidade aos países da CPLP, mas há dúvidas quanto à extensão do uso do português neste acontecimento**. Na verdade, além do japonês, do mandarim e do coreano, as páginas da Expo 2025 só oferecem a opção de leitura em três línguas ocidentais, o inglês, o francês e o espanhol. Parece, portanto, que a projeção do português fica por conta dos participantes que lhe dão estatuto oficial. Seja como for, sobre a sensação causada por um jovem português afrodescendente, que disse um poema em língua portuguesa no pavilhão de Portugal, transcreve-se em Lusofonias o testemunho do compositor Dino D'Santiago, que pergunta: «o que queremos fazer com esta língua que nos une?»

* Acerca da forma portuguesa do nome da cidade internacionalmente conhecida como Osaka, leia-se "Osaca ou Ósaca". Na imagem, biombo nanban, atribuído a Kanō Sanraku (c. 1559-1635) e da coleção do Museu Suntory de Arte (Tóquio, Japão). Sobre as relações históricas Portugal-Japão, ler "Chegada dos Portugueses ao Japão" (Infopédia).

** Relativamente a um alegado uso deficitário do português na participação de Portugal na Expo 2025, leia-se, de Pedro Almeida Vieira, "Portugal apaga o português na Expo 2025" (Página 1, 23/05/2025). Ler publicação de Ana Paula Laborinho (Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura – OEI) a desmentir que a língua portuguesa esteja pouco presente no pavilhão português – Facebook, 01/06/2025.

2. A relação com a China é o contexto de mais um obra apresentada em Montra de Livros. Intitulado Festivais Tradicionais Chineses, trata-se de uma publicação bilingue de 2025, da Escola Secundária Luís Gonzaga Gomes, em Macau.

3. A propósito da final da Taça de Portugal, disputada em 25/05/2025, foi dito que um jogador conhecia «o misticismo do Estádio Nacional». Em O Nosso Idioma, o consultor Carlos Rocha comenta os significados de misticismo e mística quando referidos ao futebol.

4. Se a palavra sofrência existe, o termo mais correto e corrente não será sofrimento? A resposta faz parte do conjunto de cinco novas respostas do Consultório. Outros usos lexicais também abordados são os de viragem, saca, contactante e viagem.   

5. Relativamente aos projetos em vídeo do Ciberdúvidas: no episódio 36 de Ciberdúvidas Responde, explica-se a razão para evitar pleonasmos como «um acontecimento aconteceu»; no episódio 31 de O Ciberdúvidas Vai às Escolas, lembra-se que a terminação -te nunca se separa de entraste ou de outras formas da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo.

6. Registe-se a entrevista que o sociólogo francês Dominique Wolton deu ao Diário de Notícias (25/05/2025) à margem da sua participação na conferência BEIRA – Observatório de Ideias Contemporâneas Azeredo Perdigão. Este especialista adverte que «atualmente é o rolo compressor do inglês que se sente em todo o mundo» e que é preciso «compreender o mais rapidamente possível que se não salvarmos as outras línguas, haverá guerras contra a língua inglesa».

7. Em dois dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, são temas de entrevista:

– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 30/05/2025, 13h20*; repetição no dia seguinte, c. 09h05*), a professora Margarita Correia (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) refere-se à obra do gramático brasileiro Evanildo Bechara, falecido em 22/05/2025.

– Também o perfil académico de Evanildo Bechara, apresentado pela professora universitária Margarita Correia, é o tema central do programa Páginas do Português (Antena 2, domingo, 01/06/2025, às 12h30*; com repetição no sábado seguinte, 07/06/2025, às 15h30*). Esta especialista ainda fala da obra mais emblemática de Bechara, a Moderna Gramática Portuguesa, publicada pela primeira vez em 1961 e constantemente atualizada desde então.

Hora oficial de Portugal continental.

8. Regista-se com pesar o falecimento do linguista e escritor Fernando Venâncio. Nascido em 1944, em Mértola, Fernando Venâncio foi professor na Universidade de Amesterdão, onde se doutorou 1995, com um estudo sobre as «ideias de língua literária em Portugal no século XIX». Escreveu no Jornal de Letras (JL), no semanário Expresso e na revista Ler e autor dos romances Os Esquemas de Fradique (1999) e El-Rei no Porto (2001) e da antologia Crónica Jornalística. Século XX (2004). Nos últimos anos deu particular atenção às origens do português, à sua relação com o galego e ao contacto do português europeu com o português Brasil, nos livros Assim Nasceu uma Língua (2019) e O Português à Descoberta do Brasileiro (2022).

 

N. E. – O ponto 1 desta abertura foi atualizado em 03/06/2025.

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1. Os resultados das recentes eleições em Portugal criaram um novo cenário sociopolítico: a ascensão da extrema-direita a uma posição de poder. Esta alteração do mapa político está em linha com o que vemos acontecer um pouco por todo o lado no mundo, em países em que emergem líderes alinhados com determinados valores comuns e que se socorrem de determinadas estratégias associadas ao populismo. Yves Citton*, professor de literatura e media na Universidade de Paris 8 Vincennes e também co-diretor da revista Multitudes, tem vindo a analisar este fenómeno, que designa de direitização, um neologismo (já dicionarizado em português) resultante da tradução do neologismo francês "droitisation", palavra derivada, formada pela junção do sufixo do francês antigo -ation (com valor de ação) à base verbal droitis(er), que significa «dar uma orientação de direita a algo ou a alguém». Em português, a palavra direitização assenta também na estrutura de derivação (direitiza(r)+-ção). Este termo, que foi também referido pelo crítico literário e colunista António Guerreiro num artigo no jornal Público, associa-se ao pressuposto de que as atuais direitas correspondem ao que, anteriormente, se considerava extrema-direita, estando em curso o aparecimento de direitas ainda mais extremadas. Yves Citton reflete sobre o tema na obra La Machine à Faire Gagner les Droites (em tradução livre, «A máquina de fazer ganhar as direitas»), onde defende que a máquina que faz ganhar os novos partidos de direita não assenta em políticas ou ideologias mas no poder dos meios de comunicação social (os media), o que o leva a defender que vivemos não já em democracia (do grego demos + kratía, «a força do povo»), mas numa "mediarquia", um outro neologismo (também título de uma obra sua) que resulta da junção de media ao elemento -arquia («poder, autoridade»») e que procura explicar que atualmente é o poder dos media que determina a constituição de públicos que elegem os representantes políticos (e não já o povo). Como sempre, novas realidades convocam o pensamento humano que, para se expressar, necessita de novas palavras: o dinamismo lexical acompanha o dinamismo e a transformação do mundo. 

*Yves Citton poderá ser ouvido em Lisboa, na Culturgest, no dia 28 de Maio às 19h, onde proferirá uma conferência sobre um tema do qual é especialista: a atenção.

Primeira imagem: capa do livro Palavras amordaçadas - Ditadura militar e jornalismo na paraíba, de Sebah Andrade e Ana Dayra; Segunda imagem: criada por IA. 

2. Terá a expressão «de cabeça para baixo» origem brasileira ou encontramos registos do seu uso em documentos portugueses de fases pretéritas da língua? A resposta a esta questão abre a atualização do Consultório, onde se poderá encontrar resposta para novas dúvidas: «As orações de infinitivo pessoal têm sujeito?»; «A interjeição pode ser um recurso expressivo?»; «Podemos dizer «estar preparado para confrontar os seus temores»?» e «Quais os processos de referenciação anafórica presentes num excerto textual?»

3. A diferença de significação entre os termos dicionário e glossário dá tema ao desafio semanal, da responsabilidade da professora Carla Marques (divulgado no programa de rádio Páginas de Português, na Antena 2). 

4. Ainda sobre o gramático Evanildo Bechara, recentemente falecido, o gramático Fernando Pestana, em jeito de homenagem, deixa o registo de um conjunto de memórias relativas a ocasiões em que estiveram juntos.

5. A afirmação da língua guineense está na ordem do dia na Guiné, onde um conjunto de especialistas procura dar continuidade ao trabalho de normalização, de construção de uma gramática e de definição do alfabeto oficial. O encontro que teve lugar no dia 9 de maio, na sede da Bienal de Arte e Cultura da Guiné-Bissau, procurou criar as condições para que se deem os primeiros passos, como se relata no apontamento da jornalista Karyna Gomes (disponibilizado com a devida vénia). 

6. Um registo final para a conferência do professor de Literatura Portuguesa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Sérgio Nazar David, na qual o investigador abordará os 180 anos de Eça de Queirós. O evento terá lugar na quinta-feira, 29 de maio, às 17h30, com entrada livre e transmissão em direto (mais informações aqui). 

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1. Em Portugal, registam-se com certa frequência atitudes e reações pouco ou nada favoráveis ao português do Brasil, criando tensões num momento em que as variedades brasileiras da língua estão hoje mais presentes do que nunca na sociedade portuguesa. No ensino, por exemplo, há manifestações de perplexidade quanto à avaliação dos alunos brasileiros; e há quem defenda a imposição da norma europeia, sem atender a que o português brasileiro tem codificação própria, com gramáticas e dicionários em muitos pontos convergentes com a norma-padrão lusitana e, noutros aspetos, com soluções mais diferenciadas, como seja a da colocação do pronome ou as formas de tratamento. Foram estas esquematicamente as questões abordadas numa ação de formação promovida pela Associação de Professores de Português em 12/05/2025 e dinamizada pelo gramático brasileiro Fernando Pestana. Em O Nosso Idioma, uma das oradoras nessa sessão, Ana Albuquerque, dá conta da sua opinião numa síntese crítica da discussão aí mantida, e defende que «[a] Escola deve continuar a mostrar as diferenças entre as variedades do português, que confirmam a riqueza do nosso património linguístico, mas tem a obrigação de promover a capacitação do uso da língua portuguesa formal, cuidada.» Acrescente-se que, no tocante a esta e outras discussões, importa aqui deixar uma clarificação: nos conteúdos disponíveis nas rubricas O Nosso IdiomaEnsino ou Controvérsias, os pontos de vista são os dos autores dos textos e não devem confundir-se com posições do Ciberdúvidas*, a não ser que fique expresso que esta ou aquela visão é também assumida pela coordenação editorial do portal. A publicação de tais opiniões, quantas vezes divergentes, decorre de um dos princípios da ação do Ciberdúvidas, a de manter um espaço onde se acolhe e aceita a pluralidade de ideias, em diálogo ou simples coexistência, em condições de civilidade e respeito mútuo, que assegurem a boa comunicação – sempre em língua portuguesa, onde quer que ela se fale e escreva. 

* Um caso de confusão será, a este respeito, o artigo "Enfiar a língua e a cultura portuguesa num kit?", da psicóloga e investigadora Sandra Figueiredo (Sapo.pt, 20/05/2020), que dirige críticas ao professor português José Manuel Diogo pelas considerações que este fez sobre as relações entre o português europeu e o português brasileiro, numa entrevista concedida ao DN Brasil, em 05/05/2025 (Dia Mundial da Língua Portuguesa) e só posteriormente, em 09/05/2025, disponibilizada pelo Ciberdúvidas (aqui). Na imagem, Vista de Pernambuco (c. 1637-1644), quadro do pintor neerlandês Frans Post (1612-1680) que se encontra no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.

2. Em O Nosso Idioma, um apontamento da consultora Inês Gama esclarece a diferença entre os usos corretos de profícuo e prolífico, a propósito de uma dúvida surgida num programa de rádio.

3. Uma notícia deu conta da Câmara Municipal do Porto ter reagido a «uma tentativa de [lhe] quartar o espaço e a liberdade de ação», e, no Pelourinho, o consultor Carlos Rocha explica porque quartar é erro nesse contexto e coartar (ou coarctar) é a opção certa.

4. Qualquer nome permite a formação de um aumentativo? Por exemplo, de pão, é correto formar "pãozão"? A dúvida faz parte das cinco questões que atualizam o Consultório e incluem também tópicos de sintaxe: a regência de arribar e contribuir, um caso de enumeração e a análise de «ouviram-se os jovens».

5. No 30.º episódio de O Ciberdúvidas Vai às Escolas, identificam-se as situações em que se escreve à, com acento grave, enquanto em Ciberdúvidas Responde, o 35.º episódio centra-se no plural e no feminino do nome espião.

6. Outros registos:

– o debate sobre a normativização do crioulo guineense que decorreu no âmbito da Bienal de Arte e Cultura da Guiné-Bissau, realizada em 09/05/2025, e que é relatado num trabalho da jornalista Karyna Gomes (Mensagem de Lisboa, 14/05/2025);

– o artigo de opinião da atual comissária do Plano Nacional de Leitura, Regina Duarte, sobre leituras obrigatórias e leitura extensiva nos ensinos básico e secundário (Público, 20/05/2025);

– o artigo de opinião que o jornalista Nuno Pacheco assinou no jornal Público (22/05/2025), dando conta dos entraves jurídicos que, segundo ele, estão a ser criados ao grupo que exige a revogação do acordo ortográfico em vigor;

– a celebração, em 22/05/2025, do Dia do Autor Português, a qual coincidiu com a dos 100 anos da Sociedade Portuguesa de Autores.

7. Em dois dos programas que, na rádio pública de Portugal, se centram na língua portuguesa, são temas de relevo:

– Em Língua de Todos, na RDP África, transmitido na sexta-feira, 23/05/2025, pelas 13h20* (repetição no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*), Carla Marques, professora e consultora permanente do Ciberdúvidas, discute neologismos. O programa conta ainda com a participação do escritor moçambicano Mia Couto.

– O empobrecimento geral do ensino, o facilitismo, a incúria e a ausência de pensamento crítico são os temas em debate na entrevista ao crítico literário António Carlos Cortez no programa Páginas de Português, na Antena 2, no domingo, 25/05/2025, pelas 12h30* (com repetição no sábado seguinte, 31/05/2025, às 15h30*). O programa conta ainda com um apontamento gramatical da professora Carla Marques, que esta semana esclarece a relação entre glossário e dicionário.

8. Uma nota de pesar pelo falecimento em 22/05/2025, no Rio de Janeiro, do gramático brasileiro Evanildo Bechara, grande figura dos estudos da gramática portuguesa. Nas Notícias, assinala-se o seu percurso académico e destaca-se o contributo que deu à gramaticografia não só brasileira mas também à dos outros países de língua portuguesa, incluindo Portugal.

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1.  No domingo, dia 18 de maio, Portugal foi a votos. O resultado das eleições ditou a vitória da AD (Aliança Democrática) e a derrota dos partidos da esquerda no seu geral, que reduziram, em muito a sua representatividade parlamentar (exceção feita para o Livre, o único a crescer). Na comunicação social, textos e títulos associaram os resultados da esquerda a uma imagem mental de estado de decadência com vários contornos ou causas. Surgiram expressões ligadas a um quadro de colapso, degeneração ou fracasso, como «o descalabro da esquerda» ou, com um cunho mais extremo associado ao aniquilamento total: «razia da esquerda». A situação foi, assim, descrita por meio da inserção da situação num quadro de falência ou de ruína, sendo o caso mais comentado o do Partido Socialista, que perdeu 20 deputados relativamente às últimas eleições, arriscando seriamente recuar para uma situação de terceira força política do país. A conceptualização do sucedido socorreu-se de metáforas de vária ordem, unidas por sentidos que vão do declínio à destruição total. Mobilizaram-se expressões como «derrota muito pesada», que colocam a tónica na associação do peso físico ao sentido figurado de cargo emocional que desencadeia tristeza e dor. A situação é também apresentada como um «desastre», sendo concebida como um evento que tem consequências associadas ao trauma físico («PS ferido») ou psicológico («humilhação política»). Mais visuais são as metáforas que apontam para um cenário de deslizamento ou colapso de rochas, «derrocada do partido» ou «enterrado entre os escombros», ou a um quadro de destruição total: «hecatombe no PS». Na política, como nos fenómenos naturais, depois da tormenta espera-se um período de acalmia. Então, novas metáforas abrirão caminho. 

2. Ainda no quadro do contexto eleitoral, coloca-se a dúvida relativamente à construção com o verbo eleger. Qual a forma correta: «foi elegido» ou «foi eleito»? Esta mesma dúvida teve lugar a propósito da recente eleição do papa Leão XIV, momento em que o Ciberdúvidas forneceu a devida explicação. Assim sendo, para descrever, de forma correta, situações enquadradas no atual quadro de eleições, consulte-se aqui o terceiro ponto da explicação dada pelo coordenador executivo do Ciberdúvidas Carlos Rocha.

3.  No Consultório, analisamos sintaticamente o verso d'Os Lusíadas «Tirar Inês ao mundo determina» no sentido de identificar a função desempenhada pelo constituinte «ao mundo». A literatura está também presente na frase retirado do Livro do Desassossego, de Bernardo Soares (semi-heterónimo de Fernando Pessoa), na qual se analisa o valor da conjunção mas. Na atualização, apresentamos ainda resposta a outras quatro questões relacionadas com os valores da posição do possessivo junto ao nome, a pronúncia de abrupto, no Brasil, o sentido de «ganhar a vida» e «ganhar vida» e a expressão «desmarcar uma marcação»

4. Qual a forma plural do nome composto arco-íris? Esta é a dúvida que analisa esta semana a consultora Inês Gama, cuja resposta se divulga nas redes sociais do Ciberdúvidas e no programa da Antena 2, Páginas de Português

5.  João André Costa, professor de português em Londres, apresenta um artigo no qual reflete sobre as inúmeras vantagens de aprender várias línguas e alerta para as consequências de eliminação do currículo escolar de disciplinas de língua estrangeira.

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1. Na cena internacional, os conflitos arrastam-se e geram-se situações de impasse diplomático, enquanto, em Portugal, as atenções se centram nas eleições de 18 de maio para a Assembleia da República. Mas falemos da Galiza e do Dia da Letras Galegas, que se celebra em 17 de maio. A Galiza é uma comunidade autónoma espanhola com profunda afinidade linguística e cultural com Portugal, e os media portugueses recordam por vezes o significado dessa relação, uma herança do português nem sempre devidamente reconhecida. Na verdade, o contributo da Galiza não é só o da Idade Média, e um trabalho incluído no jornal Público, em 11/05/2025, relembra que a família e o apelido de Camões terão origem no sul da atual província de Pontevedra, na povoação de Camos, não longe de Vigo; que Fernando Pessoa também tinha um antepassado galego da província da Corunha que emigrou para os Açores; e até a genealogia de Eça de Queirós inclui gente galega. Há, portanto, uma grande ligação não só da história linguística, mas igualmente da história demográfica, por via das migrações que a fronteira nem sempre travou. Voltando ao Dia das Letras Galegas, assinale-se que a edição de 2025 é dedicada à poesia popular oral, conforme a conservaram quatro mulheres da freguesia de Mens, isto é, quatro cantareiras, homenagem com qual, lê-se nas páginas da Real Academia Galega, se quer «recoñecer a importancia da poesía popular oral, que acompaña a nosa sociedade desde sempre». Anote-se que cantareira é um caso de "falsos amigos" entre o galego e o português: com efeito, este vocábulo não se relaciona com cântaro, mas, sim, com cantar, com o significado de «cantiga, canto». Em galego, uma cantareira será aproximadamente o equivalente a cantadeira, ou seja, mulher que canta canções tradicionais, muitas delas com versos e quadras igualmente conhecidas em Portugal.

Na imagem, ilustração de de Nuria Díaz (crédito: Cultura Galega, 10/03/2025).

2. No outro lado do mundo, em Timor-Leste, pergunta-se como evolui o português em Timor-Leste. Que papel tem este idioma na sociedade do país? Em Lusofonias, divulga-se com a devida vénia uma reportagem da SIC Notícias sobre a função identitária que a língua portuguesa exerce entre os Timorenses.

3. Na oferta de emprego e na atividade empresarial, desengane-se quem pense que o português é irrelevante. Um trabalho incluído no Público Brasil (06/05/2025) e disponibilizado em O Nosso Idioma mostra que a língua portuguesa é fator diferencial na admissão de novos profissionais nas empresas brasileiras.

4. Na frase «João foi à escola durante o período da tarde», deve colocar-se uma vírgula entre «escola» e a expressão circunstancial «durante o período da tarde»? A resposta está no Consultório e integra o conjunto de cinco esclarecimentos, que abrangem outros tópicos: a etimologia de alguns termos relativos aos jogos de cartas; a sintaxe do verbo chocar; a expressão «pagar em dinheiro»; e a construção «esse tal de...».

5. Porque «fim de semana» não tem hífen e guarda-chuva tem? No 29.º episódio de Ciberdúvidas Vai às Escolas, esclarece esta dúvida, de um estudante do Instituto Politécnico de Lisboa. Quanto a Ciberdúvidas Responde, o 34.º episódio trata de outra questão, relacionada com as regras da concordância: diz-se «conteúdos e competências estratégicas» ou «conteúdos e competências estratégicos»?

6. O escritor angolano Luandino Vieira completou 90 anos em 4 de maio do corrente ano. O aniversário do escritor foi assinalado por As Artes entre as Letras, que lhe dedica o n.º 386 (14/05/2025). Acrescente-se que o autor de Luuanda (1963) é um dos participantes no colóquio “Ventos de Mudança – Como ler as independências cinco décadas depois”, organizado nos dias 15 e 16 de maio pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, em comemoração dos 50 anos da independência dos países africanos de expressão oficial portuguesa (cf. Jornal de Letras, 14 a 27/05/2025, p. 31). À volta deste escritor e da literatura angolana, sugere-se a leitura dos seguintes conteúdos em arquivo: "Prémio Camões 2006 atribuído ao escritor angolano José Luandino Vieira", "Papéis da Prisão de Luandino Vieira em versão digital", "Linguística da literatura angolana" e "Uma viagem lusófona".

7. O registo, ainda, de Flores de Cinza, o novo livro da escritora Dora Gago, cujas crónicas abordam frequentemente questões da língua (ver aqui).

8.  Temas de dois dos programas que, na rádio pública de Portugal, dizem respeito à língua portuguesa:

– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 16/05/2025, 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), o investigador Paulo Feytor Pinto (CELGA/ILTEC) aborda o português como língua pluricêntrica no contexto africano, temática que será discutida na 11.ª Conferência sobre Línguas Pluricêntricas e suas Variedades Não-Dominantes, que decorrerá de 22 a 24 de maio, em modo híbrido, no Iscte.

– Em Páginas de Português (Antena 2, no domingo, 18/05/2025, 12h30*; repetido no sábado seguinte, 24/05/2025, 15h30*), o mesmo investigador apresenta as características das línguas pluricêntricas, com os seus enquadramentos teóricos e implicações sociais, educacionais e culturais, discussão que será promovida também na 11.ª Conferência sobre Línguas Pluricêntricas e suas Variedades Não-Dominantes.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. As estratégias que as diferentes línguas adotam para expressar os números podem constituir um desafio à aprendizagem e à compreensão. Com efeito, nem todos os sistemas linguísticos organizam a comunicação dos números usando as mesmas estratégias, ainda que o pensamento de base decimal, linear ou adaptado, seja dominante. Assim, em português, o número 92 diz-se somando o número maior (noventa), que surge em primeiro lugar, ao número menor (dois), apresentado em segundo lugar. O mesmo sistema é adotado, por exemplo, em línguas como o espanhol, o italiano ou o inglês. Um caso particular é o da língua francesa, que, embora adote também um método decimal, a partir do número 70 verbaliza os números segundo uma estrutura vigesimal, ou seja, de base 20. Deste modo, 70 diz-se soixante-dix («sessenta-dez»),  80, quatre-vingts («quatro vintes») e 92, quatre-vingt-douze («quatro-vinte-doze). Encontramos, todavia, línguas que adotam outros padrões de comunicação dos números, como é o caso do esloveno, que, seguindo uma base decimal, adota uma ordem diferente, apresentando, em primeiro lugar, o número mais baixo. Assim, 92 diz-se, em esloveno, dvaindevetdeset, uma palavra complexa que inclui os seguintes elementos dva («dois»); in (e); devetdeset (90, à letra «nove-dez», ou seja, 9 vezes 10). Em alemão, identificamos também a adoção da ordem «unidade-dezenas». Com efeito, os números entre 21 e 99 são ditos segundo esta ordem. Por exemplo, 92 diz-se zwei­und­neunzig, que se decompõe nos elementos zwei («dois»), und («e») e neunzig («nove-dez»). Deste modo, diz-se, à letra, «dois e nove-dez». Por fim, mencionemos o sistema dinamarquês, que assenta igualmente na base decimal, mas apresenta algumas curiosidades que lhe trazem complexidade. A partir do número 50, diversas construções assentam no sistema vigesimal, tal como acontece no francês, mas incluindo formas arcaicas truncadas. Assim, 50 diz-se halvtreds. A palavra integra o elemento halv, que colocado antes de um número o reduz em 0,5. Por exemplo, se for colocado antes do número 3, redu-lo para 2½ (dois e meio). Deste modo, halvtreds, que tem como forma longa halvtredsindstyve, inclui os seguintes elementos: halv (meio ou metade), treds («terceiro», de tredje, que corresponde ao número 3), -ind(s) (sufixo que vem de uma forma antiga de multiplicação: -sind, que significa vezes) e tyve (vinte). Desta forma 50, diz-se, à letra, «2½ × 20». Já 92 dir-se-á tooghalvfems, ou seja, to («dois»), og («e») e halvfems («noventa»). O elemento halvfems é a forma abreviada de halvfemsindstyve, que significa literalmente «quatro e meio vezes vinte», ou seja "4½ × 20" (= 90). A forma como a língua evidencia as conceções da realidade é um domínio extraordinário, que permite compreender como os humanos resolveram problemas relacionados com a referência à realidade, de forma diferente, usando, ainda assim, os mesmos instrumentos linguísticos. 

2. Ainda no rescaldo da eleição do papa Leão XIV, a consultora Inês Gama vem explicar o significado, a formação e a história ligada à expressão «sumo pontífice», um conjunto de curiosidade disponíveis num apontamento divulgado na rubrica O Nosso Idioma. Por seu turno, o professor universitário e linguista Dieter Kremer centra-se no nome de batismo do papa Leão XIV Robert Francis Prevost e explica a sua origem e formação num apontamento de onomástica, traduzido do alemão e aqui partilhado com a devida vénia. 

3. No Consultório, apresenta-se a resposta a seis questões endereçadas ao Ciberdúvidas: «Qual a forma correta: «a quatro mãos« ou «a duas mãos»?»; «O que justifica o uso do pretérito mais-que-perfeito em «se houvera quem me ensinara»?»; «Está correta a frase ««O vento era muito forte como se fossem «touros indómitos»»?»; «Qual a origem das palavras bombordo e estibordo?»; «Como analisar a oração «Espero que sim!»?»; «O verbo falar pode ter dois complemento não diretos?»

4. A professora Carla Marques, no seu apontamento divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2, analisa a função da partícula -se na frase «Ouviram-se os jovens».

5.  Assinalando o Dia Mundial da Língua Portuguesa, o ex-presidente da República Federativa do Brasil e antigo senador José Sarney apresenta um artigo dedicado à criação da CPLP e à sua missão, colocando a tónica no que constitui a força desta comunidade de países unidos pelo idioma português (transcrito com a devida vénia).

6.  O artigo do consultor Fernando Pestana dedicado aos resultados do INAF 2024 desencadeou alguma polémica, de que dá conta a mensagem disponibilizada na rubrica Correio.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Assinalam-se os 80 anos do fim da 2.ª Guerra Mundial na Europa, acontecimento que não significou mundialmente o termo do conflito, ocorrido meses mais tarde com a rendição do Japão. Os media portugueses, mais focados na campanha para as eleições convocadas em Portugal para 18 de maio, não deixam de dar relevo a cerimónias realizadas, por exemplo, em Londres, no Reino Unido, ou em Moscovo, na Federação Russa, em comemoração do fim do conflito em maio de 1945, conforme visões bastante diferentes da efeméride, para não dizer antagónicas, tendo as hostilidades na Ucrânia como pano de fundo. Mas a grande notícia com interesse internacional foi o conclave que, no Vaticano, pouco depois das 18h00 (hora local) de 8 de maio de 2025, culminou com a eleição de Leão XIVRobert Prevost de nome próprio. No par de dias que durou o conclave, ganhou especial protagonismo visual a chaminé donde sai o fumo negro, indicativo de a votação não ter sido decisiva, ou o fumo branco, que permite proferir depois a tão desejada frase latina «habemus papam» («temos papa»). Cabe recordar que, em português, a palavra chaminé é galicismo antigo, atestado, pelo menos, desde começos do século XV, de acordo com informação do Dicionário Houaiss. Na sua origem, está, portanto, um vocábulo francês, cheminée, forma que poderia sugerir uma relação com chemin, que tem a mesma etimologia e o mesmo significado que caminho. Não é isso que se verifica, e a investigação histórica revela que cheminée vem do latim medieval, da expressão «(camera) caminata», ou seja, «sala provida de uma chaminé», em que caminata constitui um derivado de camīnus, i, «forno, fornalha», este do grego káminos, ou, com o mesmo significado e de filiação obscura (ibidem).

À volta do nome do novo papa, Leão XIV, veja-se o apontamento de Marco Neves no Instagram e o de Helder Guégués no blogue Linguagista ("A importância de se chamar Prevost", 08/05/2025). Sobre os papas que se sucederam desde 1997, ano da fundação do Ciberdúvidas, leiam-se: "Numeração de reis, papas e séculos, novamente", "Totus tuus", "Antecessor e predecessor", "Benedito ou Bento?", "As palavras do papa", "Da alva ao camauro". Na imagem, a chaminé do telhado do edifício onde se encontra a Capela Sistina, espaço de realização dos conclaves (fonte: "Gaivotas viralizam durante conclave na Capela Sistina", Correio do Povo de Penedo, 09/05/2025). Na foto, veem-se também gaivotas, cuja presença os media e as redes sociais deram especial atenção.

2. Outras preocupações são as de Discurso Académico: Complexidade Teórica e Diversidade Didática, um volume que reúne artigos apresentados no III Encontro Nacional sobre Discurso Académico (ENDA 3) e a que se dedica uma nota em Montra de Livros.

3. Como integrar no ensino básico e secundário o impacto que a Inteligência Artificial (IA) está a ter nas tarefas escolares? Na rubrica Ensino, transcreve-se com a devida vénia a reflexão que a professora, linguista e consultora permanente do Ciberdúvidas Carla Marques escreveu como editorial do n.º 22 (2025) do Boletim dos Sócios da Associação de Professores de Português.

4. No Brasil, foi publicado o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) de 2024, no qual se revela que, entre os universitários, há graves lacunas no desenvolvimento da leitura crítica, da interpretação de textos e da argumentação. Sobre este assunto, registem-se as críticas que o gramático Fernando Pestana publicou no seu mural de Facebook (07/05/2025).

5. No meio de reações ora favoráveis ora adversas, a verdade é que os falantes de português europeu usam brasileirismos e estão cada vez mais em contacto com o português do Brasil, até porque a imigração de cidadãos deste país se faz notar de forma expressiva. Em Lusofonias, divulgam-se as declarações do professor português José Manuel Diogo à jornalista Amanda Lima, em entrevista incluída no DN Brasil em 05/05/2025.

6. Se nenhum já equivale a zero, para quê usar o plural nenhuns? A pergunta faz parte da atualização que integra outras cinco questões: a locução «no ponto» está correta? Junto pode ser advérbio?  Um aparte pode conter um comentário? Diz-se "cobranto" ou quebranto? O que se entende por «primo carnal»?

7. Tópicos abordados nos projetos em vídeo do Ciberdúvidas: em Ciberdúvidas Responde (episódio 33), fala-se da função sintática de lhe na frase «pegou-lhe ao colo»; e em O Ciberdúvidas Vai às Escolas (episódio 28, com a participação do Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, de Mação) dão-se dicas para distinguir veem de vêm e vem.

8. Foi lançado e apresentado por Teresa BrocardoSampaio da Nóvoa no final de 2022, mas problemas de edição levaram infelizmente a retirá-lo do mercado. Chega agora a boa notícia de que o Dicionário da Língua Portuguesa Medieval, elaborado por Malaca CasteleiroMaria Francisca Xavier e Maria de Lourdes Crispim, se encontra finalmente disponível. Para saber mais sobre esta obra fundamental para os estudos de linguística histórica respeitantes ao português, consulte-se o comentário que a linguista Margarita Correia fez, ainda em 2022, e que se partilha aqui.

9. Temas de dois dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa:

– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 09/05/2025 às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a professora Edleise Mendes (Universidade Federal da Bahia) propõe uma revisão crítica do que significa, nos dias de hoje, com a influência da Inteligência Artificial, ensinar português.

– Em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 11/05/2025, 12h30*; com repetição no sábado seguinte, 17/05/2025, às 15h30*), celebra-se o Dia Mundial da Língua Portuguesa através da leitura de textos de Luís de Camões, Bernardo Soares, João Cabral de Melo NetoManuel Bandeira e Mia Couto. Este programa conta ainda com a participação da professora Carla Marques, com um comentário acerca do neologismo e da sua importância.

* Hora oficial de Portugal continental.

N. E. – Texto atualizado em 11/05/2025.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Comemorou-se a 5 de maio o Dia Mundial da Língua Portuguesa, numa altura em que se assumem os desafios de olhar para o crescimento da língua «dando voz à multiplicidade de vozes que a compõe e que constitui um dos seus traços fundamentais» (Camões, Instituto da Cooperação e da Língua). A comprovar este dinamismo da língua e a sua constante evolução, recordamos as declarações da linguista Helena Figueira, do Priberam, à agência Lusa, onde assinalou um aumento do léxico «com forte influência do português do Brasil e um crescente contributo dos PALOP» . Ainda neste apontamento, a linguista destacou o recurso frequente às proposições de e em em usos sintáticos típicos do português do Brasil, o que espelha os fenómenos de contacto em curso entre as variedades de português europeu e a brasileira. As celebrações do Dia Mundial da Língua Portuguesa motivaram, um pouco por todo o lado, uma diversidade de iniciativas unidas pelo intuito de dar à língua portuguesa a relevância que ela merece. Em Portugal, a Universidade de Coimbra e a Universidade Aberta organizaram sessões de conversa/debate em torno de temas relacionados com a língua (aqui e aqui) e a Universidade do Porto promoveu um seminário internacional sobre o ensino do português como língua estrangeira no contexto chinês (dia 6 de maio ─ programa). Por seu turno, o jornal Público, organizou na biblioteca do Palácio Galveias uma conversa que partiu do tema “Quando o livro, a leitura e a escrita deixam de ser só um prazer e passam a ser uma obrigação» (notícia). Também um pouco por todo o mundo lusófono se assinalou este dia da língua. No Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, a programação foi dedicada a saraus, mesas literárias, performances, entre outras atividades. O Camões ─ Instituto da Cooperação e da Língua desenvolveu também atividades em diversos locais, como em Berlim, com a mesa-redonda de bilingues, que deu destaque ao português «como língua identitária e de afeto» (notícia), ou em Praga, que celebrou o dia com a presença da fadista Cristina Branco (notícia). Em Timor, Xanana Gusmão, considerando a língua portuguesa parte da identidade timorense, pediu aos timorenses que incentivassem os seus filhos a aprenderem o português (notícia). O Dia Mundial da Língua Portuguesa foi ainda contexto para o lançamento, pela Direção Geral da Educação, de «três ebooks didáticos, concebidos com o objetivo de promover a aprendizagem e a prática da língua portuguesa de forma autónoma e, também, lúdica» (disponíveis aqui). Também o Plano Nacional de Leitura aproveitou a data para lançar um Guia Didático sobre Leitura. Pluricêntrica, viva e cheia de matizes, a língua portuguesa está viva! 

2. O professor e poeta João Pedro Mésseder dedicou à língua portuguesa um belo texto em prosa poética, que motiva uma reflexão sobre o belíssimo património vivo que constitui uma língua, herança de todos nós: «[u]ma língua traz-nos no ventre muitos séculos. Nos últimos nove meses, os da gestação, começamos a escutar o seu timbre, o seu ritmo, a sua métrica. Sem darmos conta, a língua alimenta-nos, agasalha-nos, estamos nela mergulhados, na sua água, no seu calor.» (transcrito, com a devida vénia, do mural de Facebook da Leya Educação). 

3. Refletindo sobre a liberdade que as palavras podem conferir e sobre a ação de obras marcantes como as Novas Cartas Portuguesas, de autoria de  Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta Maria Velho da Costa, publicadas em 1972, a professora e investigadora Dora Gago defende: «Hoje, acender o poder das palavras veiculadoras de valores de liberdade, de igualdade, de paz, revela-se cada vez mais necessário, perante tantos retrocessos a que assiste, um pouco por todo o mundo, perante a aceitação passiva das maiores barbaridades.» (texto divulgado na rubrica Na 1.ª Pessoa). 

4. No Consultório, esclarece-se sobre como proceder para retomar três antecedentes distintos num dado texto. A esta resposta juntam-se outras cinco, que vêm esclarecer dúvidas específicas: «Qual a construção correta: "fazer alguém de herói" ou "fazer de alguém herói"?»; «Como traduzir a locução conjuncional francesa bien que?»; «Como analisar a estrutura nominal "a louca da tua mulher"»?»; «É possível usar o imperfeito do conjuntivo em lugar do mais-que-perfeito do conjuntivo em condicionais contrafactuais?»; «As construções "estar diretor" e "ser diretor" são possíveis?».